Antes dos portugueses chegarem ao Brasil, nossos nativos já tinham criado suas próprias denominações para os avista mentos de naves extraterrestres daquela época, li claro que muitos contatos de todos os graus com extraterrestres no passado, com nossos indígenas e as naves ou sondas observadas, eram interpretados como animais, aves etc. Por outro lado, os tripulantes, quando desciam das naves, eram vistos ora como demônios, ora como deuses, espíritos do mal ou do bem. Pelo que se sabe, a denominação mais antiga que se deu a um UFO em território brasileiro foi a expressão Mbaitatá. Sobre tal fenômeno que surgia, o conhecido folclorista Luiz da Câmara Cascudo, em sua obra Geografia dos Mitos Brasileiros (1), nos diz o seguinte:
“Em carta de São Vicente, datada de 31 de maio de 1560, o venerável José de Anchieta citou pela primeira vez o Mbaitatá (ou Baetatá), traduzindo-o por \’cousa de fogo\’ ou \’o que é todo fogo\’. Mbai (cousa) e tatá (fogo) davam, juntamente, essa versão. Quando aquele fogo vivo se deslocava, deixava um rastro luminoso, \’um facho cintilante correndo para ali\’, anotava o jesuíta”.
Eis a carta do próprio José de Anchieta (2), para que possamos constatar mais completamente sua descrição do fenômeno:
“Há também outros (fantasmas), máxime nas praias, que vivem a maior parte do tempo junto ao mar e dos rios e são chamados de \’que é todo fogo\’. Mas não se vê outra coisa senão um facho cintilante correndo para ali. Acomete rapidamente os índios e os mata como a curupiras; o que seja isto não se sabe com certeza”.
O texto de próprio punho de Anchieta nos mostra um engenho profusamente iluminado. Um “fogo vivo” que perseguia os índios com rapidez e os matava, li claro que se tratava de algo muito temido por eles. No entanto, é possível que a palavra “matava” significasse apenas um desaparecimento ou rapto. Esses contatos ainda acontecem na atualidade com nossos moradores rurais, que muitas vezes se vêem perseguidos por luzes fortíssimas que os deixam apavorados e com olhos irritados, com indisposições gerais e outros sintomas de radiação.
O fato é que o Mbai-tatá nunca passou de um engenho luminoso, dirigido por uma inteligência que podia perseguir os indígenas. Posteriormente à denominação de Mbai-tatá, o fenômeno sofreu novas tentativas de explicação. Na realidade, foram criadas várias outras teorias para se tentar explicá-lo. além de uma variedade muito grande de nomes e expressões semelhantes, todos representando animais de fogo. Pois os indígenas, ao verem aquilo se movimentar e observando que possuía forma própria, acreditavam estar realmente vendo um animal de fogo e, assim, o fenômeno passou a receber explicações que se referem a répteis, especialmente por sua movimentação ondulante e oscilatória lembrando-nos a de uma serpente.
Outro fenômeno que sempre ocorreu em nosso país e que foi confundido imediatamente com animais noturnos e incorporado em seguida à galeria de lendas do folclore brasileiro é o Mboi-guaçu, muito presente em nossa literatura. Vejamos um trecho colhido na obra Rio Grande do Sul – Antologia do Folclore Brasileiro (3), que traz interessantes citações:
“Mboi-guaçu pegou a comer carniças. Seu corpo foi ficando transparente, transparente, clareado pelas milhares de luzinhas dos tantos olhos que foram esmagados dentro deles, deixando cada qual a sua pequena réstia de luz. E vai, afinal a Mboi-guaçu toda já era uma luzerna, um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado e de luz amarela, triste e fria, saída dos olhos que fora guarda deles quando ainda estavam vivos. […] E na escuridão só se avistava o clarão baço da Boitatá. E foi então que a luz que estava presa se desatou por aí”.
Na obra regionalista Contos Gauchescos e Lendas do Sul (4), que também descreve o fenômeno de maneira interessante, extraímos um trecho que representa muito bem uma face do folclore brasileiro:
“No inverno, de antaguida, no aparece e dorme, talvez entoucada. Mas, de verão depois da quentura dos mor maços, começa então o seu fadário. A Boitatá, toda enroscada como uma bola-tatá de jogo, empeça a correr o campo, cochila abaixo, lomba acima, até horas da noite. E um fogo amarelo e azulado, que não queima a macega seca e nem aquenta as águas dos mananciais. E rola, gira, corre, corcovela, se despenca e arrebenta, se apagando. E quando se menos espera, aparece outra vez do mesmo jeito”.
O Mboi-guaçu é uma lenda da serie de mitos do ciclo da água. Equivale à famosa lenda da Cobra Grande, muito conhecida no interior do Brasil e com vários outros nomes variantes do original, tal como o Cobra Maria, como os nativos da Amazônia a conhecem, às margens do Rio Solimões (5). É imensa a quantidade de informações literárias que nos apontam observações de UFOs e sondas. Nos textos acima, por exemplo, vimos várias vezes a narrativa real da observação de um UFO. como na frase “um clarão sem chamas, já era um fogaréu azulado, de luz amarela, triste e fria”.
Outra frase dos textos regionalistas apresentados neste capítulo também desperta atenção, como por exemplo: “…na escuridão só se avistava o clarão baço do corpo da Boitatá”. Tal clarão tem muitos depoimentos similares em nossa região para confirmá-lo. Temos a palavra de um morador rural de Passa Tempo, só para citar um caso, que nos dá conta de avistamentos noturnos em que a luminosidade do UFO chegava a clarear os locais por onde passava, mesmo voando em média altura. Vejamos outra citação regionalista: “Mas, de verão depois da quentura dos mormaços, começa então o seu fadário”. Os moradores da zona rural, com quem convivemos e realizamos nossas pesquisas, sempre afirmam que os UFOs surgem com mais freqüência ao aproximar-se o verão, nos meses de fim de ano.
“Empeça a correr o campo, cochila abaixo, lomba acima, até horas da noite” é outra frase que nos apresenta descrição legítima de um fenômeno ufológico. Aliás, descarta totalmente a possibilidade de se tratar de um fato natural, como o fogo-fátuo, já que o fenômeno durava um certo tempo, tal como nos casos de observações de UFOs em que estes voam à baixa altura do solo, sempre acompanhando a depressão do terreno por onde passam, realizando suas misteriosas pesquisas.
“É um fogo amarelo e azulado, que no queima a macega seca e nem aquenta as águas dos mananciais”. Nesta citação, em particular, é claro que o que se via no local onde tal descrição foi colhida, realmente, não era uma fonte de fogo, mas sim, uma luz proveniente de algum tipo de energia ou outro sistema desconhecido por nós. E, justamente por ser desconhecido por nossos antepassados, estes imediatamente pensaram que se tratava de uma alguma espécie de fogo que não queimava.
