Os discos de pedra de Baian-Kara-Ula têm sua origem intensamente discutida há décadas. Encontrados na China nos anos trinta, foram dados como extraterrestres. Ninguém conhece seu paradeiro atual, mas acredita-se que foram guardados por centenas de anos por uma estranha etnia radicada no Tibet, os chamados Dropa. Estes eram seres de grande beleza, pequena estatura e compleição frágil, que desapareceram em meados deste século, deixando sem esclarecimento sua especulada procedência interplanetária.
Até novembro de 1974, os estranhos círculos de pedra, gravados com sulcos similares aos dos discos de vinil antigos, somente haviam sido mencionados em relatos pouco documentados de uma expedição chinesa, organizada em 1938 para explorar tumbas na distante região de Baian-Kara-Ula. Naquele mês, um europeu que viajava pela China os viu pela primeira vez. Na época, surgiram comentários de que teriam sido encontrados 716 misteriosos discos de granito ao lado de esqueletos de pequenos seres, que mais tarde foram trasladados a Pequim. Este rumor estendeu-se para fora do gigantesco império vermelho durante a década de 70, até que foram confirmadas as informações de que a expedição chinesa, comandada pelo arqueólogo Chi Pu-Tei, havia descoberto há quase 40 anos os referidos discos. A equipe encontrou, em numerosas covas de difícil acesso, tumbas com esqueletos de corpo delgado e de crânio grande. Junto a eles é que foram achados os intrigantes discos com formas arredondadas, com cerca de um centímetro de espessura. Os objetos eram de granito e tinham um buraco no centro, da dimensão de um dedo, de onde saíam uma série de ranhuras que se estendiam até as bordas.
Cinco cientistas da Universidade de Pequim, sob a orientação do professor Tsum Um Nui, envolveram-se na tarefa de decifrar e interpretar esses desconhecidos símbolos Entretanto, quando concluíram seus trabalhos, depois de prolongados exames das inscrições, a diretoria da instituição proibiu-os de divulgar os resultados obtidos. Um Nui e seus colegas insistiram em publicar suas pesquisas, mas só conseguiram fazê-lo no meio universitário, após longas discussões sobre o assunto. A oposição das autoridades acadêmicas à publicação destes trabalhos era previsível, pois o informe preliminar do estudo afirmava que os sinais nos discos descreviam naves espaciais que teriam vindo ao nosso planeta há quase doze mil anos. Além disso, tais desenhos mostravam a existência de um povo – os Dropa ou Dzopa -, que teria vindo das nuvens em máquinas voadoras. “Dez vezes esconderam-se nossos homens, mulheres e crianças nas grutas, até o amanhecer”, dizem as inscrições nos discos. “… Então compreendemos, por meio dos sinais e expressões dos Dropa, que eles não tinham intenção de nos causar dano”.
Nos trabalhos deste grupo universitário foram utilizados numerosos dados da expedição de 1938 a Baian-Kara-Ula e velhas lendas mantidas naquela região. A maioria embasados também em descobertas arqueológicas significativas. A população do local fala abertamente da existência de duas tribos que teriam vivido ali desde os tempos remotos – as quais nunca puderam se relacionar com os povoados da vizinhança. Faziam-se chamar ora de Dropa, ora de Khams, e não mediam mais que 1,30 m de altura. Segundo as histórias obtidas pela equipe, os seres de aspecto humano esforçavam-se sempre para evitar qualquer tipo de contato com o restante dos habitantes das montanhas e nunca saíam dos seus lugares nos cumes das mesmas. No entanto, era impossível pesquisar mais profundamente estes dados porque aquela etnia havia desaparecido sem deixar sobreviventes, misteriosamente.
