
Embora recente no Brasil, o fenômeno dos agroglifos já é imensamente conhecido na Inglaterra, onde, aliás, teve origem há uns 60 anos. De uma hora para outra, impressionantes figuras geométricas complexas e inexplicáveis passaram a aparecer nos campos de cereais plantados durante os quatro curtos meses do verão europeu. Ninguém tinha ideia de quem os fazia, mas a associação com extraterrestres foi logo encontrada quando se passou a ver naves e luzes não identificadas sobre as formações ou nas noites que antecederam sua descoberta. Ufólogos e outros pesquisadores paranormais entraram em êxtase.
De lá para cá, o fenômeno, antes conhecido como “círculos ingleses”, se espalhou de seu recanto preferido, a região de Wiltshire, 100 km a oeste de Londres, para praticamente toda a Inglaterra, de norte a sul, leste a oeste. Logo, nos anos seguintes, já eram encontrados também em outros países europeus, embora nunca com o grau de precisão e de complexidade com que continuavam a surgir em Wiltshire, e ali, mais precisamente em Avebury. A região é mágica. É nela que estão Stonehenge, Stone Circle, Roll Right Stones e uma série de monumentos megalíticos construídos há milênios por vikings, celtas e outros. Não pode ser coincidência…
Mas há outras duas razões alegadas pelos pesquisadores para Wiltshire ser a região onde o fenômeno surgiu e prosperou. A primeira é que aquela área da Inglaterra seria a primeira do mundo onde se iniciaram as fazendas de forma organizada. Se alguém começou a plantar batata de forma sistemática, por exemplo, foi ali. E, segundo, Wiltshire, embora não pareça, é uma das regiões mais militarizadas da Europa, com campos de exercício com helicópteros e tanques por todos os lados.
Poucos ainda pesquisam
Já foram milhares os pesquisadores dos agroglifos ao longo dos anos somente na Inglaterra, e umas centenas ao redor do mundo, que geralmente iam para lá para fazer seus trabalhos, já que os agroglifos eram — e ainda são — escassos fora do país. Mas hoje, pelo menos entre os ingleses, são apenas algumas dúzias que resistem a desistir da pesquisa — e eles se dedicam mais a documentar o fenômeno em fotos e vídeos do que a pesquisá-los. “Já se pesquisou muito e não há mais algo expressivo a se fazer. Agora é aproveitar que inteligências superiores nos presenteiam estas formações e desfrutá-las”, diz Gary King, consultor da Revista UFO e grande especialista no assunto, que já veio ao Brasil várias vezes fazer conferências.
De fato, pelo menos na Inglaterra, o que não se repete em outros lugares da Europa, a pesquisa perdeu a força — já italianos, alemães e russos ainda se dedicam a ela. É que os agroglifos simplesmente são, e não têm explicação. Não é necessário a alguém que esteja em Wiltshire no verão europeu percorrer centenas de quilômetros atrás de uma figura: elas aparecem o tempo todo e em todos os lugares, muitas vezes a poucos metros de rodovias movimentadas ou de centros urbanos.
Um dos maiores especialistas no fenômeno dos agroglifos é o ex-arquiteto inglês Michael Glickman, entrevistado para a edição 253 da Revista UFO por seu amigo e admirador King, a pedido deste editor. Veterano investigador do tema, Glickman analisou pessoalmente milhares de formações e construiu sólida reputação sobre o tema. Hoje, com seu corpo acometido de uma implacável esclerose múltipla, ele só consegue seguir seu trabalho de maneira teórica, analisando imagens de novos casos e tentando identificar o que podem significar. “São portais de hospitalidade”, diz Glickman.
O mítico Michael Glickman, um homem que tem a sensibilidade de ouvir os agroglifos
Fonte: ARQUIVO UFO
O veterano acompanhou, desde os anos 70, todas as tentativas de pesquisa do fenômeno, originadas de estudiosos que vinham de todo o mundo à Inglaterra, muitos, inclusive, renomados cientistas. Mas um dia chegou à conclusão de que as pesquisas e análises, por mais significativas e desafiadoras que sejam suas respostas — e são mesmo incríveis sob todos os pontos de vista, além de um desafio à ciência —, isso importa menos do que “sentir” os agroglifos, em suas palavras. Para ele, é inequívoco que inteligências não humanas, não materiais, mas de alguma forma ligadas a nós há milênios, estejam produzindo os agroglifos para chamarem nossa atenção.
