Com mais de 60 anos de pesquisas sobre o assunto, o Fenômeno UFO é muito conhecido e difundido em todo o mundo, tanto que já existem milhares de grupos de pesquisas do assunto e até as forças armadas de vários países se dedicam a estudá-lo. A casuística ufológica, no entanto, não está restrita às áreas urbanas, mas engloba também — e principalmente — a zona rural. Especula-se muito a respeito do que as pessoas pensam sobre os UFOs e como eles são assimilados pela cultura popular, mas buscar informações sobre isso apenas nas regiões urbanas é insuficiente ou inadequado, uma vez que seus habitantes têm acesso a todo tipo de informações — via televisão, internet, filmes, matérias em jornais e revistas etc —, o que pode levar à contaminação do relato de um avistamento.
Para se ter uma ideia do problema, os moradores de centros urbanos podem assistir a Star Wars [Guerra nas Estrelas, de George Lucas] e procurar dados sobre Ufologia na internet a qualquer instante. Além disso, a maioria das pessoas que reside em cidades possui ao menos um conhecimento básico sobre ciência, estando cientes de que vivemos em um planeta orbitando um Sistema Solar, inserido em uma galáxia etc, eque além das nuvens existe um imenso espaço explorável e cheio de mistérios. Os cidadãos do campo, por sua vez, não têm acesso tão fácil aos estudos, não dispõem de recursos modernos para se informar e muitas vezes lhes falta até energia elétrica. Mas sua ignorância quanto aos avanços científicos da atualidade não os priva de emitirem suas interpretações para o Fenômeno UFO, que atinge intensamente as regiões onde vivem.
Influência dos UFOs na cultura
Procurar entender o que essas pessoas pensam é uma forma interessante de saber como diferentes culturas se manifestam diante da presença alienígena na Terra. Nesse trabalho, analisaremos a influência do Fenômeno UFO na cultura popular e a interpretação que os moradores dos povoados maranhenses fazem dele. Os leitores podem se perguntar por que se quer conhecer a opinião de leigos sobre o assunto? E a resposta é simples: além de serem testemunhas puras, sem qualquer conhecimento prévio de Ufologia, sua visão leiga do fenômeno permite que prestem depoimentos de avistamentos e contatos ufológicos descontaminados dos vícios dos moradores de cidades grandes, e isso certamente ajuda na elucidação dos fatos. Uma pessoa urbana, com certo grau de instrução, costuma ficar presa a regras e conceitos. Já alguém do meio rural fala apenas o que vê ou acha que vê de maneira espontânea — e justamente essa espontaneidade, na visão dos autores, é o que falta para um entendimento maior da presença alienígena na Terra.
Deve-se também considerar outro aspecto importante dessa situação, que é o fato de as pessoas mais simples, do interior, criarem lendas e mitos em cima dos fenômenos que testemunham, muitas vezes desconhecidos, dando a eles nomes próprios e tornando mais fácil sua pesquisa no folclore de uma dada região, estado ou país. Por exemplo, quando se fala em mãe do ouro, em muitas áreas do Brasil sabemos a que os moradores se referem. Essa é uma forma de catalogação primitiva, porém válida. Se constatarmos que, ao criarem uma lenda, as pessoas conferem uma explicação para ela, essas podem fornecer as chaves de compreensão do fenômeno observado e até atribuir veracidade ao mesmo.
Em outro exemplo, quando um caçador diz que viu a mãe d’água e ficou com febre por três dias, isso quase sempre atesta a presença de radiação emitida pelo objeto observado. E quando diz que uma curacanga caiu na mata, o caboclo deixa subentendido que pode ter havido a queda de um veículo de possível origem não terrestre, e assim por diante. Na maioria das vezes, fenômenos desconhecidos, como os que acabamos de mencionar, têm uma natureza ufológica — geralmente naves ou sondas que as pessoas tendem a explicar dentro de seu conjunto de valores culturais, sociais ou religiosos. Isso ocorre devido à simplicidade dos moradores do campo, a quem quase tudo que é extraordinário ou raro é desconhecido e, assim, mítico. Portanto, a reinterpretação das lendas com nosso conhecimento contemporâneo, urbano, requer certos cuidados.
