Perdem-se no tempo as origens e os conceitos que hoje estruturam a certeza disseminada em diversas religiões e doutrinas — assim como também na ciência — de que nosso infinito universo visível está repleto de vida, das mais diversas formas e condições estruturais, e inclusive inteligente. Durante a evolução do conhecimento humano, especialmente nos séculos XIX a XX, e mais recentemente com a descoberta de exoplanetas semelhantes à Terra no limiar do terceiro milênio, esses mesmos conceitos se tornam cada vez mais concretos para a ciência moderna.
Tomando como base a vida em nosso planeta, de natureza material, da forma perceptível como é conhecida, é certo que algumas condições se impuseram para sua existência, sobretudo para o surgimento de sua fase inteligente. Tais condições, tanto no nosso quanto em qualquer sistema estelar, são basicamente a relativa proximidade do planeta da estrela que orbita, a existência de água em estado líquido, temperaturas e gravidade semelhantes às terrestres. Estas são as chamadas condições de habitabilidade de um astro.
Entretanto, um dos conceitos mais aceitos e que passa relativamente à margem dessas condições, impostas pelo mecanicismo da física newtoniana e da biologia darwinista, e que tomaremos como caminho na procura pelo DNA comum entre o Espiritismo e a Ufologia Moderna, é o conceito da existência de vida em outras dimensões. Hoje, as pesquisas para identificar essa existência no manuseio científico de variáveis além do comprimento, largura e profundidade — bem como do tempo, que alguns consideram como quarta dimensão —, são exaustivamente experimentados, calculados e medidos na física de ondas e de partículas subatômicas, a chamada física quântica.
Apesar de incertos, alguns resultados são animadores, especialmente quando surgem novas descobertas que, após analisadas a undo, vislumbram um futuro promissor e novos horizontes para o homem terrestre. Surgem também a resolução de antigos mistérios, tais como a origem da massa, através da procura pela hipotética “partícula de Deus” ou “Bóson de Higgs”, e o seu papel na constituição do universo e suas dimensões após o Big-Bang.
Pesquisas antigas
Num passado não muito longínquo, da mesma forma que agora, outros vanguardistas de renome na ciência decidiram enveredar por estes mesmos caminhos, mas, entretanto, usando métodos bem diferentes para estudar, encontrar e manusear formas de energia alternativas no quarto estado da matéria. É óbvio que todas as experiências têm que respeitar as limitações e avanços tecnológicos do seu tempo, uma vez que nenhum cientista, há 200 anos, dispunha de algo parecido com o Grande Colisor de Hádrons (LHC), por exemplo. Mas o fato é que, esgotadas todas as possibilidades dentro dos limites impostos pela ortodoxia metodológica e a aparelhagem disponível, os homens da ciência acabaram optando pelas searas da parapsicologia, a protociência que buscava explicações para fenômenos desconhecidos e rebeldes aos paradigmas da época, como a geração de ectoplasma. Estes fenômenos podem ocorrer espontaneamente, mas geralmente ocorriam na presença de “pessoas especiais”, que passaram a ser chamadas de “paranormais”.
E na base da insistência — sem, no entanto, abandonarem seus conceitos acadêmicos —, tais cientistas demonstraram em repetidos experimentos científicos a existência de outras dimensões, inclusive com a real possibilidade de haver vida inteligente nesses verdadeiros “mundos paralelos”. Segundo eles, a fonte dos fenômenos seriam seres externos ao nosso meio, que conviveriam com seus semelhantes em outro estado da matéria, e, portanto, não sofreriam e não obedeceriam necessariamente as regras da física e da biologia conhecidas. Contudo, tais entidades poderiam interagir conosco por meio de forças e de dons desconhecidos de humanos de nossa dimensão. A própria forma de manifestação dessas inteligências, suas mensagens e extraordinários feitos já denunciavam a origem incomum dos entes que habitam os diferentes mundos propostos por eles mesmos.
