
Terminou neste último final de semana a Bienal do Livro de São Paulo. A literatura fantástica esteve presente em diversos stands, mas infelizmente a maior saga da Ficção Científica mundial foi uma ausência. E contrariamente as expectativas, seu país natal é a Alemanha. Foi mencionada brevemente no editorial da Ufo Especial 36 a fabulosa série literária Perry Rhodan, que já superou há anos a edição 2000, relatando uma fictícia história da humanidade ao longo de mais de 3000 anos.
No primeiro volume, Missão Stardust, Rhodan era um major da Força Aérea Americana que, juntamente com seu amigo Reginald Bell e mais dois companheiros, realizaram no ano de 1971 a primeira missão bem sucedida para a Lua, a bordo da Stardust 1. Aproximando-se do destino uma misteriosa interferência tira a nave do rumo, pousando no lado oculto de nosso satélite. Rhodan e Bell saem para investigar, e se deparam com uma gigantesca nave de formato esférico, com 500 metros de diâmetro, que aparentemente caiu na Lua. Destaco que o famoso Erich von Daniken descerve uma nave muito semelhante em seu livro De Volta às Estrelas. Rhodan chega até a citar a lenda de que os discos voadores salvarão a Terra, e finalmente eles são recebidos pelo cientista arcônida Crest e a deslumbrante comandante da nave, Thora, que são semelhantes aos humanos.
Crest volta a Terra com os americanos a bordo da Stardust, que pousa no deserto de Gobi alarmando o mundo. As potências mundiais, quando fica evidente que Rhodan encontrou algo muito especial na Lua, imediatamente esquecem o clima similar a Guerra Fria, e se unem para combater o que vêem como ameaça. A nave gigantesca na Lua é finalmente destruída, mas Rhodan e os amigos salvam uma pequena nave auxiliar esférica, de 60 metros. Com a tecnologia da mesma, fundam a Terceira Potência, impedindo o eclodir da Terceira Guerra Mundial.
As nações da Terra seguem tentando destruir Perry Rhodan, e é interessante ver que as mentes mais capazes desse empreendimento percebem que “algo mais” está por trás da trama. Acabam intuindo que, se forem bem sucedidos, tudo voltará a ser como antes. Com o súbito aparecimento de uma nave desconhecida, entretanto, Rhodan é chamado a agir para salvar a Terra, finalmente comprovando para todos que tomou como missão desenvolver e proteger nosso planeta.
A série foi pioneira em mostrar um exército de dotados de poderes paranormais, em utilizar saltos pelo hiperespaço para viagens interestelares, e muitos outros aspectos hoje comuns na Ficção Científica. Após muitas reviravoltas e enfrentamento de forças contrárias a união dos povos, Rhodan obtém naves mais poderosas e ajudou os arcônidas em seu objetivo, um planeta onde se poderia obter a vida eterna. O estranho mundo é finalmente alcançado, mas essa conquista irá beneficiar os terranos. Rhodan e seus comandados superam os conflitos terranos e unem o planeta, avançando a seguir para o centro da Via Láctea e travando contato com o Império Arcônida.
Importante salientar que o Império encontrava-se em completa decadência, seus membros pouco valorizando sua avançadíssima ciência, enquanto os terranos viajavam pela Galáxia com vigor de uma espécie jovem, considerada até bárbara por outros atores da cena galáctica. Consciente do perigo para a Terra, Rhodan e seus amigos finalmente conseguem convencer os demais povos que nosso mundo foi destruído, obtendo assim tempo para reconstruir a Terra usando a ciência arcônida.
Tudo isso aconteceu apenas no Primeiro Ciclo, nos volumes 1 a 49 das histórias. A partir do Segundo Ciclo os terranos atuam mais no cenário galáctico, e Rhodan conhece seu maior rival até então, Atlan, o Solitário do Tempo. Ele é um antigo oficial arcônida de dez mil anos de idade, tendo recebido um aparelho de prolongamento da vida do mesmo ser que foi encontrado no planeta da vida eterna. Em sua honra, fora fundada na Terra, há dez milênios, a colônia arcônida da Atlântida, destruída após uma série de estranhos eventos. Atlan passou boa parte desses milênios hibernando em uma cúpula construída nas profundezas do Atlântico, e quando acordou na época do Império Romano, passou a discretamente atuar na História terrana, buscando desenvolver aquele mundo para poder voltar para casa. Fugiu para a segurança da cúpula assim que as potências lançaram seus mísseis contra a base de Rhodan no Gobi, ainda no começo da série, despertando mais de meio século depois.
Após muitas lutas e reviravoltas, Atlan e Rhodan desenvolvem uma profunda amizade, atuando decisivamente na Via Láctea pelos séculos seguintes. O volume 50 Atlan: O Solitário do Tempo, rendeu até um fanfilme realizado há mais de trinta anos, uma conquista extraordinária em um tempo sem a tecnologia de efeitos especiais de hoje. Clique aqui para assistir.
Os enfoques das histórias foram os mais variados possíveis, as intrigas e ameaças galácticas, contatos com novas civilizações, o desenvolvimento e evolução da humanidade, com discussões típicas da melhor ficção científica. O ponto central da série é a crítica social, especialmente nos livros iniciais. Surgida em 8 de setembro de 1961, época em que ameaçava esquentar a Guerra Fria, a série sempre defendeu a cooperação e união terrana (o exclusivo termo “terrano” é utilizado como sinônimo de terrestre ou terráqueo), criticando duramente o egoísmo, a ganância e a estupidez de desconfianças, ódios, e tudo que ainda em pleno século XXI, segue criando inúteis e despropositados conflitos.
A humanidade teve a sorte de poder contar com Perry Rhodan, que sabiamente recusou-se a entregar a avançada tecnologia arcônida a qualquer nação, e que teve suficiente ética e sabedoria para utilizá-la nos períodos mais negros da História, quando os donos dos arsenais mundiais, em pânico, preferiram apertar os fatídicos botões e lançar milhares de mísseis nucleares, evento narrado no volume 2, A Terceira Potência, um dos mais emocionantes do Primeiro Ciclo. Graças a Rhodan o mundo, agradecido, sobreviveu, mas ao preço de o astronauta passar a ser tratado como pária pelas potências. Com o desenrolar da trama Rhodan e seus amigos conseguem ampliar sua influência e finalmente ser reconhecidos, a contragosto de muitos, como a única esperança da Terra. Apenas então seria formado o Império Solar, com a humanidade se lançando finalmente as estrelas.
A série angariou uma legião de fãs ao redor do mundo, e sua publicação ininterrupta até hoje na Alemanha comprova seu imenso sucesso. Aqui no Brasil foi publicada, a partir dos anos 1970, pelas editoras All Print e Ediouro, e no começo do século XXI, pela SSPG. Atualmente os fãs brasileiros estão em compasso de espera, e resta recorrer a sebos, onde os volumes da série sempre podem ser encontrados por bons preços. Cada volume traz uma história separada, que entretanto se complementa nos livros seguintes, formando uma saga irresistível e envolvente.
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