Enrico Fermi nasceu em Roma, em 1901, mas naturalizou-se norte-americano em 1944. Faleceu 10 anos mais tarde, em 1954. Fez importantes descobertas no campo da física de partículas, trabalho que lhe rendeu o prêmio Nobel de Física, em 1938, com apenas 37 anos. Tendo participado da primeira explosão de uma bomba atômica da história, em Alamogordo, Novo México, em 16 de julho de 1945, escreveu o texto que se vê nestas páginas, onde questionava sua fé na sociedade e também na capacidade de tomarmos uma decisão prudente em relação às armas nucleares.
No Departamento de Física da Universidade de Chicago, onde lecionou até os últimos anos da sua vida, Fermi era conhecido por ser um professor inspirador e atencioso aos detalhes, preparando suas aulas com extremo cuidado e simplicidade. Certo dia, caminhando pelos corredores do campus, Fermi ouviu uma acalorada discussão que emanava de uma das salas. Emil Konopinski, Edward Teller e Herbert York, alguns dos presentes, falavam da imensidade do universo conhecido e da possibilidade de haver vida em outros mundos, ao comentar sarcasticamente uma caricatura publicada na revista The New Yorker que mostrava alegres extraterrestres emergindo de um disco voador, transportando latas de lixo roubadas das ruas de Nova York.
Neste momento, Fermi perguntou: “Onde está todo mundo?” Ele estava se referindo ao fato de que eles não tinham ainda visto nenhuma nave alienígena ou um ser extraterrestre — e a conversa então derivou para a viabilidade de viagens interestelares. No entanto, ele nunca questionou por que, se um grande número de civilizações extraterrestres inteligentes existe na Via Láctea, não se detectam evidências da sua existência, como sinais de rádio, espaçonaves ou sondas. Este argumento foi mencionado pelo senador William Proxmire, em 1981, para tentar sepultar o SETI, o programa de busca por vida extraterrestre inteligente.
Irrelevância cósmica
A aparente contradição entre a quase absoluta e unânime certeza da existência de civilizações avançadas e a falta de evidências de algum contato ficou conhecida como Paradoxo de Fermi, embora não tenha sido ele a cunhar a expressão. Para melhor compreendê-lo, vamos estabelecer como ponto de partida uma ideia aproximada da nossa irrelevância cósmica. Nossa galáxia tem entre 100 e 400 bilhões de estrelas. Este é quase o mesmo número de galáxias no universo. Portanto, para cada estrela na Via Láctea há uma galáxia inteira lá fora. Haveria, no total, entre 10²² a 10²4 estrelas. Em termos práticos, isto equivale a dizer que para cada grão de areia na Terra haveria 10.000 estrelas no universo.
Em uma noite clara, com o céu limpo e estrelado, tudo o que vemos é apenas uma minúscula fração da nossa vizinhança. Em números, isto representa cerca de 2.500 estrelas, mais ou menos um centésimo de milionésimo do total de astros da nossa galáxia — e quase todas elas estão a menos de mil anos-luz de distância de nós, algo irrelevante em termos cósmicos.
A quantidade exata de galáxias intriga os cientistas há quase um século, desde que o astrônomo norte-americano Edwin Powell Hubble (1889-1953) mostrou, há quase um século, que Andrômeda não era um mero aglomerado difuso, mas uma galáxia como a Via Láctea. Essa revelação mostrou aos cientistas que nossa galáxia é apenas uma entre muitas do universo. Ainda de acordo com eles, no princípio de tudo — época muito próxima do Big Bang — existiam ainda mais galáxias, cerca de 10 vezes mais.
Um mapeamento recente, publicado no periódico Astrophysical Journal, sugere que a quantidade de galáxias no universo pode ser maior do que se supunha inicialmente. Um levantamento feito com dados obtidos pelo telescópio espacial Hubble indicou que o universo abrigaria algo em torno de dois trilhões de galáxias. Segundo o astrofísico Christopher Conselice, da Universidade de Nottinghan, na Inglaterra, 90% delas não podem ser observadas da Terra, uma vez que parte da luz emitida no espaço por esses objetos distantes ainda não chegou ao nosso planeta. “A maioria delas tem sinais muito fracos ou estão muito longe. Quem sabe que propriedades interessantes vamos encontrar quando estudarmos essas galáxias com a próxima geração de telescópios?”, afirmou Conselice.
Esta enorme quantidade de zeros, a mais ou a menos, nos remete a meados do século XVI, quando o polonês Nicolau Copérnico (1473-1543), monge, astrônomo e médico, estabeleceu as bases da sua Teoria Heliocêntrica, segundo a qual o Sol, e não a Terra, seria o centro do Sistema Solar. Desde os anos 90, o princípio idealizado por Copérnico foi alternadamente chamado de Princípio da Mediocridade, um conceito extraído da filosofia da ciência pelo cosmologista austro-britânico Hermann Bondi (1919-2005). Segundo ele, não haveria nada de incomum ou especial sobre a Terra, a humanidade, nem nosso lugar no cosmos — seríamos, na verdade, muito banais no grande esquema das coisas. Em outras palavras, o universo é basicamente o mesmo em todos os lugares.
Exclusividade da raça humana
As descobertas astronômicas foram progressivamente minando nossa soberba, e hoje muito poucas pessoas concordariam com a exclusividade da raça humana defendida pelos antigos. Sendo assim, as mesmas pessoas que, como este autor, ficam deslumbradas pela beleza do céu ou impressionadas com a vastidão do universo podem experimentar uma leve inquietude existencial e se perguntar: Se não somos assim tão especiais, onde estão todos os outros? De fato, a humanidade ainda não descobriu vida alienígena em nenhum lugar, apesar de esta ser altamente provável. Como conciliar tal aparente contradição?
