Há 25 anos, em 1989, o espaço aéreo belga foi palco de muitos eventos inexplicados. Por um período de poucas semanas, centenas de testemunhas de elevada credibilidade denunciaram ter visto no céu fortes luzes brancas em forma de triângulo com uma luz vermelha ao centro. A mídia, a polícia, os cientistas e os ufólogos investigaram o evento, sem qualquer sucesso. Não foram achadas pistas ou evidências que pudessem explicar o que eram aquelas luzes. Por outro lado, o assunto foi levado muito a sério pelo Governo Belga, principalmente dentro do gabinete de Guy Cöeme, então ministro da Defesa.
Deve-se lembrar que a Organização dos Países do Atlântico Norte (OTAN) está sediada na cidade belga de Bruxelas e, portanto, qualquer invasão do espaço aéreo do país é levada extremamente a sério pelas autoridades. Não se pode também esquecer que decisões envolvendo temas de importância capital no mundo atual, como a invasão da Líbia em 2011 e as recentes operações de proteção à Ucrânia diante das ameaças russas, por exemplo, foram tomadas pela OTAN. Este artigo é uma reconstituição detalhada do mais importante incidente com UFOs envolvendo a Força Aérea Belga (FAB).
Luzes coloridas no céu
No começo da noite de 05 de dezembro de 1989, a FAB entrou em alerta e dois jatos de combate norte-americanos F-16 decolaram para interceptar um misterioso objeto voador registrado pelo radar do Aeroporto Bierset, próximo à cidade de Liège, e confirmado visualmente por patrulhas policiais em terra. Quando os aviões começaram a circular a área, o registro sumiu das telas e reapareceu pouco tempo após os dois jatos retornarem à base. O incidente foi considerado como erro de radar. Mas, 10 dias depois, no sábado, 16 de dezembro, novamente no começo da noite, várias testemunhas assustadas ligaram para as delegacias nas cidades de Diest, Hasselt, Houthalen e Halen, próximas à Limburg, para denunciar o aparecimento de círculos de luzes coloridas no céu. Por volta das 23h00, o quartel-general da Força Aérea Tática, auxiliar da FAB, decidiu mais uma vez enviar dois jatos F-16 em missão de reconhecimento — mas ambos retornaram sem dados conclusivos.
Finalmente, em trabalho conjunto, polícia e Força Aérea rastrearam as luzes até uma casa noturna na cidade de Halen, identificando a suspeita como tendo partido de algo banal, nada de naves espaciais ou de protótipos secretos. Segundo se apurou, aquelas luzes eram, na verdade, raios laser chamados de skytrackers projetados nas nuvens. Como resultado, influenciado pelo final cômico do evento, o comando-geral das Forças Armadas do país decidiu estabelecer um protocolo mais rígido antes de lançar aviões de combate em perseguição a possíveis UFOs.
Mas os fatos não acabariam aí. Na sexta-feira, 30 de março de 1990, próximo à pequena cidade de Jodoigne, onde está a Base Aérea de Beauvechain, que hospedava o Primeiro Grupo Tático da FAB, algo ocorreu. Às 08h30 daquele dia, o comandante da base, capitão Yves Meelberg, um piloto então com 28 anos e experiência de 500 horas de voo em jatos F-16, iniciou seu costumeiro plantão em um dos hangares reforçados do grupo de dispersão, conhecido como Reação de Alerta Rápido (RAR). Estes hangares contêm dois caças F-16 Fighting Falcon armados com munição viva, ou seja, ativa, prontos para decolar em 10 minutos a qualquer hora do dia ou da noite. Com o capitão Meelberg estava o segundo tenente Rudi Verrijt, de 25 anos de idade, do esquadrão vizinho, Smaldeel 349, que seria seu segundo piloto pelas próximas 24 horas.
Missão Alpha Lima
Logo após o jantar, Meelberg e Verrijt, acompanhados de dois engenheiros mecânicos, sentaram-se para relaxar e assistir ao noticiário local. Às 22h00 o telefone tocou e a pessoa do outro lado da linha, no comando de operações da base, pediu a Meelberg que fosse dar uma olhada no céu, pois estavam vendo luzes estranhas em Leuven — Verrijt não conseguia acreditar que aquilo estava se repetindo. Os dois homens saíram e examinaram cuidadosamente o firmamento, que naquela noite estava claro e aberto. O capitão informou ao oficial ao telefone que não havia visto nada e voltou para sua TV. Alguns minutos depois, no entanto, o telefone voltou a tocar e o oficial foi incisivo: o radar de defesa aérea da OTAN situado em Glons havia detectado um eco não identificado movendo-se a 24 km/h na direção oeste, sobre a cidade de Brabant, distante apenas 8 km ao norte da Base Aérea de Beauvechain.
