Geraldo Lemos Neto, o nosso entrevistado desta edição, é hoje o maior guardião da obra do saudoso médium Francisco Cândido Xavier. Geraldinho, como é chamado pela família e o era pelo então afetuoso sensitivo mineiro, é da cidade de Pedro Leopoldo, no estado de Minas Gerais. Chico Xavier foi amigo de seus familiares desde a infância, porque seus ascendentes eram achegados entre si antes mesmo do nascimento do mais conceituado médium brasileiro.
Na juventude, Lemos Neto namorou, e depois casou-se, com Eliana, moça que morava na casa de Xavier como filha. A proximidade com o médium estreitou-se ainda mais porque ele passou a frequentar sua residência e a compartilhar de longas conversas na intimidade da família. Foi nessas incontáveis ocasiões que o entrevistado ficou sabendo, por testemunhos do próprio médium, sobre suas experiências com seres alienígenas.
Os testemunhos de Chico Xavier, emérito cidadão pedroleopoldense, são valiosos. Na Ufologia, a testemunha equilibrada tem valor importante — é ela quem vê e participa da incidência, não outra pessoa, por mais categorizada que seja para dar opinião. Não fosse a testemunha, o Fenômeno UFO seria apenas um borrão de luz ou um objeto indefinido nos céus, captado por uma máquina fotográfica ou filmadora à noite ou à luz do dia. Porque a incidência não identificada repentinamente se altera, quando se aproxima do solo em altíssima velocidade, o observador se depara com a nave incomum e, depois, com seu ocupante.
Curiosamente, quando aterrissada, a chance de captação fotográfica se perde por um tipo de ocultação deliberada do engenho, e a nave estruturada denota não ser produzida com tecnologia humana. Sua tripulação, quando em contato com observadores, é identificada como não terrestre. Trata-se de algo fantástico, difícil de crer e explicar, mas efetivamente real. Não é sonho nem ilusão.
Realidade e acobertamento
Trata-se de evento tão fora do entendimento comum que a testemunha, por mais estudiosa e equilibrada que seja, encontra dificuldade em aceitar sua realidade, e mais problema ainda para ser acreditada quando revela sua experiência. Contudo, se não fossem as testemunhas, que arriscam sua reputação em benefício da verdade, jamais os UFOs seriam identificados como engenhos de outra civilização e nada saberíamos de tais incidências. Porque os governos, como estamos cansados de ver em relatórios desclassificados, por força de lei, encobrem os vestígios e as provas que têm em mãos.
Dentre as testemunhas de contato com tais seres estava Chico Xavier, que com sua elevação moral, caráter ilibado, boa saúde e equilíbrio emocional, contou suas experiências aos parentes e amigos mais próximos, àqueles que tinham interesse de saber sobre o extraordinário. Entre estas estava nosso entrevistado, que se dispôs a contar o que ouviu dele sobre a questão extraterrestre. Após o falecimento de Chico Xavier, Lemos Neto foi convidado pela espiritualidade e pela família do médium a prosseguir em certas tarefas.
Ele transformou a casa da Rua Pedro José da Silva, número 67, em Pedro Leopoldo, no memorial Casa de Chico Xavier. E fundou, em Belo Horizonte, a Editora Vinha de Luz para publicar as psicografias deixadas pelo médium, que, somadas aos livros lançados em vida, perfazem hoje 498 obras. Sua entrevista à Revista UFO tem caráter histórico. Trata-se de registros do mestre Chico Xavier que ficarão nos anais da Doutrina Espírita e nas crônicas da Ufologia, cujas investigações e pesquisas certificam a pluralidade dos mundos habitados.
Você teve estreita amizade com Chico Xavier. Como isso começou?
Pelo lado materno, sou integrante de uma família espírita natural de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, a mesma cidade natal de Chico Xavier. No início do século XX, alguns da minha família já eram espíritas, como os meus tios avós José Flaviano Machado e Adélia Machado de Figueiredo. Minha avó Carmen Machado dos Santos, em sua adolescência, foi colega de grupo escolar de Chico Xavier. Outros tios avós muito queridos conviveram de perto com o desabrochar de sua mediunidade nos primeiros tempos, como João Machado Sobrinho, Nair Machado Paschoal e Walter Machado. Temos cartas de Chico Xavier afirmando que minha bisavó, Georgina Cândida Machado, era a melhor amiga de sua mãe, Maria de São João de Deus. Enfim, nossas famílias são conhecidas há muito tempo.
Sendo bem mais novo, você deve ter ouvido falar dele desde que nasceu, certo?
Quando publicamos a biografia Chico Xavier: Mandato de amor [União Espírita Mineira, 1992], ele nos revelou que a casa onde nascera era geminada, sendo que metade pertencia aos seus pais e a outra aos meus tios bisavôs, Eliseu e Cilia Correa. Desde que me entendo por gente ouvi muitas referências à sua vida e obra, tendo em vista os inúmeros casos colecionados de sua bondade no dia a dia e o exercício de sua mediunidade pela família Machado. Assim, desde muito cedo guardei no coração a vontade enorme de conhecer esse homem diferente, que a todos encantava com sua simpatia e generosidade.
E como você chegou a ele?
Como eu morava longe, comecei a escrever-lhe cartas, nas quais apenas assinava como “um amigo”, sem me preocupar em registrar o remetente, por imaginá-lo uma pessoa muito ocupada para responder. Em outubro de 1981, chamado por minha tia-avó Nair Machado Paschoal, fui a São Paulo colaborar como voluntário em um evento no Centro Espírita União, onde Chico Xavier lançaria dois novos livros psicografados. Participei daquela noite inesquecível trabalhando na arrumação dos livros que ele autografaria, das 20h00 até 07h30 do dia seguinte, quase 12 horas de serviços ininterruptos. Ali eu o conheci mais de perto.
Naquela ocasião, o que mais o impressionou em Chico Xavier?
Impressionou-me ver o carinho extremo com que recebia os milhares de visitantes, conversando com eles, estimulando-os em nome de Jesus e ofertando-lhes rosas e livros. Quando já não havia mais ninguém na fila, chegou a minha vez de abraçá-lo. Fiquei estupefato quando me chamou de Geraldinho, conforme todos em família me chamam, e revelou-me que gostava muito de receber as minhas cartinhas, que muito lhe alegravam. Mas disse-me que não entendia o porquê de duas coisas: o fato de eu não as assinar e a razão de não colocar o endereço do remetente. Não pude dizer coisa alguma pois as lágrimas me rolavam na face.