Em 12 de agosto de 2016, próximo à aldeia inglesa de Ansty, na área de Wiltshire [Foto ao lado], uma grande e muito bem elaborada figura em formato de mandala surgiu em uma plantação de trigo. O desenho central se parecia com folhas, pétalas e um complexo conjunto de diamantes curvados, cercado de 20 símbolos intrigantes e não identificados, lembrando um motivo hinduísta. Traços finos e retangulares perfaziam seu perímetro externo. Talvez fosse o agroglifo mais sofisticado e ambicioso dos últimos anos e foi matéria em vários jornais britânicos depois de um longo período sem notícias sobre o fenômeno.
Então, naturalmente, surgiram perguntas entre os estudiosos. Não seria o agroglifo um tanto ambicioso demais, muito complexo e fraudulento? Não seria algo encomendado para levantar dinheiro, já que o dono da fazenda cobrou cinco libras para visitação de sua propriedade? Não seria, enfim, uma ação comercial fabricada? Pois, afinal, a figura se parece um pouco com o emblema de um fabricante de produtos de tabaco? Enquanto as dúvidas surgiam, o site Crop Circle Connector [www.cropcircleconnector.com] viu-se obrigado a publicar uma nota repudiando tais especulações. Já outros diziam tratar-se claramente de uma intervenção extraterrestre com a intenção ou de impingir medos ou dar esperanças aos humanos por meio dos símbolos incluídos no desenho.
Enfim, a temporada do fenômeno em 2016 demonstrou mais uma vez que o grande desafio de entender os agroglifos está mais vivo do que nunca, com todos os ingredientes de pesquisa e polêmica que estes notáveis símbolos nas plantações inspiram. Já são tantos anos e os glifos continuam a nos fornecer uma oportunidade única para reavaliarmos o limite de nossas crenças, pensar sobre o que podemos e o que não podemos aceitar, ao mesmo tempo em que reconsideramos toda a natureza do mundo à nossa volta — e as grandes polêmicas talvez sejam um fator chave em seu propósito sempre evasivo.
Os primeiros meses
A Holanda viu a temporada de agroglifos de 2016 iniciar-se com uma simples cruz celta na vegetação de Hoover, em Noor Bradant, em 09 de abril. Um pictograma, como também são conhecidas as figuras, mais complexo surgiu em 06 de maio, mesmo dia em que o tradicional cenário inglês desta atividade registrou um estranho, porém belo, pentágono em uma plantação de canola em East Kenett, novamente em Wiltshire. Até então, a coisa parecia atrasada em comparação a anos anteriores, mas três outros círculos, ou anéis, simples surgiriam em Wiltshire ao longo de maio. Enquanto isso, em 15 de maio, a cidade alemã de Brandenburgo, na área de Grossziethen, recebia um nítido espiral de desenhos modestos, mas igualmente belos, lembrando flores ou borboletas — este foi o primeiro entre os glifos que o país receberia ao longo do seu verão.
Algumas vezes estas formações se transformam e o glifo básico de anéis surgido próximo a Silbury Hill, Wiltshire, em 28 de maio, causou a todos os pesquisadores estranheza, transformando-se, em 05 de junho, em uma estrela de cinco pontas com espirais externos. De fato, o mês de junho veria uma explosão de criatividade por parte das inteligências por trás deste misterioso fenômeno, agora presente em todo tipo de plantações, com refinadas ocorrências por todo o mundo. Dentre as mais notáveis formações encontradas na Inglaterra estão uma estrela de dez pontas em Mere, também na região de Wiltshire, descoberta em 05 de junho, com um pictograma incomum em forma de diamante surgindo nos arredores logo adiante.
Hampshire também voltou a registrar o fenômeno em 21 de junho, com uma complexa figura em forma de flor na clássica região de Chilcomb Down, seguida de uma sequência de pequenas luas crescentes dentro de um anel em Tichborne, em 24 do mesmo mês, cujo efeito visual lembra o brilho de um CD. E um agrupamento em forma de diamante contendo elementos vistos na Geometria Sagrada como Flor da Vida seguiu-se em Popham, em 28 de junho.