Outro sistema chave de detecção da defesa aérea belga chamou o Posto de Relatórios do Centro de Controle de Radar (CCR) em Semmerzake, próximo à cidade de Ghent, confirmando o mesmo registro. Os pilotos se deram conta de que estavam cercados por relatos vindos de diferentes localidades e equipes da Força Aérea sem demora vestiram seus trajes antiforça G e demais equipamentos de voo. Ao mesmo tempo as sirenes de alerta começaram a soar por toda a base. Eram 23h56. O capitão Meelberg e o tenente Verrijt correram para suas aeronaves e colocaram os cintos de segurança dos assentos de ejeção. Os mecânicos removeram os dispositivos de segurança do armamento, formado por dois mísseis ar-ar Sidewinder AIM-9M guiados por infravermelho e instalados nas pontas das asas, e um canhão M-61AI multitubo armado com 500 rolos de munição de 20 mm.
As turbinas Pratt & Whitney dos jatos foram acionadas e, após um rápido contato de dois minutos com o controle de tráfego aéreo para checagem de radar, o primeiro F-16 taxiou levando um tanque externo de combustível de 1.000 litros acoplado à fuselagem. Ao se dirigir à pista 22, o capitão Meelberg sinalizou o código “Meel”, confirmando suas instruções de voo como líder da patrulha de combate. “Seis-dois-alpha-lima você está liberado para decolar”, anunciou a torre de controle em tom urgente.
Mistério no céu
A 00h05, uma grande chama de cor laranja saiu do exaustor do avião com um rugido infernal. Com quase 11 toneladas de impulso, o caça rapidamente cobriu 500 m da pista e imediatamente atingiu altitude a uma enorme velocidade subsônica. O capitão Meelberg sintonizou a comunicação de rádio entre sua aeronave e o Centro de Controle de Tráfego Aéreo Glons, perto de Liège, usando o codinome “Efflux”. O tenente Verrijt, que havia partido 20 segundos atrás dele com as luzes de anticolisão li
gadas, levou seu F-16 número série FA-17 em formação de ataque com um ângulo de 20° em relação ao outro caça. “Alpha-lima, liberado para investigar. Confira a segurança do seu armamento”, disse o tenente Van Haurwermeirens, controlador-chefe de Glons, testando as comunicações. “Para sua informação, possível contato a 310 norte-noroeste, a 24 km”. Os dois jatos F-16 deixaram o nível de voo 90 e se posicionaram na direção 310. Lá fora o céu estava claro e a visibilidade alcançava cerca de 12 km à frente.
O espaço aéreo belga foi palco de muitos eventos inexplicados. Por um período de poucas semanas, centenas de testemunhas de elevada credibilidade denunciaram ter visto fortes luzes brancas em forma de triângulo com uma luz vermelha ao centro
Os dois caças supersônicos continuaram o giro de curso e o líder da formação confirmou que seus radares, modelo NA/APG-66, estavam ligados no modo de perseguição — os jatos do Grupo de Patrulha e Combate Aéreo Alpha Lima voavam perto dos corredores de aproximação do Aeroporto Nacional de Bruxelas, conhecido como Aeroporto Zaventem, e confirmaram sua posição para o controle de tráfego aéreo local. Os aviões reduziram a velocidade e o “eco” misterioso nas telas mantinha o curso noroeste, embora os sinais de altitude e distância permanecessem oscilando, ora sendo detectados, ora desaparecendo completamente do radar. Sem altitude referenciável, os dois pilotos viam-se impotentes para centrar suas armas no radar. Era 00h10.
O controle de tráfego aéreo local anunciou que a distância para o alvo — como já estava sendo tratado o eco — era de 5.400 m, 3.600 m à esquerda e que não havia registro de altura, ao que reportou o líder dos dois jatos: “Negativo, sem contato”. O controle insistiu: “Agora está bem abaixo de sua aeronave. Ambos em contato 090, distância 5.400 m”. Então, Meelberg disse e perguntou ao seu piloto: “Há mesmo uma luz piscando à frente. Você está vendo uma luz laranja logo abaixo do nariz do meu avião?” “Sim, uma luz laranja está vindo do solo”, respondeu o tenente.
Fantasmas no radar
Enquanto os dois pilotos se esforçavam para fazer contato visual com o seu alvo, o controlador de voo continuava a monitorar as coordenadas, que mudavam constantemente no radar. O líder da esquadrilha informou: “Vejam o aviso, aquilo é como uma luz piscante. Eu confirmo. O contato parece ser uma luz”. “Outro eco, agora a 360 e distância 16 km, altitude três quilômetros. Direção 350, agora 17 km”, berrou o oficial. Era 00h13 e subitamente o líder do Grupo de Patrulha e Combate Aéreo Alpha Lima viu um ponto estranho aparecer em sua tela de radar. “Líder transmitindo. Confirme. Eu tenho um contato a 2.700 m. Velocidade mudando de 450 km/h
para 1700 km/h”.