Quando somos confrontados com o assunto galáxias, estrelas e planetas, uma das questões que mais atormenta o ser humano é se existe vida inteligente no cosmos. E onde ela está. Para tentar resolver este enigma, novas teorias surgiram no esteio da ideia de que planetas habitáveis são bastante comuns em nossa galáxia. Um estudo divulgado no início de 2016 pela revista Astrobiology indica que a chance de a humanidade estar sozinha na imensidão cósmica é de uma em 10 bilhões de trilhões. No entanto, toda busca começa com o primeiro passo.
Quando somos confrontados com o assunto galáxias, estrelas e planetas, uma das questões que mais atormenta o ser humano é se existe vida inteligente no cosmos. E onde ela está? Por qu
e ainda não a encontramos? Ou iremos encontrá-la no futuro?
Em 19 de janeiro de 2006, a Agência Espacial Norte-Americana (NASA) lançou a espaçonave New Horizons em uma viagem histórica de 7,5 bilhões de quilômetros até o planeta-anão Plutão. Em fevereiro de 2007, ao passar por Júpiter, aproveitou-se do impulso gravitacional do imenso planeta para ganhar velocidade e obter uma maior aproximação de Plutão, o voo rasante se deu em 14 de julho de 2015. Como parte de uma missão prolongada, a sonda está prevista para ir ainda mais longe, até o Cinturão de Kuiper, para examinar mundos antigos e gelados nesta vasta região, que fica a pelo menos um bilhão de quilômetros além da órbita de Netuno.
A New Horizons vai nos contar uma história incrível sobre os mundos situados na fronteira do nosso Sistema Solar, fazendo o primeiro reconhecimento de Plutão — onde os membros da equipe descobriram, usando as imagens do Hubble, mais quatro luas anteriormente desconhecidas, chamadas de Nix, Hydra, Styx e Kerberos — e se aventurando mais profundamente no distante e misterioso Cinturão de Kuiper, uma verdadeira relíquia da formação do Sistema Solar. Missões desta natureza nos ajudam a responder perguntas básicas sobre as propriedades da superfície, geologia, composição e atmosferas destes orbes distantes, em um processo de construção do conhecimento de como se desenvolve a dinâmica planetária, ainda que em nada semelhantes ao nosso próprio mundo.
Planetas extrassolares
O conceito de planetas habitáveis ou “novas Terras” é relativamente novo. Ele surgiu como um desdobramento natural da descoberta dos chamados exoplanetas ou planetas extrassolares, ou seja, fora do nosso Sistema Solar. Segundo a NASA, a lista de planetas extrassolares descobertos já ultrapassou a casa dos 3.300 e segue crescendo. Em maio de 2016, uma equipe de cientistas belgas liderada por Michael Gillon e Emmanuel Jehin, da Universidade de Liége, divulgou na revista Nature a descoberta de três planetas do tamanho da Terra orbitando uma estrela anã ultrafria, situada na Constelação de Aquário. É a primeira vez que planetas foram encontrados em torno desse tipo de estrela, batizada com o nome Trappist-1 em referência ao telescópio belga Pequeno Telescópio de Planetas de Trânsito e Planetesimais [Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope].
Todos eles estão dentro da zona considerada habitável para o desenvolvimento de vida, ou seja, têm temperaturas semelhantes às nossas e não são demasiadamente quentes ou frios. Como a Trappist-1 não está demasiadamente longe da Terra, a 39 anos-luz de distância, e não emite muita luz, os cientistas têm melhor visão e podem estudar as atmosferas desses três exoplanetas e, no futuro, procurar sinais de vida. “Esses são os primeiros planetas do tamanho da Terra e de clima temperado encontrados fora do Sistema Solar e os primeiros que podemos estudar em detalhes”, afirma Gillon.
Em um estudo recém-publicado na mesma revista Nature, cientistas da Universidade Queen Mary, de Londres, anunciaram uma incrível descoberta. A estrela mais próxima de nós, a Proxima Centauri, uma estrela anã vermelha, é orbitada por um planeta do tamanho da Terra. O Proxima b, como foi batizado, está a apenas quatro anos-luz de distância da Terra. Ele tem dimensões parecidas com as do nosso mundo e, assim como ele, os pesquisadores acreditam se tratar de um mundo sólido e rochoso. “Acredito que essa seja a descoberta mais importante de um exoplaneta. O que poderia superar um planeta habitável que orbita a estrela mais próxima do Sol?”, afirmou Carole Haswell, pesquisadora da Open University, do Reino Unido.
Elementos básicos para a vida
De fato, este achado se reveste de grande significado. Condições particulares fazem supor que o planeta não é quente ou frio demais para que exista água em estado líquido em sua superfície — e, se houver, também pode haver vida nele. Entretanto, Proxima b orbita um tipo de estrela muito ativa e que emite uma forte radiação, o que tornaria desafiador que qualquer coisa sobreviva em sua superfície. Mas os cientistas acreditam que esse não seja um fator absolutamente limitante para que o planeta possa abrigar vida. Ainda assim, é um ótimo objeto de estudo. Mas, apesar de ser o exoplaneta mais próximo que já encontramos, levaria milhares de anos para percorrermos os 40 trilhões de quilômetros que nos separam dele. “Claro, ir até lá atualmente é ficção científica”, diz Guillen Anglada Escudé, integrante da equipe que descobriu o planeta. “Mas não é mais apenas um exercício de imaginação pensar em enviar uma sonda até lá algum dia”.
