
Apesar de pouco conhecida, a ligação do espiritismo com seres extraterrestres é antiga. O francês Allan Kardec, codificador da doutrina espírita, já em 1868 se referia à existência de vida inteligente em outros mundos. Depois dele, muitos autores espíritas voltaram a tocar no assunto. Mas, curiosamente, nada se fala a respeito das naves extraplanetárias usadas pelos alienígenas em suas viagens, os enigmáticos discos voadores. Vamos tratar desse assunto reproduzindo, a seguir, três parágrafos do livro A Gênese, uma das muitas obras escritas por Kardec:
“O deserto inimaginável estende-se além das estrelas. Lá, em condições diferentes das do vosso planeta, novos mundos revelam-se e desdobram-se em formas de vida que as vossas concepções não podem imaginar, nem vossos estudos comprovar”.
“Aquele que vem de vosso sistema depara-se com a ação de outras leis regendo as manifestações de vida. Os novos caminhos que se apresentam em tão singulares regiões abrem-nos surpreendentes perspectivas”.
“Se nos transportarmos além de nossa nebulosa, veremos que nos cercam milhões de sóis e um número ainda maior de planetas habitados”.
Estas e outras passagens da obra do codificador do espiritismo evidenciam uma plena aceitação da existência de inúmeros planetas no universo e da possibilidade de serem habitados. Os espíritas, em geral, aceitam sem problemas a realidade da vida e inteligência extraterrestres e não crêem que os planetas a que nos referimos sejam compostos apenas de matéria inerte. Mas isso não significa que pensem ser a vida nestes mundos igual à terrestre. A mesma A Gênese nos alerta para que não tentemos ver, em torno de cada sol descrito, sistemas planetários iguais ao nosso. E também para o fato de lá não existirem somente três reinos – animal, vegetal e mineral –, como conhecemos na Terra.
“Assim como o rosto de nenhum homem é igual ao de outro, da mesma forma são diversas as civilizações espalhadas pelo espaço”, dizia Kardec em seu livro. “Elas divergem segundo as condições que lhes foram prescritas e de acordo com o papel que cabe a cada uma no cenário universal”. Em sua obra A Vida Universal ele também escreve que o fato de mundos extraterrestres serem moradas de seres inteligentes é uma questão que já não deveria mais causar dúvidas entre nós. “Se os astros que se harmonizam e seus vastos sistemas são habitados por inteligências, estas não se desconhecem. Pelo contrário, trazem marcado na fronte o mesmo destino e hão de se encontrar, temporariamente, segundo suas funções de vida”.
Profundamente consistentes com o pensamento ufológico da atualidade, estas observações, feitas há mais de um século, estão de acordo também com a idéia de muitos autores sobre a pluralidade dos mundos habitados. L. B. Taylor, em seu livro For All Mankind [Para toda a Humanidade], diz que não existem dois planetas iguais e que há grandes diferenças entre seus satélites. “Cada mundo está num estágio, tem sua história e terá um futuro diferente. Considerando como um todo, o Sistema Solar é comparável a um laboratório rico em quantidade e variedade de espécies”. E o homem terrestre é uma delas!
Cada mundo está num estágio, tem sua história e terá um futuro diferente. Considerando como um todo, o Sistema Solar é comparável a um laboratório rico em quantidade e variedade de espécies
– Allan Kardec
Ainda em A Gênese, ao falar dos seres humanos e dos extraterrestres, Kardec diz que no intervalo de suas existências corporais, os desencarnados formam a população espiritual da Terra. Segundo ele, a morte e o nascimento fazem com que as duas populações – os encarnados (vivos) e os desencarnados (espíritos) – se completem constantemente. Contudo, quando a Terra ou outro mundo necessitam de renovação, ocorrem épocas de grandes calamidades que provocam imigrações e emigrações. Ele observa, ainda, que esta troca populacional pode não se realizar num só planeta, como entre a Terra e o plano espiritual que lhe é próprio, mas entre este e um outro qualquer.
