Os últimos 50 anos da Ufologia viram, além do aumento no número de avistamentos de naves, um crescimento proporcional na quantidade de relatos de pessoas que alegam terem sido levadas por entidades alienígenas, as chamadas abduções. Mas apesar do número de casos já registrados, que soma milhares, a forma como a comunidade científica ainda encara os depoimentos não é das melhores. O raciocínio acadêmico é simples: já que os UFOs não existem, as pessoas não podem ser abduzidas por seus ocupantes. Simples assim. Até mesmo a comunidade ufológica mostrou, no início dos acontecimentos de abduções, uma atitude cética diante de relatos, que pareciam sair da caneta de um novelista de histórias de terror. A enorme quantidade de testemunhas — e evidências como implantes subcutâneos inexplicáveis, retirados de alguns abduzidos —, entretanto, fizeram vários pesquisadores mudarem de ideia.
Um aspecto com o qual se tem tido pouca atenção até agora é o fato de que abduções misteriosas já aconteciam antes do nascimento oficial da Era Moderna dos Discos Voadores, em 1947 lembrando ao leitor que o primeiro caso de sequestro extraterrestre conhecido ocorreu em 16 de outubro de 1957, com o brasileiro Antônio Villas Boas, que foi levado para uma nave e lá, após examinado pelos tripulantes, foi submetido a uma relação sexual com uma mulher exótica. O elemento crucial que devemos ter em mente, desde o início desta análise, é que foi somente depois da abdução de Villas Boas que o fenômeno começou a ser interpretado ou a se revelar — e esta é a questão chave — como o conhecemos hoje, ou seja, algo cuja origem é definitivamente extraterrestre.
Neste artigo mostraremos alguns casos que aconteceram antes de 1957 e antes até mesmo do surgimento da noção de que estávamos sendo visitados por outras inteligências cósmicas, com o início da pesquisa ufológica. Embora pareçam nada ter de ufológicas, estas ocorrências podem muito bem ser bons exemplos de abduções. A Ufologia, todos sabemos, guarda mistérios muito maiores do que a origem e a intenção de nossos visitantes e nos induz a perguntas que muitas vezes não estamos prontos para formular. Existe, de fato, uma série significante de estranhos desaparecimentos nos quais o mesmo fenômeno não pareceu oferecer qualquer interpretação específica e que não parecia ter origem extraterrestre.
Desaparecimento na Austrália
O primeiro evento que intriga por seus elementos enigmáticos foi o ocorrido na montanha Hanging Rock, na Austrália, em 14 de fevereiro de 1900. A principal fonte dos fatos daquele dia é a obra literária da novelista Joan Lindsay, Picnic at Hanging Rock [1967], mais tarde transformada em um filme de mesmo nome, dirigido por Peter Weir e inspirado na obra de Joan. Claro que apenas um livro poderia levar alguém a considerar a história toda como mero produto da imaginação criativa de sua autora, mas não é esse o caso aqui. Apesar de Joan não expressar seu ponto de vista — ela apenas diz que cabe aos leitores julgarem se os eventos realmente aconteceram ou se foram inventados, já que, em 1967, quando o livro foi escrito, todas as testemunhas já haviam falecido —, ela apresenta um fragmento de texto tirado de um jornal de Melbourne, datado de 14 de fevereiro de 1913, no qual a história toda é contada e alguns detalhes são revelados.
O que aconteceu naquela data, em que se comemora o Dia de São Valentim ou Dia dos Namorados em muitos países, inclusive a Austrália, foi impressionante. Era um dia relativamente quente de verão e um grupo de 20 estudantes e dois professores da Universidade Appleyard saíam para fazer um piquenique em Hanging Rock. O primeiro elemento que chama a atenção na história é o fato de ninguém daquele grupo saber exatamente o horário em que os fatos aconteceram, porque os dois únicos relógios que levavam pararam de funcionar conforme as pessoas chegaram perto da montanha. Outro fato a ser considerado cuidadosamente é tentar entender o que, exatamente, levou ao desaparecimento de algumas das garotas e de uma professora. O livro de Joan Lindsay nos diz que a senhorita Edith Horton, uma das moças que participaram do passeio, após adormecer com três outras garotas sobre uma plataforma circular em um dos caminhos que rodeiam Hanging Rock, acordou de repente com os olhos vermelhos e uma forte sensação de mal-estar. Todas as quatro garotas tinham sido acometidas por um forte cansaço na localidade.
