“Às vezes me faz rir”, diz John Lundberg, enquanto passa por um trigal na região central da Inglaterra.”Se alguém me dissesse há 10 anos que hoje eu estaria voando pelo mundo todo para fazer círculos para grandes empresas e faturando com isso, eu diria que era loucura”. Esta é uma declaração bastante perturbadora. Os círculos em plantações deveriam estar sendo feitos por homenzinhos verdes, vindos do espaço. Eles chegariam em suas naves, fariam desenhos estranhos em plantações de trigo e partiriam para o Planeta Zog, deixando-nos – meros terráqueos! – a discutir o significado de tudo aquilo.
John Lundberg é claramente um homem, não um homenzinho verde. Seu meio de transporte preferido é uma bicicleta, não uma espaçonave. Mas ele admite abertamente que junto aos amigos Rod Dickinson e Wil Russell, não apenas criam os tais círculos, mas também faturam alto com isso. São três homens separando o dinheiro do trigo, sem qualquer disco voador na história. Talvez os únicos homenzinhos verdes envolvidos sejam alguns invejosos da capacidade dos três amigos de explorar seu talento artístico. Lundberg já vem fazendo círculos em plantações há 13 anos. Na maior parte desse tempo, ele os fez sem pensar em lucros.
Mas nos últimos anos, o trabalho comercial, principalmente de propaganda, decolou. A lista de clientes e rendimentos é impressionante. No ano passado, a equipe viajou para os EUA para realizar alguns projetos para a AMD, mega-empresa fabricante de chips para computadores. Eles criaram o desenho do olho para o Big Brother, o “reality show” da tevê; um desenho em forma de carro para uma campanha da Mitsubishi; logos para capas de discos de bandas de música; anúncios para a empresa de telefonia móvel Orange; e uma imagem de Dawn French, Steve Coogan e David Jason para uma empresa de televisão digital.
Um homem do outro lado da história é Matthew Williams, de Bishops Cannings, Wiltshire, que em novembro de 2000 tornou-se a primeira pessoa a ser processada por fazer círculos. Ele foi multado em £ 40 com mais £ 100 em custos advocatícios por tribunais de Kennet depois de admitir a culpa por danificar plantações em West Overton. Ele diz que seu objetivo era “demonstrar que nenhum círculo ou efeito está além das capacidades humanas”.
Um trabalho lucrativo
John e seus companheiros começaram nos campos de trigo e agora passaram a trabalhar também com areia e vidro. Recentemente ganharam a campanha da Hello Kitty para produzir o rosto do famoso gato japonês em um trigal em Wiltshire, e estão ainda pensando em um projeto na Costa Rica. O retorno para os empresários dos círculos é alto e crescente. O trabalho para a AMD foi até agora o mais rentável para o grupo. Lundberg não quer oferecer maiores detalhes, mas diz que o contrato foi de “dezenas de milhares de libras”. O orçamento para a campanha do Big Brother foi estimado em £ 250.000, e o do projeto da Orange, em cerca de £ 100.000. “Estamos indo bem”, diz Lundberg. “Estamos todos levando uma vida confortável com o negócio dos círculos”.
Os proprietários rurais também estão faturando com os pagamentos por cederem seus campos para os trabalhos, vindos tanto do grupo quanto das empresas. A renda cobre facilmente os danos à plantação deixando os proprietários com um bom lucro. Richard Cowan, proprietário de 1.500 acres em Oxfordshire, já cedeu duas vezes (ano passado e em 2002) sua propriedade para que Lundberg desenhasse os círculos para a Orange. Ele não quis revelar quanto ganhou, mas outro fazendeiro de Wiltshire disse que os valores estão por volta dos “£ 500 para cada círculo, ou mais”. Cowan disse que os círculos lhe deram um prejuízo de cerca de £ 200 em plantações, deixando-lhe com um bom lucro.