Tubarões nos campos ingleses
De volta a Wiltshire, agora em Hackpen Hill, em 23 de junho, houve dois pontos polêmicos. Um desenho estilizado de dois tubarões nadando em círculo parecia muito pouco confiável para que certos pesquisadores o levassem a sério e o tivessem como autêntico. Entretanto, apontam alguns, se figuras com rostos alienígenas podem ser aceitas, por que não tubarões? O fato de os tubarões terem aparecido no mesmo dia em que a Inglaterra — em uma polêmica ainda maior — votaria sua saída da União Europeia chamava a atenção, e muitas pessoas se perguntaram qual seria a mensagem implícita no agroglifo. Será que estaria nos “dizendo” que precisamos tomar cuidado com os futuros problemas pelo caminho? Mas se esse fosse o caso, de que lado estariam eles? Ou talvez a mensagem fosse a de que haveria encrencas em nosso caminho fosse qual fosse o lado escolhido.
Outra ocorrência em Wiltshire no mês de junho foi a de um pentágono muito bem entrelaçado em um anel. Desta vez deu-se em Stourton, em 29 de junho, sendo este o segundo pentágono do ano na Inglaterra. Seria alguma referência ao suposto desejo hegemônico dos Estados Unidos de que a Inglaterra permanecesse sob a convenientemente controlável cobertura da União Europeia? Independentemente da verdade, tais especulações mais uma vez demonstram o poder dos agroglifos em fazer as pessoas pensarem. Aliás, esta é vista como uma das intenções nada subliminares das tais aludidas inteligências.
Quanto aos Estados Unidos, que raramente recebe o fenômeno dos agroglifos em seu território, não houve um único glifo registrado no verão de 2016. Uma outra superpotência, porém, a Rússia, registrou um curioso par de círculos unidos, com interessantes curvas fundidas em Krasnodar, no estado de Krasnodarskiy, em 09 de junho. Na noite anterior, já na tradicionalmente ativa Europa, a Itália testemunhou seu único evento do ano até o momento — uma teia com seis camadas de anéis em torno de um círculo central em Vanzaghello, próximo a Milão. Nos últimos anos, o país tem recebido muitos agroglifos, mas a temporada italiana de 2016 foi uma decepção. O único outro desenho descoberto foi o logo da marca de biscoitos Buongrano, evidentemente uma fraude, o que deixa os italianos decepcionados sem nem sequer uma única e já costumeira obra-prima na região de Turim, tradicional cenário dos agroglifos no país.
Destaques do mês de julho
Além de alguns pictogramas de impressão retrô e um círculo de anéis em estilo astronômico na Holanda — com os hoje obrigatórios relatos do polêmico paranor
mal Robbert van den Broeke sobre bolas de luzes em estranha sincronia com eventos no país —, e um outro círculo com anéis na Suíça, com um belo efeito que o faz parecer balançar, apenas a Alemanha registrou novas ocorrências no mês de julho. Um padrão floral com oito voltas foi encontrado em Brandenburgo, em 12 de julho. Depois disso, no dia 23, espetacularmente surgiram os melhores desenhos alemães. Em especial, uma impressionante exposição de grandes luas crescentes em uma figura de quatro seções em Mammendorf, na Bavária. Esta ocorrência lembrou grupamentos de átomos ou moléculas e sua nitidez e refinamento fizeram da figura um dos grandes destaques do ano.
Caberia à Inglaterra, porém, a responsabilidade pela maioria das “obras de arte agronômicas” de julho, sendo a maior parte delas registrada na tradicional região de Wiltshire, epicentro do fenômeno dos agroglifos durante décadas no país. Entre as mais notáveis estão uma estrela de sete pontas e uma Lua crescente cercada por um anel de vários pequenos retângulos, próximo a Stonehenge, descoberta em 08 de julho. O conjunto contém anomalias geométricas com impactante efeito. Um “coração sorridente” com uma curiosa trilha radial, justamente o “sorriso”, ao centro foi um dos desenhos mais peculiares do ano e foi achado em Wilton, em 15 de julho, assim como um arranjo de triângulos e diamantes finamente entrelaçados com um anel pontuado por três círculos foi outro desenho incomum, este em Hackpen Hill, no dia16 do mesmo mês.