Para completar esta análise das lendas do fol
clore brasileiro, vejamos a seguinte frase: “…se despenca e arrebenta, apagando. E, quando se menos espera, aparece outra vez do mesmo jeito”. Novamente, temos a descrição do comportamento típico do fenômeno ufológico. Os UFOs, em suas incursões noturnas, muitas vezes desligam seu sistema de iluminação, desaparecendo por completo na escuridão, para acioná-lo alguns minutos depois e já em outro local adiante. Já presenciamos avistamentos desse tipo diversas vezes.
Outra lenda popular de grande conhecimento no Brasil é a do Biatatá, que é apenas uma nova explicação ou versão folclórica para o avistamento de um UFO, usada muito mais comumente na Bahia. Neste caso, o fenômeno já não é mais visto como a Cobra de Fogo, mas como uma espécie de “mulher que cresce”. Diz o folclore, e já tivemos a oportunidade de documentar informações prestadas por alguns moradores da zona rural, que o Biatatá é também uma espécie de animal que cresce quando é observado em suas incursões.
Uma lenda popular de grande conhecimento Brasil é a do Biatatá, que é apenas uma nova explicação ou versão folclórica para o avistamento de um ufo, usada muito mais comumente na Bahia. Neste caso, o fenômeno já não é mais visto como a Cobra de Fogo, mas como uma espécie de “mulher que cresce”. Diz o folclore que o Biatatá é também uma espécie de animal que cresce quando é observado em suas incursões
Algumas testemunhas oculares deste tipo de avistamento nos informaram terem visto sombras escuras que ficavam pairando sobre o local onde estavam. Nesse tipo de ocorrência, acreditamos que o UFO esteja às escuras, como que apagado, daí não ser vista luz alguma. E o falo de aparentar crescer de tamanho talvez esteja ligado à sua lenta descida sobre as testemunhas. Seu tamanho também oscilará, para menor, com sua ascensão ao espaço. Vejamos um exemplo, apresentado por Donald Pierson no texto Pretos e Brancos na Bahia, publicado no Dicionário das Mitologias Americanas (6):
“… uma mulher que habita o mar, aparecendo sobre a água apenas de noite e aumentando gradualmente seu tamanho até adquirir proporções enormes e lançar uma sombra imensa e aterrorizante”.
Voltando às observações de UFOs que lembram — como assim também são tratados pelos observadores — o fenômeno natural do fogo-fátuo, é interessante conhecermos um pouco de sua história na região espanhola da América. Lá, o fogo-fátuo, que em sua versão como fenômeno puramente natural não é nada mais do que a combustão espontânea de gases emanados de corpos enterrados (cujas cores e brilho são ligeiramente próximas às apresentadas por UFOs), é um mito ligado ao ciclo dos castigos corporais. Na obra Supersticiosas y Legendas, de Abrotes, também citada no Dicionário das Mitologias Americanas, está descrito:
“Si los compadres, olvidando el sacramento sagrado que los une, no hicieram caso de el faltando y la comadre a sus deberes coyales con su compadre, de noche se transformaran en grandes serpientes o pajaros que tienem em vez de cabeza una llama de fuego. Estes pelearan toda la noche, enchadose chispas y queimadose mutuamente hasta la madrugada, para volver a comenzar a ki noche seguinte, y ai per \’secula seculorum\’, aun despues de muertos”.
E conclui o Dicionário, garantindo que pelo Nordeste brasileiro — e de modo especial em Alagoas —, segundo o historiador Teo Brandão, o mito do Fogo Corredor é aparentado com o primitivo Boitatá dos hispano-americanos. O texto acima, aliás, já nos mostra o Boitatá como uma espécie de alma penada e, neste caso em particular, apresentando duas luzes. Também um avistamento deste tipo já tivemos a oportunidade de presenciar, inclusive constatando pessoalmente que o objeto possuía uma luz azul-amarelada e outra avermelhada, enquanto movimentava-se no fundo de uma grota.
Na verdade, aquilo era uma observação múltipla, do conjunto formado por uma nave tripulada e uma sonda teleguiada. Esses avistamentos são muito comuns em zonas rurais brasileiras. O Boitatá ou Biatatá é mito nacional e sem fronteiras estaduais, mas no Rio Grande do Sul recebe novas versões, como a que nos descreve o historiador Augusto Meyer, em sua obra Cuia do Folclore Gaúcho
“O Boitatá: a versão gaúcha mais antiga desse mito é a de José Bernardino dos Santos, publicada na Revista do Parthenon Literário, em junho de 1869, e reproduzida por Apolinário Porto Alegre no seu Populário Rio-grandense. A versão de José Bernardino diverge muito das versões mais conhecidas e reproduz nitidamente a tradição ocidental do pacto com o diabo. A troco de sua fortuna multiplicada, um ilhéu rico e avarento vendeu a alma ao diabo; e tanto chamou pelo diabo que este lhe apareceu, disfarçado num touro negro, com guampas e olhos de fogo, resfolegando labaredas pelas ventas, com crinas de potro b aguai, cauda de macaco e patas de tigre“.
“Desde então, todas as noites na tapera assombrada, saltava línguas de fogo azulado, a perseguir os andantes. O ilhéu linha morrido e essas luzes eram os pedaços de sua alma. que os diabos repartiram e que andam errando sempre entre o fogo. E é isto que é o Boitatá, um espírito mal que persegue a todos os pescadores”.
E continua Augusto Meyer: “Alguma semelhança apresenta aquele touro osco negro com a descrição de Crispim Mira no livro Terras Catarinenses: \’É grande como um touro, com patas como as dos gigantes e com um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo”. Mas, a versão mais popular no Rio Grande do Sul é da Cobra de Fogo, como conta a folclorista Cezinha Jaques, na obra os Assuntos do Rio Grande do Sul (8):
“Conta-se, entre a gauchada das estâncias, que nos passeios e viagens à noite aparece um fogo volante, às vezes em forma de cobra, outras vezes em forma de pássaro voando na frente do cavaleiro, impedindo-lhe a marcha. Há a crença entre a gente do campo de que o Boitatá se deixa atrair pelo ferro. E, então, o meio para ver-se livre do ataque dele consiste em desatar o laço dos tentos e arrastá-lo peta presilha, previamente presa à argola da chincha. Desde então, o Boitatá, atraído pelo ferro da argola do laço, deixa assim de embaraçar a marcha do andante, seguindo-o atrás e na altura do extremo do laço até amanhecer o dia, quando o abandona, deixando-o ir em paz”.
Na transcrição acima, os avistamentos de UFOs são interpretados também como bisonhos elementos folclóricos, desta vez como um touro com olho de fogo ou como uma alma penada cuja missão é purgar pecados cometidos pela entidade em vida, em forma de fonte luminosa. Assim, vamos acumulando um verdadeiro glossário de versões para explicar o Boitatá, desta vez com as extravagâncias do sul do país.