Alta incidência ufológica
No interior do Maranhão, onde há grande riqueza de manifestação ufológica, ainda vigora o atraso. As pessoas moram em pequenos povoados, muitas vezes à margem dos rios. As casas são de taipa e palha. Poucas possuem telhas e às vezes não contam nem com serviços básicos, como energia e saneamento. A população é pobre e a economia é totalmente de subsistência, onde ainda se mantém a prática da caça e da pesca. Nesse cenário pacato, fenômenos ufológicos viraram lendas e ciência virou folclore. Os UFOs ganharam seu espaço na cultura local. Em todo o interior do estado encontramos pessoas que afirmam ter visto UFOs e mantido contato com seus tripulantes, mesmo sem saber praticamente nada a respeito deles — o número de casos do gênero não somente é elevado, como também variado.
Em geral, os episódios ufológicos envolvem artefatos em forma de bolas de fogo, luzes noturnas, estrelas caídas, objetos discoides, cilíndricos e outros fenômenos. As descrições dos casos são semelhantes, apesar de as testemunhas não manterem qualquer tipo de vínculo umas com as outras — os observadores são de diversas faixas etárias e muitos jamais assistiram televisão. Tampouco estão familiarizados com séries como Jornada nas Estrelas [Criada por Gene Roddenberry, em meados da década de 60]. Assim, características peculiares e marcantes — como as da chamada luz vampiro, também conhecida como chupa-chupa, que foi o estopim da Operação Prato — acabam fazendo com que o povo crie lendas baseadas nesses fenômenos, absorvendo a casuística ufológica pelo viés de sua própria cultura.
Ao longo dos séculos, os UFOs ganharam vários nomes próprios, conforme se verá a seguir. Um dos mitos mais comuns é o da curacanga, também chamada
de corracanga ou curracanga. Trata-se de uma bola de fogo que sobrevoa os locais a altitudes muito baixas. Há relatos que dão conta de que tais artefatos chegam a cair no chão, queimando a vegetação local e derrubando árvores. O povo do interior acredita que a curacanga é obra de feitiçaria e que bruxos retiram suas cabeças do corpo e as arremessam ao ar para assombrar os caçadores e a população. Os moradores dizem também que a curacanga para sobre pessoas ou as persegue, surgindo do nada. Acabam sempre ascendendo ao céu, mas se houver alguém por perto, ela vem de encontro — faz uma aproximação brusca, como se diz no Maranhão.
“Estranha vagabundeação”
Não há registros de mortes atribuídas à curacanga, felizmente. Mas ela está abundantemente presente na literatura, como é o caso da obra O Folclore no Brasil [1928], em que o historiador e folclorista Basílio de Magalhães (1874-1957) escreve: “No interior do Maranhão existe um mito singular que se liga simultaneamente aos da lobis mulher e do boitatá. É a curacanga. Conforme dados fidedignos, ouvidos de quem nasceu naquela zona, é a seguinte a tradição ali corrente. Quando qualquer mulher tem sete filhas, a última vira curacanga. Isso é, a cabeça lhe sai do corpo à noite, e em forma de bola de fogo, gira à toa pelos campos, apavorando a quem encontrar nessa estranha vagabundeação. Há, porém, meio infalível de evitar-se esse hórrido fadário: é tomar a mãe da filha mais velha para madrinha da ultimogênita”.
Um trabalho investigativo conduzido pelo Grupo de Estudos e Pesquisas sobre UFOs (GEPUC) próximo a mananciais da zona rural concluiu que são comuns eventos insólitos como o descrito. Eles se devem, em parte, ao fenômeno natural do fogo fátuo, que se origina de organismos em decomposição. “Uma parte dos fenômenos ocorridos nas áreas rurais permaneceu inexplicada para o homem do campo, que os denominou de diversas maneiras, de acordo com a região em que vivia, a sua cultura e conhecimento”. Os pesquisadores assinalam que o mito da curacanga, muito comum no norte do Brasil, é um exemplo disso. “Segundo a lenda, quando uma criança nasce, e não é batizada logo, a cabeça da curacanga sai do corpo e vaga pelo mato sob a forma de uma bola de fogo”.
A semelhança com eventos ufológicos é notável. Acredita-se que a curacanga pode ser um UFO ou uma sonda ufológica, pequena esfera muito iluminada que parece estar pegando fogo. A mistificação do fenômeno é um fato cultural, visto que, devido à falta de informação, as pessoas acabam atribuindo-lhes sentido religioso — caboclos que já viram a curacanga dizem que encontrar-se com ela é assustador, mas que não sentem calor vindo dos objetos. Na maioria das vezes, a curacanga aparece na altura das palmeiras e lá fazem suas manobras. Vale lembrar que elas têm o tamanho de uma bola — ou de uma cabeça, como preferirem —, o que reforça a tese das sondas.