Alguns antigos pontos habituais parecem ter sido propositalmente revisitados em julho. Um dos destaques além de Wiltshire ocorreu em Cheesefoot Head, na vasta área de Hampshire, em 25 de julho, na forma de um emblema bastante nítido e com cinco partes, lembrando uma linha trançada — a região é aquela mesma que já foi um ponto central do fenômeno na década de 80, antes de Wiltshire se tornar o foco das incidências. Esta conexão pareceu se repetir quando um padrão semelhante foi encontrado próximo ao famoso Grande Túmulo, em West Kenett, em 28 daquele mês. Desta vez a figura foi uma estrela de oito pontas, exibindo também linhas muito nítidas. E tivemos ainda um agroglifo no antigo sítio arqueológico de Cley Hill, próximo a Warminster, local de tantas ondas ufológicas e também de vários agroglifos em décadas passadas, que registrou um anel com 20 formas lembrando cunhas em 30 de julho.
Dois rostos nas plantações
Bem mais para o leste, a vila de Roydon, em Essex, local de elaborados pictogramas nos últimos anos, apresentou um novo glifo considerado “transformador de padrões”. Era um complexo conjunto de círculos, anéis e um pequeno “estilhaço”, surgido em 24 de julho, que recebeu um círculo e um pictograma extras no dia 27 do mesmo mês, e também novos riscos ou trilhas além de mais um estilhaço em 30 de julho. Entretanto, foi a área de Calstone Wellington, novamente Wiltshire, que em 23 de julho registrou a formação mais visualmente impactante da temporada. Feita de várias camadas com pentágonos e estrelas de cinco pontas, em enorme escala, bela configuração e linhas bem definidas, esta figura lembrou alguns dos mais elaborados arranjos registrados nos anos 90 e 2000. Para muitos aficionados pelo tema, este foi o agroglifo favorito do ano.
Vez por outra, novos padrões surgem nos campos. Neste ano, duas faces de natureza diferentes marcaram presença em meados de julho. A primeira foi o arquétipo de um alienígena gray [Cinza], com o que parecia ser um cocar em torno da cabeça, e descoberto em Reigate, Surrey, em 19 de julho, sendo um dos glifos mais distintos dentre os poucos captados fora de Wiltshire neste ano. O jornal local Surrey Mirror registrou os xingamentos do proprietário sobre o que chamou de simples vandalismo em sua lavoura, mas esta figura de um rosto é muito precisa e a formação interna é complexa e fluída, longe de ser um emaranhado mal feito como a reportagem sugeria.
As especulações sobre os agroglifos são muitas e constantes. Há aqueles que dizem serem uma intervenção extraterrestre com a intenção clara de impingir medos ou dar esperanças aos humanos por meio dos enigmáticos símbolos que contêm
Rostos alienígenas já tinham sido registrados antes disso, notadamente o ainda lembrado “ET e CD” de 2002 em Winchester, Hampshire. Aqueles que acreditam que essas criaturas são reais apontam para tais figuras como uma prova de que ao menos alguns dos agroglifos teriam origem extraterrestre. Isto, e algumas outras coisas, tem jogado com a nossa percepção de como os alienígenas se pareceriam.
Ainda em julho, no dia 22, e mais uma vez em Wiltshire, um novo rosto surgiu próximo ao antigo castro de Figsbury Ring. Desta vez a figura se parecia com a face estilizada de um felino sob um círculo de anéis, dentro de um adorno para a cabeça em uma forma que lembra raios solares. Se este glifo for interpretado como uma retratação do Sol, talvez seja uma versão moderna da deusa-leoa egípcia Sekhmet, algumas vezes apresentada com o disco solar sobre a cabeça. Interpretações menos nobres veem a figura como o gato Chesire, de Alice no País das Maravilhas, uma ironia. De qualquer modo, é uma formação muito bem-feita e devidamente comparável à formação de Reigate.