Ainda que contenham os elementos básicos para a vida, como hidrogênio, nitrogênio, oxigênio e carbono, os exoplanetas, em sua maioria, têm condições inóspitas à existência de vida como é concebida na Terra. “Esses elementos são muito abundantes. Então, existiriam as condições básicas para desenvolver vida fora da Terra”, explica Jorge Meléndez, professor do Departamento de Astronomia da Universidade de São Paulo e líder da equipe que, em 2015, descobriu um “gêmeo” de Júpiter na órbita da estrela HIP 11915, distante 186 anos-luz do Sistema Solar. “Isso não significa, porém, que necessariamente a vida se desenvolverá em todos esses lugares. Por exemplo, em um planeta muito próximo da sua estrela, não adiantaria muito ele ter carbono, oxigênio e hidrogênio se outras condições não permitirem o desenvolvimento de vida ali”, finaliza.
Vamos então colocar mais alguns números nesta equação para que nossa busca possa trilhar por uma estrada mais bem pavimentada. Até o momento, não existe um consenso sobre qual seria a porcentagem das estrelas parecidas com o Sol, em termos de tamanho, temperatura e luminosidade. As estimativas giram em torno de 5% a 20%. Sendo bastante conservador na estimativa, usando o número 5%, e admitindo uma quantidade menor de estrelas, de 10²², isso nos daria 500 quintilhões de estrelas similares ao Sol.
Há também controvérsia sobre qual seria a porcentagem dessas estrelas parecidas com o Sol que seriam orbitadas por planetas com condições físicas e climáticas semelhantes às da Terra, isto é, um orbe potencialmente habitável. As estimativas oscilam de 22% a 50%. Uma vez mais, sendo bastante conservador, usando o número 22
%, haveria um planeta similar à Terra orbitando pelo menos 1% do total de estrelas do universo, ou seja, um total de 100 quintilhões de planetas parecidos com o nosso. Para que esta conta ganhe contornos ainda mais grandiosos, podemos considerar que haveria uma “Terra” para cada grão de areia do mundo.
Assim como fizemos com a Equação de Frank Drake, os números seguintes só podem ser considerados um exercício quase filosófico de raciocínio intuitivo. Vamos admitir que, após bilhões de anos de existência, 1% dos planetas semelhantes à Terra tenha desenvolvido vida. E que em apenas 1% destes ela tenha avançado até o estágio da vida inteligente. Isto representaria 10 quatrilhões de civilizações inteligentes no universo. Pensando em termos regionais, apenas na nossa Via Láctea, e fazendo as mesmas contas, estimamos que exista um bilhão de planetas similares à Terra e 100 mil civilizações inteligentes apenas na nossa galáxia. Ao chegarmos neste ponto, reverbera a grande questão de Fermi: onde está todo mundo?
Silêncio enorme
Existe um ortodoxismo dominante na ciência que cresceu no século XIX e se tornou parte da cultura acadêmica. Na verdade, trata-se mais de uma postura dogmática do que uma teoria constatável. Assim, a ciência se concentrou totalmente nas coisas que podem ser medidas e reproduzidas em laboratórios. Em razão destas circunstâncias, proponho que neste momento deixemos de lado tudo que sabemos a respeito da Teoria dos Antigos Astronautas, discos voadores ou contatos imediatos. Vamos nos limitar a tentar compreender este enorme e ensurdecedor silêncio. Enrico Fermi acreditava, há meio século, que teria havido tempo mais do que suficiente para que uma civilização alienígena declarasse sua presença para nós, de uma forma ou de outra. Sabemos que isto não aconteceu. Muitas tentativas e teorias foram propostas para responder a este intrigante paradoxo.
O citado SETI é um projeto que tem por objetivo a constante busca por vida inteligente no espaço. Uma das abordagens visa analisar sinais de rádio de baixa frequência captados por radiotelescópios terrestres — uma vez que este tipo de sinal não ocorre naturalmente, podendo ser interpretado como evidência de vida extraterrestre. Seu embrião nasceu a partir do artigo Busca por Comunicações Interestelares, publicado na revista Nature, em 1959. Seus autores, Philip Morrison (1915-2005), professor de Física do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), e Giuseppe Cocconi (1914-2008), diretor da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear (CERN), em Genebra, propuseram o potencial das micro-ondas na busca por sinais interestelares. Morrison admitiu que “a probabilidade de sucesso é difícil de estimar, mas se nós nunca procurarmos, a chance de sucesso é zero”.
Existe um sério ortodoxismo na ciência que cresceu no século XIX e se tornou parte da cultura acadêmica. Trata-se mais de uma postura dogmática do que uma teoria constatável. A ciência se concentrou totalmente nas coisas que podem ser medidas
O programa ganhou fama em 15 de agosto de 1977, quando Jerry R. Ehman, um voluntário do projeto, testemunhou um sinal surpreendentemente forte, com 72 segundos de duração e vindo do aglomerado estelar M55, na Constelação de Sagitário. Ele rapidamente circulou a indicação e rabiscou a exclamação “Wow” na margem do impresso que registrava o fato. Apelidado de Sinal Wow, é considerado o melhor já descoberto, mas não foi detectado novamente em pesquisas posteriores.
Na noite de 29 de agosto de 2016, uma equipe de cientistas do SETI divulgou uma notícia que surpreendeu o mundo científico: a descoberta de um sinal de rádio vindo do espaço, captado pelo radiotelescópio Ratan-600, do Observatório Especial Astrofísico da Academia de Ciências da Rússia — estava implícito no comunicado que haveria a possibilidade de que este sinal poderia ter vindo de uma civilização inteligente.