Comunicações espirituais
Grandes cientistas, como o físico-químico William Crookes, o naturalista, biólogo, geógrafo e antropólogo Alfred Russel Wallace e o fisiologista Charles Robert Richet, Prêmio Nobel de Medicina em 1913, chegaram ao ponto de manter contato com tais inteligências extradimensionais, espíritos ou almas, desenvolvendo consistentes teorias sobre suas origens e a razão deles interferirem em fenômenos físicos diversos, como mudança de temperatura ambiente, materializações, movimentação de corpos e criação de imagens por meio da ectoplasmia. Wallace, ao concluir três anos de experiências com a médium Katie King, que agia por meio do ectoplasma, chegou a afirmar em relatório, lido diante da Sociedade Dialética de Londres, que tais comunicações espirituais “são comprovadas tão satisfatoriamente quanto qualquer outro fato que possa ser provado em outras ciências”. No Brasil, esse fenômeno foi também muito estudado no século passado por vários cientistas, tendo como médiuns José de Arigó e Otília Diogo, cujas vidas estão fartamente documentadas — Arigó era chamado de “o cirurgião da faca enferrujada”, por sua capacidade de operar pessoas com instrumentos ordinários e sem assepsia, sem causar qualquer problema aos pacientes.
Modelos de estudo
De certa forma, mesmo que cálculos futuros e medições de instrumentos exatos e adequados provem que a origem dos fenômenos causados por médiuns e executados por meio do ectoplasma nada tenham a ver com as inovadoras experiências geradoras do chamado Plasma de Quark-Glúon — uma fase da cromodinâmica quântica em que componentes básicos da matéria, as partículas atômicas quarks e glúons, estão quase livres quando a temperatura e a densidade da matéria são muito altas —, é impossível ficar sem comparar uma coisa com a outra, devido às suas semelhanças. Isso se torna ainda mais evidente quando se tem na física quântica duas teorias muito próximas se correlacionando: a citada Teoria do Plasma de Quark-Glúon e a Teoria das Supercordas, que, numa de suas resultantes mais interessantes, propõe a multidimensionalidade do universo e a possibilidade matemática de se viajar de um ponto a outro do cos
mos rapidamente, através de uma dobra do espaço-tempo.
Seja como for, aberto o contato com outras dimensões da realidade, inicia-se também uma gama incalculável de possibilidades para comprovação de existência da vida neste e em outros orbes do universo. Uma delas — e a mais usada em virtude desse conceito espiritual — foi o estudo de inteligências humanas imateriais, ou “menos materiais”, proporcionado por experimentos com seus canais de ligação, os médiuns paranormais. Seguindo a mesma linha de investigação, surgiu a possibilidade de comprovação da chamada “transmigração”, por parte dessas inteligências extrafísicas, em corpos humanos das mais variadas densidades físicas, bem como no formato, na duração da vida corporal e no grau de avanço intelectual — ou seja, a teoria da reencarnação conforme filosofias, doutrinas e religiões milenares categoricamente os afirmam.
E não são poucas as entidades que discorrem abertamente sobre o tema em suas literaturas. Só para citar algumas mais conhecidas, cada uma com seu modo de interpretação, temos o cristianismo primitivo, praticado até o ano 553, antes do V Concílio Ecumênico de Constantinopla, o hinduísmo, budismo, taoísmo, confucionismo, bramanismo, janismo, zoroastrismo, sikhismo, xintoísmo, judaísmo esotérico, islamismo esotérico, a Cabala, o esoterismo, Eubiose, Seicho-no-Ie, ocultismo, catolicismo liberal, Gnose, Igreja Unida do Canadá, protestantismo liberal, Maçonaria, sufismo, mahaísmo, zen-budismo, Espiritismo, xamanismo, indigenismo em todos os continentes habitados, Teosofia, Igreja Messiânica, martinismo, Legião da Boa Vontade, Ordem Rosacruz, Ordem dos Templários, Santo Daime, candomblé, umbanda, cristianismo cigano, caodaísmo etc.
