Não é de hoje que cantores e bandas se referem aos discos voadores em suas canções. Alguns casos são notórios, como os de Raul Seixas, Sérgio Reis e Caetano Veloso, que falam dos mistérios ufológicos em várias músicas. Como os UFOs são uma realidade inegável e cada vez maior no dia-a-dia do ser humano, referências a eles não poderiam faltar nessa que é uma das maiores formas de expressão da humanidade. E assim, do suave estilo pop ao agressivo rock podemos encontrar muitas citações a naves espaciais, discos voadores e seres extraterrestres em canções de todos os tipos. São várias as baladas de sucesso que falam velada ou abertamente do tema, desde o embalo inocente de grupos como Kid Abelha – cujo refrão de um de seus primeiros sucessos diz “…esperando um disco voador. Tá voando sobre o mar, mudando de lugar. Querendo me levar, prá outro mundo” – até o rock quase inaudível de grupos de heavy metal, como o norte-americano Slayer, que abordam o tema ufológico em seu trabalho.
A relação de músicos de sucesso com Ufologia não é novidade e já acontecia desde décadas anteriores, quando Rita Lee e os Mutantes discutiam o tema. Rita até hoje faz questão de afirmar ter tido diversos contatos com o fenômeno. Outro profundo conhecedor do assunto parecia ser Raul Seixas, que falou de UFOs em muitas de suas músicas, como em Ouro de Tolo, numa parceria com Paulo Coelho, quando ele se referia à “…sombra sonora de um disco voador”. Outro modelo claro de relato de naves espaciais na música popular brasileira (MPB) é London London, de Caetano Veloso, que foi regravada pelo grupo RPM no final dos anos 80. Nessa canção podemos ouvir no refrão a frase “…oh, my eyes are looking for flying saucers in the sky”, ou seja, meus olhos estão procurando discos voadores no céu.
Um bom exemplo de banda que propaga a idéia de que não estamos sós no universo é a mineira 14 Bis, fundada em 1979 pelos irmãos cantores Cláudio e Flávio Venturini (respectivamente guitarra e teclado) e os músicos Vermelho (teclado e voz), Sérgio Magrão (contrabaixo e voz) e Heli Rodrigues (bateria). A banda deu à MPB uma sonoridade elaborada, com nuances de rock progressivo e ao mesmo tempo de música mineira, fazendo lembrar um pouco o trabalho desenvolvido pelo antigo grupo que Magrão e Flávio integravam, O Terço. No final dos anos 80, Flávio Venturini deixou o 14 Bis e partiu para uma carreira solo. Cláudio assumiu então os vocais principais e a banda prosseguiu com seus vôos por diversas partes do mundo.
Apesar de todas as coisas ruins que ainda existem na Terra, nos dias de hoje, nós acreditamos que este mundo será um \”planeta sonho\” um dia, mesmo que a humanidade não esteja mais nele
– Vermelho
A entrevista a seguir foi concedida ao enviado da Revista UFO Pepe Chaves, contando com a colaboração de Guilherme Paula de Almeida. Foi gravada em Belo Horizonte, durante o 2º Encontro de Corais promovido pela prefeitura da cidade. Os integrantes do 14 Bis falaram à UFO sobre suas composições mais siderais, suas convicções pessoais quanto à existência de vida extraterrestre e, ainda, sobre a participação do Brasil na exploração do espaço, através do astronauta Marcos Pontes, integrante da Estação Especial Internacional Freedom. Como brinde aos leitores de UFO, o 14 Bis deixou sua mensagem em prol da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já. “Os músicos do 14 Bis mostraram não somente conhecer Ufologia, mas também reconhecer a importância de divulgá-la em seu trabalho”, relatou Chaves. Vamos à entrevista.
O que motivou a banda a adotar o nome 14 Bis, retirado do legendário avião de Santos Dumont? Cláudio — Quando assinamos contrato com nossa primeira gravadora, fizemos o chamado brainstorm [Tempestade intelectual], que é juntar todo mundo num lugar só e começar a falar qualquer palavra ou alguma coisa para tentar achar um nome para o grupo. Cada um anotava o que vinha à mente em seu caderninho, separadamente, para depois vermos o que batia. E o único nome que foi comum em todas as listas que fizemos foi 14 Bis. Também achamos que o nome tinha a ver conosco pelo fato de que Santos Dumont, que fez voar algo mais pesado que o ar, era mineiro como nós. Isso tinha tudo a ver com a banda e assim ficou!
A canção Planeta Sonho fala de uma hipotética situação da Terra daqui há milhares de anos, após a luz do Sol se apagar, quando não houver mais “nem o bem nem o mal, só o brilho calmo dessa luz”. O que fez vocês abordarem esta visão de futuro para a Terra? Vermelho — A gente estava conversando sobre esta canção com o Márcio Borges, aqui agora, e foi ele quem fez a letra. É aquela coisa de ver o planeta da gente daqui há milhares de anos, quando o Sol tiver se tornado uma estrela de luz fraca e a vida não existir mais por aqui. Apesar de todas as coisas ruins que ainda existem na Terra, nos dias de hoje, nós acreditamos que este mundo será um “planeta sonho” um dia, mesmo que a humanidade não esteja mais nele.