Quando perguntei a ele por que querem chamar nossa atenção, Glickman foi direto: “Porque não nos damos conta de que há mais ‘gente’ ocupando nosso mundo”. Para ele, no que concorda King e também este editor, é um privilégio que se possa entrar em uma obra realizada por tão avançadas inteligências, que têm uma mensagem de paz a nos passar. Eis a razão dos “portais de hospitalidade” de Glickman. Ele, aliás, também me deu uma resposta muito interessante quando lhe perguntei porque os agroglifos passaram a surgir também em outras partes do mundo.
Disse-me o inglês, com sua frágil saúde física, mas de exuberante lucidez mental, que sempre que alguém de fora da Inglaterra vinha ao país com interesse genuíno no fenômeno, ao voltar para seu país, sua cidade, logo passavam a surgir figuras ao redor de onde residem. Faz sentido. Analisei o caso de agroglifos surgidos em vários locais do mundo e fiz referência com as visitas de estrangeiros à Inglaterra e tais locais onde o fenômeno passou a se manifestar, e há sim uma correspondência. Glickman certo novamente.
Figuras do nosso cotidiano
Ele tem razão também quando fala em “portais de hospitalidade”. Primeiro, porque as tais inteligências que produzem as formações parecem conhecer nosso mundo, nossa vida, nossos hábitos. Elas desenham nos campos de cereais — e são sempre cereais — figuras presentes abundantemente no nosso cotidiano, como moléculas, mandalas, insetos, sistemas estelares, componentes eletrônicos, sinais etc. Segundo porque, conforme a maioria dos pesquisadores do fenômeno, os “artistas” que fazem os agroglifos assinam suas “obras” com algum detalhe minúsculo e que ao leigo passa despercebido, seja um ponto ou um traço sinuoso ao lado da figura principal.
E mais curioso ainda é que há séries de agroglifos que vêm se repetindo ano após ano, sempre diferentes entre si, mas em alguns casos semelhantes, que têm distintas assinaturas, como se fossem vários os “artistas” que as produziram, cada um deixando sua marca. E, mais curiosamente ainda, há casos em que um agroglifo complexo e intrincado surge e nele estão presentes, para nossa completa surpresa, diversas assinaturas, como se um grupo de “artistas” se encontrou para fazer a tal “obra”. Por isso e tudo o mais, o fenômeno é sem dúvidas o mais importante da Ufologia atual.
Tem mais. Os agroglifos surgem ora da noite para o dia, ora em plena luz do dia, mesmo com Sol forte e a poucos métodos de pessoas, habitantes, turistas etc. Na pequena Avebury, rodeada pelo Stone Circle, por exemplo, é comum que alguém apareça no pub local Red Lion gritando “tem um novo ali”, referindo-se a uma nova formação que acabara de surgir do nada, sem que ninguém visse quem a fez, bem à frente do local no pôr do Sol, por exemplo. Isso é uma constante, embora já se tenham visto agroglifos serem formados por rápidas esferas de luz. Tão constante que, nesta história hipotética acima, poucos se levantariam de suas cadeiras para irem ver o novo agroglifo. “Ah, para quê? Amanhã aparece outro”, me disse um frequentador do Red Lion.
A destruição do fenômeno
O ceticismo ao assunto é um problema, mas sempre foi e agora não causa mais o estrago de antes — ou os pesquisadores pouco sem importam com ele. O Governo Britânico teve o devido cuidado de, nos anos 70 e 80, destruir o fenômeno em sua credibilidade com uma
campanha de marketing negativo perfeito, tanto que até hoje se acredita na história furada dos ex-agentes do Ministério da Defesa Doug Bower e Dave Chorley, verdadeiros fanfarrões que, pagos pelo Ministério, apareceram nas manchetes nos anos 70 afirmando que foram eles que faziam os agroglifos. Verdadeira piada, mas que prevalece até hoje.
Para se ter uma ideia do poder desta campanha dos britânicos, há alguns anos, quando este editor concedeu uma entrevista à revista Veja sobre os agroglifos brasileiros, impressionantes figuras que desafiavam as mentes mais brilhantes da academia, o resultado publicado na edição seguinte foi uma catástrofe. De mais de três horas de conversa ao telefone, em que este editor teve toda a paciência do mundo para oferecer informações precisas e claras, Veja usou apenas uma única frase minha praticamente sem importância e ainda totalmente distorcida, e teve a audácia de desafiar todas as explicações lógicas e dados bibliográficos oferecidos em abundância para atribuir até mesmo os agroglifos brasileiros a Doug e Dave. Lamentável.