Gravuras estranhas – Nos dados examinados pela expedição de 1938 existem descrições de motivos pictóricos descobertos no interior de algumas grutas, que surpreenderam o grupo de Chi Pu-Tei. “Descobrimos gravuras estranhas com motivos esquisitos”, afirmaram os pesquisadores no primeiro artigo publicado sobre a missão. “Destingiam claramente inscrições que representavam o Sol, a Lua e os nove planetas do nosso Sistema Solar – todos gravados nas paredes rochosas. Tratavam-se de pontos do tamanho de uma ervilha, que pareciam explicar a posição da Terra”.
Estudiosos argumentam que tais símbolos representavam a manobra de aproximação de naves extraterrestres à Terra. Mas para o professor Um Nui e sua equipe, os sinais têm relação direta com o que é narrado pelas inscrições nos discos descobertos nas tumbas de Baian-Kara-Ula.
As lendas da remota região também falam de uma tribo de pequenos homens amarelos, de ombros estreitos, corpos esqueléticos e cabeças volumosas – descrições que aparentemente estão em conformidade com os restos antropóides encontrados por Pu-Tei. Os relatos locais retratam a repugnante feiúra desses seres, o que fez com que os habitantes da região tentassem expulsar os “intrusos celestes” de suas terras. Comenta-se ainda que algumas tribos autóctones do local caçavam os forasteiros amarelos com ajuda de cavalos velozes, sem lhes dar nenhuma trégua e dizimando a estranha população. Porém, Um Nui descobriu algo bastante interessante: naquelas mesmas montanhas existiam outras grutas onde, junto aos pequenos corpos dos Dropa, haviam sido enterrados também seres humanos normais, o que o levou a pensar que algumas pessoas se uniram e conviveram com os visitantes.
Mas todas estas deduções chocaram- se rapidamente com as opiniões mais conservadoras dos colegas do professor Um Nui. Estes não aceitaram que a expedição de Pu-Tei havia descoberto qualquer tumba com restos de uma raça estranha, mas sim que seriam ossos de uma estirpe de macacos já extintos. Porém, Um Nui nunca desistiu: continuou firme na tarefa de convencer seus colegas da importância de tais descobrimentos. O estudioso argumentava que, se os ossos encontrados por Pu-Tei pertenciam a simples macacos, por que razão estavam acompanhados de 716 discos de granito manufaturados minuciosamente? Para ele estava claro que se tratavam de oferendas para acompanhar os mortos em sua viagem ao além – valiosos presentes que lhes traziam honra depois da morte. Os discos, em suma, não eram elementos insignificantes. Ao contrário, eram de grande importância.
e de ufólogos e arqueólogos de todo o mundo. A suspeita é de que sejam provenientes de fora do planeta Terra
A equipe de Um Nui pôs em funcionamento todos os meios possíveis para examinar aquelas peças arqueológicas. Em 1962, os pesquisadores enviaram alguns discos à Academia de Ciências da União Soviética, em Moscou, depois de limpados meticulosamente. Lá foram examinados com extrema atenção, pondo em relevo alguns detalhes muito interessantes. Cada um dos discos continha grande quantidade de cobalto, assim como algumas ligas metálicas adicionais. A surpresa maior veio quando, ao examinar estas “oferendas mortuárias” com um osciloscópio, os geólogos russos descobriram que os discos vibravam a um ritmo frenético, o que os levou a deduzir que estavam carregados eletricamente. Esse detalhe foi suficiente para que a equipe de pesquisadores supusesse que a procedência das peças de granito – cuja antigüidade foi estimada em 12 mil anos – não era terrestre. Estas conclusões não foram reconhecidas pela Universidade de Pequim, sendo Um Nui ignorado e insultado. Sob estas circunstâncias, o professor viu-se na obrigação de abandonar sua cátedra. Mudou-se para o Japão e foi ali onde, em forma de livro, publicou finalmente suas pesquisas. Apesar de tudo, não obteve reconhecimento popular nem acadêmico. Decepcionado pela atitude da Ciência foi-se distanciando cada vez mais da vida pública, até que uma doença o matou em 1965.