É sabido que essas, na maioria das vezes, também apresentam mesmo tamanho, e que suas aparições ocorrem geralmente em locais próximos a mananciais, referendando a teoria geral de que os UFOs estão intrinsecamente relacionados com a água. Chamar os objetos de bolas de fogo também pode ser uma espécie de confusão das testemunhas, que, por não terem com o que comparar o que veem, acabam associando a intensa luz ao redor dos objetos com o fogo. Aparições semelhantes já foram registradas também em grandes centros urbanos, como o Caso Capão Redondo, de 02 de janeiro de 1998, e se constata que realmente esse tipo de UFO tende a sobrevoar os locais a baixa altitude, o que o caracteriza mais como uma sonda.
Berros altos e aterrorizantes
Um mito igualmente interessante é o do gritador ou bradador, um ser misterioso que passa pelas estradas dos povoados e solta berros aterrorizantes e altos. O gritador jamais ultrapassou o campo da lenda, já que até hoje ninguém ainda o viu. Os camponeses arriscam dizer que se trata de um feiticeiro, um cachorro possuído, a mãe d’água ou ainda de almas penadas. Talvez nunca tenha sido visto pelo terror que as pessoas sentem ao ouvir os gritos, o que lhes tira a coragem de conferir sua origem. O gritador costuma aparecer nas altas horas da noite, quando as pessoas do campo estão em sono profundo. A lenda diz ainda que quem tentar vê-lo será assombrado e terá febre de três dias, morrendo em seguida. Há relatos de casos de assombro causado pelo mito, mas, ao que se saiba, nenhuma morte — recomenda-se às pessoas assombradas pelo gritador a execução de algum trabalho específico, ditado pelos “espíritos” que as assombram, para ficarem livres e não morrerem do feitiço.
O mito também é conhecido em outras regiões do Brasil, embora seja pouco comentado em livros de folclore — há relatos não apenas no norte do país, como também no sul. No Paraná, o citado GEPUC registrou casos nos municípios de Pinhão, Piraquara, Colombo e Campina Grande do Sul, todos na área metropolitana de Curitiba. Mas os moradores dessas localidades têm explicações diferentes para os fenômenos. Em Pinhão, por exemplo, os sitiantes acreditam que se trata do espírito de um homem ateu que, por ter cometido crimes, vaga pelas noites gritando. Em Colombo, os moradores creem que seja uma múmia que foi desenterrada de um cemitério local. Em Piraquara existem diversas versões.
Em todos os casos, as variações paranaenses da lenda são singularmente diferentes das maranhenses. As testemunhas do bradador afirmam que ouvem o grito de um homem que parece estar sentindo dores. Um vulto negro foi observado em alguns casos, não sendo possível observar detalhes, como orelhas, olhos, nariz ou boca. Teria forma humana e, na maioria dos casos, andaria como um homem comum, dizem os camponeses. Em dois episódios, o ser levitava. Na zona rural do município de Pinhão, moradores afirmam que não se deve repetir o grito do bradador em hipótese alguma, pois isso pode atrair a entidade. Mas uma dupla desobedeceu a tradição e imediatamente ouviu uma resposta do suposto ser, que bradou bem próximo de sua casa — o grito vinha a poucos metros da porta, que começou a ser forçada. Ao mesmo tempo, as janelas eram agitadas e uma forte ventania atingiu a habitação. O telhado também foi remexido. Esses eventos ocorreram todos ao mesmo tempo e diminuíram em seguida. Então, a dupla começou a rezar o terço.
Cabelos cor de fogo
O gritador é uma lenda aterrorizante para quem a presencia. Os berros são muito agudos e roucos, além de intensos — há quem diga que não é algo real, mas as testemunhas discordam. Por comparação com outros eventos e mesmo outras lendas, pode-se apenas especular que o gritador seja mais um fato ufológico distorcido pela falta de conhecimento do povo rural. Poderia tratar-se de uma entidade que solta seus gritos por aí, por alguma razão desconhecida? Mas por que razão alguém ou alguma coisa faria algo assim, especialmente em povoados remotos? É bastante estranho. Mas, mais importante do que descobrir os motivos da gritaria, é descobrir quem grita — e claro que não podemos interpretar esse fenômeno apenas pela ótica ufológica. Há pesquisadores que classificam o mito como uma entidade biológica terrestre desconhecida da zoologia, talvez produto de uma rara combinação genética. Alguns chegam a compará-lo com criaturas inusitadas, como o homem-mariposa dos Estados Unidos, por exemplo.