Ao despertar, Edith viu as outras três meninas em pé, completamente acordadas, olhando para ela estranhamente, como se não pudessem vê-la — apesar de Edith chamá-las em voz alta. Descalças, as três garotas começaram a retomar a subida até Hanging Rock. Como Joan escreveu: “Elas não estavam andando, mas deslizavam sobre as pedras como se estivessem sobre um tapete na sala-de-estar”. As três não pararam de deslizar e desapareceram rapidamente atrás da montanha. Há vários elementos igualmente peculiares na descrição, que nos fazem pensar em um evento ufológico, como a dormência súbita, a sensação de desconforto, o fato de que as três meninas pareciam se encontrar em estado de hipnose e, mais importante, a descrição de como elas procederam em sua escalada na montanha, não andando, mas deslizando. Este detalhe é comum em um grande número de contatos imediatos do terceiro grau e abduções alienígenas. Sem mencionar o incompreensível desaparecimento súbito das vítimas.
Mais fatos surpreendentes
Enquanto as três garotas desapareciam da vista de Edith, ao pé da rocha onde as outras garotas, seus professores e um cocheiro de nome Ben Hussey tinham parado para descansar, algo estranho também estava acontecendo. Hellen McGraw, uma velha professora, desaparecera e ninguém conseguiu dizer como. Ela fora vista pela última vez lendo um livro, embaixo de uma árvore. Depois, simplesmente sumiu. Como as garotas e Hellen não retornaram, buscas foram organizadas rapidamente. O cocheiro formou várias equipes de resgate de duas pessoas cada e todos começaram a explorar as encostas da montanha. Uma hora depois, Edith saiu correndo de um arbusto na base sudoeste do local. Ela parecia extremamente confusa, rindo e chorando ao mesmo tempo, como se estivesse em estado de choque pós-traumático. Disse que tinha deixado suas três companheiras em algum lugar de Hanging Rock, mas não foi capaz de dizer o ponto exato.
A primeira abdução alienígena conhecida, a do mineiro Antônio Villas Boas, que foi levado para uma nave e lá, após examinado pelos tripulantes, foi submetido a uma relação sexual com uma mulher exótica. Seu caso abriu uma nova perspectiva
Outros dois elementos importantes surgiram de sua históri
a. O primeiro foi o fato de a menina conseguir se lembrar de ter visto uma estranha nuvem vermelha no céu. O segundo foi ela dizer que havia visto Hellen correndo, ao longe, e que a professora não estava usando a saia de costume, mas apenas seu lingerie. A busca continuou, mas sem resultados. Nenhum vestígio era visível, o principal caminho que conduzia ao cume da montanha estava limpo e ninguém pôde ver pegadas na vegetação rasteira — as três meninas e a professora haviam sumido. A polícia investigou o caso e organizou equipes de resgate mais precisas e profissionais, mas os oficiais não encontraram qualquer evidência até a manhã de 21 de fevereiro, sete dias após o desaparecimento. Foi quando Michael Fitzhubert, um jovem inglês de férias, encontrou uma das três meninas desaparecidas, Irma Leopold. Fitzhubert a achou inconsciente atrás de duas pedras enormes. Ela se recuperou rapidamente, mas, talvez por um ferimento na cabeça, foi incapaz de lembrar o que tinha ocorrido durante a subida até Hanging Rock.