Fenômenos naturais
O sinal de 11 GHz viria de uma estrela catalogada como HD 164595, distante 95 anos-luz da Terra. O astro seria muito parecido com o nosso Sol e teria, segundo cálculos astronômicos, cerca de 6,3 bilhões de anos, sendo quase dois bilhões de anos mais velho que o Sol. Os astrônomos sabem de apenas um planeta orbitando a HD 164595, que chamaram deHD 164595 b. No entanto, este planeta nunca foi cogitado como um local onde fosse possível encontrar vida como a que existe aqui na Terra, pois é parecido com Netuno e muitas vezes maior que o nosso planeta.
Nada impede, porém, que possa existir outros planetas orbitando a estrelaHD 164595, os quais ainda não foram detectados. De acordo com Paul Glister, o astrônomo que divulgou a descoberta do SETI, haveria muitas possíveis origens para o sinal de rádio, tais como fenômenos naturais ou interferências. Nick Suntzeff, astrônomo da Universidade A&M, do Texas, explicou: “Se isso for de uma fonte astronômica real, e não de origem alienígena, seria bem estranho”. Sua opinião se baseia nas características do sinal de rádio captado, chamado de FRBs, ou rápidos estouros de rádio [Fast radio bursts], incomuns do ponto de vista técnico.
Entretanto, a empolgação com a estonteante notícia durou apenas dois dias. Em 31 de agosto, a mesma equipe que divulgou a descoberta emitiu um comunicado dizendo que a radiação não teria vindo do espaço. “Subsequentes processos de análise do sinal revelaram que sua origem é provavelmente terrestre”, afirmaram, apontando no sentido de que algum tipo de interferência acidental nos sensores do radiotelescópio terem pregado uma peça nos cientistas.
Estes alarmes falsos e os involuntários deslizes impulsionam os cientistas a irem cada vez mais além, em um insistente e repetitivo processo de tentativa e erro. Foi desta forma que o progresso científico deu ao homem as noções básicas das leis que regem nosso mundo e o universo. E foi assim, com uma desconcertante descoberta anunciada em outubro de 2015, que deixou os astrônomos aturdidos e os círculos acadêmicos em polvorosa.
Dados coletados entre 2009 e 2013 pelo telescópio espacial Kepler, da NASA, mostraram flutuações peculiares na curva de brilho de uma estrela localizada a cerca de 1.480 anos-luz do nosso sistema. Batizada de KIC 8462852, na Constelação do Cisne, ela parece estar cercada por uma profusão inexplicada de objetos,
os quais seriam os responsáveis pelos altos e baixos no brilho da estrela. Normalmente, a luminosidade de um astro cai a uma taxa consistente quando um planeta passa à sua frente, mas não é o caso da KIC 8462852 — este objeto torna-se menos brilhante em intervalos irregulares e em níveis que excedem muito qualquer coisa vista antes.
Megaestrutura artificial
A notícia capturou de imediato o interesse de cientistas envolvidos na busca por inteligência extraterrestre, por ser a materialização de uma interessante ideia da década de 40: poderia se tratar de uma megaestrutura artificial de proporções gigantescas, chamada Esfera Dyson.Sugerida pela primeira vez pelo filósofo e escritor britânico Olaf Stapledon (1886-1950) em seu romance Star Maker [Giant Press, 1937], ela foi discutida e trabalhada pelo físico e matemático inglês Freeman Dyson, nos anos 60, que elegantemente apontou que o nome Esfera Stapledon seria mais apropriado.
Dyson teorizou sobre a possibilidade de que uma sociedade tecnologicamente avançada pudesse circundar completamente uma estrela para maximizar a captura da energia emitida pelo astro. Supondo que as demandas energéticas desta hipotética civilização fossem crescentes, faria sentido que ela construísse painéis solares em toda a órbita da estrela. Tal estrutura iria ocupar cada vez mais espaço, até que finalmente cobrisse toda a estrela, como uma esfera.
Nosso Sol é relativamente jovem em relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas inclusive bastante semelhantes à Terra, bem mais antigos, o que em tese representaria civilizações muito mais adiantadas do que a que temos
Dyson observou, porém, que este conceito não exige necessariamente que uma estrela seja completamente fechada. Haveria outras variações, como a Bolha Dyson, que teria numerosos objetos cercando a estrela para recolher sua energia. Uma outra estrutura inserida no contexto da Esfera Dyson seria o Cérebro Matrioshka, uma megaestrutura proposta pelo pesquisador norte-americano Robert J. Bradbury na antologia Year Million: Science at the Far Edge of Knowledge [Atlas & Company Editors, 2008]. Tratar-se-ia de um computador de imensa capacidade que utilizaria toda a energia luminosa e térmica de uma estrela para fazer funcionar suas engrenagens, utilizando-as através de múltiplas camadas, à semelhança das bonecas russas matrioshkas.
Uma das hipóteses propostas para explicar a curva de brilho da KIC 8462852 sugere que seria provocada por cometas ou pela existência de inúmeros pequenos corpos que orbitariam os arredores desta estrela em conjunto. A astrônoma Tabetha S. Boyajian, da Universidade Yale, e seus colegas da missão Kepler sugerem que o fenômeno poderia ser causado pelos restos de uma colisão planetária. Ou talvez uma nuvem maciça de cometas. Para levar sua investigação adiante, ela conseguiu levantar cerca 10 mil dólares para garantir um ano de acesso à rede de telescópios Las Cumbres — se o sistema detectar qualquer anomalia, um alerta será enviado para outros astrônomos, que irão apontar os seus próprios telescópios para a estrela.