Quanto às pessoas perseguidas por luzes estranhas no campo, normalmente montando animais, verificamo
s que tal fato é também muito comum aqui em nossa região. E é interessante frisar que os animais usados na lida percebem a presença dos UFOs antes mesmo de seus montadores. Ou seja, mesmo antes de entrar no campo visual do conjunto animal-montador, o fenômeno já é nitidamente pressentido por aquele, que se recusa a seguir em frente ou, noutros casos mais graves, fica nervoso e chega até a se apresentar e bater em retirada, em galope frenético.
Mas, vejamos o que dizem outros escritores sobre o Boitatá. Teschauer aproxima a definição e atuação da Cobra de Fogo com a dos fenômenos Teiú-iaguá missioneiro, Nhandutatá e do Carbúnculo (apenas expressões variantes criadas no folclore para denominar o mesmo fenômeno), considerados como guardas de tesouros (9). Já no Dicionário Didático e Popular da Língua Portuguesa, de Aires da Mata Machado Filho, encontramos a seguinte definição para o Boitatá (10):
“Boitatá. Nome popular do fogo-fátuo, gênio que protege os campos contra os que os incendeiam; cobra de fogo; touro fabuloso que bota fogo pelas ventas e queima tudo. Também se diz Baitatá e Batiatá”.
Quando se fala em “gênio que protege os campos contra os que os incendeiam”, vemos literalmente descrita uma situação típica relacionada com a manifestação extraterrestre em nosso meio e, em especial, no interior do país. Tal situação é que os UFOs comumente surgem próximos às queimadas noturnas, talvez atraídos pelos clarões, e tal aproximação é particularmente normal também quando se faz a queima de tijolos (o preparo do barro) na zona rural, nas caieiras. Também já tivemos várias oportunidades de presenciar UFOs próximos a queimadas, à noite, comportando-se exatamente como descritos na lenda, como que atraídos por imensa fonte luminosa.
Mas existem, enfim, muitas outras versões para denominar o Boitatá, cada uma criada de acordo com variadas circunstâncias, em regiões culturalmente diferentes e em épocas diversas. Cada cultura, cada situação regional atribui para o fenômeno — que é único em sua essência — uma explicação e, naturalmente, uma expressão própria para cada localidade. Por exemplo, em diversos estados brasileiros, além das formas já conhecidas e discutidas nesse capítulo, temos as seguintes expressões para o fato: Babatal, Batatão, Biatatá, Butatão, Bitatá etc.
Em todos os lugares onde são observados os objetos das lendas, no entanto, tal fenômeno sempre é visto como uma forma luminosa.
No campo das versões baseadas em répteis (ao invés de aves, de touros ou demônios), temos a expressão Maçará. Vejamos sua definição segundo o Dicionário das Mitologias Americanas:
“Maçará é Mboi-guaçu, a Cobra Grande para os índios Cusses do alto Rio Negro. Foi o Maçará que, nos tempos que se perderam na memória dos homens, trouxe para o mundo os Cusses, que habitavam o mistério. Estes vieram cavalgando o dorso da cobra e, no ventre do Maçará, vieram os índios Kineres, destinados ao serviço dos poderosos Cusses”.
Nesse trecho do excelente reconhecimento do folclore brasileiro, patrocinado por Hernani Donato, podemos observar a relação distante entre antepassados extraterrestres e os indígenas citados, principalmente se interpretarmos citações como “… trouxe para o mundo os Cusses” e “vieram cavalgando o dorso da cobra”. A comparação entre o Maçará e uma nave interplanetária, um veículo de transporte, na inocente afirmação indígena, mostra-nos uma realidade cada vez mais atual no mundo de hoje e presente em muitas tribos que habitavam o país.
Lendas semelhantes à do Maçará existem em dezenas entre os índios brasileiros, especialmente as que se referem a seres que vieram do céu em épocas muito remotas, geralmente confundidas pelos indígenas como o tempo da criação. Até em outros países, de culturas diferentes da nossa, existem lendas ligadas a serpentes que transportam gente em seu interior. Um exemplo é o da tribo Hurões, dos Estados Unidos. Lá, a serpente recebe o nome de Onniont e é descrita como uma cobra com chifres e possuidora de poderes mágicos.
Há também, no significativo folclore brasileiro, principalmente nos tempos remotos, a lenda do Quer-que-é, outro nome atribuído ao mesmo fenômeno luminoso que gerou o Boitatá. Essa expressão é comumente usada em algumas áreas de Santa Catarina, aliás, nesse estado o folclore difere muito de sua manifestação geral no resto do Brasil. Vejamos como a luz misteriosa, que já não é mais a Cobra de Fogo, é vista em Santa Catarina, segundo as declarações do pesquisador Donato:
“… um ser informe, com grandes patas, um olho enorme e faiscante de ciclope, que se apaga com o sinal da cruz, dotado de voz humana e com o condão de irradiar desgraças. Onde ele passa deixa um rastro de infelicidade. No entanto, é invulnerável e chamam-no Quer-que-é”.
Percebemos ainda, que o historiador Crispim Mira, na obra Terras Catarinenses, nos descreveu o Boitatá de outra forma, embora com muitas semelhanças: “Um touro com patas como as dos gigantes e um enorme olho bem no meio da testa, a brilhar que nem um tição de fogo”. Exatamente como já comentamos anteriormente, se observarmos um UFO pousado, utilizando seu trem de aterrissagem (normalmente em forma de hastes compridas e com um farol avermelhado aceso), dificilmente deixaríamos de comparar o insólito vulto com um ser informe, cujas patas serão tão grandes como as de gigantes e cujo farol será tão vivo e assustador como um olho de fogo.
Com absoluta certeza, essa é exatamente a forma como homens de 200 ou 100 anos atrás (ou ainda de apenas 30 anos atrás, dependendo da região do Brasil) descreveriam uma cena de um UFO pousado. Se o leitor ainda não se convenceu, vejamos: como nossos antepassados descreveriam, se tivessem a chance de ver, há 100 anos, por exemplo, um simples Volkswagen com seus faróis acesos? Seria tratado como um besouro gigante com olhos de fogo? Um UFO, no passado, como qualquer outra coisa insólita, só poderia ser comparado com o que o observador conhecia ou imaginava, com o que ele convivia ou o que ele temia. Daí surge a constante tentativa de se explicar o que se via, buscando-se em animais ou monstros imaginários os pontos de referência, algo que mais se aproximasse do fato visto.
