No período em que ainda somos crianças e queremos entender como as coisas são ou funcionam, perguntamos aos nossos pais. Mais tarde, já em idade escolar, questionamos nossos professores. Quando não conseguimos as respostas que buscamos, consultamos nossos colegas, procuramos em livros e reviramos bibliotecas e universidades. Se nossa dúvida é sobre algo mecânico, fenômenos naturais ou qualquer área coberta e estudada pela ciência, teremos respostas objetivas e verificáveis. Se não concordamos com o que nos informam, tentamos então buscar provas do que nos é dito. Normalmente, as encontramos com facilidade e a explicação para os fatos em questão é dada de forma a dirimir nossas dúvidas. Porém, quando buscamos respostas para fatos relacionados a princípios religiosos ou divinos, caímos em uma região de névoa e ausência de conhecimento analítico e preciso.
Da mesma forma, quando questionamos as razões da vida — quem é Deus, como o universo surgiu e qual o propósito dos fenômenos que nos rodeiam, por exemplo —, permanecemos sem respostas satisfatórias e inequívocas. Ou então, aceitamos pacientemente que tudo isso está acima de nossa capacidade de compreensão, que são mistérios “do divino” ou processos mentais, neurológicos e enzimáticos, que nos fazem ter sensações e visões de algo superior a nós mesmos. Nenhuma das duas opções responde aos nossos questionamentos mais profundos, porque não calam uma pergunta básica e simples — qual a razão da nossa existência? A religião nos diz que fomos criados e a ciência, que evoluímos. Porém, nenhuma das duas explica o motivo, ou melhor, para que existimos.
Religião e ciência
Se não houvesse a espécie humana, o planeta não estaria poluído, com florestas devastadas e espécies em extinção. Por outro lado, se aqui estamos é provável que algum significado ou função nossa espécie deve ter. Seríamos um acontecimento aleatório na história da Terra? Ou, pelo contrário, somos algo planejado? Ainda não parece haver respostas para essas questões — talvez nunca haja. Mas as perguntas continuam sendo feitas há gerações e respondidas por filosofias, religiosas ou não, de uma maneira que não nos satisfaz. Talvez as explicações nem sejam tão importantes quanto as dúvidas que nos lançam a procurá-las. Cada um de nós, a seu modo e em seus próprios termos, encontra uma maneira de respondê-las. Alguns com base na religião, outros com apoio da ciência e muitos ainda vão buscá-las em direções alternativas.
Da mesma forma, uma quantidade de pessoas as procuram justamente na Ufologia. Mas teria o estudo dos discos voadores condições de atender a esses apelos da consciência humana, que busca sua inserção em algum plano ou processo evolutivo no universo? Muitas vezes atribuímos significado extraordinário a acontecimentos que são normais ou naturais, simplesmente porque queremos acreditar que exista algo diferente que nos tenha escolhido para suas manifestações. Desejamos ser esses eleitos, que aquilo que acreditamos seja verdade e queremos ter nossas perguntas respondidas — nessa busca ficamos cegos, surdos e mancos à coerência, à racionalidade, à responsabilidade para conosco e com os outros. Perdemos o bom-senso e passamos simplesmente a crer, quando deveríamos questionar.
Fatores e pressões externas, como dificuldades da vida, violência, desabamento dos limites do certo e errado, acelerada revolução de costumes e ideias, doenças, solidão, desilusões etc, acabam servindo de estopim para buscas desesperadas por soluções de curto prazo — que, preferencialmente, passem distante de uma nova postura pessoal. Conviver no mundo moderno e tecnológico, com suas mazelas e cobranças, requer mais do que boa vontade. Requer aprendizado e sólidas bases pessoais. Porém, na busca pela solução mais fácil, de preferência que confirme aquilo que gostaríamos que fosse verdade, acabamos nos deixando levar e muitas vezes seguimos por caminhos estranhos.
Criatividade e imaginação
Neste sentido, a Ufologia serve, em grande parte das vezes, não como um estudo que amplia os paradigmas pessoais e mostra novas maneiras de pensar nossa cultura e sociedade, mas sim como muletas e escudos que nos amparam e protegem de nós mesmos. Transformar a Ufologia em filosofia religiosa, de forma a se eximir de toda e qualquer responsabilidade sobre sua própria evolução mental, não é solução para ninguém. Ler mensagens messiânicas de seres que supostamente vivem em outras realidades e crer que sejam revelações ou respostas que buscamos, é cavar, sem perceber, um enorme buraco para enterrar nosso senso crítico, nossa capacidade de discernimento e, muitas vezes, também nossa saúde mental.
Como podemos perceber, a Ufologia está sempre envolta em uma aura de mistério, e o maior de todos somos nós mesmos, com nossa capacidade criativa e de imaginação. O grande trunfo do estudo dos discos voadores não é a confirmação da vida extraterrestre em si, mas de todas as capacidades do ser. Endeusar aquilo que é produto de nossa vontade não responde perguntas, apenas mascara as respostas que porventura poderíamos ter, caso nos dedicássemos a procurá-las com coerência.
Recentemente, muito se tem falado sobre a possibilidade de Marte abrigar vida bacteriana — a aceitação e divulgação de uma descoberta dessa magnitude estão fadadas a acontecer mais cedo ou mais tarde, haja vista a Curiosity hoje em uma missão no Planeta Vermelho. Mas isso não responderá quem somos ou por que somos, assim como não saberemos os segredos do universo apenas porque sonhamos com naves e extraterrestres ou filmamos e fotografamos discos voadores.
Trazendo consigo a necessidade de estudos em variadas áreas, a Ufologia representa o anseio por conhecimentos diversificados, a busca por argumentos para questionar e principalmente a ampliação de nossos conceitos em relação ao universo. Ela faz com que, muitas vezes, nos olhemos com olhos de extraterrestres e perguntemos a nós mesmos se, caso fôssemos de outro planeta e viéssemos à Terra, gostaríamos daquilo que veríamos. Entretanto, isso não faz da Ufologia uma religião e não transforma seres extraterrestres em deuses — assim como o fato dos incas acreditarem que os espanhóis eram divindades e os tratarem como tais, a realidade é que nada impediu que os últimos cometessem todas as barbaridades que a história nos conta sobre os primeiros. A questão ufológica vai além do simples acreditar.
A Ufologia demanda coragem, não crença. Bravura para questionar, estar aberto a possibilidades e para entender que as respostas que procuramos estão muito além de nós mesmos. Forjar acontecimentos ou fantasiá-los é a
penas fugir da verdade, seja ela qual for. Talvez seja necessário prestarmos mais atenção em nossa própria espécie, em vez de nos agarrarmos a teorias mirabolantes e exóticas — que nos levarão para fora de nossa capacidade racional e de nosso equilíbrio de vida. A Ufologia, enfim, pode sim ajudar-nos a enxergar o mundo com outros olhos. Não porque os ETs sejam santos, mas porque ela nos incita a usar aquilo que de mais precioso temos: nosso pensamento e capacidade de raciocínio.
“O vento que não se vê”
Para fazê-los funcionar, temos como combustível a leitura, o estudo, a pesquisa e a reflexão. Apenas tomando o cuidado de não cairmos no outro lado da moeda da crença absoluta, o do positivismo do filósofo Auguste Comte. Lembremo-nos sempre do conselho de Albert Einstein, que dizia ser a intuição mais poderosa que o próprio conhecimento. Entretanto, esta intuição precisa ser adubada pelo conhecimento, com o cuidado de não deixá-lo sepultá-la. Afinal, como disse Platão, “o que faz andar o barco não é a vela enfunada, mas o vento que não se vê”.