Mas, particularmente interessante é a lenda do curupira, descrito como um menino de estatura baixa, cabelos cor de fogo e pés com calcanhares para frente, que confundem os caçadores. Na área rural do Maranhão, o mito do curupira virou motivo para muitos “causos”, as tais histórias de caçador — há os que juram que encontraram o curupira na mata. Mas cabe esclarecer que a caça no interior do estado é realizada de madrugada, geralmente entre as 03h00 e 05h00, o que indica que o mito é predominantemente noturno. Os caçadores saem para a floresta mais cedo e lá sobem em galhos de árvores, onde armam a “tocaia”, ficando à espera das presas. É nessa situação que encontram vários habitantes inesperados das matas, e na maioria das vezes os tratam como sendo o curupira. Há uma variação da lenda que diz que o caçador não pode contar seu encontro a ninguém, caso contrário nunca mais logrará sucesso em futuras empreitadas.
Certos depoimentos, obtidos à custa de muita insistência, aludem que o curupira ordena às testemunhas regras para sua caçada, chegando a determinar qual animal deve e qual não deve ser abatido. Ou intervêm na caçada pondo-se em frente das presas, bloqueando a mira do caçador que, já assustado, desiste do tiro. Uma testemunha afirmou que estava prestes a atirar em uma paca quando ela se transfigurou no curupira em sua frente. A descrição do ser chama muito a atenção — tem em torno de 1,5 m, cabelos vermelhos, grossos e voltados para trás, de forma que lembram três chifres. Seus olhos são vermelho-fogo e ameaçadores. O mais curioso é que o curupira, segundo quem o viu, está sempre rindo.
O aspecto lendário do curupira, de um menino negro com pés voltados para trás, além dos detalhes corporais e faciais do ser, é descrito com exatidão pelas testemunhas. E assim, o curupira é visto simultaneamente com respeito e temor pela população camponesa. Há inúmeras menções ao curupira na literatura. O site Terra Brasileira o define como um ser fantástico que, segundo a crença popular, habita as florestas e é o protetor das plantas e dos animais. “Referido desde o século XVI, o curupira é descrito como tendo a estatura de um menino, pele escura e os pés às avessas, isso é, com os calcanhares para frente. Suas pegadas enganam os caçadores e seringueiros, que se perdem nas florestas”.
Oferendas de pinga e fumo
O site também informa que o curupira faz as pessoas se perderem ao imitar gritos humanos — e para não serem incomodados, os seringueiros e caçadores, adaptando um costume indígena, fazem oferendas de pinga e fumo ao ser. Tais condições são compatíveis com as de entidades extraterrestres vistas por muitas pessoas, nos mais diversos países. Um caso conhecido é da captura de seres não humanos em Varginha, em 20 de janeiro de 1996. Segundo os registros, as únicas pessoas que afirmaram ter visto o curupira foram caçadores, por isso se supõe que a criatura viva escondida em matas, aliás, como diz a lenda. Por ser considerado um ser real, aumentam as chances de que se trate de uma entidade ufológica — céticos explicam as visões do curupira como delírios de caçadores que adentram as matas de madrugada, cochilos seguidos de sonho ou uma reação cerebral diante do medo do escuro. Uma testemunha chegou a afirmar que tomou café coado com teia de aranha com o curupira dentro de uma árvore oca. Delírio ou não, os caçadores veem e ouvem muita coisa enquanto esperam pela caça.
Mas nenhum registro do folclore maranhense estaria completo sem que se falasse da mãe d’água, também conhecida como senhora das águas. É a entidade mais vista nos povoados rurais do estado, próximos a mananciais. Figura respeitada como uma divindade, por ser considerada a protetora dos rios e lagos — apesar de sua aparente repulsa a seres humanos —, é geralmente descrita como uma mulher branca, com cabelos compridos, pretos e lisos, usando um longo vestido. O curioso é que, em algumas área pesquisada, testemunhas a descreveram com aparência semelhante à de uma sereia — ou seja, com cauda de peixe em vez de membros inferiores — o que seria natural. Nos relatos coletados, a mãe d’água assume a forma de uma pessoa que morreu e passa a assombrar seus parentes, com a peculiaridade de estar com seu vestido característico, o que faz com que a testemunha reconheça sua artimanha e a encare até com certo humor.