Ele não gostaria que alguém entrasse em sua plantação durante a noite para fazer os círculos, a não ser que fosse devidamente compensado. “Ninguém quer prejuízos na plantação, mas o que interessa é se você está sendo pago ou não,” afirma. “Fico satisfeito em ter minha propriedade usada contanto que eu saiba e receba por isso. Eu achava que os círculos fossem feitos por alienígenas, mas eles não têm dinheiro para pagar. Melhor assim”.
Os círculos alavancaram o turismo, especialmente em Wiltshire, onde atraem milhares de visitantes de todas as partes do mundo. Os “crentes” também estão indo bem. Muitos deles estão escrevendo livros e dando palestras sobre os mistérios e mitos acerca dos círculos. Os círculos foram incluídos nos tours a lugares sagrados e atraem visitantes dos EUA, Canadá, Austrália, Nova Zelândia, Japão, Irlanda e Europa. O pub Barge Inn, no Vale de Pewsey, com as Paredes cobertas de fotos dos círculos, tornou-se a Meca dos aficionados do mundo todo.
Criação ilícita de círculos
Lundberg, seus parceiros e mais alguns outros, porém, não abandonaram seu trabalho noturno ilegal e não remunerado em plantações. O motivo, conta, não é mostrar que as pessoas que acreditam que os círculos sejam feitos por homenzinhos verdes, deuses ou outras forças superiores estejam iludidas. O objetivo é “utilizar a arte para perpetuar o mistério e os mitos acerca dos círculos nas plantações”. Ele continua: “Criamos desenhos bonitos e também mistérios, fazendo com que as pessoas experimentem o inexplicado. É por isso que nunca reclamamos a autoria dos círculos, pois isso quebraria o mistério”.
John Lundberg nega que sua passagem para a produção comercial de círculos signifique que ele e seus parceiros tenham se vendido. Ele diz que a criação ilícita de círculos é sua paixão, sua verdadeira arte. “Se alguém chegar oferecendo dinheiro para que eu vá aos EUA fazer círculos, tudo bem”, ele diz. “Não tenho vergonha disso. Pode não ser arte, mas ajuda a pagar por coisas que o são”. As tais coisas incluem documentários sobre paranormalidade, assunto que Lundberg acha fascinante. Ele também faz uma distinção entre sua arte – “que perpetua a mitologia” – e a de outros que fazem círculos apenas para mostrá-los como uma obra humana.
Parece um tanto confuso. Ele quer que as pessoas falem sobre ETs quando sabe que é tudo bobagem? Não exatamente. “As pessoas dizem ter tido experiências místicas nos locais dos círculos, então é possível que estejamos agindo como catalisadores dessas experiências, embora os círculos tenham sido feitos por homens”, diz ele. “Talvez sejamos guiados por forças externas, quem sabe?”.
Como é feito o trabalho
Os círculos são desenhados em computadores e os ataques noturnos são meticulosamente planejados. Os intrusos saem em pequenos grupos, armados com os projetos, placas de madeira com cordas amarradas nas pontas – conhecidas como “stalk stompers” – e medidas de 300 m de fita adesiva. Eles escolhem o alvo com cuidado, preferindo campos de f
ácil acesso e cheios de pontos altos, assim os desenhos ficarão bem visíveis durante o dia. As plantações são de soja, cevada ou trigo, dependendo do mês. Não usam iluminação, os projetos são lidos à luz da lua.
Quando o trabalho está pronto, eles saem em silêncio, tomando todos os cuidados para não deixar marcas de presença humana, cientes de que seu trabalho irá causar reboliço e atrair centenas de visitantes, além da imprensa, no dia seguinte. Ao contrário dos trabalhos lucrativos realizados à luz do dia, os ataques noturnos deixam muitos fazendeiros irritados. O mais novo círculo surgiu numa manhã de sexta-feira, perto de Marlborough, Wiltshire, a província que abriga mais de 80% dos círculos da Inglaterra. No outro dia, o proprietário das terras não foi encontrado, mas os vizinhos disseram que ele estava furioso.