Há outras razões alegadas pelos pesquisadores para Wiltshire ser a região onde o fenômeno surgiu e prosperou. Embora não pareça, é uma das regiões mais militarizadas da Europa, com campos de exercício com helicópteros e tanques por todos os lados
Voltando ao desestímulo atual dos britânicos pelo assunto, o que ocorreu é que, com o passar dos anos, o interesse da mídia e da população quanto aos agroglifos simplesmente morreu e quase ninguém mais nota sua presença ou entende que não se trata de um fato banal — as pessoas ainda vão aos agroglifos para vê-los, mas cada vez menos e para fazer piqueniques, meditar ou simplesmente por lá estarem. Claro, também se realizam curiosos cultos em seu interior ou ao redor, geralmente de inspiração ancestral ou celta, que se praticam com roupas próprias. Mas pesquisa que é bom…
Este editor frequenta os campos ingleses desde 1997, quando teve sua primeira oportunidade de visitar agroglifo, em Alton Barnes, durante uma chuvosa tarde de verão. De lá para cá, sempre que possível, passo uns dias na região de Wiltshire. O que reporto aos leitores, por experiência pessoal, é que realmente os agroglifos “desarmam” quem vai até eles com o propósito de investigá-los cientificamente, o que ainda assim é necessário. É como se eles — ou as inteligências que os produzem — quisessem um outro tipo relacionamento com os visitantes.
É comum, e exponho isso aos leitores com alegria, que em uma visita a um agroglifo fresco, recém-surgido, a pessoa tenha seus sentidos fortemente aguçados — nos mais antigos os efeitos decaem gradualmente. Enfim, é possível sair de um agroglifo com melhor visão, melhor memória, mais lucidez e até mesmo sentindo com mais intensidade o sabor dos alimentos e bebidas que se consomem. “É como se a pessoa recebesse uma carga de energia ao entrar no agroglifo”, diz New-ton Rampasso, novo consultor da Revista UFO, brasileiro residente na Inglaterra e pesquisador de agroglifos há 30 anos.
Interatividade dos agroglifos
Acompanhado ora por Rampasso, ora por Gary King, estive nos últimos dias de junho e primeiros de julho em Avebury, bem no epicentro do fenômeno. E ali pude visitar quatro agroglifos que haviam se manifestado recentemente. Infelizmente, nenhum ocorreu durante minha estada lá. Os primeiros foram os de Hackpen Hill, a cerca de 10 km de Avebury. Na mesma fazenda, dividida por uma estrada, surgiram duas formações, uma de cada lado da rodovia. “Primeiro surgiu uma, e como houve receptividade das pessoas, que vieram visitá-la, eles nos mandaram’ outra figura”, disse Paul Seaburn. Esta era de 23 de junho.
Inspecionei o agroglifo a partir do solo, no meio da plantação de trigo bem verde, ainda impróprio para colheita. Era uma formação gigantesca, com mais de 70 m de diâmetro e uma característica chamativa [Veja página inicial]. Um seguida, filmei a figura detalhadamente com um drone que a Revista UFO possui para este tipo de registros, um modelo DJI Phantom 3 Profissional que possui uma câmera com resolução 4K embarcada. As imagens são belíssimas [Veja acima]. As tomadas aéreas até que saíram boas, apesar de alguma interferência na comunicação com o drone, que esteve o tempo todo entre 100 e 200 m de minha posição e de 5 a 100 m de altura. Ocorre que, quando o aparelho se aproxima muito do solo e do agroglifo, mesmo à menor distância da base, há alguma estática — isso é muito comum de ocorrer em filmagens de agroglifos, e por isso elas são geralmente feitas a maior altitude.
Detalhe do agroglifo de Hackpen Hill de 23 de junho, como a perfeição das plantas dobradas
Fonte: ARQUIVO UFO
No dia seguinte foi a vez de inspecionar outra formação, esta bem próxima de Stonehenge, em um lugar chamado Yarnbury Castle, surgida em 24 de junho em uma plantação igualmente de trigo. É importante que se diga que durante o curto verão inglês, os fazendeiros revezam a plantação de pelo menos três culturas, em períodos bem pequenos: canola, cevada e, por último, trigo. Os agroglifos surgem sobre todas elas, mas com resultado visual diferente em cada uma — os mais belos estão nos campos de trigo, os últimos da temporada.