Os fatos que ocorreram naquele Dia dos Namorados nunca foram apurados apropriadamente. Alguns acreditam que as garotas e a professora tenham caído em um barranco ou que podem ter sido mortas por um maníaco estuprador. Ambas as hipóteses, no entanto, não levam em conta todos os dados estranhos que listamos acima. Talvez as vítimas tenham visto um objeto estranho pairando sobre o topo da Hanging Rock e tenham sido atraídas, ou quem sabe, levadas por ele. Há também a parada simultânea de dois relógios, a dormência súbita, o avistamento de uma estanha nuvem vermelha, o movimento de deslizamento estranho no solo e o lapso de tempo de Edith Horton. Esses elementos nos levam a uma interpretação ufológica de toda a ocorrência. Naquele dia, entidades extraterrestres não apareceram como em outros casos de abdução, mas uma série de fatos relacionados ao Fenômeno UFO estava presente e, além disso, quatro pessoas desapareceram e três delas nunca mais foram vistas. A ausência de qualquer ser alienígena é um fator que devemos ter logo em mente e que será examinado nas conclusões.
Um regimento some
Algo semelhante aconteceu durante a Primeira Guerra Mundial, no dia 28 de agosto de 1915, em Galípoli, na Turquia, e desta vez envolveu um batalhão inteiro. O céu estava claro e sem nuvens à vista, com exceção de uma série de seis ou oito semelhantes a baguetes e exatamente iguais, que pairavam sobre uma estrada que os britânicos chamavam de Hill 60. Havia também outra “nuvem” semelhante, muito densa e quase de aparência sólida, medindo cerca de 240 m de comprimento, 60 m de altura e 60 m de largura e pairando a altura do solo. Situados mais abaixo na colina de Galípoli, 22 homens da seção 3 da Primeira Companhia de Campo da Nova Zelândia viam o batalhão britânico, chamado 15 Norfolk, marchando em um riacho até a estrada Hill 60. Quando os britânicos alcançaram a estranha nuvem, que tocava o solo ali naquele campo, marcharam direto para dentro dela — e ninguém jamais saiu.
Cerca de uma hora mais tarde, após o último da fila desaparecer na nuvem, ela se ergueu do solo e subiu lentamente até se juntar às outras semelhantes no céu. Em seguida, elas se afastaram em direção ao norte e desapareceram após 45 minutos. Todo o batalhão foi dado como desaparecido ou dizimado. Quando a Turquia se rendeu, em 1918, a Inglaterra exigiu a devolução daqueles homens, mas os turcos responderam que não os haviam capturado, não fizeram contato com eles e nem sabiam que existiam ou estavam desaparecidos. Como no caso de Hanging Rock, estamos lidando aqui com desaparecimentos associados a “nuvens estranhas”. Mas, como se sabe, nuvens não sequestram seres humanos. Então, só podemos estar tratando de algo familiar à Ufologia.
O terceiro caso que examinaremos aconteceu com o agente norte-americano Gerry Irwin. Tarde da noite, em 28 de fevereiro de 1953, Irwin, então técnico de mísseis Nike, estava voltando de Nampa, no estado de Idaho, e seguindo em direção a Fort Bliss, em El Paso, no Texas, após licença militar. Quando estava perto de Cedar City, em Utah, na Rota 14, notou que a paisagem se iluminou e um objeto brilhante cruzou o céu da direita para a esquerda — ele desligou o motor e saiu do carro para observar o que estava acontecendo, quando viu o objeto se movendo para leste, até sumir de vista atrás de um morro. Certo de que poderia ser um avião em chamas tentando uma aterrissagem forçada, pegou uma folha de papel e escreveu que iria investigar um possível acidente de avião, solicitando apoio pelo rádio. Ele colocou o bilhete sobre o volante de seu automóvel e, usando graxa de sapato, escreveu “pare” na lateral do veículo, para ter certeza de que alguém iria encontrar o seu bilhete. E começou a caminhar.