Uma destas imigrações de seres extraterrestres à Terra poderia ser a origem da chamada raça adâmica, simbolizada na Bíblia por Adão e Eva. Não é inviável pensar-se que quando estas criaturas aqui chegaram, há alguns milhares de anos, encontraram o planeta povoado por seres humanos primitivos, o que estaria de acordo com fatos geológicos e observações antropológicas. Uma dedução deste tipo é bastante lógica se, baseados nos livros sacros, notarmos que já na segunda geração os descendentes de Adão cultivaram o solo, trabalharam os metais, construíram cidades e dedicaram-se à arte. Isso pode ter dado um grande impulso às civilizações terrestres da época, uma vez que os habitantes de então, provavelmente não conheciam a maioria desses ofícios. Se aceitarmos esta hipótese, podemos presumir que os extraterrestres tivessem condições físicas que permitiram suas adaptações ao nosso planeta e o desenvolvimento, aqui, de sua civilização. Pode-se, portanto, considerar viável a possibilidade de habitantes de outros mundos terem semelhanças físicas, espirituais e mentais com o homem. Talvez mesmo, e não é a primeira vez que se fala nisto, sejamos seus descendentes.
Adão e Eva Extraterrestres? — Recentemente, cientistas exploraram alguns planetas do Sistema Solar por meio de aparelhos sofisticados e não encontraram nenhum sinal de vida igual ou aproximado da nossa – na verdade, não acharam vestígio de qualquer tipo de vida. Kardec, entretanto, parece ter previsto esta possibilidade, pois fez uma interessante observação que é bastante aplicável nos dias de hoje. “Se jamais houvéssemos visto um peixe, não poderíamos conceber um ser vivendo na água e não teríamos a menor idéia de sua estrutura”, disse em seu longo trabalho de codificação do espiritismo, filosofia seguida por milhões de pessoas em todo o mundo e vista até mesmo pela potente Igreja Católica como consistente e bem fundamentada. “Por que, então, não admitir que outras formas de vida possam viver em outros planetas, num meio diverso do nosso?”, completa.
Sobre a inexistência de vida na Lua, conforme ficou provado com inúmeras viagens que russos e norte-americanos fizeram até sua superfície, Kardec também tem explicações. “Pudemos observar, até agora, que na Lua não vivem seres como nós. Mas como não temos conhecimento de sua estrutura, não podemos dizer com certeza se nela existem ou não outros tipo de vida”. Segundo o francês, por meio de simples raciocíni
o podemos chegar a uma conclusão favorável à pluralidade dos mundos. Kardec afirma que tal raciocínio é confirmado pelas revelações dos espíritos, que nos dizem que os mundos são habitados por seres mais ou menos evoluídos que nós. “Hoje sabemos ser possível entrar em contato com eles e obter esclarecimento sobre seu estado. Assim, tudo é povoado no universo. Planetas sólidos, o ar, as entranhas da Terra e até as profundezas etéreas”.
Por várias vezes, textos publicados naliteratura espírita descreveram extraterrestres e falaram sobre seus costumes, moradias, alimentação e meios de transporte e comunicação. Sobre os seres que viveriam em Júpiter, por exemplo, a doutrina espírita tem como certo que sua conformação física é quase igual a nossa, mas menos densa e com um peso específico menor. Tal informação não é oriunda de dedução empírica ou observação experimental, mas diretamente dos espíritos, que se comunicariam com os médiuns e lhes ditariam tais fatos. A referida densidade dos corpos dos eventuais jupiterianos, ainda segundo a mesma doutrina, é tão pequena que pode ser comparada aos nossos fluídos imponderáveis, tendo aspecto vaporoso, imaterial e luminoso – principalmente nos contornos do rosto e da cabeça.
