Os períodos anterior e posterior ao nascimento de Maria, mãe de Jesus, são tratados em vários livros apócrifos recém descobertos. Vamos expor aqui trechos daqueles que estão mais relacionados aos fatos ufológicos. Contudo, todos, de uma forma ou outra, acabam levando a conclusões semelhantes. Dos chamados Livros da Natividade de Maria, em compilação feita pela Editora Mercuryo, o apócrifo que mais chama a atenção sobre a gravidez de Ana, mãe de Maria, é atribuído a Jerônimo, do século IX. Visando o enriquecimento da narrativa, foram anexados trechos dos Evangelhos de Mateus, do século I, e de Tiago, descoberto no século XVI. Tais Evangelhos foram editados o mínimo possível, para melhor compreensão e clareza:
Matrimônio sem descendência
[Jerônimo I a II] A bem-aventurada e sempre gloriosa Virgem Maria descendia de uma estirpe régia e pertencia à família de David. Nasceu em Nazaré e foi educada no templo do Senhor na cidade de Jerusalém. O pai chamava-se Joaquim e a mãe Ana. Mas esses esposos tão queridos por Deus e tão piedosos para com o próximo tinham 20 anos de vida conjugal em casto matrimônio, sem descendência. Tinham feito um voto que se Deus lhes concedesse um rebento, consagrariam-no ao serviço divino. Por este motivo, durante os dias festivos do ano, iam ao templo de Deus. A Festa da Dedicação no templo aproximava-se e Joaquim dirigiu-se a Jerusalém em companhia de alguns patrícios. Naquele tempo era sumo sacerdote Isacar, que, ao vê-lo entre seus concidadãos, menosprezou-o e rejeitou seus presentes, perguntando-lhe como se atrevia a comparecer entre os prolíferos já que era estéril. Disse-lhe ainda que suas oferendas não seriam aceitas por Deus, pois este o considerava indigno da posteridade e clamou pelo testemunho das escrituras, que declarava maldito quem não gerasse um varão em Israel. Joaquim ficou morto de vergonha ante tamanha injúria e se retirou aos seus campos, onde se encontravam os pastores e rebanhos, sem querer voltar para casa para não se expor ao desprezo dos companheiros que tinham presenciado a cena e ouvido o que Isacar lhe dissera.
[Tiago I] Joaquim ficou muito atormentado e não procurou sua mulher, retirando-se para o deserto. Ali armou sua tenda e jejuou por 40 dias e 40 noites, dizendo a si mesmo: “Não sairei daqui para minha casa, nem sequer para comer ou beber, até que não me visite o Senhor meu Deus. Que minhas preces me sirvam de comida e de bebida”. [Jerônimo III] Já fazia algum tempo que se encontrava naquele lugar, quando um dia em que estava sozinho, apareceu-lhe um anjo do Senhor, rodeado de grande esplendor. Ficou atemorizado ante a visão, mas o anjo da aparição livrou-o do temor dizendo: “Joaquim, não tenhas medo e nem te assustes comigo. Sou um anjo do Senhor. Ele me enviou para anunciar-te que tuas preces foram ouvidas. Teve por bem olhar para tua confusão depois que chegou a Seus ouvidos a infâmia de esterilidade da qual injustamente te acusam”.
Salvador de todos os povos
[Jerônimo III] “Saiba então que Ana, tua mulher, vai dar a luz uma menina, a que colocarás o nome de Maria e que viverá consagrada a Deus desde sua infância em consonância com o voto que fizestes. E já desde o ventre da mãe estará plena do Espírito Santo. Não comerá nem beberá nada impuro e nem passará sua vida entre o bulício da plebe, mas no recolhimento do templo do Senhor, para que ninguém possa chegar a suspeitar e nem falar algo desfavorável a ela. E quando for crescendo, da mesma forma que ela nascera de uma mãe estéril, ou seja, virgem, e ela gerará de maneira incomparável o Filho do Altíssimo. O nome Deste será Jesus, porque de acordo com seu significado será o salvador de todos os povos”. [Mateus III] Naquele mesmo tempo apareceu um jovem entre as montanhas onde Joaquim pastoreava seus rebanhos e lhe disse: “Por que não voltas ao lado de tua esposa?” Joaquim replicou: “Já faz 20 anos que tenho a mulher e, já que o Senhor houve por bem não dar-me filhos dela, vi-me obrigado a abandonar o templo de Deus ultrajado e confuso. Para que voltar a seu lado como estou, cheio de desonra e vexado? Ficarei aqui com meu gado até que Deus queira que a luz deste mundo me ilumine”. Nem bem terminou de falar e o jovem lhe respondeu: “Sou um anjo de Deus e hoje apareci a tua mulher quando orava afogada em prantos. Saiba que ela já concebeu de ti uma filha. Esta viverá no templo do Senhor e o Espírito Santo repousará sobre ela. Sua felicidade será maior do que a de todas as mulheres santas”.