Aumenta o mistério
Cerca de 30 minutos depois, uma pessoa parou e levou o bilhete para o xerife de Cedar City, Otto Pfief, que, após reunir um grupo de voluntários, rumou para ao local. Uma hora mais tarde, Gerry Irwin foi encontrado inconsciente, mas nenhum vestígio de acidente de avião havia por perto. Ele foi levado ao hospital e o médico que o atendeu, doutor John Broadbent, declarou que a temperatura e a respiração do homem estavam normais, mas que havia diagnosticado que Irwin apresentava um quadro de histeria, uma vez que a testemunha parecia estar dormindo e não podia ser acordada. Depois de algumas horas, finalmente despertou e afirmou que se sentia bem, apesar de ainda estar intrigado com o objeto que vira cruzar o céu. Além disso, foi surpreendido com o desaparecimento de sua jaqueta e as pessoas que o encontraram disseram que ele não a estava usando. Em seguida, Irwin foi levado de volta para Fort Bliss e colocado sob observação no Hospital do Exército William Beaumont, por quatro dias, após o que ele retornou ao trabalho. Vários dias depois da internação, o agente desmaiou enquanto caminhava no campo, mas se recuperou rapidamente.
Em 15 de março, um domingo, Gerry Irwin desmaiou novamente na cidade de El Paso e foi levado para o Hospital Geral do Sudoeste. Seu estado de saúde era semelhante ao observado após seu primeiro desmaio — sua temperatura e respiração estavam normais, mas ele não podia ser acordado. Quando finalmente despertou, o rapaz perguntou se havia algum sobrevivente, aparentemente referindo-se ao alegado acidente de avião. Irwin acreditava que estavam em 28 de fevereiro e não em 15 de março. Mais uma vez, ele foi levado para o hospital militar de Fort Bliss e colocado sob observação de psiquiatras, agora por um mês. Os médicos fizeram vários exames e testes, mas como todos indicaram que ele estava normal,
ele recebeu alta em 17 de abril.
No dia seguinte, seguindo um desejo incontrolável, deixou Fort Bliss sem pedir permissão, tomou um ônibus em El Paso e chegou a Cedar City em 19 de abril. Lá, ele foi até o lugar onde havia avistado o objeto e, em seguida, voltou através dos montes até um arbusto, sobre o qual estava sua jaqueta. No bolso, havia um lápis com um pedaço de papel enrolado firmemente. Irwin pegou o papel e o queimou. Assim que o fez, pareceu sair da alucinação em que tinha vivido até então. Sem saber o que fazia naquele local, retornou e encontrou o xerife Pfief, que lhe deu os detalhes do primeiro incidente. Ele foi levado novamente para Fort Bliss, onde foi submetido a novos exames psicológicos, tão inúteis quanto os anteriores. Em 10 de julho, deu entrada novamente no Hospital do Exército William Beaumont e, no dia 01 de agosto, não se apresentou para o serviço. Um mês depois o rapaz foi listado como desertor — ele simplesmente havia desaparecido. Mas não é fácil determinar se Irwin realmente desertou ou foi abduzido. No entanto, o objeto brilhante, o lapso de tempo e o estado de alucinação são elementos que parecem empurrar o caso para uma explicação ufológica.
Raça alienígena hostil
Após a análise destes três episódios, salta à vista que mesmo antes da famosa abdução de Villas Boas desaparecimentos inexplicáveis ??ocorreram e que, com a lente hermenêutica de hoje, seriam com certeza atribuídos às terríveis ações de uma raça alienígena hostil. Mas uma pergunta crucial que os pesquisadores do Fenômeno UFO devem fazer é por que, antes de 1957, o fenômeno das abduções alienígenas não mostrou as características típicas que o caracterizam hoje, e não tinha a intenção de transmitir todos os elementos que poderiam conduzir a uma explicação extraterrestre?
Durante a Idade Média e proximamente ao século XIX, já existia o mesmo fenômeno, mas ele era atribuído à presença de fadas, a encantamentos e até a bruxarias. A complexa questão que se impõe diante disso diz respeito à interpretação do que se presencia. É um problema do observador, que tenta explicar o que vê de acordo com o seu nível cultural, ou são os seres extraterrestres que se apresentam sob uma forma que melhor atenda às expectativas do observador? Em qualquer caso, o primeiro passo necessário para encontrar a resposta correta consiste em fazer as perguntas certas. Mesmo depois de várias décadas, a famosa frase dita pelo ufólogo e pesquisador do insólito John A. Keel ainda é extremamente significativa: “Para o inferno com a resposta, qual é a pergunta?”