Dados mais consistentes
A coisa mais importante agora é que os astrônomos tenham acesso a dados mais consistentes e também consigam replicar as descobertas existentes. O pesquisador Jim Galasyn acredita que a KIC 8462852 brilha de forma estranha simplesmente porque gira muito rápido.O astrônomo e astrobiólogo Jason Wright, porém, apoia a ideia que possa se tratar de uma Esfera Dyson. Ele admite, no entanto, que esta é uma “abordagem perigosa para a ciência, que poderia levar a falácia de que os aliens preenchem as lacunas e as hipóteses irrefutáveis”. OastrofísicoMichio Kaku, por sua vez,declarou àCBS Newsque todos os suspeitos usuais — cometas, planetas e asteroides — foram descartados e que KIC 8462852 foi a única anomalia deste tipo encontrada entre centenas de milhares de estrelas analisadas pelo Kepler. A hipótese que uma megaestrutura similar à Esfera Dysonpoderia estar produzindo esta oscilação no brilho da estrela, se comprovada, seria, de acordo com Kaku, “a maior notícia dos últimos 500 anos”.
Se a estrela estiver sendo obstruída por uma megaestrutura alienígena em construção, ela deve emitir algum sinal sob forma de radiação térmica. O objetivo de uma Esfera Dyson é coletar energia estelar, mas vazamentos podem acontecer. Caso uma esfera parcial ou incompleta estiver por lá, devemos ser capazes de detectá-la na forma de assinaturas de radiação irregulares, porém discerníveis.
Esferas Dyson são comuns na ficção científica, nomeadamente na série Star Trek: The Next Generation. No entanto, nada irá impedir os cientistas de buscar sinais que possam provar ou negar sua existência. Por ora, as evidências astronômicas se encontram em algum lugar entre o provocativo e o especulativo. De todo modo, trata-se de uma descoberta científica expressiva e que faz jus a toda atenção que vem recebendo. Todavia, não seria a primeira vez na história da ciência que os dados obtidos viessem a se revelar falhos ou insuficientes.
Nosso Sol é relativamente jovem em relação ao universo. Há estrelas muito mais velhas, com planetas, inclusive semelhantes à Terra, bem mais velhos, o que em tese representaria civilizações muito mais adiantadas do que a nossa. A tecnologia e o conhecimento de uma hipotética civilização alienígena seriam tão chocantes e incompreensíveis quanto nosso mundo atual seria para as formigas.
Escala de Kardashev
Em 1964, o astrofísico russo Nikolai S. Kardashev, membro do Instituto de Pesquisas Espaciais da Academia de Ciências da Rússia, propôs um método para medir o grau de desenvolvimento tecnológico de uma civilização. Conhecida como Escala de Kardashev, ela se utiliza de três categorias ou grupos, de acordo com a quantidade de energia coletada, processada e utilizada [Veja box]. É desnecessário dizer que estas civilizações são puramente hipotéticas até o presente momento. Entretanto, a Escala de Kardashev é utilizada pelos pesquisadores do SETI, por autores de ficção científica e pelos futurologistas como uma escala de orientação teórica.
O professor Zoltan Galantai, da Universidade de Tecnologia e Economia, de Budapeste, propôs uma extrapolação da escala para um novo tipo, o IV, uma civilização que aproveitasse a energia potencial do universo visível. Tal civilização ultrapassa todos os limites possíveis de especulaç&at
ilde;o científica e é, provavelmente, inviável. Galantai argumentou que uma civilização de tal magnitude tecnológica jamais poderia ser detectada por sociedades menos avançadas, pois suas obras seriam indistinguíveis de eventos naturais. Contudo, Milan M. Cirkovic, pesquisador sênior do Observatório Astronômico de Belgrado, ponderou que a classificação de Tipo IV talvez deva ser utilizada para se referir a uma civilização que tenha conseguido aproveitar toda a energia potencial de um superaglomerado estelar.
Ainda no terreno da especulação, se 1% da vida inteligente sobreviver tempo suficiente para se tornar uma civilização Tipo III em potencial, os cálculos sugerem que haveria mil mundos deste tipo somente na Via Láctea. Dado o poder de tal civilização, sua presença provavelmente seria fácil de notar. Com esse imenso grau evolutivo, é natural supor que a esta altura estas civilizações já dominem a viagem interestelar, possivelmente colonizando outros planetas e até mesmo a galáxia inteira. Porém, nós ainda não vimos nada, não ouvimos nada e, controvérsias à parte, talvez não tenhamos sido visitados por ninguém. Uma vez mais o Paradoxo de Fermi chega para nos assombrar.
Atraso da espécie humana
Em um estudo desenvolvido pelos astrônomos Even Solomonides e Yervant Terzian, da Sociedade Astronômica Americana, combinam-se o Paradoxo de Fermi com o Princípio da Mediocridade para mostrar que não devemos esperar ouvir notícias de alienígenas nos próximos 1.500 anos — o motivo tem a ver com a vastidão da Via Láctea, o tempo que sinais de rádio levam para se propagar através do espaço, bem como o aparente atraso da espécie humana no escopo maior do universo. “É possível ouvir a qualquer momento, mas torna-se provável que vamos ouvi-los em cerca de 1.500 anos”, observa Solomonides. “Até então, é possível que pareça que estamos sozinhos, mesmo que não seja o caso. Mas se pararmos de ouvir ou olhar, podemos perder os sinais. Assim, devemos continuar procurando”.
As oito décadas de emissões de rádio transmitidas aqui da Terra atingiram todas as estrelas em um raio de 80 anos-luz do Sol, o que inclui 8.531 astros e cerca de 3.555 planetas semelhantes à Terra. O número pode impressionar, mas não a Solomonides: “Isto representa apenas cerca de 0,125% da área plana da Via Láctea”. Então, para sermos atingidos por sinais de vida extraterrestre, teríamos que estar em uma área muito especial da galáxia. “E nós sabemos que não somos especiais”, escrevem os pesquisadores. Desta forma, não devemos esperar ouvir outra civilização alienígena até pelo menos metade da Via Láctea receber nossos sinais, o que não irá acontecer antes de 1.500 anos.