Vamos, agora, descrever a lenda ou o mito do Minhocão, muitíssimo presente no interior do país. Para que possamos avaliar o comportamento deste fenômeno, vamos usar trechos extraídos de reconhecidas obras regionalistas, históricas e folclóricas, totalmente desvinculadas e desinteressadas da questão ufológica, como todas as demais citadas até aqui. Na realidade, estas referências bibliográficas foram buscadas em trabalhos publicados por autores que s
equer imaginam que tais fenômenos, por eles mesmos registrados para toda a história do homem brasileiro, tinham quaisquer relações com algo extraterreno. Tais relações serão, no entanto, nítidas, completas e compreensivelmente explicadas. Vejamos os textos:
“Disse-me que era preto e parecia um bote de quilha para cima. O rapaz, que estava numa canoa no rio Paraguai, encostou-se à terra, aportou e correu com todas as forças para casa. Fui ver o lugar e encontrei o seu rastro na lama e no aguapé: era uma depressão enorme, um sulco muito largo que só uma embarcação muito grande poder ia ter produzido e, por toda a redondeza, só havia canoas, ainda assim pequenas”.
Este texto foi publicado em 1908, há quase 90 anos atrás, por Alípio Miranda Ribeiro, na Revista Kosmos (11). Outro relato quase tão antigo, mas com certeza igualmente interessante, apesar de breve, é o de João Felizardo, publicado em 1920 na Revista do Brasil (12): “Há algum tempo, há muito anos, já o Minhocão veio vindo, veio vindo… às vezes vinha por cima da serra, às vezes vinha pela várzea”. Também nestes textos, cuja principal característica é a idade, podemos ver a descrição de um UFO observado às escuras, sem que qualquer de seus sistemas de iluminação (ou algo semelhante) estivesse ligado.
Na passagem “parecia um bote de quilha para cima” vemos descrito o formato físico mais comum de um UFO, segundo podemos facilmente reconhecer nos contatos imediatos atuais. Por outro lado, a passagem “vinha voando por cima da serra” confirma, sem sombra de dúvida, que se tratava de um engenho voador — e voava exatamente como fazem os UFOs, acompanhando as irregularidades dos terrenos em seus vôos. Mais ainda, deixou com sua passagem um rastro esbranquiçado que se desfazia em segundos.
Seu tamanho seria, visto à baixa altitude e estimado aproximadamente, o de um carro de passeio. A exemplo do “bote de quilha para cima” da descrição anterior, no folclore fueguino temos o gigante. Taquatu, “que \’voga\’ numa canoa no ar ou na terra e leva homens e mulheres para regiões de onde jamais voltam…”. Essa outra lenda também está relacionada ao Fenômeno UFO, justamente porque foi cunhada há muitas décadas e apresenta como epicentro um objeto em forma de canoa e que voa!
Vejamos mais uma referência bibliográfica coletada pelo pesquisador do folclore brasileiro, Hernani Donato, que jamais imaginaria que tivesse qualquer relação com o Fenômeno UFO: “O lagarto tigre, animal e deidade que, em companhia e sobre as ordens do seu criador Poromonangara, montava guarda na entrada do fabuloso Paitati, o país do ouro, na região guaranítica”.
Vamos a outra particularidade de nosso tão rico folclore, a lenda do Carbúnculo, já citada anteriormente. Este mito não está represado, mas sim transcende o território brasileiro — como, aliás, muitas outras fortes expressões do folclore. Para trazermos elementos sobre o Carbúnculo e para discutirmos o fenômeno neste capítulo, examinemos a obra de Câmara Cascudo, já comentada, no trecho em que o jesuíta Teschauer descreve seu caminho desde os Andes (1):
“Nos lugares metalíferos das regiões andinas, aparecia na imaginação dos índios um ser vivente que desprendia da cabeça uma luz vivíssima, que muitos presumiam ser o cobiçado Carbúnculo, segundo se refere o Padre Techo. Esta aparição, que chamam também de farol, tem continuado a apresentar-se aos olhos dos que neles reconhecem um certo indício das muitas riquezas que a serra ainda oculta, ora em minas, ora em tesouros escondidos por mão do homem. Sem dúvida, é uma maneira estranha de se esconder um tesouro acender um farol”.
Cascudo também nos fala que no Rio Grande do Sul a lenda do Carbúnculo tem origem no sacrilégio de um sacristão. Refere-se ao mito como uma pedra preciosa, brilhante, encravada no alto da cabeça de um Teiú-iaguá. Esse lagarto, ainda segundo Câmara Cascudo, atravessou o Rio Uruguai e seguiu para o Serro do Jaraú, onde se localizou (13). O Carbúnculo, ou ainda Carbunco, como a ele se referem os povos de várias regiões, é a observação de um UFO típico, talvez fusiforme e com um farol à frente.
No entanto, segundo as lendas, o mito e um indicador de fortunas ou tesouros enterrados. Quem o vê crê que sobre o local por onde passou haja metais preciosos escondidos. Exatamente aí está explicada sua presença geralmente em locais metalíferos, fazendo vôos rasantes sobre serras ou mesmo pairando acima delas e pousando. E, como podemos notar nos textos, ele também está presente em outros países da América do Sul.
Segundo a cultura popular, uma outra lenda interessante é a do Gafanhotão. Como o próprio nome indica, é o mito de um monstro enorme que segue as pessoas de madrugada. Esta lenda está radicada principalmente no estado de São Paulo e são grandes as chances de se tratar tão somente da visão de UFO pousado no solo, com holofotes acesos. A análise das descrições de testemunhas oculares do fenômeno nos leva a crer que, à maneira de tantos outros mitos já descritos e como ocorre com enorme porcentagem das lendas em vigor ou já extintas, trate-se da observação de um disco voador profusamente iluminado e pousado ao solo sobre suas patas ou trens de pouso.
A Mula-sem-Cabeça já é uma lenda mais popular e que abrange uma área muito maior do território brasileiro. É também referida, em determinadas regiões, como Cavalo-sem-Cabeça e, segundo a versão predominante, trata-se de uma amante de padre purgando seus pecados. Diz a lenda que esta mulher, para purgar seus pecados sexuais, vaga por aí em forma de mula e sem cabeça, soltando fogo pela garganta. Este é, no entanto, um mito bem antigo e já registrado diversas vezes pelo Brasil afora.
Os pesquisadores Spix e Martius, em sua obra Viagem Pelo Brasil (14), ouviram pessoalmente dos índios de várias regiões histórias sobre a Mula-sem-Cabeça. Por nossa experiência pessoal, observando e pesquisando ocorrências ufológicas de outras pessoas, especialmente na região de Minas, acreditamos que também nesse caso se trate da visão de um UFO pousado, novamente com suas hastes de aterrissagem fincadas no solo e com um farol aceso sobre o corpo — ou até mesmo com seu sistema de propulsão ligado, o que fatalmente daria a impressão de que se trata de algo soltando fogo pela garganta.
