Há poucas semanas, o físico britânico Stephen Hawking tornou-se motivo de acirradas discussões ao redor do mundo, inclusive na imprensa brasileira, por afirmações que surpreenderam uns e chocaram outros [Veja também artigo de Fernando de Aragão Ramalho nesta edição]. O grande cientista, conhecido por viver preso a uma cadeira de rodas vítima de uma doença degenerativa rara, a esclerose lateral amiotrófica, afirmou que “é perfeitamente racional acreditar na existência de seres extraterrestres”. Disse também que a maioria deles, no entanto, seriam criaturas simples como microorganismos e pequenos animais. Até aí, tudo bem.
O problema começou quando Hawking disse também que “é bem possível que existam seres inteligentes no universo, em número menor, é claro”, e piorou muito quando afirmou, em tom de alerta, que “o contato com civilizações alienígenas seria extremamente prejudicial para a humanidade”. O cientista gerou muita polêmica com suas bombásticas declarações, o que requer uma análise detida do que foi apresentado nas entrelinhas. Excluindo-se o desagradável hábito de um assunto tão sério como a Ufologia ser tratado por certos apresentadores de telejornais brasileiros com as costumeiras e totalmente dispensáveis ironias — nada profissionais, diga-se —, o assunto rendeu incontáveis comentários na TV, na internet e na imprensa escrita.
Um dos grandes destaques entre as manifestações contrárias às afirmações de Hawking foi a do ex-ministro da Defesa canadense Paul Hellyer, que deu uma resposta exemplar ao afirmar que os alienígenas visitam a Terra há milênios, e que teriam até nos auxiliado em nosso desenvolvimento tecnológico. Hellyer é um conhecido defensor da Ufologia, foi entrevistado por esta publicação e goza de respeito em todo o mundo [Veja UFO 123], não obstante a Comunidade Ufológica Mundial tenha reservas quanto a algumas de suas declarações, como a de que chips de computadores, entre outras conquistas tecnológicas, podem ter advindo de processos de engenharia reversa de naves alienígenas.
Brilhantismo na infância
Sem dúvida, as declarações de Stephen Hawking merecem grande atenção, principalmente por ser ele o gênio científico que é. Vamos examinar um pouco de sua vida e carreira, a fim de tentarmos entender suas polêmicas opiniões. Hawking nasceu em 08 de janeiro de 1942 e desde cedo mostrou aptidões para a física e matemática. Interessou-se por física quântica, relatividade e cosmologia, e sua atuação nestas áreas influenciou decisivamente a evolução delas. Infelizmente, logo cedo começou a experimentar os sintomas de sua doença, e em 1974 já era incapaz de se erguer da cama ou de se alimentar sozinho. Mas isso nunca afetou sua prodigiosa mente — nesse mesmo ano tornou-se um dos mais jovens membros da história da Royal Society, de Londres.
Em sua carreira científica, seus primeiros prodígios foram a criação de teoremas sobre singularidades, características da Teoria da Relatividade de Albert Einstein tidas como meras curiosidades matemáticas. Hawking provou que eram, na verdade, intrínsecas e muito comuns no terreno da relatividade. Junto com os cientistas Brandon Carter, Werner Israel e D. Robinson, ele determinou que os chamados buracos negros podiam ser descritos por suas propriedades de massa, momento angular e carga elétrica. Em 1974, Hawking calculou que estes atalhos hiperdimensionais emitiriam partículas subatômicas até finalmente se evaporarem, numa tese que ficou conhecida como Radiação de Hawking.
O cientista alcançou os andares mais elevados do estrelato da literatura científica ao lançar sua célebre obra Uma Breve História do Tempo: Do Big Bang aos Buracos Negros [Editora Rocco, 1988], bestseller em diversos países. Ele também atuou em vários campos de pesquisa científica, tais como a cosmologia quântica, o estudo do que se convencionou chamar de “inflação cósmica” e a dissecação da estrutura do universo, chegando a propor teorias que levaram outros estudiosos a conceberem “universos-bebês” e os ditos “buracos de minhoca”, além de outros [Veja UFO 166]. Entre seus grandes achados estão hipóteses que levaram à Teoria das Cordas.
Buracos de minhoca
Suas elucubrações sobre o tempo são algumas de suas idéias mais conhecidas. Por exemplo, na série de documentários O Universo de Stephen Hawking, exibido pelo canal Discovery, ele descreve o que chama “Paradoxo do Cientista Louco”.