A mãe d’água também é vista por pescadores desfazendo suas armadilhas de palha para apanhar camarões e lagostas nos rios, ou perseguindo pessoas que seguem para os poços no meio da mata. À medida que persegue alguém, vai aumentando de tamanho até ficar enorme — tal qual a mulher de sete metros, outra lenda muito comum em Minas Gerais. Igualmente, a mãe d’água às vezes aparece caminhando sobre o leito dos rios, fugindo assim que é vista ou assumindo a forma d
os mais variados seres para assombrar pescadores. Eles a reconhecem por sua abrupta desaparição diante das embarcações. Diz a lenda que quem encara a mãe d’água sofre a perda de consciência e febre por vários dias.
“Sereia das águas amazônicas”
Igualmente presente na literatura, em especial na da região Norte, a mãe d’água é tratada no site Amazônia: “Ela é a sereia das águas amazônicas. Dotada de indescritível beleza e canto maravilhoso, a mãe d’água fascina os pescadores que passam muito tempo sozinhos a navegar. Muitos deles não resistem ao seu delicioso canto e à sua beleza estonteante. Esses são levados pela ‘visagem’ [Assombração] para morar com ela nas profundezas das águas, onde desaparecem”. O site relata ainda que a maioria dos pescadores nunca mais volta para suas famílias. A mãe d’água habitaria as águas doces, sendo os rios e igarapés os seus domínios. “Por isso, quem sai para pescar em horas mortas pode incomodar a mãe d’água, que facilmente se melindra e encanta o invasor, castigando-o com uma febre alta que nenhum médico dará jeito”. Como nos exemplos anteriores, há a suposição de que a mãe d’água possa ser alguma entidade ufológica em ação em nosso planeta.
O mais curioso na lenda, no entanto, são as várias formas sob as quais ela é avistada, e as diversas interpretações e nomes que recebe. Ela também está presente em áreas rurais de outros estados do Brasil — seus atributos femininos se devem à sua fisionomia delgada e suave. O vestido longo e de tecido muito leve pode ser, na verdade, uma espécie de aura ou halo de luz emitida de um objeto suspenso no ar, como já descrito por testemunhas. Seu comportamento, porém, destoa do de uma entidade extraterrestre típica. Seria difícil aceitar que um ser de outra civilização se dedicasse a assustar ou assombrar pescadores e aldeões, assumindo a forma de mortos ou de seres horripilantes — a menos que as testemunhas estejam exagerando ou distorcendo os fatos, interpretando-os de forma equivocada.
Naves espaciais levantando voo
Se uma pessoa estiver psicologicamente abalada com a morte de um ente querido, por exemplo, tende a pôr a culpa na mãe d’água. Já as descrições de mães d’água gigantes — que não são poucas na Amazônia — podem ser atribuídas a naves espaciais levantando voo e emitindo algum tipo de exaustão para baixo, combinada ou não com luz, dando a mesma impressão da figura de uma mulher de vestido, agora crescendo em tamanho. Ou, quem sabe, seria uma entidade ufológica sendo elevada para uma nave acima dela por um cone de luz, como já descrito por muitas testemunhas, também dando a impressão de que está aumentando de volume. Para alguns estudiosos, a mãe d’água seria um ser raro e desconhecido, resultado de uma mutação genética, assim com o homem-mariposa, o curupira, o chupacabras e outras criaturas misteriosas que estão à solta por aí.
Sendo ou não uma entidade de origem não terrestre, a mãe d’água é a mais avistada criatura das lendas maranhenses, e a mais difícil de ser investigada. Um mito com raízes ufológicas que demonstra ser bastante versátil é o do aparelho, um fenômeno aéreo recordista em avistamentos. Aparelhos são quaisquer artefatos que voem e não tenham uma explicação plausível, possuindo formato de cilindros, esferas, discos ou focos de luz. Quando esfera, só não pode ser de cor vermelha e sobrevoar o local a baixa altitude, senão é tida como uma curacanga. E se for um disco, é também chamado de prato. Em linguagem mais clara, os aparelhos são nossos típicos discos voadores — mesmo em se tratando de um fenômeno mundialmente conhecido, muitas pessoas das áreas rurais do Maranhão não os encaram como tendo origem extraordinária, e menos ainda extraterrestre.