O espírito em ações de espionagem
Enfim, são vários os métodos para entendimento e comprovação da teoria reencarnacionista. Alguns considerados até relativamente seguros e científicos para atestar a multidimensionalidade nos ambientes planetários, bem como nos processos de vida inteligente além do universo perceptivo, como a projeciologia. Esse método consiste na viagem da inteligência perceptiva do indivíduo — ou espírito — para fora do corpo carnal, sendo praticado e estudado inclusive por cientistas da NASA e das forças armadas norte-americanas durante o período da Guerra Fria. Segundo documentos oficiais dessas entidades, surgidos nos Estados Unidos após a Lei de Liberdade de informação (FOIA), as pesquisas na área atingiram consistentes resultados em atividades de espionagem — até o governo da extinta União Soviética utilizava a mesma metodologia para atingir obetivos militares. Outra interessante forma desse estudo parapsicológico, originário da teoria reencarnacionista, é a captação de mensagens e imagens de espíritos, ou ainda de seres extraterrestres de outras dimensões, conseguidos por meio de aparelhos eletrônicos. Esta é a chamada Transcomunicação Instrumental (TCI).
Não é o objetivo deste trabalho discutir os métodos científicos que levaram e continuam a levar à linha de raciocínio exposta acima. Mas, para que não restem dúvidas sobre a autenticidade e seriedade de tais práticas, basta citar alguns respeitados nomes de entidades e cientistas que as seguem ou praticam. Além da NASA e da antiga União Soviética terem adentrado nos estudos da projeciologia, na área da TCI temos o padre jesuíta francês e físico François Brune, o também físico alemão Ernest Senkowski, o parapsicólogo suíço Teo Locher, a luxemburguesa Maggy Harsch e o israelense Adrian Klein. No Brasil temos, entre outros especialistas, a mundialmente famosa pesquisadora Sonia Rinaldi, consultora da Revista UFO que alcançou excelentes resultados até na transcomunicação com entidades extraterrestres [Veja entrevista com ela na edição UFO 122, agora disponível na íntegra em ufo.com.br].
Nesta mesma linha de raciocínio, antigos sábios e outras personalidades também defenderam a idéia da transmigração de espíritos em múltiplas existências encarnadas, quer aqui na Terra, quer em outro planeta, assim como a continuidade da vida em outras “condições”. O professor de português, latim, história e geografia José Reis Chaves, autor do sugestivo livro A Reencarnação Segundo a Bíblia e a Ciência [Martin Claret, 2007], relaciona em sua obra uma impressionante lista de reencarnacionistas famosos, que muito pouca gente sabe que o são. Estão entre ele Hermes Trimegisto, Ferécides de Siros, Lao-Tsé, Pitágoras, Platão, Confúcio, Sócrates, Júlio César, São Francisco de Assis, Paracelso, Giordano Bruno, Shakespeare, Dante Alighieri, Goethe, Nietzsche, Benjamin Franklin, Léon Denis, Leonardo da Vinci, Voltaire, Gurdjieff, Aldous Huxley, Victor Hugo, Schopenhauer, Dostoievsky, Henry Ford, Estanislav Grof, Salvador Dalí, Thomas Edison, Freud, Balzac. Todos têm registros deixados sobre reencarnação em alguns de seus maiores escritos.
Kardec, Chico Xavier, mentores e UFOs
Na mesma esteira de nobres contribuintes da ciência e pensadores de todos os tempos, como os citados acima, estão aqueles que, apesar de não terem o menor propósito de originarem qualquer doutrina religiosa, acabaram servindo de mote para as religiões mais proeminentes do planeta. Tidos como homens santos ou deuses, plantaram os conceitos que futuramente ergueriam os alicerces de união entre o reencarnacionismo, defendido pelas doutrinas espíritas, e o estudo dos fenômenos paranormais na Ufologia. São eles Krishna, Sidarta Gautama (Buda), Jesus Cristo, Alan Kardec e, aqui no Brasil, Chico Xavier. Vamos concentrar nossos argumentos nesses dois últimos por uma questão de maior proximidade temporal e geográfica, uma vez que, depois de ter surgido na França, foi no Brasil que o Espiritismo se desenvolveu de forma significativa em relação a outros países, enquanto linha doutrinária de estudos religiosos. Além do mais, são eles que mais têm a ver com este interessante tema. As primeiras afirmações de Kardec sobre a reencarnação e a existência de outras formas de vida nos saltam da obra O Livro dos Espíritos, passadas a ele pelo que chamou de “espíritos codificadores” e impressas em 1857, em Paris.
