“Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles será o Reino dos Céus.”
Em consonância com essa frase de Cristo, é notório que a parcela mais significativa de testemunhas do Fenômeno UFO seja composta justamente por gente simples, de pouca cultura e não muito dada a satisfações de espírito. Para o ufólogo racionalista, que prefere os testemunhos de pilotos, engenheiros e astrônomos, isso é algo a ser lamentado. Mas, malgrado seus lamentos, é um fato inegável que seus testemunhos ideais são mais raros do que ele gostaria. Como também é um fato que os testemunhos dos beati paupere spiriti não devem, em hipótese alguma, ser desprezados. Ao contrário, sob muitos aspectos, eles geralmente revelam-se mais ricos e interessantes do que os frios e objetivos relatórios das ditas “testemunhas ideais” – os “letrados” e técnicos -, e exatamente porque estas pessoas tem uma mentalidade quase exclusivamente racional.
Pensamento e Intuição – Entretanto, como o próprio Jung demonstrou, o pensamento não e nem a única nem a mais importante das funções psicológicas. Ao seu lado contam-se igualmente a sensação, e sentimento e a intuição. A avaliação mais completa de uma experiência é aquela que resulta do funcionamento harmonioso dessas quatro funções. Mas o típico ser racional, via de regra, superestima o pensamento e reprime as outras três funções, o que torna suas percepções parciais em virtude de um julgamento extremamente unilateral. Já as pessoas “simples” – que são mais complexas de que se pensa pelo contrário , embora apresentem um raciocínio lógico muito pouco desenvolvido, et pour cause, têm um contato muito mais vívido com as demais funções. Mesmo não sendo racional, a avaliação de suas experiências será muito mais completa do que seria se apenas a função pensamento predominasse.
Para aqueles pesquisadores que, como o psicólogo Leo Sprinkle, o matemático Jacques Vallée ou eu próprio, enfocam o Fenômeno UFO como um processo dinâmico do qual a testemunha é a parte fundamental, as experiências dos “bem-aventurados e pobres de espírito” configuram um material muito mais significante do que a insípida lista de dados que o olho clínico do racionalista pode oferecer. Entretanto, essas pessoas geralmente têm uma vivência religiosa muito vivida, quase sempre contida nos moldes de um credo fundamentalista de cunho protestante ou católico. E dentro dessa “moldura” que elas constroem seu liebensraum, seu “espaço vital”, e é com esse pincel que elas colorem seu mundo. E é justamente esse um ponto de máxima importância para a pesquisa ufológica, e tento alertar o pesquisador para ter cuidados extremos ao lidar com pessoas assim, quando investigarem suas (ricas) experiências ufológicas. Ora bem, será quase inevitável que elas procurem enquadrar tais experiências dentro parâmetros exclusivamente religiosos. Dois exemplos ajudarão a esclarecer melhor esse aspecto:
• O primeiro ocorreu em Aznacalzar, na Espanha, por volta de 5 de abril de 1935 – portanto, dez anos antes de Kenneth Arnold “inaugurar” a chamada Era Moderna dos UFOs. Nessa ocasião, um agricultor católico, o Sr. Mora, avistou um objeto circular que desceu do ar a cerca de meio quilômetro de onde estava e ficou pairando sobre o solo. Era cerca de 19:30 h e, do objeto, saíram alguns “homenzinhos que ficaram rodeando o objeto por alguns minutos, antes de partirem”, segundo descreveu a testemunha. Para o Sr. Mora, o fenômeno todo foi uma pura manifestação de Deus e, como escreve o ufólogo inglês Hilary Evans, “a experiência tornou-se o fato mais importante de sua vida até aos seus últimos momentos”.
• O segundo caso que citarei, entre milhares já ocorridos, ocorreu quase 45 anos depois do anterior, em 29 de dezembro de 80, com as senhoras Betty Cash, de 51 anos, e Vickie Landrum, de 57. As testemunhas viajavam com o neto da última, um garoto chamado Colby, de 7 anos, por uma estrada próxima a Huffman, Texas, quando viram um UFO luminoso a 5 Km de distância. Seu aparecimento foi acompanhado por um intermitente “bip-bip” e seguido por dois helicópteros do tipo CH47 da Força Aérea Norte-Americana, USAF. Mas, este último detalhe, que aguçou o interesse dos ufólogos, não foi o suficiente para demover a convicção da Sra, Landrum de que o fenômeno todo – inclusive várias queimaduras de 1º e 2º que receberam nas mãos e rostos, em função da luminosidade e calor do UFO – tinha sido causado por Jesus Cristo, em pessoa! (Editor: A Sra. Landrum, quando observou que Colby insistia em dizer que havia alguém no interior do objeto flamejante, acalmou-o dizendo que, se houver mesmo alguém lá, este alguém será Jesus…).
Deus e os UFOs – É aqui que os ufólogos se encontram diante de um de seus maiores dilemas: poucos são os pesquisadores dispostos a admitir que Deus dirige um disco voador (sic). É claro que não dirige, como Jesus também não sai por aí em reluzentes UFOs flamejantes, mas essa será a convicção da testemunha. A maioria dos pesquisadores está convencida de que se trata de espaçonaves extraterrestres envolvidas em algum tipo de périplo em nosso mundo. Nessas circunstâncias, é difícil não cair na tentação proselitísta de querer convencer a testemunha de que não foi Jesus Cristo que ela viu, e sim um extraterrestre. Mas, é juntamente isso que se deve evitar a qualquer custo e muitas são as razões que aconselham essa atitude de prudência.