Mas esta lenda ultrapassa fronteiras. Na Argentina, por exemplo, fala-se no Pira\’Nu, um peixe negro, com cabeça de cavalo e grandes olhos. No Chile, por conseguinte, fala-se do Cavalo-do-Mar, um ser mitológico que ilumina as estradas com potente facho luminoso que, segundo dizem, tem sua chama alimentada pela queima de óleo humano pois, como pode se observar pelos casos, a luz provém de uma espécie de lanterna. Por muitos outros países podemos encontrar dezenas de observações de UFOs confundidas ou vistas, no passado e no presente, como animais e monstros medonhos. No Panamá, para citar mais um caso, temos o Tulivieja, um ser animalesco que aparece com focos de luz.
O impressionante é que os casos de lendas originadas de fenômenos semelhantes — senão idênticos — espalham-se por países distanciados às vezes em até 3 mil quilômetros, cada qual desenvolvendo-as mitologicamente de acordo com sua cultura, época da manifestação ou da observação do fato e, ainda, de acordo com a religiosidade presente. No Peru, temos o Amaro, um ser informe e descomunal. Tal criatura passa a ter o nome de Capiango nos países do Prata — um animal aterrorizante.
A Mula-sem-Cabeça é uma lenda popular que abrange uma área muito grande do território brasileiro. É também referida, em determinadas regiões, como cavalo-sem-cabeça e, segundo a versão predominante, trata-se de uma amante de padre purgando seus pecados. Diz a lenda que esta mulher, para purgar seus pecados sexuais, vaga por aí em forma de mula e sem cabeça, soltando fogo pela garganta. Este é, no entanto, um mito bem antigo e já registrado diversas vezes pelo Brasil afora
Já o Ahó-Ahó é um ser peludo e gigante que persegue as pessoas no Paraguai etc. Se fizermos uma pesquisa folclórica em muitos países do globo, de culturas e raças totalmente diferentes entre si, teremos centenas de mitos e lendas que nos falarão de animais noturnos, luminosos ou não, desconhecidos e fantásticos, que na verdade são UFOs observados por pessoas ignorantes e sob condições inusitadas.
Vamos analisar mais um mito, o Anhangá, que segundo os indígenas brasileiros é um veado com olhos de fogo, algumas vezes vermelhos, com chifres peludos e uma cruz na testa. O avistamento desse animal em algum lugar era considerado sinal de tragédia, pois sempre trazia febre e loucura aos que o observavam. Na mitologia húngara, à semelhança da lenda brasileira, fala-se do Csodasiuszarvas, que era também um veado voador que irradiava um brilho intenso. Tudo nos leva crer que, em ambos os casos, trata-se da visão de um UFO ou de uma sonda, cuja luz é interpretada como fogo.
O Arranca-Iínguas é outro mito interessante, porém um pouco mais assustador, já que atinge fisicamente animais selvagens ou de rebanhos. O mito está presente principalmente na região do rio Araguaia e distribuído por todo o estado de Goiás. Existem casos isolados verificados noutros estados, como no Mato Grosso do Sul, onde o fenômeno também se manifesta identicamente. Segundo a cultura popular desses locais, o fenômeno seria um animal que, matando os outros, arranca suas línguas misteriosamente.
Assim, vacas, bois, cavalos e diversos tipos de animais selvagens são estranhamente encontrados mortos, sem línguas, como se tivessem sido extraídas cirurgicamente. O interessante é que os cortes são absolutamente precisos e, invariavelmente, na noite anterior (ou em várias noites anteriores) ao dia em que se constata que o animal está morto, sem língua, sempre são observadas luzes misteriosas sobre os pastos ou na região.
Para se criar um mito ou uma lenda, e para que se popularize, é preciso que o fato desencadeador se repita constantemente ao longo do tempo. Daí a atribuir-se um nome para o fenômeno é caminho curto e quase sempre resulta num termo popular grotesco, ligado ao temor que se tem, na região, do fato ou atribuído ao mesmo pela semelhança com coisas monstruosas. É óbvio que o Arranca-línguas, por exemplo, tem muita relação com os fatos ufológicos — e já de longa data.
No ano de 1977, por exemplo, houve uma onda de UFOs nos Estados Unidos, especialmente no nordeste do Colorado, quando dezenas de animais morreram, sendo encontrados mutilados. Em todos esses casos, os órgãos genitais, a língua, as orelhas e olhos foram retirados cirurgicamente, de maneira idêntica à utilizada por veterinários, com toques de bisturis. Mais ainda, nos locais onde eram encontrados os animais mutilados não se achou qualquer sinal que pudesse identificar o responsável pelas mutilações, nem pegadas, marcas de pneus, nada!
Curiosamente, nas noites precedentes aos achados das carcaças, a polícia do Colorado tinha sido constantemente chamada para averiguar avistamentos de UFOs. Após a morte dos animais, para complicar ainda mais o quadro e desorientar a Medicina Veterinária, nenhum predador chegava perto dos corpos e, em alguns casos, chegou-se a detectar radioatividade nos restos dos animais. No Brasil, na Argentina e em outros países pelo mundo afora, esse fato teve lugar sempre com a presença de UFOs.
No estado de Mato Grosso do Sul, por exemplo, segundo a equipe de investigação de campo do Centro Brasileiro de Pesquisas de Discos Voadores (CBPDV), em matéria publicada na Revista UFO (15), dezenas de vacas e bois foram encontrados mutilados durante um período de poucos dias, todos sem as línguas e, em alguns casos, sem outros órgãos. O caso ocorreu no município de Camapuã, norte do estado, mas também existem registros semelhantes noutros pontos da região.
Como os UFOs são Interpretados na sabedoria popular
O folclore brasileiro — como deve ser o de qualquer outro país de dimensões continentais como o nosso — é imensamente rico em quantidade de lendas e mitos. Sendo que uma parte deles foi criada por seus habitantes nativos, os índios, e outra constituída pelos homens “civilizados” que por aqui têm feito suas vidas há vários séculos. Com o passar do tempo, no entanto, vemos que as lendas e mitos, assim como muitas outras expressões populares do folclore, têm alguma explicação ou fonte de inspiração conhecida.
Na maioria dos casos, onde tais histórias estão ligadas a descrições de pássaros luminosos, cobras voadoras, fogos noturnos, fantasmas e carruagens de luz entre tantas outras centenas de curiosas expressões, podemos facilmente detectar a presença do fenômeno ufológico como causador da crendice. É impressionante a similaridade das descrições de manifestações de fatos míticos com os testemunhos atuais (e do passado, também) de observações de discos voadores.