“Ele teve que pegar a colheitadeira e devastar uma imensa área porque não queria centenas de curiosos entrando em suas terras para ver o círculo”, disse um vizinho. “Ele estava fulo de raiva, xingando as pessoas que fizeram aquilo de tudo quanto era nome”.
Reação dos fazendeiros
As relações entre os proprietários e os ligados aos círculos podem ser tensas, e em uma tentativa de diminuir essa tensão o Sindicato Nacional dos Fazendeiros redigiu um código de conduta junto com o Centro de Estudos dos Círculos em Plantações. O código inclui avisos como: não invadir propriedades privadas sem permissão do proprietário, deixar um cartão com seu nome e telefone, causar o menor dano possível à plantação, e não fumar.
Nem todos os fazendeiros estão infelizes. Alguns dos mais empreendedores, ao acordarem e encontrarem os círculos, tiram o máximo proveito disso cobrando £ 1 ou £ 2 de quem quiser dar uma olhada. Um fazendeiro de Wiltshire faturou £ 15.000 com um círculo especialmente elaborado nos anos 90. A Associação Nacional dos Fazendeiros descreveu os ataques noturnos como “grafite rural”, mas apóiam a idéia de fazendeiros e criadores de círculos trabalharem juntos para gerar rendas. “É inovador, empreendedor e bom para os negócios” declarou um porta-voz.
O fenômeno dos círculos
O fenômeno dos círculos começou na Inglaterra, no final dos anos 70 e Lundberg e sua equipe prestaram uma grande homenagem à época, que aparece em Wiltshire, Oxfordshire, Bedfordshire, Northamptonshire e Lincolnshire durante a “estação” dos círculos, que vai de abril a setembro. Estima-se que cerca de 250 apareçam no mundo todo. Os “croppies”, “cerealogistas” ou “pesquisadores” – como são conhecidos os entusiastas dos círculos – aceitam o fato de que alguns são feitos pelo homem, mas insistem que muitos outros são feitos por “forças exteriores”. Para eles, os criadores de círculos são hereges, zombando de uma força mística.
Muitos afirmam ter tido experiências espirituais dentro dos círculos. Milhares visitam os locais todos os anos. Alguns afirmam ter visto os círculos serem criados em 10 segundos, sem qualquer humano por perto. Colin Andrews, autor do best seller Circular Evidence, o primeiro livro sobre o fenômeno, publicado em 1989, diz acreditar que até 90% de todos os círculos são criados por humanos. “Os outros 10% não são, e isso é muito importante”, diz ele. “Definitivamente, há algo muito estranho acontecendo. Não sabemos o que é, mas acredito que haja alguma força superior envolvida”.
Lundberg descreve-se como “uma segunda geração de criadores de círculos”, seguindo os passos de seu ídolo Doug Bowers, o artista que, com Dave Chorley, um artista amigo, iniciou secretamente a criação de círculos na Inglaterra no final dos anos 70. Bowers foi inspirado por “alguns círculos atribuídos aos UFOs” quando vivia na Austrália. Os dois continuaram com suas fraudes por 14 anos antes de confessarem a autoria diante de um mundo chocado, e por vezes decepcionado, em 1991. Bowers, agora com 80 anos, expressou surpresa ao tomar conhecimento do rumo comercial tomado pelos criadores de círculos.
“Só queríamos fazer as pessoas pensarem que um UFO havia pousado no campo, quando na verdade tratavam-se de apenas dois caras com uma placa de madeira. E funcionou. Faríamos os círculos e multidões viriam atrás deles. Costumávamos nos misturar a eles e ouvir suas histórias. Todos aqueles ufólogos falando de alienígenas. Olhávamos um para o outro e ríamos muito. Fizemos por diversão. Não tinha nada a ver com dinheiro ou mesmo com arte. Quem pensaria que chegaríamos a tal ponto?”.
Texto traduzido por Eduardo Rado, da Equipe UFO.