Trata-se de um livro escrito em forma de perguntas e respostas, as primeiras formuladas por Kardec dire
tamente àqueles seres desencarnados que vivem no que se convencionou tratar de “mundo dos espíritos”, mas que se distribuem nas “diversas moradas do Pai” — menção tanto católica quanto espírita para outros mundos habitados.
Graus de evolução mental
Nas partes da obra referentes à Pluralidade dos Mundos (questões 55 a 58) e à Encarnação nos Diferentes Mundos (questões 172 a 188), retiramos as informações mais interessantes e pertinentes à pesquisa ufológica — embora elas estejam distribuídas por toda a obra. E mesmo que ainda restem dúvidas quanto à ligação do tema com a Ufologia, sobretudo para os seguidores mais ortodoxos da doutrina espírita, para os ufólogos não há interpretações equivocadas e nem distorções no que disseram os espíritos codificadores, mas apenas visões e entendimentos diferentes do estudo religioso do Espiritismo. Das respostas contidas neste que é o mais famoso livro de Kardec, podemos deduzir que todos os orbes do universo são habitados e que “cada globo tem, de alguma forma, sua população própria de espíritos encarnados e desencarnados, alimentada em sua maioria pela encarnação e desencarnação deles”.
Segundo o que o grande autor e iniciador do Espiritismo recebera dos espíritos codificadores, esses seres se encontram distribuídos em vários níveis de densidade da matéria e de longevidade, que estão intrinsecamente ligados ao grau de sua evolução mental, intelectual, moral e de conhecimentos nas mais variadas áreas, contando com a tecnológica. De forma inequívoca, deduz-se das respostas aos questionamentos que a morfologia, necessidades e métodos de sobrevivência dos seres humanos, animais e vegetais não são exatamente os mesmos observados na Terra. Aliás, segundo os codificadores, “a constituição física dos globos não se assemelha em nada”, embora “haja muitos planetas no mesmo estágio evolutivo que o nosso”. Tudo dependeria do “grau de evolução do mundo e da pureza dos espíritos” onde se pretende fazer o estudo, a observação, a aprendizagem ou, mais especificamente, a encarnação de dada criatura. Ainda segundo as respostas dadas a Kardec, na escala evolutiva dos astros do universo, tanto a Terra quanto nós, os descendentes do gênero Homo sapiens, ocupamos “um dos degraus mais baixos de uma escada que leva à perfeição divina”.
Ora, mas se é assim, é natural supormos que, se há humanidades mais evoluídas — inclusive tecnologicamente e em tantos graus quantos forem necessários até que se chegue à perfeição, que não devem ser poucos —, é coerente também aceitar ser possível a manifestação, incursão ou até mesmo a viagem material de algum desses seres encarnados a outro mundo que não o seu de origem, notadamente aqueles de alto grau evolutivo e tecnológico na área das ciências espaciais. Mas como se daria isso na prática, aqui em nosso planeta, dentro das quatro dimensões físicas conhecidas? Ou, simplesmente, como seria possível a observação de seres vindos de outros mundos, contando apenas com nossos cinco sentidos humanos? Os espíritos codificadores não chegaram a explicar em nenhum momento esta questão, nem explicitamente e nem de forma indireta, até porque esta pergunta não foi feita.