Comida e bebida invisíveis
[Mateus III] Joaquim prostrou-se em atitude de humilde adoração e disse: “Já que fui agraciado com tua visão, vem repousar em minha tenda e abençoar este servo”. Ao que o anjo respondeu: “Não te chames de meu servo, e sim de co-servo, pois ambos estamos na condição de servir ao mesmo Senhor. Minha comida é invisível e minha bebida não pode ser captada pelos olhos humanos. Portanto, não é necessário que me convides. Será melhor que ofereças a Deus em holocausto o que me darias de presente”. Então Joaquim pegou um cordeiro sem nenhum defeito e disse ao anjo: “Nunca me teria atrevido a oferecer um holocausto a Deus se teu mandado não me tivesse dado potestade de fazê-lo”. O anjo replicou: “Eu tampouco te convidaria a oferecê-lo se não conhecesse o beneplácito divino”. E ocorreu que, quando Joaquim oferecia seu sacrifício, junto com o perfume deste e, por assim dizer, com a fumaça, o anjo elevou-se ao céu. Então Joaquim prostrou a face na terra e ficou deitado desde a sexta hora até a tarde. Quando seus servos e assalariados chegaram por não saber o que aquilo significava, encheram-se de espanto, pensando que ele quisesse suicidar-se. Aproximaram-se e com muito esforço conseguiram levantá-lo do chão. Então ele lhes contou sua visão, e todos, movidos pela admiração e estupor produzidos pelo relato, aconselharam-no que obedecesse sem demora a ordem do anjo e que voltasse depressa para a mulher.
[Mateus III] Andaram 30 dias consecutivos e quando já estavam perto, um anjo de Deus apareceu a Ana, que orava, e lhe disse: “Vai até a porta a que chamam Dourada e sai ao encontro de teu marido, porque hoje mesmo ele chegará”. Ela se apressou e foi para lá com suas donzelas. De repente, levantou os olhos e viu Joaquim que chegava com seus rebanhos. Abraçou-se a seu pescoço dizendo: “Há pouco era viúva e já não o sou. Não faz muito era estéril e eis que concebi em minhas entranhas”. [Tiago IV, versículo 04] E, ao chegar Joaquim com seus rebanhos, estava Ana à porta. Ao vê-lo chegar, pôs-se a correr e atirou-se ao seu pescoço dizendo: “Agora vejo que Deus me bendisse copiosamente, pois, sendo viúva, deixo de sê-lo e, sendo estéril, vou conceber em meu ventre”. E
Joaquim repousou naquele primeiro dia em sua casa. [Mateus V, versículo 01] E Maria era a admiração de todo o povo, pois com apenas três anos andava com um passo tão firme, falava com tal perfeição e se entregava com tanto fervor aos louvores divinos que ninguém a tomaria por uma criança, mas sim por uma pessoa adulta. Além disso, era tão assídua na oração como se já tivesse 30 anos. Sua face era resplandecente como a neve e, por isto, apenas se podia olhá-la com dificuldade. O que mulheres adultas nunca foram capazes de executar, esta realizava em sua mais tenra idade.
Carinho de íntimos amigos
[Mateus V] Esta era a norma de vida que impusera: desde a madrugada até a terceira hora, fazia orações, da terceira à nona, ocupava-se de suas tarefas, da nona em diante consumia todo o tempo em oração, até que o anjo do Senhor se mostrava e de cujas mãos recebia alimentos. E assim crescia mais e mais nas vias da oração. Cada dia usava exclusivamente para sua refeição o alimento que lhe vinha das mãos do anjo, repartindo com os pobres aquele que lhe davam os pontífices. Freqüentemente se viam os anjos falando com ela, obsequiando-a com carinho de íntimos amigos. E se algum doente conseguia tocá-la, voltava imediatamente curado para sua casa.