Uma proposta alternativa para o Paradoxo de Fermi é a Hipótese do Grande Filtro, de Robin Hanson, pesquisador da Universidade Oxford. Ele sugere que algum tipo de obstáculo impede a vida de se desenvolver para além de um certo estágio
Isso não quer dizer que não faremos contato até então ou que, se não o fizermos, é porque não existam alienígenas. Os pesquisadores aplicaram o Princípio da Mediocridade à famosa Equação de Drake e concluíram: “Esperamos ouvir uma civilização alienígena quando cerca de metade da galáxia for alcançada”. Finalizam, porém, dizendo que é “pouco provável que ouviremos algo antes desse período”. Se não ouvirmos os aliens até lá, os pesquisadores dizem que isso seria desconcertante e o Paradoxo de Fermi emergiria como um problema relevante.
Relevante e também incômodo, posto que insolúvel. Uma proposta alternativa para o Paradoxo de Fermi é a Hipótese do Grande Filtro. Esta teoria foi concebida por Robin Hanson, pesquisador no Instituto do Futuro da Humanidade, da Universidade Oxford. Ele sugere que algum tipo de obstáculo cósmico está impedindo a vida de se desenvolver para além de um certo estágio. Alguns astrobiólogos olham para o passado remoto do nosso planeta e apontam a presença de três possíveis filtros: o surgimento de moléculas reprodutivas, a vida unicelular simples e a vida unicelular complexa. Por outro lado, alguns futuristas mais pessimistas temem que o grande filtro ainda esteja por vir, um evento que será catastrófico e causado por nós mesmos.
Ambientes planetários instáveis
Mas poderia haver uma outra possibilidade, conforme apontam os astrobiólogos Aditya Chopra e Charley Lineweaver, da Universidade Nacional da Austrália. Segundo eles, a vida em outros mundos existe por um breve período de tempo e é extinta muito rapidamente. Chopra diz que “o início da vida é frágil, e por isso acreditamos que ela raramente evolui com rapidez suficiente para sobreviver”. O problema, segundo ele, é que os ambientes planetários são instáveis em sua maioria. Os pesquisadores chamam isso de Hipótese do Gargalo de Gaia.
Em linhas gerais, a ação da biosfera na manutenção dos ciclos de elementos essenciais, como o carbono, nitrogênio e oxigênio, na forma de um efeito estufa, possibilitaria manter estáveis as temperaturas da superfície. Este processo, chamado de Regulação de Gaia, aconteceu em nosso planeta, mas Chopra e Lineweaver especulam que esta é uma ocorrência rara. Os pesquisadores apontam para Marte e Vênus como exemplos desta ideia — ambos podem ter sido habitáveis no passado, mas não conseguiram estabilizar o ambiente em rápida mutação. Hoje, Marte é um deserto gelado e Vênus é uma estufa. Na Terra, no entanto, a vida desempenhou um papel fundamental na estabilização do clima do planeta.
“Se a vida emerge em um planeta, ela raramente evolui com rapidez suficiente para regular gases de efeito estufa e conseguir que sua superfície reflita a luz, mantendo assim temperaturas de superfície compatíveis com água líquida e habitabilidade”, explicam os pesquisadores do estudo. A presença de um gargalo de Gaia sugere, portanto, que a extinção é o padrão cósmico para a maior parte da vida que emerge na superfície dos planetas rochosos e úmidos no universo. “Por que ainda não encontramos sinais de aliens? Esse mistério pode ter menos a ver com a probabilidade de existir vida ou inteligência e se relacionar mais com a dificuldade em se manter um ciclo biológico em superfícies planetárias”, dis
se Lineweaver.
Será então que teremos que escavar exoplanetas distantes em busca de pistas, enterradas sob a forma de fósseis de vida microbiana extinta há milhares de anos, como estamos atualmente fazendo em Marte? De acordo com a Hipótese do Gargalo de Gaia, é uma conclusão plausível, mas pouco encorajadora. Se, por outro lado, assumirmos que o SETI clássico é o modo exclusivo de comunicação interestelar para que inteligências alienígenas informem sobre sua existência, devemos considerar que os sinais de rádio degradam ao longo de grandes distâncias e que uma eventual civilização alienígena teria que concentrar imensas antenas de rádio por períodos prolongados de tempo em um único ponto no céu. Além de ser um imenso desperdício de recursos, podemos estar condenados a um silêncio eterno.
Teorias sensatas
Ainda não temos uma resposta satisfatória para o Paradoxo de Fermi. E não seremos capazes de solucioná-lo tão cedo. A única coisa que podemos fazer é elaborar teorias sensatas, tendo como arcabouço o conhecimento científico acumulado e, por que não, algum grau de devaneio filosófico. Foi exatamente o que fez o escritor e orador Tim Urban, em seu artigo publicado no site Gizmodo [Endereço: www.gizmodo.com], aqui adaptado e reproduzido.
Vamos estabelecer duas grandes categorias de explicações para discutir o Paradoxo de Fermi. A primeira, ou Grupo I, declara não há sinais de civilizações Tipo II e III, sendo a Escala de Kardashev, porque elas não existem. A segunda, ou Grupo II, teoriza que tais civilizações estão lá, mas nós não estamos vendo ou ouvindo. Aqueles que defendem a explicação do Grupo I recusam qualquer teoria que admita que existam civilizações maiores, mas que nenhuma delas fez algum tipo de contato, algo no sentido da Hipótese da Terra Rara — segundo a qual ainda que existam muitos planetas similares à Terra, as condições particulares do nosso planeta o tornam conveniente à vida.
