Meng Zhaoguo, um trabalhador rural da cidade de Wuchang, nordeste da China, diz que tinha 29 anos de idade quando quebrou, pela primeira e única vez, os seus votos de fidelidade no casamento. Foi com uma extraterrestre de forte e incomum estrutura corporal. “Ela tinha três metros de altura e seis dedos, mas todas as outras características físicas dela eram totalmente iguais às humanas”, diz Zhaoguo, ao se referir ao seu encontro imediato com espécies alienígenas. “Depois, eu contei tudo para a minha esposa. Ela não ficou muito brava”.
Enquanto uns poucos chineses, como Meng, dizem ter conseguido esse elevado grau de intimidade com os extraterrestres, um crescente número de pessoas na nação mais populosa do mundo, acredita em objetos voadores não identificados. As associações para estudos de UFOs oficialmente registradas na China têm, somadas, cerca de 50.000 membros. Mas alguns estimam que a quantidade de chineses interessados neste tipo de assunto está, provavelmente, na casa das dezenas de milhões. Sun Shili é um dos maiores entusiastas do tema e ele sabe exatamente onde estará no dia em que os extraterrestres finalmente fizerem contato com a humanidade. O professor aposentado, 67 anos, será um dos 21 membros da delegação montada pelas associações internacionais de UFOs para representar a terra assim que as negociações começarem.
Ele, que era um tradutor de espanhol para Mao Zedong em encontros diplomáticos de alto nível, diz que a linguagem não será um problema. “Nós, muito provavelmente, utilizaremos a telepatia”. Num país que foi perdendo as suas crenças espirituais a medida que o marxismo abria caminho para o materialismo, a idéia de mundo estranhos situados a muitos anos-luz de distância é a última grande esperança para muitos. Richard McNally, psicólogo de Havard, diz que reconhece este padrão de comportamento a partir das pesquisas feitas em ocidentais que dizem ter sido abduzidos por alienígenas, e que caracterizaram esta experiência como um “aprofundamento espiritual”.
“Os nossos abduzidos se apresentam, tipicamente, como indivíduos \’espiritualizados\’, para os quais as religiões organizadas oferecem pouca satisfação espiritual. E os observadores chineses podem muito bem entrar neste tipo de classificação”, diz McNally. Shili, o tradutor de espanhol, se senta num banco da capital chinesa numa manhã ensolarada de primavera e começa a contabilizar, nas calçadas próximas, quantos transeuntes ele acha que podem ser extraterrestres disfarçados de humanos. Eles estão aqui para ajudar a humanidade a se desenvolver aos poucos, explica. Shakespeare e Einstein não são seres de outro planeta, mas eles podem muito bem ter recebido inspiração de alguma galáxia distante. “Estima-se que 80% das novas invenções foram inspiradas nas pessoas através do seus sonhos”, diz Shili. “Talvez seja esta a maneira que os extraterrestres utilizam para passar o seu conhecimento para nós”.
“Os extraterrestres estão fazendo com que a humanidade avance no caminho da perfeição, mas eles só podem fazer isso de uma maneira bem gradual. Eles nos fornecem conhecimentos e habilidades que são somente um pouco mais avançadas do que aquelas que nós temos no momento”, afirma Shili. “Se eles nos dessem uma quantidade grande de conhecimento de uma só vez, nós não seríamos capazes de lidar com ele”.
Como em muitas outras áreas do conhecimento humano, a China é também uma força emergente a ser reconhecida nos estudos ufológicos. Em setembro, a associação internacional chinesa de UFOs fará um encontro internacional sobre pesquisa ufológica na cidade portuária de Dalian, norte da China. “A realização deste encontro mostra que a China está aos poucos se tornando uma grande potência nas pesquisas de UFOs”, diz Zhang Jingping, um dos líderes da associação. Um grupo de dedicados entusiastas, que forma o núcleo da associação de pesquisas ufológicas de Beijing, China, está em constante estado de alerta, prontos para sair em campo e investigar os avistamentos do misterioso fenômeno nos céus noturnos.
Eles tiram fotografias, gravam vídeos e entrevistam testemunhas. Tudo com o objetivo de tentar abordar o tema do ponto de vista científico, segundo Zhou Xiaoquiang, o presidente da associação. O resultado é que de 95 a 99% dos avistamentos podem ser explicados naturalmente: aviões ou satélites. “Mas uma pequena minoria pode realmente ser UFOs, e nós devemos levá-la a sério”, diz. Xiaoquiang, 57 anos, executivo de uma companhia de transportes, gasta um grande parte do seu tempo estudando UFOs, mas ele se lembra de uma época quando isso não era permitido. Após a revolução cultural, em 1966, o seu recém-adquirido diploma universitário lhe valeu uma passagem só de ida para o interior do país: Uma vítima da estratégia de Mao para incutir valores proletários nos intelectuais.
A entristecida vida que levou por toda a década seguinte quase fez com que ele se esquecesse que poderia haver algo mais, além dos limites da comunidade rural a que estava preso. Mas, quando finalmente acabou a revolução cultural, e a China lentamente emergiu de décadas de isolamento auto-imposto, Xiaoquiang se lembra de ter assistido ao clássico de Steven Spielberg, Encontros Imediatos do Terceiro Grau. Foi uma revelação. E não foi somente todo um novo mundo que se abriu para ele, mas todo um novo universo, aonde tudo parecia possível, até mesmo extraterrestres.
“O povo chinês está interessado em UFOs porque a vida dos chineses melhorou. Agora que nós não precisamos mais nos preocupar em conseguir o suficiente para comer, podemos começar a nos preocupar com outros assuntos como esse”, diz Xiaoquiang. Huang Yanqiu, um fazendeiro de 49 anos de idade e que vive no vilarejo de Beigao, ao norte da província de Hebei, se lembra do seu único encontro com extraterrestres, em 1977. Ele acordou no meio da noite e se viu no meio de doishomens que falavam e se portavam como humanos.
Mas eles tinham poderes especiais. Levaram-no sobre as costas, num vôo noturno, da província de Heilongjiang no norte da China, até a província de Fujian, no sudeste do país. E por fim, levaram-no para o parque de Tiananmen. Para um jovem que nunca tinha estado a mais do que uns poucos quilômetros de distância de sua casa, mas tinha o desejo secreto de ver o mundo, foi a experiência da sua vida. “Nós não podíamos ir a nenhum lugar naquela época. Não havia carros, somente bicicletas”, ele diz. “Talvez tudo tenha sido somente um sonho”.