Ainda hoje não sabemos até que ponto são verídicas essas anotações. Em 1972, este autor tentou obter uma cópia destes escritos junto a Academia de Arqueologia de Pequim. De acordo com uma correspondência recebida, assinada pelo secretário do órgão Wang-Chung-Su, “…nunca foram encontrados discos de pedra na China, como o senhor menciona na sua carta (…) e a informação sobre o descobrimento destes em nosso país, em 1938, carece totalmente de fundamento. Tão pouco sabemos qualquer coisa deste tal professor Tsum Um Nui…” No entanto, alguns anos depois, no final da década de 70, um de meus colaboradores fez tentativas parecidas às minhas, escrevendo para Pequim a fim obter novidades a respeito desta misteriosa história, mas acabou obtendo idênticos resultados. Naqueles anos ainda não se haviam apagado as nefastas marcas da revolução cultural na República Popular da China, que no âmbito arqueológico se traduziram num total desconhecimento da história dos descobrimentos. Meu colaborador, em todo caso, conseguiu estabelecer uma relação, em 1992, que lhe levaria a uma nova pista.
Em Santiago, Chile, ele encontrou-se com um exilado chinês que, na mais estrita confidência, relatou-lhe que pelo menos um dos discos de pedra encontrados numa gruta das montanhas de Baian-Kara-Ula chegou à índia em 1945, por meio de um pesquisador de origem inglesa que fora ao lugar em meados da década de 40. Uma série de averiguações efetuadas posteriormente nos levou a identificar esse explorador inglês como sendo um professor russo chamado Sergei Lalladorf, que, em 1945, servia no exército britânico em Musorie, no norte da índia. Lalladorf esteve em situação de adquirir um dos apreciados discos de pedra, que media cerca de 23 cm de diâmetro por 5 cm de espessura. Este, segundo informações que obtivemos, tinha pertencido a uma tribo chamada Dzopa e era utilizado em cerimônias religiosas. Porém, seu peso de 13,5 kg era o que verdadeiramente surpreendia. Ninguém conseguiu esclarecer sua composição, embora se deduza que fora feito em pedra ou metal polido, sendo impossível imaginar como a perfuração havia sido realizada.
Descobriu-se também que Lalladorf não pôde encaixar seu achado pré-histórico em qualquer uma das culturas do Extremo Oriente. Por isso, decidiu catalogar os discos sob o título genérico de “objetos culturais”, dando assim por finalizado o assunto. Mas não terminam aí as modernas averiguações. Nosso informante chinês contou ainda que Lalladorf regressou à Inglaterra depois de terminar seu serviço na índia. Em Oxford, conheceu o conceituado doutor em ciências naturais Karyl Robin-Evans, um antigo oficial da Guarda Escocesa que tinha dado várias voltas ao mundo e era excepcionalmente curioso. Quando soube da história dos discos de pedra através de Lalladorf, decidiu pesquisar o assunto pessoalmente, indo ao lugar onde tinham aparecido as relíquias.
Robin-Evans viajou a Lhasa, capital do Tibet – onde foi recebido pelo Dalai Lama -, para alcançar o território dos Dropa, situado nos limites das províncias de Quing Hai e Szichuan. A viagem esteve cheia de contratempos, pois pouco antes de alcançar seu objetivo o estudioso foi abandonado pelos seus carregadores. Estes negaram-se obstinadamente a seguir-lhe até àquela terra inquietante, pois sabiam das histórias de supostos visitantes interestelares que existiam sobre o local. Não sobrou outra solução a não ser continuar a viagem sozinho. Lá, Robin-Evans foi recebido com muita desconfiança pelos habitantes, que julgou serem os últimos descendentes dos tais misteriosos seres. Acabou convencendo-os de suas honestas intenções e os nativos tornaram-se hospitaleiros ao ponto de aceitarem que uma professora de idiomas lhe ensinasse a língua local. Isto permitiu a Robin-Evans ficar sabendo de uma história muito curiosa sobre a origem dos discos.