A temática que trata da busca por vida extraterrestre é recorrente e intrigante. Quer estejamos sozinhos ou como parte de uma imensa família, as alternativas são assustadoras. Como um pêndulo, as ideias vão e vem, oscilando entre o insano e o surreal
Esse pessoal analisa os números, entende que deveria matematicamente haver milhares de civilizações superiores e intui que pelo menos uma delas deveria ser a exceção à regra. Ou seja, deveríamos perceber sua existência. Portanto, afirmam os defensores do Grupo I, não entramos em contato com civilizações superavançadas porque elas simplesmente não existem. Ainda dentro deste grupo reaparece a Hipótese do Grande Filtro, isto é, em algum ponto entre o início da vida e a inteligência Tipo II ou III, há uma barreira. Há algum estágio no processo evolucionário que é improvável ou impossível de ser atravessado pela vida em desenvolvimento. Dependendo de quando o Grande Filtro ocorre, restam para nós três possíveis realidades: nós somos raros, nós somos os primeiros ou nós somos os únicos [Veja box].
Já os defensores das explicações do Grupo II são mais cautelosos antes de assumir que, se não há evidências de uma inteligência superior, ela não existe. Eles abandonam qualquer ideia de que nós somos raros ou especiais por qualquer aspecto particular. Ao contrário, baseados no Princípio da Mediocridade, até que se prove o contrário, não há nada de especial ou incomum em nossa galáxia, no Sistema Solar, em nosso planeta ou grau de inteligência. Eles enfatizam o fato de nossas buscas por sinais só alcançarem a ínfima proporção de 0,1% da galáxia e só terem iniciado há poucas décadas, o que é muito pouco tempo.
Experiências bizarras com ETs
Os pensadores do Grupo II têm uma ampla gama de possíveis explicações para o Paradoxo de Fermi. A primeira seria a de que inteligências avançadas podem ter visitado a Terra em passado remoto, assustado alguns pássaros e lagartos, e só. Ademais, nossa história documentada só vai até uns 5.500 anos atrás. Por isso, nossos antepassados podem ter vivido algumas experiências bizarras com aliens, mas não tinham como contá-las para as pessoas do futuro — exceto, talvez, deixando alguma pintura nas cavernas.
Para outros defensores do Grupo II, a galáxia foi colonizada, mas nós moramos em uma área despovoada. Pode haver uma metodologia na urbanização dos mundos, onde todos os sistemas estelares de uma determinada área são colonizados e estão em comunicação — e assim seria pouco prático ou mesmo dispendioso para qualquer civilização mais avançada se deslocar até um canto distante e aleatório. Some-se a isso o fato de que o conceito de colonização não faria parte do escopo de interesses de uma civilização do Tipo II. Como ela consegue usar toda a energia de sua estrela, pode ter criado um ambiente perfeito e isento de necessidades. Por conseguinte, tem interesse zero em deixar seu lar utópico para explorar um universo frio, vazio e silencioso.
Outra conjectura dos pensadores do Grupo II seria a de que as civilizações lá fora são predatórias e agressivas. Dessa maneira, não seria aconselhável transmitir sinais e divulgar nossa localização, sob risco de acontecer conosco o mesmo que ocorreu com a chegada de Colombo nas Américas, que não terminou bem para os nativos. Carl Sagan, que acreditava que qualquer civilização avançada o bastante para viagens interestelares seria altruísta e não hostil, dizia cautelosamente que a prática de sinalizar ostensivamente para o cosmos é “profundamente imprudente e imatura” ,e recomendou que “as crianças mais novas de um cosmos estranho e incerto deveriam ouvir em silêncio por um longo tempo, aprendendo pacientemente e tomando notas sobre o universo, antes de gritar para uma selva desconhecida que não conseguimos compreender”.
Civilização predadora
Mas há mais. Os pensadores do Grupo II também creem que exista apenas uma única inteligência superior, uma civilização superpredadora, que é muito mais avançada do que as demais, exterminando qualquer civilização que ultrapasse certo nível de inteligência. Esses seres agiriam assim porque, para eles, uma espécie inteligente emergente se tornaria um vírus à medida que ela cresce e se expande — ninguém teria chance e isso explicaria a falta de atividade lá fora, porque o número de civilizações superinteligentes seria igual a 1.
Para estes pensadores também haveria muito barulho e atividade por aí, mas nossas tecnologias são muito primitivas e nós estamos procura
ndo pelas coisas erradas. Ou talvez, como apontou Carl Sagan, pode ser que nossas mentes trabalhem exponencialmente mais rápido ou mais lentamente do que a de qualquer outra forma de vida. Isto é, eles levam 12 anos para dizer “olá” e, quando nós ouvimos essa comunicação, isso parece apenas ruído. Igualmente, para eles, civilizações mais avançadas sabem sobre nós e estão nos observando, mas preferem se ocultar. A Hipótese do Zoológico, como é chamada, foi desenvolvida pelo astrônomo John A. Ball, em 1973. De acordo com ela, os extraterrestres tecnologicamente avançados o suficiente para se comunicarem com os terráqueos já teriam encontrado a Terra. Todavia, apenas nos observam remotamente, sem tentar interagir, como os pesquisadores observam animais primitivos a distância, evitando o contato direto para não os perturbar.
A hipótese ainda sugere que poderiam estar ocorrendo outros estudos, de forma velada, por meio de monitoramento remoto, localizado em locais específicos do planeta Terrae em outras partes do Sistema Solar. Também é sugerido que o contato poderia ser estabelecido no momento em que a humanidade atingisse um determinado nível de desenvolvimento, num futuro incerto. O desdobramento desta hipótese é a chamada Quarentena Galáctica, na qual as civilizações extraterrenas esperam um determinado intervalo de tempo antes de contatar a humanidade, até que esta alcance um específico nível de desenvolvimento.