Na realidade, os buracos de minhoca — uma espécie de túneis na estrutura do contínuo espaço-tempo, comumente vistos em filmes e seriados de ficção científica, tais como Stargate, por exemplo —, transportariam um suposto viajante por pontos distintos do universo não apenas através do espaço, mas também do tempo. Para o leitor ter uma idéia, considere a hipótese de um cientista que tenha decidido criar um paradoxo. Em seu laboratório ele pode abrir um buraco de minhoca desembocando no próprio local, mas um minuto no passado. Através do “vórtice” criado, ele veria a si mesmo no passado, antes de abrir o buraco de minhoca [Wormhole, em inglês]. No instante seguinte, ele pega uma arma e atira em “seu eu” de um minuto no passado, antes de abrir o vórtice. O que aconteceria?
Se o cientista matou “seu eu” do passado, como o buraco de minhoca foi aberto? E quem matou o cientista? São respostas que a ciência terrestre ainda não tem! Hawking especulou em cima disso. Ele também sempre afirmou que as viagens no tempo são possíveis, mas o que nem ele conseguiria explicar são esses estranhos paradoxos, dos quais o mais conhecido é o do avô. Se o leitor viajar no tempo e matar seu próprio avô, como então pode nascer, viajar no tempo, e matar seu próprio avô? O inglês e outros cientistas afirmam então que eventos assim talvez possam criar uma nova linha temporal, um universo paralelo ao nosso, onde a história a partir daí seria inteiramente diferente.
Deixando de lado estas elucubrações e retornando às recentes declarações do gênio científico, veremos, primeiro, que não são propriamente novidade. Em 2006, na edição 03 da série UFO Documento, hoje paralisada, este autor já descrevia a opinião de Hawking de que o contato de nossa civilização com extraterrestres seria absolutamente desastroso para nós, nos moldes do filme Independence Day [1996]. Ele defende há anos que não enviemos mais mensagens ao espaço dando nosso “endereço cósmico”, tais como as placas que equiparam as sondas Pioneer 10 e 11, da NASA, e as elaboradíssimas mensagens gravadas em disco e levadas ao espaço pelas Voyager 1 e 2. E nem muito menos que continuem a ser feitas as transmissões de rádio do programa SE
TI, como a do telescópio de Arecibo, de 1974, entre outras.
Vizinhos ruidosos no universo
Hawking acha perigosíssimo que fiquemos chamando a atenção de outras espécies cósmicas. Mas é importante salientar, no entanto, que é impossível fazer as sondas voltarem, e que muito antes do envio de mensagens do SETI — o que inclui até mesmo a da nova versão do filme O Dia Em Que a Terra Parou [1951] —, a Terra já vem denunciando sua existência para todos os cantos do universo. Sim, há pelo menos 80 anos. Transmissões de rádio, de radar e de televisão vazam continuamente para o espaço, e não há quase nada que se possa fazer a respeito. Qualquer civilização tecnológica que exista em um raio de algumas dezenas de anos-luz já deve estar ciente de nossa presença aqui. Aliás, esse fato foi aproveitado por Carl Sagan em sua obra de ficção científica Contato [1997].
Infelizmente, como bem pontuou o autor de Contato, ao lado de apresentações artísticas de terráqueos bem-intencionados, de discursos de estadistas decentes e de performances esportivas que honram a humanidade etc, também seguem para o espaço, todos os dias, discursos de políticos populistas e ditadores da pior espécie, programas televisivos e filmes de péssimo gosto. Assim, façamos votos de que os alienígenas que estejam nos ouvindo e observando saibam discernir entre uma coisa e outra.
As descobertas mais recentes da ciência, entre planetas extrassolares ou exoplanetas, organismos extremófilos e outras, apontam na direção de que a vida é abundante no universo. Em nosso próprio Sistema Solar, são candidatos a abrigá-la, muito provavelmente na forma de organismos unicelulares, Marte, o satélite de Júpiter Europa e os satélites de Saturno Titã e Encélado. Contrariamente ao que os cientistas mais conservadores sempre defenderam, a Ciência, com c maiúsculo, vem descobrindo que a vida é oportunista e altamente persistente, sendo não apenas possível como inevitável seu aparecimento assim que as condições se mostrem favoráveis. Lembramos que, entre os planetas extrassolares, alguns gigantes mundos gasosos — tais como HD 177830, Gliese 876, 47 Ursae Majoris, 18 Scorpii e outros mais —, já foram descobertos dentro da “zona habitável” de suas estrelas.
Hawking e Sagan, um paralelo
Ou seja, se possuírem luas, é possível que estas sejam mundos com lagos, rios e oceanos — e habitados por seres vivos. Não foi por acaso que, em sua edição de março de 2000, dedicada aos exoplanetas, a revista norte-americana Discover tenha estampado com destaque em sua capa a chamada Carl Sagan Was Right, ou Carl Sagan Estava Certo.