Como vimos, Boitatás, Boi-guaçus, Mulas-sem-Cabeça e tantas outras manifestações folclóricas são descritas por quem as vê — e em especial no interior dos estados mais afastados do país — de maneira t&at
ilde;o natural que é como se realmente existisse, por exemplo, um animal como uma mula sem cabeça, de corpo luminoso e que, por alguma razão, gostasse de ficar pairando por aí e assustando moradores!
E, para complicar mais ainda o quadro, na maioria absoluta das vezes em que há uma pesquisa séria sobre a origem de determinada lenda, o investigador descobre uma cadeia de narrativas, uma longa seqüência hereditária de manifestação do folclore. É como se um pai, que conhece a história de seu avô, a passasse para seu filho, que a contará para o seu sucessor e assim por diante. Desta forma, é difícil saber quando a lenda teve origem, mas, como provam as pesquisas, elas permanecem inalteradas por várias gerações, somente com algumas diferenças.
A confiabilidade da narrativa é outro ponto alto. Geralmente, quem conhece a lenda ou o mito tem profundo respeito por ele, às vezes até temor e, normalmente, grande orgulho não só por conhecê-lo, mas por ter a chance de contá-lo aos conhecidos, vizinhos, visitantes, além de seus sucessores. Mais ainda, a missão de conhecer e contar uma lenda é dada pela comunidade a alguém de seu profundo respeito e admiração. E, não raro, esta pessoa carregará o compromisso de passar adiante a lenda com imenso carinho, por temer que o contrário poderá ser interpretado pelos diabos ou demônios —ou deuses e espíritos do bem, conforme o caso — como um desrespeito passível de punição.
Temos constatado que a maioria das lendas noturnas, ligadas a fenômenos luminosos — as ditas assombrações — são na realidade interpretações equivocadas ou ignorantes de fatos puramente extraterrestres. São explicações para manifestação de sondas, de naves médias, de naves-mãe e até dos próprios seres extraterrestres que nos visitam. Como estes seres ou fenômenos não se apresentam a contento, não mostram identificação de qualquer espécie e se comportam estranhamente, eles assustam, amedrontam e põem a correr seus interlocutores. Estes, por sua vez, ao contarem os fatos para terceiros, criam definições as mais bizarras para o que presenciaram.
E assim, o Fenômeno UFO, que sempre esteve presente em nosso meio, vai sendo registrado ao longo do tempo e nos diferentes locais como a ação de todos os tipos de seres e monstros. A riqueza dessa ação e dos seus registros em forma mítica ou de lendas é que espanta por sua quantidade. Em muitos casos, quando vistos próximos de mananciais, de lagos ou leitos de rios, originam histórias impressionantes. Existem muitas lendas e mitos que nos mostram animais e seres estranhos nesses lagos e rios, mas que na realidade estão diretamente relacionados a UFOs e seus tripulantes. Vejamos alguns textos históricos:
“Lá vem a Cobra Grande. O pessoal vai ao barranco do rio caudaloso, divaga o olho para baixo e para cima e vê duas tochas de fogo acesas, como se fossem farol luminoso a indicar o perigo que se aproxima. O monstro d\’água, à proporção que se acerca do poço fundo, faz um barulho igual ao de motor de explosão, muito distante. Vai passar a noite no poção que fica em frente ao seringal”.
O texto acima, extraído da obra Folclore Acreano, de Francisco Ferez de Lima (16), mostra nitidamente a observação de um engenho com faróis acesos e com barulho automotivo, algo raro para os UFOs, que são quase sempre silenciosos. Na verdade, trata-se de um objeto voador não identificado sobrevoando o leito de um rio, em uma de suas tão comuns incursões noturnas sobre regiões aquáticas. Aliás, é notória a preferência das naves extraterrestres por regiões com grandes reservas d\’água, tais como oceanos, lagos, represas hidroelétricas e até no próprio Pantanal, onde são tão freqüentes.
Muitos UFOs já foram vistos emergindo ou submergindo dessas reservas, ou apenas fazendo manobras e preguiçosos sobrevôos (17). É notória também a constatação de que, por alguma razão desconhecida, dentre as regiões aquáticas mais visitadas, os UFOs comumente têm grande interesse por barragens e açudes, que são reservas artificiais de água. Suas manobras sobre tais locais são freqüentemente registradas em todo o Brasil e exterior.
Quanto ao barulho de motor de explosão ouvido pelos narradores da lenda, podemos compará-lo com os sons de vários outros avistamentos que temos registrado, contados por moradores rurais de quase todos os locais. A Cobra Grande é, em verdade, uma nova versão do antigo Boitatá. Vamos examinar agora a lenda da Boiuna, outro mito presente no folclore brasileiro. Vejamos o texto de Raimundo de Moraes, na obra Na Planície Amazônica (18):
“A Boiuna, entretanto, toma outras formas. Se ela engana a humanidade mascarada de navio de vela, também engana no vulto de transatlântico. Em noites calmas, quando a abóbada celeste representa soturna e côncava lousa preta, sem estrelas que pisquem para a Terra e a natureza parece dormir exausta, rompe a solidão o ruído de um vapor que vem. Percebe-se ao longe a mancha escura precedida pelo barulho cachoante no patilhão. Seguidamente destacam-se as duas luzes brancas dos mastros, a vermelha de bombordo e a verde de boroeste. Sobre a chaminé, grossa torre, vivo penacho defumo que se enrola na vertigem dos turbilhões moleculares, estendendo-se proa afora na figura de um cometa negro. Momento depois já se escuta o barulho nítido das máquinas…”.
E continua a narrativa colhida pelo historiador Moraes: “Por fim, o desconhecido vaso se aproxima recoberto de focos elétricos, polvilhado de poeira luminosa, como se uma nuvem de pirilampos caísse sobre um marsupial imenso dos idos pré-históricos. Mal se avizinha do claro que circunda o paquete, e tudo desaparece engolido, afunda na voragem”. O fenômeno observado é também assustador ao homem, como lembra o pesquisador Câmara Cascudo, que chegou a descrever a Boiuna como “uma cobra grande, uma Mãe d\’Água que criou tudo aquilo, alucinando naquele horrível pesadelo as pobres criaturas Esta maneira de se referir ao fenômeno, como Boiuna ou Mãe d\’Água, é apenas mais uma variação para o antigo Boitatá, desta vez visto como um navio fantasma que pode desaparecer num passe de mágica.
E os UFOs realmente podem, de um instante para o outro, desaparecer e reaparecer. Muitas vezes isso se dá em nível material, com a locomoção cio veículo em si. Noutras, apenas desligam soa iluminação e desaparecem na escuridão noturna, ou mesmo ficam ali parados, escuros, tam
bém desligando seu sistema de propulsão. Iodos esses mitos ou lendas ligados ao campo dos ígneos nos mostram esses engenhos extraterrestres em suas pesquisas noturnas. Assim, a Boiuna é mais uma criação popular na tentativa de se explicar esse contato.