Este brilho magnético é semelhante àquele que os artistas sacros simbolizam na auréola dos santos de retratos bíblicos. E como a matéria de seus corpos é mais depurada, com a morte ela se dissipa sem passar pelo estado de decomposição. Assim, o ser de Júpiter é grande, maior que o terráqueo, e seu desenvolvimento é rápido. “Sua infância dura apenas alguns meses e a duração de sua vida equivale a cinco de nossos séculos”, contam as fontes espíritas. Quanto à sua locomoção, esta é fácil e obtida pelo esforço de vontade, pois, como a densidade de seu corpo é pouco maior do que a atmosférica, ele se liberta facilmente da atração planetária. Enquanto aqui na Terra andamos, eles levitam pela superfície com a facilidade de um pássaro no ar.
Jupiterianos na Terra? — Victorien Sardou, jovem literato contemporâneo de Allan Kardec, desenhou diversas cenas jupiterianas imortalizadas com a popularização da filosofia espírita. Artista sem habilidade, era médium e foi, segundo diz, influenciado por um habitante de Júpiter que viveu na Terra séculos atrás, Bernard Palissy, oleiro em sua vida terrena. Palissy se manifestava através do médium Sardou e o fez produzir um grande número de pinturas onde retratava habitações, personalidades e cenas do dia-a-dia. Também explicou que, desde que um ser possua um corpo físico, por menos denso que seja, necessita não somente de alimentação e vestuário mas, ainda, de moradia e organização social. As descrições que o oleiro fez de Júpiter são curiosas: disse que a atmosfera desse planeta é diferente da terrestre, sua água é mais etérea e se parece mais com vapor, e que a matéria sólida quase não existe como a conhecemos na Terra. Algumas plantas se assemelhariam às nossas e existiriam flores com uma textura tão delicada que as tornariam quase transparentes.
Ao falar sobre as habitações jupiterianas, Palissy disse que o material com o qual são construídas as casas do planeta funde-se sob a pressão dos dedos humanos, comose fosse neve, e que este é um dos materiais mais resistentes do lugar. As vidraças são feitas por uma espécie de vidro líquido e colorido que endurece ao tomar contato com o ar. Palissy disse ainda que “a imobilidade das moradias era um entrave, e por isso descobriu-se uma maneira de fazê-las leves e transportáveis a qualquer lugar do planeta”. Segundo ele, durante certas épocas do ano o céu fica escurecido por uma nuvem de casas que flutuam por todos os cantos da atmosfera de Júpiter. “É um passar ininterrupto de moradias de várias formas, cores e tamanhos. Somente quando finda a temporada o céu fica livre destes curiosos pássaros”, declarou através do médium.
Absurdo? Para a Comunidade Ufológica Brasileira, evidentemente que sim. Realidade? Para os espíritas, nada mais natural. Quem está com a razão? Uma vez que não se possa fazer a checagem desses fatos de forma mensurável e inequívoca, é impossível saber. Por outro lado, as teorias espíritas sobre vida extraterrestre, defendidas por Kardec e outros mais de um século antes que pudéssemos pensar razoavelmente no assunto e, menos ainda, em discos voadores, impressionam pela precisão em muitos campos. Esse pode ser um bom antecedente para levarmos um pouco mais a sério tais afirmações. Pensemos no peixe de Kardec, aquele que não teríamos sequer condições de imaginar, caso nunca tivéssemos visto um.
Comunicação Telepática — Mas há mais informações sobre os jupiterianos: eles se comunicariam normalmente por telepatia, mas também utilizariam linguagem articulada. Os espíritas crêem que têm sua clarividência permanentemente ativa, o que chamam de “segunda visão”. Seu estado rotineiro pode ser comparado ao de um sonâmbulo lúcido. “É por isso que podem comunicar-se com os espíritos com uma facilidade maior do que habitantes de mundos mais grossos e materiais”, afirmou Kardec, que ainda informou, sobre as condições de luz e calor nos mundos extraterrenos, que sua existência nesses lugares deve ser apropriada a cada meio específico. “Que impossibilidade haveria para a eletricidade ser mais abundante do que na Terra e desempenhar papéis cujos efeitos não compreendemos? Esses mundos podem conter em si mesmos as fontes de luz e calor de que necessitam”, disse.