Em primeiro lugar, por uma questão de diplomacia. Por mais irracional que uma crença nos pareça, tentar destruí-la é falta de talo. De qualquer forma, o sentimento religioso não desapareceria com a ausência de parâmetros, e o que surgiria no lugar da crença anterior seria a mais pura e simples ufolatria. Essa falta de tato, em segundo lugar, pode ser extremamente prejudicial para o equilíbrio da testemunha. Lembremos do Sr. Mora, cuja experiência “tornou-se o fato mais importante de sua vida”. Ao interpretar seu contato como uma vivência religiosa, a testemunha tende a reorganizar toda sua vida cm função desse acontecimento, que lhe fornece um amplo sentido e significado. Mas, ao questionar sua interpretação, o ufólogo estará, de fato, questionando o sentido da vida para a testemunha. A falta de um significado para a vida foi apontado por Jung como a principal cau
sa da maioria das neuroses contemporâneas. O pesquisador deve estar ciente de que, ao criticar a interpretação da testemunha, pode estar abrindo caminho para uma crise existencial com uma neurose como desfecho.
Equilíbrio Psicológico – Em troca, o que o ufólogo ganha convencendo a testemunha de que, no fim das contas, não foi Jesus Cristo quem apareceu para ela? Absolutamente nada e, em qualquer caso, ele já estará com o depoimento da testemunha para suas pesquisas, e a publicará no devido momento como sendo um contato com extraterrestres a d maior UFO glorian. Simplesmente não existe motivo algum para que o ufólogo se empenhe em esvaziar a fé da testemunha, a não ser o vício da iconoclastia, que mais prejudica do que auxilia na pesquisa ufológica.
Se o pesquisador resistir à tentação proselitista e deixar a testemunha com suas convicções religiosas, não a terá prejudicado em nada e terá feito seu trabalho do mesmo jeito. Porém, se arriscar o equilíbrio psicológico da testemunha em nome de suas próprias convicções, só estará demonstrando irresponsabilidade, revelando-se incapaz de tratar com o elemento humano, que é um fator chave na compreensão do Fenômeno UFO.
Leitura recomendada pelo Editor:
(1) Objetos Voadores Não Identificados, livro de Hilary Evans, Publicações Europa-América, Lisboa.
(2) Tipos Psicológicos, livro de C. J. Jung, Jorge Zahar Editores, Rio de Janeiro.
(3) Flying Saucers, a Modem Mith of Things Seen in the Skies (Discos Voadores, um mito moderno de coisas vistas no céu), livro histórico de C. G. Jung (Pode ser obtido no Brasil sob forma de cópia xérox encadernada – Veja encarte nas páginas centrais desta edição).
(4) Psicologia e Religião, publicação da Editora Vozes, Petrópolis.
• Observação: Uma das melhores livrarias do país, especializada em publicações paracientíficas. ufológicas, filosóficas e de cultura alternativa e Esotera Livros, onde os leitores poderão achar várias obras sobre o assunto desse artigo. Endereço: Rua Saldanha Marinho 338, Centro, CEP 80000 Curitiba (PR) – Fone (041) 233-2573.
Jung, um psicólogo que estudou os extraterrestres
Toda a vez que se pensa na questão ufológica, pensa-se na discriminação e – porque não dizer? – verdadeira marginalização que as chamadas ciências acadêmicas impõem à toda a problemática que envolve os discos voadores e seus tripulantes. Discriminação por parte da Astronomia, da Física, da Biologia, etc, só para citar algumas dessas áreas. Por que? Porque estas disciplinas – e tantas outras – estariam seriamente comprometidas quando a confirmação (mais que óbvia e tardia) do UFOs viesse e, em seu conjunto, trouxesse informações que mudariam o cenário científico já muito bem estabelecido.
Entretanto, muitos cientistas, movidos por verdadeiro espírito perquiritivo, já se anteciparam ao tão esperado “Dia da Revelação” ou – na pior das hipóteses – do contato formal com outras civilizações do universo, o que, cedo ou tarde, deverá acontecer. Assim, vários astrônomos, físicos, psicólogos, etc, já pesquisam há décadas o assunto, à luz da metodologia científica que envolve suas disciplinas – e muitos bons resultados têm sido obtidos. Um desses pioneiros é também um dos mais consagrados psicólogos de lodos os tempos, o renomado Dr. Carl Jung. Pouquíssima gente sabe que Jung pesquisou intensamente a Ufologia por vários anos, publicando um relatório impressionante nada menos do que uma década antes que a Força Aérea Norte-Americana (USAF) decidisse estabelecer a famosa Comissão Condon.
O livro de Jung, Flying Saucers, A Modern Mith of Things Seen in Sky (Discos Voadores – Um Mito Moderno de Coisas Vistas no Céu), é raríssimo e hoje restam somente alguns exemplares em sebos especializados dos EUA e Europa. Nele, o psicólogo analisa a questão sob vários pontos-de-vista, mas sempre caracterizados por uma imparcialidade notável e dentro de um rigor científico absoluto. O resultado, naturalmente, é uma apresentação única e inédita de toda a problemática ufológica, algo que, até hoje, não foi contestado nem substituído.
Embora raro, cópia xerográfica de alta qualidade do livro de Jung pode ser obtida através do Centro para Pesquisas de Discos Voadores (CPDV) – entre outras obras históricas de igual teor. Veja o encarte das páginas centrais desta edição, código de referência: LH-04.