A Ufologia, em 1857, quando surgiu O Livro dos Espíritos, não era entendida como a vemos hoje — e muito menos Kardec devia ter idéia do que se tornaria o Fenômeno UFO e a pesquisa das visitas alienígenas ao nosso planeta. Contudo, uma dica contida na resposta à pergunta número 182 da obra sugere que nossa indagação de natureza ufológica deveria ser adiada para um tempo futuro, quando a evolução humana terrestre estaria em outro patamar, permitindo-se então a resposta. A pergunta em questão procura saber exatamente em que estado físico e moral se encontram outros mundos, para se conhecer a que níveis seres mais avançados poderiam chegar. Mas a resposta não é concedida pelos espíritos codificadores devido aos motivos expostos, tais como o próprio grau de evolução terrestre. Entretanto, na pergunta número 184, eles confirmam que o espírito errante pode escolher o mundo em que vai habitar, ou visitar, desde que seu grau evolutivo o permita. Logicamente, é de se supor que um espírito encarnado e com alto grau de evolução também tenha esta prerrogativa, assim como disponha de métodos tecnológicos para aportar onde melhor lhe agradar, seja em missão ou por estudo.
Confederação interplanetária
Quase 100 anos depois de Allan Kardec, o médium brasileiro Chico Xavier aprofundou a questão das visitas extraplanetárias em várias de suas obras psicografadas. No livro Obreiros da Vida Eterna, por exemplo, transmitido a Xavier pelo espírito André Luiz em 1946, este ficou espantado quando seu superior lhe dissera que era comum espíritos extraterrestres de elevada hierarquia se materializarem e se reunirem em gloriosas assembléias, onde cada um representasse desde sistemas planetários até constelações e galáxias, assim como se faz na Organização das Nações Unidas, aqui mesmo na Terra.
Em outras obras psicografadas por Chico Xavier — ainda que esta afirmação não seja feita só por ele — se descobre que a missão de seres elevados se dá em ambientes mais densos do ponto de vista material e espiritual, como seria o caso de um planeta como a Terra, onde os espíritos encarnados necessitam de artifícios de proteção. Em regiões trevosas abismais, denominadas de subcrostais ou de umbral pelo Espiritismo, deste e de outros globos, entidades missionárias chamadas de “caravaneiros socorristas” — que podem muito bem se tratar de seres extraterrestres — usam veículos movidos à energia magnética, armas, animais e até pássaros para desempenhar a função de proteção, dependendo da região e dos perigos que sua densidade corporal terá que enfrentar.
No recente filme Nosso Lar [2010], baseado na obra homônima de 1944, a mais famosa de Chico Xavier, os espíritos vivem em uma cidade futurística cujas edificações têm cúpulas arredondas e parecem feitas de vidro. Os meios de transportes do local, chamados de Aerobus, voam sem barulho e se assemelham a naves espaciais em forma de charuto, assim como os seres moralmente elevados, quando se deslocam para as regiões mais densas, provocam intensa lumino
sidade ao cortarem o espaço. Não é forçosa uma comparação desta cena com UFOs observados entrando em nossa atmosfera, vindos do espaço.
Nem com outros que se materializam de repente em pleno ar, entram ou saem de mares, montanhas e cavernas, às vezes sem deixar qualquer vestígio físico, noutras imprimindo marcas que caracterizam os chamados contatos imediatos de segundo grau — quando há evidências físicas. É importante ressaltar que a Ufologia não considera apenas questões relacionadas à hipótese extraterrestre (HET) para explicar a origem do seu objeto de estudo, os discos voadores. Alguns ufólogos até a rejeitam, por considerarem que o Fenômeno UFO pode ter origem aqui mesmo, na Terra, ocasionado pelo próprio ser humano vindo do futuro, em situações regidas por parâmetros científicos que apenas agora estamos supondo na física quântica. Estarão nossos descendentes no futuro muito mais aparelhados tecnologicamente, para terem recursos para virem à Terra e nos contatarem? Ou estarão eles presos pelo chamado “paradoxo do avô”, que os impediria de interagir conosco, sob risco de destruírem sua própria existência? Seria essa a explicação mais plausível para o aspecto fugidio dos tripulantes dos UFOs? Talvez, mas estas teorias deixam muito mais lacunas do que oferecem respostas, não fazendo parte de nosso propósito discuti-las agora.