“Isso pode ser o seu alvo”, replicou excitadamente o tenente Van Haurwermeirens. “Rudi, você confirma um contato de radar?”, perguntou o piloto ao seu ala. “Eu tenho o mesmo [Registro]”, replicou o tenente Verrijt. O eco fantasma aparecia de forma intermitente e continuava a mostrar parâmetros variados de velocidade, direção e altitude. O mais curioso é que essas flutuações apareciam instantaneamente. O controlador do radar de terra informou que estava vendo as incríveis manobras do UFO, indo de baixa velocidade, ao redor de 145 km/h, para subitamente acelerar até 612 ou 901 km/h, com constantes mudanças de distância, variando de 5.400 a 11.000 m.
Aparentemente, o objeto voador não identificado estava próximo aos dois jatos, que continuavam a voar em círculos nas direções noroeste, oeste e sul. Enquanto virava, o piloto do segundo F-16 tentava manter-se 1.000 m atrás de seu líder. A 00h15 a trajetória do alvo continuava oscilando constantemente, enquanto os dois Fighting Falcon tentavam se manter em perseguição, girando fortemente em círculos de 360 graus, inclinando-se à direita e à esquerda. De repente, o eco misterioso subiu a uma altitude de 3.500 m, em curso de colisão com os F-16, e desceu imediatamente ao nível do solo. Durante as sucessivas manobras, o tenente Rudi Verrijt afastou-se do curso. “Volte à formação de ataque!”, bradou o capitão. Neste momento, o controle de tráfego aéreo local foi acionado por VHF para confirmar a posição dos pilotos e assegurar-se de que nenhum tráfego civil estava na área.
A estranha luz se imobiliza
Os pilotos aproveitaram a oportunidade para verificar o nível de combustível restante dos F-16. Era 00h23. O radar do capitão Meelberg detectou um objeto se movendo rápido, porém nenhuma das estações de radar, de Semmerzake ou Glons, pôde confirmar o contato. Os jatos assumiram posição de ataque, mas o eco observado nas vizinhanças imediatamente desapareceu — o controlador não sabia mais onde procurar e nem mesmo outro sinal apareceu, mais um alarme falso. “É uma aeronave civil”, disse o técnico. “Você foi capaz de conectar-se visualmente com o outro?”, perguntou o operador do CRC. “Era uma espécie de luz, piscando continuamente, a cerca de 8 km de nós”, respondeu Meelberg.
“Alpha-lima-dois-três, me dê uma marcação quando você passar sobre a área”, pediu o controlador de voo. “Certo. Estou virando à esquerda para ir em direção ao ponto vertical, a 3.000 m. Coordenadas de longitude norte 50.32.08 e 04.11.08 de latitude. Estou virando em direção oeste”, continuou o capitão, que naquele momento viu uma nuvem iluminada à frente — apesar de os dados visuais serem corretos, aquela nuvem a meia altura impedia a visão do solo. Após verificação, constatou-se que havia um incêndio em uma refinaria de petróleo, cujas chamas, em conjunto com as luzes anticolisão, se refletiram nas nuvens. Era, então, 00h25. Nesse ponto, testemunhas no solo informaram que os jatos circularam três vezes pela área, com quatro objetos não identificados em suas proximidades.
O radar da Defesa Aérea indicou um possível novo contato voando pelo céu a alta velocidade. Desta vez o ala virou sua aeronave e alinhou-se ao primeiro caça, tendo o alvo na direção do seu nariz a uma distância de um quilômetro. “Aí está o alvo. Não podemos confirmar a altitude”, disse o controlador de t
ráfego aéreo de Glons. Dessa vez, as telas de todos os radares mostraram a mesma cena. Os pilotos aprontaram suas armas à medida que circulavam a 2.100 m sobre a base aérea. “Estamos no momento acima de Bravo-Echo. Ei! Acabamos de perder o contato. O alvo está se movendo muito rápido”, exclamou o tenente Verrijt. “Afirmativo, é como um relâmpago”, disse o controlador. Então, nada. Seis segundos mais tarde, o fantasma do radar desapareceu. Os detectores de colisão se acenderam nas telas dos dois F-16. A patrulha continuou seu curso e voltou. “Girando na direção norte-noroeste. Combustível no nível de 2.000 kg. Tempo de voo remanescente de 15 minutos”, informou Meelberg, enquanto uma aeronave civil voando a 1.500 m foi monitorada em trajetória de pouso, em aproximação ao Aeroporto Internacional de Bruxelas.