Um agosto tipicamente inglês
Curiosamente, no mês de agosto, os glifos abandonaram o resto do mundo, sendo a Inglaterra o único país a registrar as dez ocorrências do mês. Uma delas, a mais impressionante, foi a notável e polêmica mandala já citada acima, mas há outros destaques em Wiltshire, como a elaborada flor de seis pétalas surgida próxima ao famoso White Horse, o cavalo branco esculpido em uma colina de Westbury. A descoberta foi em 04 de agosto. Com suas distintas pétalas em forma de joias perpassadas por refinadas linhas, a figura chamou a atenção.
Houve também um círculo simples de anéis em Etchilhampton, achado em 08 de agosto, distinto por seu complexo efeito de cesta trançada e um implícito pentáculo. Um hexágono bastante elaborado com anéis, semicírculos e um bonito efeito escovado próximo a Devizes foi descoberto em 17 do mesmo mês. E uma série de refinados pequenos círculos e semicírculos lembrando um close up do Sistema Solar ou anéis planetários e luas, em All Cannings, encontrado em 24 de agosto. Enquanto isso, no dia 27, em Beckhampton, o desenho de uma suástica causou certa surpresa, mas parece retratar a inconfundível versão sagrada e antiga da figura — em sânscrito, a suástica é vista como um objeto de sorte ou bom agouro — com os pontos centrais entre os seus braços. Enfim, nada nazista.
Três outros condados ingleses registraram formações em agosto: uma curiosa grade triangulada em Chilcomb, Hampshire, uma exibiç&
atilde;o pop art em forma de quadrados em negativo e positivo em Chaldon, Surrey, ambas surgidas no dia 03 daquele mês, enquanto Essex encerraria a temporada — pelo menos até o momento da redação desta matéria — com um pictograma incomum em torno de um crescente de anéis com barras e pequenos círculos em Rochford, em 29 de agosto.
Variações e avaliação
Ao final do mês, um total de 61 agroglifos foram registrado no mundo todo — a contagem durante todo o ano anterior foi de 87. O mais notável nesta temporada foi o relativo “silêncio” fora da Inglaterra. O tradicional coração do fenômeno forneceu figuras de forma consistente, mas a atividade global parece ter diminuído, apesar de alguns destaques [O caso de Prudentópolis ainda não havia ocorrido]. Apenas 15 formações surgiram em outros países, uma proporção bastante menor do que a média geral. Isso pode ter algum significado, como também pode não significar coisa alguma. O número de incidências sobe ou desce de ano a ano e sua diversidade geográfica parece igualmente variar. Na própria Inglaterra, alguns condados, como Warwickshire, que já esteve ocupado com ocorrências nos últimos anos, teve um semestre sem agroglifos neste ano, mas a atividade pode reiniciar no momento certo.
Depois de anos especulando se as formações nas plantações desapareceriam completamente, há hoje a aceitação de que estão aqui para ficar, pelo menos por algum tempo. Essa é uma boa sensação e, seja lá qual for a opinião do leitor sobre este fenômeno — se acredita na hipótese paranormal ou em algo mais próximo da nossa realidade —, este mistério traz uma série de questionamentos e buscas que despertam nosso raciocínio, conforme demonstram as reações acaloradas às formações aqui retratadas.
Em um mundo cheio de incertezas e preocupações, devemos nos alegrar com a recorrência deste fenômeno belo e engenhoso, capaz de afastar as pessoas da ansiedade e levá-las a um estado de contemplação, ao debate saudável e à apreciação estética. Os agroglifos continuam sendo um mistério digno de celebração. Se são realmente obras de inteligências superiores, tanto melhor.