Todas as inspeções que fiz nos agroglifos ingleses nesta viagem, assim como as gravações com o drone da UFO, foram de imediato publicadas nas redes sociais da revista. A ideia era levar a informação de imediato a todos. Com Yarnbury Castle não foi diferente. Acompanhado de Newton Rampasso, lá estive sob Sol escaldante. O local é assim chamado por ali haver, a não mais do que 100 m do agroglifo, do outro lado da Rodovia A303, os restos de um castelo medieval.
A formação de Yarnbury Castle intrigou muito os pesquisadores porque ela tinha o que sugeria serem 6 “pétalas” em relevo produzidas pela dobra dos pés de trigo ao redor. Mas 4 delas estavam formadas por trigo não tocado, deixado intacto e contrastando com o trigo dobrado. E duas “pétalas” eram formadas por trigo que parecia intacto, mas que não estava — e esta é a intrigante questão. A partir do solo se vê um padrão bem diferente de tratamento dos pés de trigo. Só a investigação de campo pode revelar estas coisas.
Centro de Exposições de Círculos
Mas a viagem não foi apenas de visita, inspeção e filmagem dos agroglifos, que foram poucos no curto período em que permaneci na Inglaterra — logo ao voltar ao Brasil, a onda de novas formações tomou uma força descomunal com às vezes 2 e até 3 figuras no mesmo dia, uma mais espantosa do que a outra. A viagem também serviu para encontrar e trocar ideias com os poucos pesquisadores remanescentes do fenômeno, que se reuniram para o lançamento do Centro de Exposições de Círculos nas Plantações, na região de Alton Barnes.
O Centro é uma iniciativa conjunta do pesquisador alemão e veterano com mais de 25 anos de investigações de agroglifos Andreas Müller e da artista, empresária e ativista da pesquisa do fenômeno Monique Klinkenbergh. A dupla monta o centro e o mantém por 10 ou 20 dias durante o ápice do fenômeno no verão. O Centro desta vez teve uma área de uns 200 m2 repleta de painéis explicativos da história do fenômeno desde seus primórdios, já há quase 10 anos. É imensamente frequentado e a entrada a ele é gratuita.
E mais curioso é que há séries de agroglifos que vêm se repetindo ano após ano, diferentes entre si, mas em alguns casos semelhantes, que têm distintas assinaturas, como se fossem vários os “artistas” que as produziram, cada um deixando sua marca
O
último agroglifo visitado, este o mais antigo de todos, de 20 de junho, impôs duas limitações à sua inspeção e registro: a proibição do proprietário de entrar em suas terras e o fato de estar localizado em Devil’s Den, próximo a Clatford, também aqui em Wiltshire, a mais de 500 de m distância do local onde pude filmá-lo com o drone, ou seja, uma distância bastante limitadora devido à baixa resposta na comunicação com o equipamento. Quando eu o sobrevoei, quase duas semanas depois de ter sido descoberto, a agroglifo já estava bastante desfigurado, provavelmente pelo próprio fazendeiro.
Já próximo ao meu regresso ao Brasil também houve uma nova e impressionante formação, que requereria uma inspeção direta, mas infelizmente ela surgiu em Sulton Hill, na região de Essex, no sudoeste do país e a mais de 200 quilômetros de distância de onde eu estava. Para alcançá-la teria sido necessário passar pelo Grande Anel Viário de Londres, o que significava umas boas 6 horas de viagem, período em que um novo agroglifo poderia facilmente ocorrer mais perto.
Enfim, foi uma viagem excepcionalmente proveitosa pela possibilidade de conhecer mais sobre este desafiador fenômeno, estando dentro de vários e observando detalhadamente suas características. Agora é aguardar os agroglifos brasileiros se manifestarem neste ano, possivelmente, para aplicar neles os conceitos aprendidos na Inglaterra, principalmente com os pesquisadores veteranos que lá encontrei. Minha viagem foi possível graças à contribuição de amigos e dos membros do Grupo de Apoio à Ufologia (GAU) para fazer frente às despesas.