Jogo de gato e rato
No mesmo momento, o Centro de Controle de Radar de Glons registrou um novo sinal a 16 km de distância e a 3.000 m de altitude. Ambos os pilotos detectaram uma velocidade de apenas 13 km/h, sem confirmação de altitude — o alvo estava praticamente parado. “À três horas de sua posição à direita, a 3.600 m, movendo-se da esquerda para a direita”, exclamou o controlador, pedindo que o líder da Patrulha de Combate Alpha Lima gravasse todas as imagens do radar de bordo. “Estou vendo um alvo mesmo à frente”, disse o piloto, indicando outra aeronave civil a 16 km a oeste. Os dois F-16 estabeleceram contato visual. “Ainda estou em contato, mas a velocidade está aumentando de 185 km/h para 1.110 km/h”, exclamou o capitão Meelberg, surpreso. Essa era a segunda vez que os ecos do radar eram consistentes. Mas, novamente, os sinais ficaram fixos por apenas alguns segundos. Ambos os pilotos foram informados que a estação de radar havia perdido o contato. Por um minuto, pilotos e controladores de voo checaram suas telas, mas encontraram apenas dois sinais, que confirmaram ser de aeronaves civis.
A 00h46 um eco reaparece. “1.500 m, outro contato a 325. Distância 11 km. Sem altitude agora”, diz o oficial controlador, ansiosamente. “Contatando o radar agora. Câmeras ligadas. Aguarde, perdemos o contato novamente”, anuncia o líder dos pilotos. Então o sinal fantasma reflete-se brevemente logo em frente a eles. “Eu tenho um contato de radar à esquerda, a 12 km”, diz o capitão que, após uma pausa, completa: “Acabamos de perder o contato. Solicitamos permissão para procurar ao norte” “Alpha-lima pode gerar”, diz o controlador de voo.
Após a apresentação de um relatório detalhado, uma conferência oficial foi convocada pelo coronel Wilfried De Brouwer, chefe de operações da Força Aérea Belga (FAB), mas nenhuma explicação definitiva pôde ser obtida das gravações dos radares
A missão começou a se arrastar na ausência de informação consistente de radar. Enquanto isso, o controle de voo militar da Base Aérea de Glons informou que outras testemunhas no solo, em depoimento na presença da Polícia Real Belga, viram os objetos voadores não identificados desaparecendo lentamente em direção aos alojamentos de estudantes da Cidade Universitária de Louvain-la-Neuve, do outro lado da pista de pouso do Aeroporto de Beauvechain.
Perseguição noturna infrutífera
Os dois aviões desceram em formação para 900 m e começaram a circular, em conformidade com as instruções da torre de controle. Mas os pilotos não conseguiram detectar nada, apesar da noite clara. Era 01h02. Os caças alpha-lima 17 e alpha-lima 23 deixaram o espaço aéreo do comando de Glons e assumiram os procedimentos de aproximação e pouso. O tenente Verrijt pousou na pista 04 à 01h10, seguido pelo capitão Meelberg, seis minutos depois. As aeronaves voltaram ao hangar antes de serem recondicionadas para procedimentos de alerta. De volta à base, os pilotos recuperaram suas gravações feitas para o Comando da Defesa Aérea para verificarem o resultado da perseguição noturna. As fitas seriam encaminhadas ainda na manhã de sábado, 31 de março, para uma análise mais aprofundada.
Nos meses que se seguiram, após a apresentação de um relatório detalhado, uma conferência oficial foi convocada em 11 de julho de 1990 pelo coronel Wilfried De Brouwer, chefe de operações da Força Aérea Belga (FAB). Os especialistas ficaram perplexos: nenhuma explicação definitiva pôde ser retirada das famosas gravações. Entretanto, as investigações feitas nas fitas de radar permitiram excluir, formalmente, certas explicações convencionais, como, por exemplo, aeronaves com tecnologia stealth, microluzes, balões meteorológicos, raios laser, inversão de temperatura ou distúrbios climáticos e embaralhadores eletrônicos como possíveis causas dos contatos fantasmas. Entretanto, os sinais captados eram consistentes e sugeriam que efetivamente ocorreu um fenômeno envolvendo objetos desconhecidos, que aceleravam e diminuíam de velocidade instantaneamente, e que foi registrado por diferentes tipos de radares, civis e militares.
Oficialmente, permanece não determinado se os dois pilotos se depararam com naves alienígenas invisíveis a olho nu, capazes de alcançar uma aceleração entre 30 a 40 G de força, insuportáveis para qualquer ser humano — enfim, na esfera oficial, o mistério continua sem solução. Hoje, o capitão Meelberg não consegue explicar o que ocorreu naquela noite, nem descartar qualquer hipótese. Ele lamenta especialmente não ter conseguido ver nada que pudesse identificar. Nos meios ufológicos, alimentados por vazamentos de dentro da FAB, não restam dúvidas de que se tratou de um UFO.