O 14 Bis, desde sua criação, demonstra possuir uma visão espacial e aborda em suas canções temas como universos siderais, as diversas dimensões e os mistérios cósmicos. De onde vem inspiração para colocar em canções uma temática tão pouco abordada por outros músicos brasileiros? Cláudio — Todos nós gostamos muito desses assuntos. Meu irmão, Flávio Venturini, é colecionador da Revista UFO há anos. Eu também já a li muito e gosto bastante dela. Também sempre gostei de astronomia, tanto que construí meu primeiro telescópio sozinho. Eu gostava de mexer com isso e sempre adorei ver as cartas estelares. O astrônomo Rogério Mourão lança anualmente seu livro Efemérides e sempre gostei muito de lê-lo. O Flávio também sempre curtiu. Nós temos uma música instrumental que se chama As Quatro Estações de Vega, que fizemos quando descobriram que Vega tinha quatro fases distintas. Escrevemos a canção em quatro movimentos, que seriam as diferentes estações do planeta. Ah, eu tenho várias fitas em casa, onde trabalho normalmente, e coloquei nelas nomes de estrelas, como NGC-1275, por exemplo. Quando me perguntam que nome é esse eu respondo que foi o primeiro buraco negro que descobriram [Risos], e que a localização estelar dele é aquela. Enfim, nós todos gostamos muito de astronomia e, naturalmente, acreditamos na possibilidade de haver outras dimensões.
Vocês crêem que possa existir vida inteligente fora da Terra? Magrão — Eu acredito que exista vida além da gente, com certeza. Estou doido para ver. Pô, é impossível um universo imenso como este não haver outro planeta em que não exista vida. Por que só a gente? Heli — Se só a gente fosse privilegiada com vida, acho que seria mentira, acho que tem algo mais aí. Vermelho — É claro. E tem tantas coisas inexplicáveis e antigas para comprovar, como monumentos e lendas. A chamada harmonia das esferas, que tem a ver com a música, é outro exemplo. Veja você, Platão já descrevia a Atlântida. E temos ainda as pirâmides. Então, obviamente, existe algo a mais, que ainda não temos uma maneira de ver com clareza. Mas que existe, existe. Cláudio — De uma certa forma, as pessoas procuram ver aquilo que está fora do planeta. Mas se bobear, isto está por aqui mesmo. Tem muita coisa que está aqui, que a gente também não vê.
Como vocês encaram a participação do Brasil na Estação Espacial Internacional Freedom, através do tenente-coronel Marcos Pontes, que presta serviços à NASA? Cláudio — Eu acho fantástico, era o meu sonho de criança. Imagine, eu que adorava astronomia, adorava olhar para cima… O sonho de qualquer criança é ser astronauta. E o Brasil, se envolver com a missão espacial, vai ajudar outras crianças a atentarem para isso, a estudarem mais e a se interessarem. Isso fará avançar também o lado científico do país, que a gente precisa muito. O Marcos Pontes está sendo um espelho para essas crianças. E para que aqueles que estão estudando agora, vejam que dá para chegar lá. Vermelho — Acho muito importante, tanto que meu irmão é cientista e trabalha no Ministério da Ciência e Tecnologia. Nossa infância foi bastante interessante. Quando éramos meninos, eu tocava violão e olhava para o acorde, e ele olhava para a vibração da corda! Naquela época estava começando o lançamento dos primeiros satélites e gente se entusiasmava com aquilo. Éramos do interior e ficávamos sempre observando o céu aberto. Meu irmão, inclusive, organizou e implantou uma semana itinerante de ciências pelo Brasil inteiro, através do departamento em que trabalha no Ministério, mostrando para as crianças experiências interessantes, como o magnetismo, a radioatividade, a energia nuclear etc.
Alguma vez vocês viram um objeto voador não identificado? Cláudio — Eu nunca vi, mas sou muito interessado em ver. Fiquei ligado no assunto quando assisti a palestra de um norte-americano que esteve aqui no Brasil no final dos anos 70, começo dos anos 80. Ele foi ligado ao Projeto Blue Book e trouxe uma série de filmes e fotos para mostrar. Eu achei muito legal que ele não tentou convencer ninguém de nada, apenas trouxe fatos e nos mostrou, dizendo: “Olha isso aqui, nós não conseguimos explicar que tecnologia é essa. Vocês podem tirar suas próprias conclusões”. Ainda não vi coisa alguma, mas acho que ainda vou ter essa sorte. Heli — Eu também não vi, mas me interesso pelo assunto e leio muito. Leio muito a obra do astrônomo francês Camille Flamarion. Seu trabalho é muito convincente e fornece conhecimento a esse respeito para a gente. Magrão — Gostaria muito de ver um UFO, mas também não tive a sorte. Sou muito curioso e o assunto me interessa muito. Vermelho — Especificamente, não. Mas me lembro uma vez em Barbacena (MG), quando morava com meus pais, que algo estranho aconteceu numa certa tarde. Eu estava com minha mãe e minha namorada num morro muito alto da cidade, onde você vê 360º do céu e, no fundo, a Serra Tiradentes, sob a qual o Sol se põe. Era inverno, a visibilidade estava boa e tinha um objeto grande acima do Sol. O mais interessante foi que o Sol desceu e o objeto ficou exatamente no mesmo lugar. Não tinha condição nenhuma de ser um avião, pois ali não era rota deles. E se fosse um, teria passado, não parado no ar. Ficamos olhando para aquilo e saímos de lá sem saber o que era aquela luz. Ela ficou lá e nunca vou esquecer daquele fato.