As testemunhas, em geral humildes camponeses, reconhecem que os aparelhos sejam naves voadoras, mas pensam que quem os pilota somos nós, os humanos da cidade. Nossos satélites artificiais, aquelas luzinhas fracas que podem ser vistas facilmente em noites de céu limpo, sobrevoando a Terra a grande altitude e sempre em linha reta, também são considerados aparelhos pelos moradores rurais. Das pessoas do campo, pouquíssimas acreditam que o homem foi capaz de chegar ao espaço — embora exista gente assim até nas cidades. Para elas, os aparelhos seriam enviados pelo governo, sendo causadores de toda forma de desordem, inclusive aquela relacionada de forma intrínseca com o fenômeno chupa-chupa, tão ativo na Amazônia nos anos 70 e 80.
População anêmica e raquítica
Os camponeses dizem que a população urbana é anêmica e raquítica, e assim precisaria do sangue dos caboclos para ficarem fortes. Por isso, vão às áreas rurais em seus aparelhos sugar-lhes o sangue. Quando se referem ao governo, não estão indicando exclusivamente o brasileiro. O povo mais culpado por enviar aparelhos seriam os japoneses, por serem os mais anêmicos de todos, segundo uma típica visão xenófoba de culturas atrasadas. O fenômeno dos aparelhos é a mais evidente presença de UFOs no cenário rural. Ainda assim, as testemunhas fazem certa confusão com fatos explicáveis, como o já citado satélite artificial, além de meteoritos, aviões, helicópteros etc. Mas esses são casos à parte, já que o rurícola não está apto a reconhecê-los. Os aparelhos são os casos mais frequentes no interior e não raramente provocam algum dano às vítimas, como queimaduras e tontura.
Muitos têm medo dos aparelhos por sua fama de sugadores de sangue, adquirida no final da década de 70 — apesar de que, desde então, têm sido registradas muito poucas ocorrências desse tipo. Mas não é só no meio rural que encontramos tantas lendas, que podem estar associadas a fenômenos ufológicos. Nas proximidades dos centros urbanos também há uma quantidade delas. Vejamos, por exemplo, casos de ocorrências de UFOs na Ilha dos Caranguejos e Ilha do Medo, localizadas na Baía de São Marcos, próximas da c
apital maranhense, São Luís. Há uma curiosa lenda naquelas ilhas que diz que pessoas desaparecem ou morrem ao nelas desembarcarem. O mito que se refere especificamente à Ilha do Medo conta ainda que aparecem tesouros na praia, mas quando uma pessoa vai pegá-los — eles desaparecem na sua frente, para reaparecerem em outro lugar mais afastado. Assim, a pessoa vai lentamente adentrando na ilha sem notar, cega pela ganância, até se perder.
A lenda é mais contada por pessoas idosas e já foi devidamente pesquisada por ufólogos que lá estiveram, como o norte-americano Bob Pratt [Autor de Perigo Alienígena no Brasil, código LIV-014 da coleção Biblioteca UFO. Veja na seção Shopping UFO desta edição]. Mas como as ilhas não têm importância econômica para a região, não são exploradas, servindo apenas para embelezar o cenário das praias de São Luís — e na falta de explicações lógicas para tantas mortes e desaparecimentos que nelas ocorrem, os UFOs levam a culpa, ainda que não haja muitos avistamentos de luzes estranhas por lá. Alguns moradores de outra ilha na mesma baía, no entanto, consideram bobagem associar as luzes a UFOs, mesmo que ninguém tenha coragem de ir lá pessoalmente para comprovar ou não sua procedência. Como as sereias constituem outra lenda igualmente espetacular para “elucidar” o mistério, muito presente na região, só resta mesmo estabelecer sua relação com os UFOs.
Sugando o sangue das pessoas
É bem claro se ver, pelas descrições, que muitos fenômenos presentes nas lendas do folclore rural do Maranhão são provavelmente de origem extraordinária, talvez até não terrestre. A maioria já foi observada por pessoas que detinham conhecimento sobre Ufologia, ratificando a realidade dos mitos, sua conexão com o Fenômeno UFO e conferindo-lhes enfoques atualizados. Não restam dúvidas de que muitos dos tais aparelhos, por exemplo, sejam naves ou sondas alienígenas, uma vez que foram até mesmo investigados e assim considerados pelos militares da Força Aérea Brasileira (FAB), durante a Operação Prato — os aparelhos estão intrinsecamente relacionados com o fenômeno chupa-chupa, sendo, na verdade, a mesma coisa.
