No longo caminho evolutivo dos seres humanos, um acontecimento especial foi fundamental para fazer com que nossos ancestrais descessem das árvores e começassem uma trajetória própria, afastando-se dos demais primatas. Estamos falando do tamanho do cérebro, que desde os chimpanzés e bonobos, nossos descendentes mais próximos, cresceu três vezes até atingir o tamanho atual. Os fatores determinantes para esse aumento expressivo no tamanho do cérebro são ainda controversos. O antropólogo Richard Wrangham, da Universidade de Harvard, por exemplo, defende que o ato de cozinhar alimentos elevou o consumo energético, dando um empurrão para o crescimento do volume cerebral. “A maximização do consumo de energia por meio do alimento permitiu que perdêssemos um terço do intestino e sofrêssemos uma enorme expansão do cérebro”, escreveu ele no bestseller Pegando Fogo: Por Que Cozinhar Nos Tornou Humanos [Zahar, 2010].
Contudo, a análise de 94 crânios de 13 espécies cobrindo um período de quase 3.000.000 de anos mostra que a história pode ter sido diferente. O aumento de volume do cérebro foi gradual e consistente, começando antes que os primatas ancestrais descobrissem que cozinhar os alimentos facilitaria a ingestão. No estudo, conduzido por Andrew Du, paleobiólogo da Universidade de Chicago e principal autor publicado na revista The Proceedings of the Royal Society, os pesquisadores mostram que, em vez de um fato isolado, a tendência de aumento do volume cerebral foi causada principalmente pela evolução aleatória do órgão de alguns indivíduos dentro de uma determinada espécie.
Inteligência e ciência
Ao mesmo tempo, novas espécies com cérebro maior começaram a surgir, levando à extinção daquelas com volume inferior. “Os primeiros hominídeos tinham o cérebro do tamanho de um chimpanzé, e eles aumentaram dramaticamente desde então. Por isso, é importante entender como chegamos lá”, afirma Du. A inteligência que acompanhou a evolução do tamanho do cérebro é outro tema fascinante. Ela nos oferece a chave para o entendimento de nós mesmos, nossas origens e — profeticamente — nosso destino.
Ela também nos ajuda a decifrar o mistério da nossa condição de espécie dominante do planeta. No entanto, a evidência reunida por cientistas sobre a inteligência é obtida indiretamente a partir da observação do aumento do tamanho da capacidade craniana, de artefatos produzidos como resultado da inteligência humana, tais como a fabricação de ferramentas, a caça cooperativa, a guerra, o uso do fogo e o cozimento de alimentos, a arte, o enterramento dos mortos, e outros elementos mais.
De acordo com Renato Sabbatini, doutor em neurofisiologia pela Universidade de São Paulo (USP), os cientistas têm levantado hipóteses sobre a existência de uma massa crítica de neurônios como sendo o pré-requisito para a explosão evolucionária da inteligência. Em outras palavras, abaixo de certo número de neurônios (ou tamanho do cérebro), a inteligência é altamente limitada e não leva à invenção, imaginação, comunicação social simbólica e outras coisas que não existem em cérebros não-humanos. Essa massa crítica teria sido atingida por ocasião do aparecimento do primeiro hominídeo da espécie Homo.
Com o desenvolvimento intelectual, nossos ancestrais passaram a observar e a tentar compreender o mundo à sua volta. Documentos do Antigo Egito já descreviam métodos de diagnósticos médicos, mas foi na cultura da Antiga Grécia que os primeiros indícios do método científico começam a aparecer. Grande avanço no método foi feito no começo da filosofia islâmica, há cerca de 1.000 anos, com a contribuição de Ibn al-Haytham. O cientista árabe, em sua pesquisa sobre ótica, organizou o que muitos consideram as bases do método científico moderno, que se consolidaram com o surgimento da física nos séculos XVII e XVIII.
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