Hipóteses extraterrestres e terrestres
A hipótese de origem intraterrestre para o Fenômeno UFO também é levantada pelos contestadores da HET, mas rejeitada ainda categoricamente pela maioria, uma vez que as geociências não admitem a possibilidade de a Terra ser oca, como pleiteiam seus proponentes. É unânime o conceito de que nosso planeta não tem condições de abrigar vida inteligente em seu interior. Mas se considerarmos que o mundo espiritual interfere no mundo material das diversas formas explicadas anteriormente — prescindindo leis físicas como a impenetrabilidade, por exemplo — e igualmente reforçadas pelos livros psicografados por Chico Xavier, a hipótese intraterrestre pode tomar fôlego, embora também pareça existir limitações em regras “do lado de lá”.
Em outra obra psicografada por Xavier, chamada Ação e Reação, de 1956, o mesmo espírito André Luiz, seu eterno amigo, desta vez em companhia de outro espírito identificado como Hilário, nos conta a história de uma guerra altamente tecnológica, que empregaria o que se chamou no texto de armas iônicas e que foi travada contra belicosas criaturas intraterrestres, que desejavam remover de sua região no umbral um posto avançado da cidade Nosso Lar, identificado como Mansão da Paz. Segundo André e Hilário ditaram a Xavier, as batalhas eram travadas com canhões eletrônicos que causavam pavor e loucura naqueles que fossem atingidos, enquanto a barreira defensiva da Mansão da Paz era composta por hastes metálicas semelhantes a pára-raios, funcionando como condensadores dos milhares de projéteis semelhantes a raios laser disparados por seres trevosos contra as naves. Socorristas e socorridos que estivessem chegando ou saindo da cidadela eram atingidos — o intuito dos trevosos seria não permitir a ação dos primeiros.
Projéteis magnéticos disparados
Em outros livros transmitidos pelo mesmo espírito André Luiz, também há a menção de armas que disparam projéteis magnéticos, usadas na defesa dos socorristas e causando adormecimento em espíritos trevosos atingidos. Note-se que, nas mesmas obras, as narrativas afirmam que a maior parte desses locais é identificada como “baixo umbral”, onde os conflitos ocorrem. Eles ficariam alguns metros sob a crosta terrestre, às vezes sob grandes cidades do nosso mundo físico. Neste ponto é interessante citar a semelhança da arma usada por espíritos com aquelas vistas por testemunhas em casos registrados na literatura ufológica mundial, sendo, no entanto, portadas por tripulantes dos UFOs, os ufonautas.
Não obstante essas histórias registradas no mundo espiritual e repassadas por mentores de inúmeros médiuns, em que ponto podemos traçar uma linha divisória entre o mundo espiritual e o mundo físico terrestre? Já vimos que a existência da ponte entre os dois pode ser transposta, dando crédito tanto à hipótese extraterrestre quanto a teorias terrestres para explicação do Fenômeno UFO através da doutrina espírita. Contudo, segundo os mesmos mentores, existem severas regras no mundo espiritual que impedem desencarnados, sejam humanos ou animais, de agirem deliberadamente no mundo dos encarnados. Sobretudo, aqueles cuja evolução
moral os obriga a viverem no umbral.