Certas manifestações de Sagan, anos atrás, assim como as de Stephen Hawking, agora, também causaram surpresa e até desconforto em certos círculos, especialmente na Comunidade Ufológica Mundial. O paralelo entre Sagan e Hawking está justamente na concepção de ambos sobre a questão da vida extraterrestre inteligente e na existência de discos voadores. Por exemplo, hoje circula na Ufologia rumor de que o grande divulgador científico e autor da inigualável série Cosmos [1980] teria confidenciado ao pioneiro J. Allen Hynek, ainda nos anos 80, que realmente sabia que os UFOs existiam, mas que não poderia declarar isso por temer arriscar sua carreira acadêmica.
Abrindo um pequeno espaço no texto para comentar este fato, pode-se dizer que fazem sentido as declarações atribuídas a Sagan, visto que na época a Ufologia desfrutava de muito menos credibilidade do que hoje. E a própria pesquisa científica sobre a presença alienígena na Terra ainda engatinhava, dando seus primeiros passos justamente por causa dele. De qualquer forma, Cosmos permanece sendo de importância fundamental não apenas para a Ciência, mas também para a Ufologia. Já quanto às declarações de Hawking, tudo leva a crer que sejam apenas manifestações de sua própria opinião a respeito do tema, e não fruto de algum conhecimento específico, como se acredita ser no caso de Sagan. Tem sido comum a comparação de como seria um encontro entre a sociedade planetária e uma civilização extraterrestre com a situação vivida quando do descobrimento das Américas.
Contudo, lembrando o contexto histórico da época, há muitas diferenças de cenário e de circunstâncias. Por exemplo, os conquistadores europeus seguramente não possuíam a mais longínqua noção de direitos humanos, como o homem atual, tanto que consideravam os habitantes das Américas inferiores não apenas do ponto de vista evolutivo e cultural, mas também como seres que deveriam ser dominados. Atualmente, nossa civilização entende tal comportamento como completamente absurdo e inaceitável. Basta verificar, por exemplo, o cuidado que cerca a aproximação e o contato com tribos indígenas isoladas, que ainda em 2010 existem na vasta Região Norte do Brasil. Na maioria dos casos, os especialistas, muitos deles ligados à FUNAI, até evitam encontro direto, permitindo que as tribos continuem com sua vida e protegendo-os.
ETs saqueando os recursos do planeta?
Carl Sagan também comparou a situação de um primeiro contato com os eventos da época dos descobrimentos em sua série Cosmos. Mas ele igualmente deixou claro a descomunal diferença que então existiria entre nós e os visitantes, em termos de conhecimento e tecnologia — muito maior do que a diferença entre nativos e conquistadores. Observando nosso próprio comportamento como civilização, Sagan defendia que qualquer cultura extraterrestre capaz de desenvolver o vôo interestelar teria, antes de tudo, que estar em paz consigo mesma, sem ter em seu planeta natal os conhecidos problemas que ainda enfrentamos na Terra. Logo, segundo seu raciocínio, tal cultura teria desenvolvido elevados princípios éticos e morais, e saberia reconhecer que outras espécies, mesmo as mais atrasadas, também teriam direito à vida e à liberdade.
Este conceito, emitido por um cientista nos anos 80, vai frontalmente contra as opiniões de Stephen Hawking. Para o gênio britânico, se os alienígenas chegassem aqui, seriam obviamente muito mais inteligentes do que nós, e possivelmente interessados apenas em seus próprios motivos, razão pela qual, sempre de acordo com Hawking, poderiam saquear os recursos naturais de nosso planeta. J&aac
ute; Seth Shostak, cientista e líder do projeto SETI, o programa de busca por vida extraterrestre, vai além e considera o temor de alienígenas cobiçarem os recursos da Terra injustificado. Diz que a ciência já comprovou que existem planetas rochosos e desabitados orbitando outras estrelas, gigantes mundos gasosos com muito hidrogênio, hidrocarbonetos e outros elementos, de onde se poderia extrair até mesmo água. “Se é assim, por que alienígenas se dariam ao trabalho de buscar recursos em um mundo tomado por turbulência e belicismo, como a Terra?”, questionou Shostak.
De fato, se os nativos americanos na época do descobrimento do continente estavam muito longe do mito do “bom selvagem” praticando, entre outras coisas, canibalismo e sacrifícios humanos, a própria civilização brasileira não é assim tão cordial. Basta lembrar o fim que tiveram os dois seres vistos e capturados em Varginha (MG), e outros mais que teriam sido alvejados por fuzis, no começo da tarde de 20 de janeiro de 1996, segundo testemunhas. Aliás, no Brasil, ainda para citar fatos envolvendo nativos, há alguns grupos indígenas que consideram o nascimento de gêmeos mau agouro e os matam.