Segundo lhe contaram, os antepassados dos Dropa procediam do sistema estelar de Sírius, cujos deuses visitaram nosso planeta em várias ocasiões em tempos pré-históricos, obrigados a empreender um êxodo interestelar devido a um conflito em seu orbe de origem [A tribo africana dos Dogons também acreditava nisso]. Os discos contam essa peregrinação. “Prepararam 20 expedições. Uma das naves enviadas de Sírius visitou 13 planetas diferentes sem encontrar seres vivos. Só o terceiro planeta do Sistema Solar estava habitado”. Sem dúvida, tratava-se da Terra. Paralelamente a esta história de fundamentos nada claros, também se tentou colher mais informações sobre os discos de pedra durante uma viagem que empreendi em 1994 à República Popular Chinesa. Na cidade de Xian fui recebido pelo então diretor do Museu Municipal de História, Wang Shiping, e por seu colega, o professor Wu. Ambos mostraram um grande interesse por essa intrigante história.
Gretas e ranhuras – O motivo do meu comparecimento ao Museu de História de Xian era bastante evidente. Em 1974, Ernst Wegerer e sua esposa, residentes na Áustria, haviam visitado este local e comprovaram a presença, em uma vitrine, de um disco com as características dos de Baian-Kara-Ula. Parecia ser feito de mármore e tinha aproximadamente 28 ou 30 cm de diâmetro, embora não fosse o único. Mais tarde, puderam observar outro objeto igual, que apresentava algumas gretas ou ranhuras. Por outro lado, ambos continham no centro um furo da grossura de um dedo no meio de inscrições de tipo rúnico ou hieróglifos. O então diretor do museu não pôde dar a informação que solicitava a respeito das pessoas que tinha
m servido de guia ao casal Wegerer vinte anos atrás. Tão pouco sabia algo sobre o destino daquelas peças, que tinham desaparecido, embora tivesse dado certeza de que nada parecido havia sido arquivado naquele museu. Suas afirmações pareceram confiáveis, mas pude detectar uma certa perplexidade em seus comentários sobre os discos.
Depois de examinar cautelosamente os prós e os contras deste intrincado assunto, tenho certeza absoluta de que o tema é suficientemente relevante, e não apenas um mero rumor. Minha peregrinação pela China à procura das relíquias dos Dropa tinha fundamento, embora não fosse coroada de êxito. O grande interesse que demonstraram alguns cientistas chineses ao mostrarem as fotografias dos discos de Baian-Kara-Ula abre uma porta à esperança de que um dia o mistério estará sendo solucionado. Mas creio que tais cientistas deveriam retomar a procura de pelo menos algumas das peças, que podem provar de forma bastante sólida a teoria de que foram fabricadas por seres provenientes de outros mundos que encontraram na Terra sua nova moradia. Em resumo, seres extraterrestres visitaram o Tibet num passado remoto e ali deixaram seus vestígios.
Ainda há motivos para ceticismo
por Javier Sierra
Em 1973, Gordon Creighton, editor da veterana revista ufológica britânica Flying Saucer Review, publicou um revelador trabalho no qual rastreava as possíveis origens da lenda dos Dropa e seus discos. Após consultar os arquivos da Royai Geographical Society, em Londres, e examinar os relatos dos exploradores europeus que percorreram a área das montanhas de Baian-Kara-Ula, Creighton não encontrou a mínima referência a qualquer população de pele amarela, pequena estatura e cabeça grande, que supostamente habitava os cumes da montanha, conforme averiguou Tsum Um Nui. Creighton rastreou também a origem lingüística da palavra Dropa, concluindo que tal vocábulo procedia da palavra tibetana drok-pa, que literalmente significa “homem tibetano das montanhas” e que se refere a uma classe de escaladores que moravam no norte do Tibet. Quer dizer, não se encontrou nada que pudesse sugerir uma origem cósmica para este povo.