Entretanto, não foi só Kardec que se manifestou a respeito do tema. Antes dele, Margeret Caldwell Fox, uma das irmãs Fox que deram origem ao espiritismo na América do Norte, havia mencionado o assunto. Posteriormente, numerosas mensagens surgiram em diversas partes do globo. No Brasil, o médium Chico Xavier psicografou mensagens que teriam sido enviadas pelo espírito do jornalista Humberto de Campos e por Maria João de Deus. Hercílio Maes recebeu do espírito Ramatis textos que deram origem à obra A Vida no Planeta Marte, onde explica que os marcianos não apresentam as mesmas características substanciais dos terráqueos, pois, apesa
r de terem a mesma forma, vibram num plano mais energético que material. Seu mundo se situaria num campo vibratório adequado a seu corpo físico, ou seja, menos material que o nosso.
José Neufel é outro autor espírita que tratou do tema. Ele publicou que, de acordo com a ciência, planos vibratórios poderiam sobrepor-se ou interpenetrar-se. Disse que nosso aparelhamento sensorial é apto à percepção de fenômenos materiais situados entre as fronteiras do plano vibratório em que vivemos. “Normalmente, não podemos transpô-las e penetrar em outros planos vibratórios e graus energéticos. Logo, o fato de não percebemos certas vibrações não significa que inexistam, mas apenas que estão aquém ou além dos limites de nosso mundo sensorial”. Segundo seu raciocínio muito seguido pelos espíritas, se formos a Marte ou a outros planetas, é provável que os consideremos inteiramente desérticos ou sem vida. “Não é impossível, todavia, que neles existam mundos organizados e muito mais adiantados que o nosso, porém num outro plano vibratório e imperceptíveis aos nossos sentidos”.
Aerobus, Uma Forma Voadora — Mas, curiosamente, na literatura espírita não encontramos qualquer menção às naves espaciais avistadas por pessoas de todos os lugares do mundo, em todos os tempos. Chico Xavier, em seu livro Nosso Lar, fala apenas do “aerobus”, uma forma voadora. Também as vozes paranormais gravadas em fitas aludem a meios de transporte aéreo, mas segundo pesquisadores, não originários de planos espirituais próximos à Terra. Assim, apesar de aceitar a existência de diversos planetas habitados com vida inteligente, o espiritismo ainda não oferece explicações sobre a locomoção dos extraterrestres por meio de veículos, nem sobre fatos comuns do contexto ufológico – como as abduções, por exemplo. As comunicações existentes entre os homens e habitantes de outros planetas podem, segundo a doutrina espírita, ser feitas por intermédio de médiuns que recebem mensagens de espíritos que estão em comunicação com os extraterrestres – que podem também ser espíritos de maior ou menor grau de evolução, sem seu próprio sistema planetário. Encerraremos este artigo citando os dois últimos parágrafos da obra de Neufel, Buscando Vida nas Estrelas. Neles o autor sintetiza muito bem o pensamento dos espíritas:
“O homem, na sua extrema vaidade e seu inescondível orgulho, considera-se o rei da criação, quando, na realidade, é um ser ainda no início da escala evolutiva universal”.
“É esta convicção que o espiritismo procura transmitir, bem como o sentimento de que, ao melhorarmos nosso íntimo, retificarmos nossas falhas e imperfeições, aprimoramos nossos espíritos em múltiplas e sucessivas existências, subimos na escala evolutiva e conquistamos o direito de viver em mundos melhores, migrando por planetas, estrelas e galáxias, numa apoteose gloriosa e sublime da ascensão espiritual”.