Escancarando para os ETs
Shostak lembra ainda que o SETI está construindo o Allen Telescope Array, um imenso conjunto que, quando pronto, terá 300 radiotelescópios buscando sinais de civilizações extraterrestres. Otimista, ele diz que várias transmissões suspeitas de serem provenientes de culturas alienígenas já foram captadas, apesar de não confirmadas, e crê que em duas décadas os cientistas do SETI terão a confirmação que buscam. Alguns de seus colegas falam em manter a localização de uma fonte de rádio alienígena inteligente em segredo até a comunidade internacional decidir o que fazer com sua detecção, mas Shostak diz que isso é totalmente inviável. Contra o motivo alegado para esse acobertamento da mensagem, ele afirma que impedir as pessoas de transmitirem aos ETs, com seus equipamentos particulares, seria uma preocupação menor, visto que já transmitimos para eles tudo aqui da Terra, como mencionado acima.
Desse modo, as preocupações de Stephen Hawking são polêmicas mesmo em meio à comunidade científica, e poucos são os que compartilham de seu ponto de vista. O cientista britânico tem obviamente direito às suas opiniões, com a ênfase de que o tema está nas entrelinhas de seu alerta. Ele defende que os alienígenas podem eventualmente chegar até aqui, contrariamente ao que muitos cientistas têm dito. Assim, muito mais do que uma suposta posição encomendada pelos que defendem a política de acobertamento da presença alienígena na Terra, como acusaram alguns, talvez as declarações de Hawking sobre a ameaça dos ETs à raça humana tenha tido a intenção, muito pelo contrário, de fazer avançar o debate.
A Ciência progride assim, recolhendo fatos novos para comprovar, aperfeiçoar ou descartar idéias que estavam estabelecidas anteriormente. Está sempre em ebulição e evolução, e por isso é nosso melhor meio de buscar respostas a respeito do grandioso e misterioso universo que nos cerca, exemplo a ser seguido pela pré-ciência Ufologia. Portanto, não seria surpresa se o próprio Stephen Hawking, daqui a algum tempo, rever e talvez até reconsiderar algumas de suas afirmações.
O LHC, quarks e os universos paralelos
por Renato A. Azevedo
Mencionada no artigo destas páginas, a Teoria das Cordas postula que as partículas elementares, na verdade, se comportam mais como cordas vibrando do que como partículas se propagando, e seriam como “blocos de construção da realidade”. Esta tese evoluiu para se tornar a Teoria M, segundo a qual, além de cordas, existiriam ainda membranas. Há cientistas que defendem que nosso universo ocupa uma dessas membranas, existindo ao lado de outras, em uma miríade de universos paralelos.
A Teoria das Cordas surgiu para tentar conjugar a da Relatividade, que explica o funcionamento do cosmos em escala cósmica, e a Teoria Quântica, que explica a física de partículas, elétrons, prótons, nêutrons, e outras ainda menores, como quarks. Como ambas são incompatíveis, a saída foi a Teoria das Cordas.
O colossal acelerador de partículas LHC, o Grande Colisor de Hádrons, construído pelo CERN na fronteira franco-suíça, prepara-se para realizar testes com a Teoria das Cordas. Michio Kaku, físico norte-americano considerado um dos pais da proposição, defende que o universo ocupa uma gigantesca “bolha cósmica”, flutuando em um multiverso onde existiriam outros universos paralelos em infinitas outras bolhas.
De fato, é absurdo, como defendido por algumas correntes esotéricas, afirmar que “a Terra vai passar da terceira para a quarta dimensão”. Ora, já habitamos um universo quadridimensional, com as três dimensões comumente conhecidas e mais o tempo. Ou seja, qualquer objeto tem comprimento, largura, altura e uma duração, para quem ainda tiver dúvidas. Daí se falar em espaço-tempo contínuo. Os físicos ainda afirmam que existem outras dimensões ocultas em todos os pontos, até o número total de 11 delas, e o LHC poderá descobri-las fazendo pequenos grupos de partículas colidirem violentamente entre si e analisando os destroços de tal colisão.
Kaku — que participou das séries O Universo e Arquivos Extraterrestres, do History Channel — afirma que o LHC poderá também comprovar a origem da chamada “matéria escura” e até desvendar a natureza do tempo, a ponto de verificar se é possível viajar nele. O cientista também respondeu às polêmicas declarações de Marcelo Gleiser, que passou a atacar a Teoria das Cordas. Em entrevista para a revista Galileu, Kaku sintetizou a resposta em uma frase: “Ele não sabe do que está falando”.