Enquanto no Maranhão os populares chamam os agressores de aparelho, no vizinho Pará são chupa-chupa. A única diferença é de nomenclatura, além do que, o chupa-chupa se refere ao tipo de aparelho que suga o sangue das pessoas. Lendas costumam ser fantásticas demais por agregarem subprodutos do medo e dos delírios dos camponeses. Mas, se de um lado não se pode descartar a hipótese da atuação de entidades extraterrestres a gerá-las, por outro também não se pode descartar possibilidades alternativas para a origem do mito. Seres terrestres desconhecidos da ciência ou mutações genéticas são perfeitamente plausíveis para explicar o surgimento de algumas lendas — aquelas que não têm origem em fenômenos extraordinários. Especialmente se considerarmos que o comportamento das entidades observadas não é condizente com o esperado de seres que se imagina superdesenvolvidos, capazes de viajar pelo espaço em naves espaciais. Psicólogos, parapsicólogos e neurologistas afirmam que as criaturas vistas pelos populares não passam de projeções mentais geradas pelo conjunto de seus medos, crenças místicas e religiosas. Essa assertiva é reforçada pela constatação de que fenômenos similares não acontecem tão intensamente em centros urbanos, ou em regiões onde não se verifica as lendas do curupira ou da mãe d’água.
Uma lenda igualmente intrigante, cuja explicação é desafiadora, é a do gritador ou bradador. Poucas pessoas cultas e especialistas em Ufologia chegaram a ouvi-lo. Os gritos de tal ser são muito altos e agudos, descritos como “rasgados” pelas testemunhas, como se expressassem grande dor — lembram o grito de uma mulher e um soar de apito mesclados. São emitidos em intervalos de tempo específicos, sendo que entre um e outro berro se nota que o suposto ser está em movimento ou no caminho por que anda a testemunha.
Fenômeno ufológico reconhecido
Como tais caminhos em geral são curtos e ligam as casas dos povoados, todos os moradores nos arredores ouvem o barulho. O que mais intriga é o fato de uma criatura misteriosa chamar tanto a atenção por meio de estridentes gritos. E embora o gritador não possa ser analisado apenas pela ótica ufológica, a hipótese de ilusão por parte das testemunhas, aventada por especialistas, fica logo descartada devido ao seu elevado número e ao alto grau de realidade do fenômeno.
Também não se exclui a possibilidade de se tratar de uma entidade terrestre desconhecida. Seu comportamento é o que mais gera celeuma, pois a ideia de um ser alienígena, que vem até nós apenas para se esconder na mata, e à noite sai gritando pelas estradas de povoados pobres, soa um tanto ridícula. Já a curacanga é uma lenda que tem muitas chances de ser reconhecida como um fenômeno ufológico genuíno, especialmente por se tratar de uma bola de fogo vista não só nos povoados rurais maranhenses, mas em todas as partes do mundo. A aparente luz em volta de um objeto voador se assemelha a uma chama, razão pela qual bola de fogo é a terminologia mais adequada que os caboclos encontraram para defini-la.
E não somente o povo rural faz tal associação, mas quase todos os que testemunham o fenômeno, que não têm conhecimento sobre Ufologia. O que fica difícil de aceitar, como diz a lenda, é que seja a cabeça de uma feiticeira pegando fogo e voando por aí. A curacanga só precisa ser filmada ou fotografada por uma equipe especializada para se tornar um fenômeno ufológico reconhecido. Talvez venham a perder o nome folclórico, sendo então consideradas apenas UFOs, já que apresentam um comportamento bem típico de sonda: baixa velocidade, porte reduzido, sobrevoo ou flutuação a baixa altitude, luminescência afogueada e formato esférico. Relatos coletados dão conta de que costumam pairar acima de pessoas agrupadas, como em rodas de vizinhos, à noite.
Nesses casos, o pânico é geral e ninguém permanece no local para conferir o que acontece depois. Como as quedas de curacanga são relativamente frequentes, remetendo a acidentes com UFOs, perguntamo-nos se nossos visitantes andariam testando uma nova tecnologia espacial aq
ui na Terra? Ou seria apenas uma falha em seus sistemas? O certo é que elas caem, queimam a área por onde passam, mas nunca deixam vestígios ou destroços. Se analisarmos algumas lendas que têm personagens antropomórficos em sua origem, diríamos que a mãe d’água pode ser classificada como um ser extraterrestre do tipo beta.