QUANDO OS UFOs SÃO MITOS QUE VÊM DAS ÁGUAS
Existem também inúmeras lendas e mitos ligados ao aparecimento de belíssimas mulheres, que normalmente surgem nos rios, lagos ou praias. Entre as Sendas surgidas com este tipo específico de manifestação estão as da Iara, Iemanjá e da já citada Mãe d\’Água, todas particularmente interessantes e solidamente enraizadas na cultura popular brasileira. Os estudiosos Spix e Martins relatam pormenorizadamente, em sua obra Viagem peio Brasil (20), que ouviram pessoalmente dos índios, no século passado, histórias sobre outra lenda, a da Mãe do Rio, que em verdade é a mesma coisa que a Mãe d\’Água.
Segundo os relatos, “a Mãe do Rio possuía um diadema brilhante situado no alto da cabeça” e também “deixava emergir a cabeça, extremamente luminosa, para fora da água, ficando seu corpo ainda submerso”. Isso se repele com as lendas de Iemanjá, da Senhora d\’Água, da Cotaluna etc, que sempre nos mostram a mesma coisa, em cada uma das regiões do país onde foram analisadas e estudadas.
A descrição de algo luminoso saindo da água, vindo do fundo de mananciais e indo para o espaço é algo que o folclore retrata detalhadamente, deixando claro que se trata de um aparelho voador que submerge de um leito aquático, como um UFO ou simplesmente uma sonda teleguiada. Já tivemos a oportunidade de colher dezenas de relatos na zona rural de Passa Tempo, para citar alguns exemplos que servem como parâmetros de comparação, todos mostrando pequeninas luzes emergindo de riachos, especialmente ao entardecer. São sondas que provavelmente ficam implantadas naqueles locais durante o dia e automaticamente acionam-se para realizar suas pesquisas noturnas quando diminui a luminosidade do local.
Essa conclusão vem do fato de que a manifestação dessas luzes, geralmente esféricas, se dá na maioria dos casos durante a noite e também de madrugada, sendo raros os casos diurnos. Por serem vistas emergindo do rio, e por apresentarem aspecto esférico e grande luminosidade, um eventual observador imagina logo tratar-se de uma “cabeça misteriosa” e luminosa. Podemos, também, aventar outra hipótese válida para explicar o fato: a de que a luz é apenas o holofote – ou algo semelhante – de uma nave, dirigindo um raio de luz para baixo, sobre o leito de um rio.
De longe, o observador tem a impressão de ver uma luz com cauda muito comprida, o que leva muita gente a compará-la com o vestido longo de uma noiva. Aliás, esta é uma outra lenda, a da Noiva de Branco, originada pelo mesmo fenômeno — especialmente se o facho de luz for muito intenso. A manifestação desse tipo de fenômeno luminosa se dá a exemplo do que podemos ver nos shows realizados com canhões de luz, onde a luminosidade emitida começa com um diâmetro estreito e vai se alargando gradativamente, ficando tênue.
Esse tipo de avistamento também deu origem a muitas outras lendas e crendices, algumas até mesmo religiosas, como as aparições marianas, notadamente pelo facho de luz aparentar-se com o vestido de Nossa Senhora. Mas não é só no Brasil, aliás, que se fala em aparecimento de mulheres fantásticas nos rios. Em muitos outros países do mundo existem as mesmas histórias. No Panamá, por exemplo, contam-se “causos” sobre a Dama del Rio, com versões semelhantes às nossas.
Existem ainda outros fantasmas ou aparições nos rios brasileiros, como as lendas da Barba Branca ou as da Ruiva, que geralmente surge em lagoas. O Caboclo d\’Água também está associado aos mananciais, assim como o Upupiara, a Paranamaia e tantos outros mais. Pode-se afirmar com certeza, analisando-se o comportamento de cada uma das manifestações que geraram tais crendices, que se trata do mesmo fenômeno em si e sempre tendo relação com avistamentos de UFOs e/ou seus tripulantes.
Assim como são numerosas as observações de UFOs próximas a mananciais e confundidas com monstros pitorescos, embarcações ou vasos fantasmas — ou ainda com mulheres sagradas e misteriosas —, também não são raras as ocasiões em que os UFOs, vistos em terra, são interpretados através da história como “cabeças humanas luminosas”. Uma das lendas mais vivas desse tipo é a do Curacanga, que pode ser conhecido através dos mais diversos registros históricos ligados ao folclore. Vamos conhecer detalhes da Curacanga (ou Cumacanga) através da pesquisa de Hernani Donato, autor regionalista:
“A Curacanga é um mito do tipo encantamento, corrente nos estados do Maranhão e do Pará, apresentando algumas variantes em ambos os territórios. No Maranhão, toda sétima filha de casal que não tenha filho homem nasce \’encantada\’ desde que os pais não tomem a precaução de fazê-la batizar imediatamente após o nascimento, pela irmã mais nova. A cabeça da Curacanga sai-lhe do corpo e, sob a forma de bola de fogo, voa ou roda pelos caminhos, apavorando os viandantes. No Pará, a Cumacanga ou Curacanga é fadário de padre e a transformação acontece apenas nas noites de sexta-feira” (21).
Nesta narrativa, a frase “a cabeça da Curacanga sai-lhe do corpo em certas noites sob a forma de bola de fogo, voa ou roda pelos caminhos” é uma descrição que pode ser considerada típica para fenômenos ufológicos. Nela, podemos ver um UFO da forma costumeira com que se apresentam à noite, assemelhando-se a uma grande bola de fogo e com uma cor que lembra um ferro incandescente. Em Minas Gerais, os moradores rurais de Passa Tempo e municípios vizinhos utilizam a expressão Bola de Fogo quando se referem aos UFOs que se comportam dessa maneira. Temos registrado o fenômeno por várias outras regiões do país, apresentando-se, segundo o pesquisador Donato, com a graça misteriosa de um mito:
“O mito tem correspondências nacionais e universais. No Sul, em São Paulo e Minas Gerais, pelas sextas-feiras à noite, à meia-noite, uma bola de fogo indica sítios onde haja tesouros escondidos. E a alma de quem os ocultou, depois de lê-los formado por meio de crimes, e que procura entusiasmar algum valente a descobrir e possuir tal riqueza, livrando a alma penada de sua sina. No Peru e na Bolívia ocorre o mito da cabeça ígnea. E o mesmo acontece em vários lugares da Europa e até na China” (22).