Considerando válidas tais teorias espíritas, uma das respostas à pergunta que trata da materialidade do Fenômeno UFO e de sua origem extraterrestre, assim como sua ação em nosso planeta, está justamente na existência de encarnações em dimensões diferentes da nossa, como já foi citado no início deste trabalho e discorrido até aqui. Embora vários e respeitados autores do movimento espírita brasileiro já tenham chegado a estas conclusões, como o nobre colega Pedro de Campos, consultor da Revista UFO e autor de dois ótimos livros sobre o assunto, UFO: Fenômeno de Contato [Lúmen Editorial, 2005] e Um Vermelho Encarnado no Céu [Lúmen Editorial, 2005], a maioria deles evita o assunto, preferindo aguardar o posicionamento de cientistas. Mas esta é uma posição burocrática que vem pouco a pouco sendo substituída, à medida que a própria comunidade espírita toma conhecimento de que subsídios apoiando a HET estão nas próprias obras psicografadas por Chico Xavier.
Diversidade de vida no universo
Os registros que suscitaram as primeiras discussões conhecidas sobre essa tese vêm do ano de 1935, quando foram publicadas no Brasil cartas falando de vida extraterrestre inteligente e avançada. Só que tais cartas não saíram dos estudos de qualquer ufólogo, e sim daquele que anos mais tarde se tornaria o homem mais respeitado no Espiritismo brasileiro, justamente Chico Xavier. Na obra Cartas de Uma Morta, escrita por Xavier segundo instruções do espírito Maria João de Deus — que teria sido de sua própria mãe —, temos descrito como seria a vida de pessoas encarnadas no planeta Marte. Entretanto, o assunto só voltou a esquentar, via de regra pelo ceticismo dos próprios espíritas, quando sondas espaci
ais começaram a enviar fotos da superfície do nosso vizinho vermelho, revelando que o planeta tem pouquíssimos indícios de vida semelhante à da Terra. Recorreu-se, então, à diferença no nível de densidade dos corpos dos extraterrestres para se explicar que Xavier não fora enganado por um falso mentor espiritual.
Desta forma, seres de alta tecnologia vivendo em outras dimensões e em outros planetas poderiam perfeitamente transpor as grandes distâncias universais e, igualmente, se manifestar nos nosso ambiente dimensional, desde que algumas condições assim os permitam. Seria, portanto, a maior parte da HET explicada com base na ação de seres ultraterrestres, termo utilizado pelo citado autor Campos para descrever indivíduos encarnados em outros planetas, em corpos de antimatéria ou de matéria mais sutil.
Viagem entre universos e mundos
Também corrobora essa tese alguns trechos da memorável obra Urânia, de autoria do astrônomo francês Camille Flammarion — outro nome respeitadíssimo nos círculos espíritas. Seu livro, um misto de romance com trabalho científico, traz logo no segundo capítulo o subtítulo Viagem Entre Universos e Mundos: As Humanidades Desconhecidas. Não obstante o caráter romântico da narrativa, que só enriquece a obra do cientista com um toque de poesia, o texto começa com um parágrafo que, para qualquer ufólogo bem informado, só pode ter sido escrito após uma legítima abdução alienígena, pois tem como tópico principal a descrição de seres extraterrestres, nas seguintes palavras:
“A forma das criaturas em cada mundo é o resultado dos elementos especiais de cada globo, substância, calor, luz, eletricidade, densidade e peso. Suas formas, órgãos, o número dos sentidos — vós tendes apenas cinco, e assim mesmo bastante pobres — dependem das condições vitais de cada esfera. A vida é terrestre na Terra, marciana em Marte, saturniana em Saturno, netuniana em Netuno. Em resumo, apropriada a cada mansão ou, para dizer mais ainda rigorosamente, produzida e desenvolvida para aquele mundo em particular, conforme seu estado orgânico e segundo uma lei primordial, que a natureza inteira obedece: a lei do progresso”.
E isso não é tudo. Na viagem que Flammarion faz em companhia de sua abdutora, cujo nome empresta para título de seu livro, seguem ambos como testemunhas da hipótese extraterrestre e das múltiplas densidades da matéria, descrevendo as características e os maravilhosos dons das diferentes humanidades que conhecem, plantas e outros animais de planetas orbitando estrelas da Constelação de Hercules, das Plêiades e outras, rumo ao centro da Via Láctea, numa variedade de tipos constituídos que faria qualquer biólogo jamais querer voltar à Terra.