As descrições fisionômicas da suposta criatura que dá origem ao mito são compatíveis com esse tipo. Mas, mais uma vez, o que intriga é o comportamento da entidade: seus atos de assombrar pessoas e desatar armadilhas de pescadores soam fantasiosos demais, a menos que se trate de meros erros de interpretação das testemunhas. A entidade poderia estar posicionada de costas próxima de uma armadilha, o que teria gerado confusão sobre sua atitude. Já o assombro pode ser uma confusão mental provocada pelo medo. Mas e se por trás de todas essas lendas estiverem discos voadores? Resta-nos tentar analisar seu comportamento, lembrando que esses objetos são veículos de procedência extraterrestre, concretos, presentes e observados no mundo inteiro — embora maior número de ocorrências se verifique em áreas não urbanas.
Complexidade dos fenômenos
Se sua ação majoritária nas regiões rurais for uma tentativa dos nossos visitantes de se manterem ocultos, podemos considerar a tentativa frustrada, pois o ser humano vem ocupando todas as áreas do globo terrestre, sem deixar muito espaço para a ação camuflada de seres que venham de fora. A diversidade e complexidade dos fenômenos envolvidos nas lendas do folclore brasileiro, em especial o maranhense, nos levam a suspeitar que haja mais de uma razão ou foco de interesse por parte de nossos visitantes em sua exploração da Terra e de sua população — levando em conta a variedade de espécies extraterrestres que nos visitam, como indicam as pesquisas, supondo que sejam originárias de planetas diferentes, é de se supor que suas intenções sejam também distintas.
Notemos que alguns seres estão aqui em missão aparentemente pacífica, preservando a natureza, tentando nos alertar quanto às nossas ações autodestrutivas etc, enquanto outros vêm e atacam pessoas e animais, causando lesões, queimaduras e até mortes. Seria de bom alvitre que uma equipe multidisciplinar, composta por folcloristas, historiadores, geógrafos, sociólogos, antropólogos, etnólogos, psicólogos, biólogos, físicos etc, assim como ufólogos, saísse por todo o país documentando, mapeando, pesquisando e analisando as lendas e mitos folclóricos, com vistas a estabelecer seus agentes causadores. A presença de ufólogos em tal equipe teria como função constituir um paralelo com o Fenômeno UFO.
Os verdadeiros objetivos
Ao fim de tal trabalho, teríamos um quadro completo dos mitos e lendas que ainda sobrevivem e vicejam em nosso vasto país. Reinterpretando-os, certamente constataríamos que boa parte tem como ingredientes fenômenos ufológicos. Com isso, não só a Ufologia Brasileira progrediria, como também as manifestações folclóricas seriam mais bem compreendidas, já que muitas vezes são tidas como reminiscências de um passado arcaico em extinção. Com tal trabalho, elas seriam valorizadas, aumentando a autoestima dos povos que as produzem e estimulando a indústria do turismo — o que, de quebra, proporcionaria o desenvolvimento econômico de regiões tão carentes de recursos.
Nossa conclusão óbvia é de que os UFOs merecem maior atenção por parte de todos nós, e principalmente dos cientistas e dos governos, que muitas vezes obliteram a realidade, negando-se a aceitá-la. Esses veículos espaciais em missão na Terra, seja de que natureza for, se manifestam em todo mundo e não escolhem locais para atuar, nem classe social para testemunhá-los — qualquer pessoa, em qualquer lugar, é uma testemunha em potencial. Daí a importância desse conhecimento chegar a todos, sendo inadmissível que algo tão importante quanto o Fenômeno UFO ainda seja ignorado por vastos segmentos da sociedade.
Como se constata nesse trabalho, extraterrestres fazem parte da nossa cultura, e queiram ou não, eles vêm sendo assimilados de forma passiva por meios dos mitos e das lendas folclóricas, que os tomam ora como defensores da natureza, ora como assassinos vindos dos céus, mas sempre como seres exóticos e de comportamento esquivo. Talvez ainda demore bastante para sabermos quais são, afinal, seus verdadeiros objetivos — talvez a resposta não seja conhecida nem mesmo no esperado dia do contato final.