Uma lenda do sul do estado de Mato Grosso do Sul, relacionada com tesouros enterrados também é originada pelo Fenômeno UFO: o dito Enterro, também conhecido por Enterro de Solano Lopez, Teve origem nos anos que sucederam o fim da Guerra do Paraguai e é atribuída à ação do ditador Solano Lopez, morto na batalha. Segundo dados históricos, Lopez, ao se
r invadido pela Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai) a mando da Inglaterra, foi obrigado a defender-se como podia (23). Por estar em inferioridade militar, embora tenha se saído muito bem no início da guerra, atuou invadindo o Brasil várias vezes, em determinadas ocasiões até tomando nosso território.
Diz a história da Guerra do Paraguai que, por onde passava Lopez e suas tropas, dentro do Brasil, vilarejos eram saqueados e seus habitantes, em maior parte, eram mortos. Contudo, por não dispor de condições para carregar os tesouros roubados, Lopez mandava cavar imensos e profundos buracos no solo, onde enterrava, intercalando de maneira sinistra e macabra, os corpos de suas vítimas e o produto dos roubos. Esses são os chamados Enterros de Solano Lopez e o objetivo de assim dispor os cadáveres e tesouros era o de amedrontar quem os achasse, afugentando os caçadores de riqueza (24).
A lenda apareceu na hora em que, por várias regiões do estado, habitantes viam luzes estranhas sobre as matas e, em sua tosca compreensão, tais luzes eram os espíritos de Lopez e seus soldados averiguando o local onde enterraram tesouros. E desnecessário dizer que, imediatamente, começavam escavações para procurá-los. Algumas escavações, curiosa e coincidentemente, tiveram êxito e muita gente conseguiu entrar, assim, para a história da Guerra do Paraguai. Hoje, estudiosos afirmam que ainda existem dezenas desses Enterros no estado.
Esses fenômenos se apresentam sob a forma de bola ou tocha, voando à baixa altitude sobre as serras. Como o próprio texto nos indica, o suposto mito está presente em quase todo o território brasileiro e também no exterior. Na Bolívia, por sinal, é chamado de Catecate. Aliás, no Peru e na Bolívia — países relativamente parecidos em termos folclóricos — temos uma infinidade de outras denominações para o mesmo tipo de avistamento, entre elas: Umita, Uma Waqya, Uma Pa, Runa Uma, Aya Uma, Uman Tak Tak, Kefke, Keke Mok Mok e Uma Puerakeke.
Muitas vezes esses avistamentos são de naves tripuladas mas, na maioria dos casos, são observações de meras sondas teleguiadas. Mesmo tendo presenciado muitas passagens dessas máquinas extraterrestres, em especial em Minas Gerais, ainda não pudemos estabelecer qual é a particularidade neste tipo de fenômeno que gera uma bola de fogo informe e nebulosa. Supomos que se trate de uma espécie de sistema de iluminação existente em toda a nave por igual, ou então da viso de apenas um de seus holofotes, com potência evidentemente descomunal.
Diz a história da guerra do Paraguai que o ditador Solano Lopez saqueava fazendas brasileiras e, por não poder carregar os tesouros, mandava cavar profundos buracos no solo, onde enterrava os corpos de suas vítimas e o produto dos roubos. Esses são os chamados enterros de Solano Lopez e o objetivo de assim dispor os cadáveres e tesouros era o de amedrontar quem os achasse, afugentando os caçadores de riqueza
Quanto às sondas, estas se apresentam todas iluminadas, daí vemos uma bola de fogo perfeita, exata, tal como uma gigante, como nos contam os nativos de Mato Grosso do Sul e de outros estados. No entanto, é uma luminosidade que não se espalha, não se expande e nem ofusca a visão, fazendo com que possamos ver sua perfeita forma esférica. São milhares os contatos de todos os graus com extraterrestres e nossos antepassados ocorridos no Brasil.
As naves ou sondas vistas por eles eram interpretadas como animais, aves, monstros e até mesmo como almas penadas. Hoje sabe-se que as pessoas mais humildes vêem os tripulantes das naves quando desembarcam como demônios ou como deuses. Porém, em todos os casos sempre são considerados agentes supra físicos de alguma dimensão misteriosa e sobrenatural. Aliás, é até um comportamento natural do homem atribuir ao sobrenatural algo que vê e não consegue explicar.
Tem sido assim há séculos em todos os lugares do mundo. Quando os homens — em especial os nossos antepassados, ignorantes e assustados pioneiros no desbravar dos sertões brasileiros — não podem compreender ou explicar algo que presenciam, que os persegue e os amedronta, encontram no campo do sobrenatural um abrigo para suas ignorâncias. Atribuem, imediatamente, as manifestações e avistamentos de UFOs a produtos de bruxaria, espíritos brincalhões, demônios ou anjos, conforme a época e a maneira como o fato se manifesta.
QUANDO OS UFOs SÃO VISTOS COMO ALMAS PENADAS LUMINOSAS
Os UFOs vistos como almas penadas luminosas são um capítulo particularmente interessante do folclore brasileiro, além de típico, para o conhecimento do comportamento do Fenômeno UFO em si. Assim, é possível estudar a questão em detalhes, buscando subsídios na literatura regionalista e folclórica brasileira. Vejamos o que nos diz a respeito o conhecido pesquisador Câmara Cascudo:
“O Fogo Corredor é a alma dos compadres e comadres que, em vida, não guardam o respeito da igreja. São obrigados, por isso, a penar até que seja cumprida a sentença marcada pelo Criador. O mesmo ocorre no Nordeste, inclusive com a mesma denominação. No Rio Grande do Norte, explicaram-me que o Batatão é o fogo parado e o do compadre e da comadre é o corredor” (25).
Como vemos, o Fogo Corredor é considerado como um castigo atribuído ao compadre e à comadre por pecado de adultério. E, pelo comportamento e peculiaridades da observação, somos levados a concluir que, também nesse caso, o objeto do mito seja um tipo específico de avistamento de UFO: o de uma nave e uma sonda não tripulada juntas, o que é relativamente raro. Podemos concluir tal raciocínio principalmente pelo fato de que a visão das testemunhas é de duas luzes, uma maior e outra menor, em ação.
Embora seja um fato raro, já tivemos a oportunidade de ver uma nave e uma sonda em ação conjunta em Minas Gerais, no fundo de uma grota (espécie de caverna rasa) a 300 metros de onde estávamos e se comportavam exatamente como o que foi descrito pelo folclorista Cascudo. Aliás, já foram pesquisados muitos casos semelhantes em Passa Tempo, contados por gente simples. No caso de nossa observação, a primeira luz vista era amarela-azulada e a segunda avermelhada e de tamanho bem menor.
Nessa ocasião, pudemos presenciar um verdadeiro balé das duas luzes mas, no entanto, quando resolvemos piscar os faróis do carro, a fim de tentar estabelecer algum contato, ambos os focos luminosos se apagaram totalmente. Por mais que ficássemos ali, esperando, não conseguimos ver mais coisa alguma. Esse avistamento se deu em local conhecidíssimo por nós e não