O norte-americano Edwin Aldrin, 67, afirma apoiar a mudança no orçamento da Nasa para atender à visão do presidente George W. Bush, que quer mandar humanos à Lua e a Marte e desenvolver logo um substituto para o ônibus espacial. As novas diretrizes, que retiram verba de programas como missões não-tripuladas e observação da Terra, têm sido criticadas por cientistas. “Alguma coisa precisa ceder durante esse período, e isso pode exigir algumas decisões impopulares”, disse Aldrin.
“Buzz”, como é mais conhecido, entrou para a história em 1969 como o segundo ser humano a pisar a Lua, logo após o “pequeno passo” de seu companheiro de missão Neil Armstrong. Gostou tanto da brincadeira que se tornou, recentemente, um dos grandes defensores da necessidade do retorno da humanidade ao satélite da Terra, nem que para isso seja necessário tirar dinheiro de projetos científicos.
O astronauta deu entrevista à Folha, por e-mail, de Cingapura, enquanto participava das gravações da mesa-redonda “Future Summit”, da rede de TV CNN. Só respondeu a quatro perguntas, sem direito a réplica. Defendeu, ainda, a doutrina espacial lançada em outubro por Bush, segundo a qual os EUA se reservam o direito de negar o acesso de nações inimigas ao espaço. “Os EUA, em comparação com outras nações do mundo, sempre estiveram em posição de paz”, afirma Edwin Aldrin. Leia a seguir a entrevista.
FOLHA – A administração Bush revelou recentemente uma doutrina que dá aos EUA o direito de negar a outras nações o acesso ao espaço. Como o senhor vê esse plano? EDWIN “BUZZ” ALDRIN – Não vejo mudança significativa em nada do que seja aceito internacionalmente há anos. Os EUA estão obtendo vantagens em avançar a tecnologia usando o espaço de maneira tão completa que seus ativos no espaço são vulneráveis, o que pode atrapalhar nossos esforços pacíficos para beneficiar nossos cidadãos. Nós queremos nos reservar o direito de proteger esse patrimônio. Bloqueios têm sido feitos internacionalmente para negar acesso de alguém a linhas de navegação, mas isso geralmente é um ato de conflito ou algum tipo de declaração [de guerra]. Para mim, os EUA, em comparação com outras nações do mundo, sempre estiveram em posição de paz e não de adquirir território de outros.
FOLHA – O senhor apóia a visão do governo atual para o espaço, que foca na exploração da Lua e corta financiamento para pesquisas espaciais? ALDRIN – Eu apóio a visão para a exploração espacial, dada pelo presidente no começo de um ano eleitoral (2004) em uma manobra ousada que respondeu à perda do Columbia e nos deixou com apenas três ônibus espaciais. Quando perdemos a Challenger [1986], tivemos de levantar sozinhos os recursos para substituí-la e não fomos ajudados pelos outros parceiros na estação espacial que existiam na época. Quando perdemos o Columbia, tivemos de pagar o preço e os parceiros internacionais esperaram que nós cumpríssemos nossas obrigações [com a Estação Espacial Internacional]. Vamos fazer o melhor que pudermos, mas certamente não vamos nos colocar em desvantagem.
FOLHA – Onde o senhor colocaria o dinheiro do orçamento da Nasa? ALDRIN – Exatamente onde ele está. Temos de continuar a apoiar o vôo seguro do ônibus espacial até que o aposentemos, por volta de 2010. Além disso, precisamos minimizar o hiato entre o ônibus espacial e a próxima espaçonave, então isso demandará fazer duas coisas de uma vez: desenvolver uma nova nave e continuar lançando a que temos com segurança. Algo tem de ceder durante esse período, e isso pode exigir algumas decisões impopulares.
FOLHA – A revista “Technology Review” põe o vôo espacial tripulado na lista de tecnologias “que merecem morrer”. Ele fazia sentido há 40 anos, mas desde então não conseguimos sair da nossa vizinhança. Qual é o futuro humano no espaço? ALDRIN – Bem, se o vôo tripulado merece morrer, ele morrerá, mas eu não vejo nenhum sinal disso. Na época se dizia que não escolhemos fazer as coisas porque elas são fáceis, mas porque elas são difíceis. Escolhemos um objetivo que inspirasse a nação atrás de nós, que era o de mandar humanos para a Lua. Se mandar humanos ao espaço é um ato de relações públicas ou não, certamente é um sobre o qual o público quer ouvir, em especial os jovens. É possível que os humanos decidam que a exploração robótica é suficiente para qualquer coisa além da superfície da Terra. Não diria que isso é impossível, mas, tento ido além eu mesmo, acho que sempre haverá um desejo humano de olhar e de ir o mais longe que pudermos. É a nossa natureza que nos impele além. Não acho impossível que em 500 anos estejamos mandando a espécie humana para outros sistemas estelares.