Minas Gerais é cheio de histórias, casos e “causos” relacionados a objetos voadores não identificados. A que vocês atribuem essa acentuada fenomenologia que se dá no Estado? Vermelho — Bem, Minas é uma terra de coisas muito interessantes. Por exemplo, veja a Serra de Ibitipoca, que é além de sagrada é considerada mágica. Se você a seguir na direção sul, ela vai dar em São Tomé das Letras, que é uma cidade fantástica e cheia de histórias interessantes. Há em Minas uma boa quantidade de cavernas com coisas estranhas, como a Mãe do Ouro, por exemplo. Há locais maravilhosos e coisas incríveis para serem desvendadas ainda.
A liberdade de informação deve ser respeitada. Há arquivos secretos, já muito antigos, que os militares deviam liberar. Se não quiserem abrir tudo, liberem pelo menos os fatos dos últimos 20 anos, que não irão mudar em nada nossa vida e podem acrescentar muito às pessoas que estão pesquisando o Fenômeno UFO
– Cláudio Venturini
Vocês acham válidos os estudos apresentados pela Ufologia? Acreditam que mesmo sem reconhecimento científico esta disciplina possa acrescentar alguma nova luz à humanidade? Heli — Claro. Tudo que é para o progresso da humanidade tem que existir mesmo. A curiosidade e a observação são inerentes ao ser humano. Eu acho que ninguém é dono da verdade. Então, a constatação de haver vida fora da Terra pode ocorrer tanto para um matuto da roça como para o cientista de uma grande capital. Às vezes este privilégio não é do intelectual, o que é uma ilusão, mas de uma pessoa humilde e com capacidade de entender o fato. O conhecimento e a sabedoria não estão nas escolas, mas por aí. Há muita sabedoria em regiões do interior, onde vive o camponês humilde, por exemplo.
A Revista UFO está promovendo a campanha nacional UFOs: Liberdade de Informação Já, que peticiona formalmente ao Governo Federal a abertura dos arquivos secretos da Força Aérea Brasileira (FAB) que contenham documentos e informações referentes a UFOs. O que vocês acham desta iniciativa? Cláudio — Eu acho que toda a liberdade de informação e de imprensa tem de ser respeitada, pois há coisas que a gente precisa saber. E temos visto que aquilo que há de mais novo o governo libera só depois de vários anos. Acho que há arquivos secretos, já muito antigos, que eles [Os militares] deviam liberar. Se não quiserem abrir tudo, liberem pelo menos os fatos dos últimos 20 anos, que não irão mudar em nada nossa vida e podem acrescentar muito às pessoas que estão pesquisando o Fenômeno UFO. Se eles [Os militares] não querem liberar os arquivos do Caso Varginha, por exemplo, que são mais recentes, que abram então os arquivos dos anos 80 – que já seria muito material. Mas é difícil tratar dessas coisas com pessoal militar, que adora classificar tudo como secreto. Acho também que se não podem liberar tudo para todo mundo, que deveriam abrir os arquivos pelo menos para quem é sério e trabalha nisso de verdade. É o mínimo que deveriam fazer.
Vocês pretendem continuar abordando o cosmos em suas canções? Cláudio — Sempre! Quando olhamos para cima temos noção do quão pequenos somos. E isso faz bem para nos colocarmos no nosso devido “lugar cósmico”. Então, este assunto vai ser sempre uma matéria significante em nosso trabalho, pois aborda o que há de mais importante que conhecemos: o universo.
Seu último álbum é chamado Outros Planos. Quais são os outros planos? Cláudio — São todos os planos espirituais da existência, os planos físicos e também os reais, em todos os sentidos. Este trabalho foi baseado um pouco na teoria do caos, que diz algo assim: “As idéias e os sentidos são as coisas mais verdadeiras que você tem, porque o que você vê com seus olhos e ouve com seus ouvidos nem sempre corresponde à realidade. A verdade, mesmo, não existe. O que existe de verdade são as idéias e os sentidos. E se você se guiar pelas suas idéias e pelos seus sentidos, vai estar muito mais perto da realidade do que se guiar pelos seus olhos”.
Vocês querem mandar uma mensagem especial do 14 Bis ao Governo Federal, em apoio à campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, promovida pela Revista UFO? Todos — Por favor, deixem o pessoal ver as coisas que estão aí guardadas! Se elas são vistas no céu, que tal a gente também ver?