Somos primitivos demais
Outros proponentes do Grupo II pensam que civilizações inteligentes existem à nossa volta, mas somos primitivos demais para percebê-las. O citado Michio Kaku resumiu isso da seguinte forma: “Digamos que há um formigueiro no meio da floresta. Ao lado dele estão construindo uma rodovia. E a questão é: as formigas seriam capazes de entender o que é uma rodovia? Elas seriam capazes de entender a tecnologia e as intenções dos seres construindo a rodovia a seu lado?” Portanto, não é que não sejamos capazes de receber os sinais de um hipotético planeta X. É que nós não conseguimos sequer entender o que são ou o que eles estão tentando fazer — é tão além de nós que mesmo que eles quisessem nos esclarecer, seria como tentar ensinar às formigas sobre a internet.
Por fim, entre as linhas de pensamento dos defensores do Grupo II, nós estamos completamente enganados, ou iludidos, sobre a nossa realidade. O universo pode parecer de um jeito, mas ser de outro completamente diferente, como um holograma ou uma simulação de computador de algum pesquisador de outro mundo, do qual outras formas de vida simplesmente não foram programadas na simulação. Algo perturbador, como a realidade virtual do filme Matrix.
Enfim, a temática que trata da busca por vida extraterrestre é recorrente e intrigante. Quer estejamos sozinhos ou como parte de uma imensa família, as alternativas são igualmente assustadoras. Como um pêndulo, as ideias vão e vem, oscilando entre o insano e o surreal. As inúmeras hipóteses que tentam explicar o enorme silêncio, neste esquecido pedaço de rocha sob o domo do céu, mais parecem enredos saídos de um filme de ficção científica. Quando os números se apresentam diante de nós, sofremos um duro golpe em nossa autoestima. De reis birrentos em nosso pequeno castelo, percebemos que temos na verdade um papel absolutamente secundário no contexto da vida universal.
A matemática do cosmos requer o encontro de outras formas de vida. Encontrá-las é um trabalho de paciência, que provavelmente demandará o desenvolvimento de tecnologias ainda inacessíveis. Talvez, em um futuro ainda distante, as gerações seguintes olharão para trás e dirão: “Eles estavam certos, apenas procuravam nos lugares errados”.
A Escala de Kardashev para definir as espécies cósmicas
Tipo I Corresponde a uma civilização capaz de aproveitar toda a energia potencial de umplaneta. Seria uma civilização em um nível tecnológico próximo ao alcançado atualmente na Terra. Para o astrônomo norte-americano Carl Sagan, nós seríamos uma civilização Tipo 0,7.
Tipo II Corresponde a uma civilização capaz de aproveitar toda a energia potencial de uma estrela, seja a que orbite ou outra. A Esfera Dyson, mencionada no texto, seria o meio tecnológico teórico de como se alcançaria o feito.
Tipo III Corresponde a uma civilização capaz de aproveitar toda a energia potencial de uma galáxia, a sua ou outra. Não se tem ideia de como isso seria possível.
Tipo IV Esta classificação não é de Kardashev, mas proposta por Zoltan Galantai. Corresponde a uma civilização capaz de aproveitar toda a energia potencial douniversovisível. Tal civilização ultrapassaria todos os limites possíveis de especulação científica, e seria provavelmente inviável.
O que seriam os seres humanos diante da vastidão cósmica
Nós somos raros É possível que já tenhamos passado do Grande Filtro e atravessá-lo é extremamente raro. Isto poderia significar que nós seríamos uma enorme exceção, uma vez que chegamos até aqui. Significaria também que há esperança para nós. Ou, em outros termos, que nós somos especiais. A pergunta que se impõe é: quando exatamente nos tornamos especiais? Isto é, qual passo superamos, apesar de quase todo mundo ficar preso nele? Levou algumas centenas de milhões de anos para que os asteroides e vulcões se acalmassem e a vida se tornasse possível. E jamais conseguimos replicar a vida em laboratório utilizando os mesmos componentes da Terra de mais de três bilhões de anos atrás. Isto implicaria que não deve existir vida inteligente lá fora, ou seja, pode simplesmente não haver vida extraterrestre inteligente.
Nós somos os primeiros Neste caso, ainda não passamos pelo Grande Filtro. Nossa esperança é a de que, do Big Bang até hoje, as condições do universo estejam alcançando um nível que permita o desenvolvimento de vida extraterrestre inteligente. Portanto, a raça humana pode estar a caminho da superinteligência. Estaríamos no momento certo para nos tornarmos uma das primeiras civilizações inteligentes do universo. Talvez estejamos no meio de uma fase de transição astrobiológica e essa seja a primeira vez que qualquer v
ida tenha sido capaz de se desenvolver ininterruptamente por tanto tempo.
Nós somos os únicos Se nós não somos nem pioneiros nem raros, então o Grande Filtro deve estar no nosso futuro, com um evento cataclísmico qualquer — e o universo está repleto deles. A diferença em relação à ideia anterior é que isso implicaria que a vida frequentemente evolui até onde estamos, mas algo impede que ela vá muito adiante e alcance o estágio de inteligência avançada. Assim, dificilmente nós seremos uma exceção. Outra candidata a uma boa explicação é a destruição que todas as civilizações inteligentes acarretam para si mesmas, uma vez atingido certo nível de tecnologia. Aqui, convém nos lembrarmos da ameaça nuclear nos tempos da guerra fria.