A Comunidade Ufológica Brasileira foi tomada de enorme surpresa ao assistir a edição de 20 de outubro do Jornal Nacional, da Rede Globo, quando um estupefato William Bonner declarou, na abertura do noticiário, que a Inglaterra abriu alguns de seus arquivos sobre discos voadores. A notícia veio sem qualquer aviso prévio para os ufólogos do país, que, ainda que bem informados sobre o andamento da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, não poderiam esperar que justamente o governo inglês, histórico aliado dos Estados Unidos quando o assunto é acobertamento ufológico, quebrasse a tradição e fizesse revelações públicas de seus segredos na área. A matéria, que só foi exibida no último bloco do programa, como estratégia habitual de marketing quando o assunto é Ufologia, mostrou que os ingleses reconhecem até mesmo que tentaram abater naves alienígenas sobre o país, em 1957, e que um Boeing italiano chegando ao Aeroporto de Heathrow, em Londres, em 1991, quase colidiu com outro.
Ao final do Jornal Nacional, fui tomado por uma sensação que foi rapidamente da alegria à frustração. A alegria veio porque o mundo está se comportando como era de se supor perante um fenômeno já completamente inegável e indiscutível – além do que, não é todo dia que uma potência como a Grã-Bretanha resolve abrir arquivos ufológicos mantidos há sete chaves há décadas. Já a frustração veio porque, ao contrário dos ingleses, nosso país parece ter travado suas máquinas burocráticas quanto à importante presença alienígena na Terra. “O que falta para ocorrer o mesmo com o Brasil?” Esta é a pergunta que incomoda todo ufólogo sério desta Nação. Não é novidade para ninguém que a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) vem tentando, há pelo menos 10 anos, o que os ingleses conseguiram com muito menos esforço. Em 26 de dezembro, veremos o Dossiê UFO Brasil completar seu primeiro aniversário, após ser protocolado inicialmente na Casa Civil da Presidência da República, sem uma decisão de nossas autoridades em acatar ou não os requerimentos da Comunidade Ufológica Brasileira.
Forte impacto na Ufologia Brasileira
No dia seguinte ao anúncio do Jornal Nacional, a imprensa de todo o país repetia, com mais ou menos detalhes, as informações já conhecidas. E imediatamente após a confirmação da liberação inglesa, os integrantes da CBU já estudavam qual seria a melhor forma de aproveitar esta oportunidade ímpar para cobrar uma atitude do Governo Brasileiro com relação ao Dossiê, que pede aqui exatamente o que o Ministério da Defesa da Inglaterra fez lá. Começávamos naquele 20 de outubro, de forma agitada, um período significativo para a Ufologia Brasileira, que, no domingo seguinte, dia 26, teria forte impacto sobre as atividades ufológicas nacionais durante a realização do evento Contagem Regressiva para o Contato, em Curitiba, quando se deu a implantação do Instituto Galileo Galilei de Pesquisas Avançadas sobre Vida Extraterrestre (IGG), do qual fazem parte alguns membros da CBU [Leia Mensagem do Editor].
A idéia de que a Inglaterra é conivente com os Estados Unidos em matéria de acobertamento ufológico não é verdadeira. Somos uma nação soberana e que decide seus próprios desígneos, e há um forte anseio da população para que o Fenômeno UFO seja esclarecido
– Nick Pope
O IGG, como também já foi amplamente divulgado, pretende utilizar todas as formas de conhecimento adquirido pela humanidade sobre a existência de civilizações extraterrestres, visando abrir uma linha de comunicação e troca de informações entre eles, os visitantes, e nós, humanos terrestres. Neste sentido, arquivos oficiais sobre o assunto, originados das mais diversas partes do mundo, precisam e devem ser consultados. O staff da Revista UFO nas ilhas britânicas já foi acionado e está fazendo um levantamento abrangente da documentação liberada pelo MoD – como é chamado Ministério da Defesa daquele país [De Ministry of Defense] –, que logo será traduzida para o português e publicada pela UFO. Estima-se que, se a abertura inglesa chegar pelo menos perto da que tivemos na França – a primeira potência mundial a disponibilizar seus registros para a sociedade através das investigações do Comitê Cometa [Veja edição UFO 133] –, uma pressão insustentável deverá cair em cima das autoridades de nações que insistem em manter seus arquivos fechados ao público. O IGG já encara sua primeira missão tendo esta grande notícia pela frente.
Decrepitude da ditadura do silêncio
Confirmado o sucesso de outra ação condenatória da decrepitude desta ditadura sigilosa, imposta por autoridades nacionais e estrangeiras a vários dos casos ocorridos em solo inglês, já podemos extrair algumas “pérolas” antes levantadas por ufólogos, mas negadas pela Real Força Aérea Britânica (RAF) e pela Força Aérea Norte-Americana (USAF). Isso mesmo, a Aeronáutica dos EUA sempre interferiu negativamente nestes episódios, e não só na Inglaterra. Foi por esta razão que, antes da liberação de 20 outubro, pairava no ar certo desconforto entre os ufólogos ingleses quanto à postura submissa de seus militares ante os interesses norte-americanos. Nick Pope, correspondente internacional da Revista UFO naquele país, que atuou como uma espécie de “diretor de assuntos ufológicos” do MoD, quando esteve no Brasil participando do o II Fórum Mundial de Ufologia, ao ser questionado sobre esta submissão, negou tão enfaticamente a versão que quase abandonou sua compostura elegantemente britânica [Veja edição UFO 137]. A pergunta que tirou o sossego do colega, muito oportuna para o momento em que vários representantes nacionais e internacionais se reuniam para divulgar ações contra o acobertamento mundial, foi tão afirmativa sobre a intervenção global dos norte-americanos que nem parecia uma pergunta.
Espantosas perseguições aéreas
Mas se a reação de Pope chegou a quase pôr em dúvida sua afirmação, ela tinha um motivo: sua determinação em colocar um ponto-final neste desconforto, como de fato está ocorrendo, graças a ele e a outros grandes nomes da Ufologia atual. Uma das pérolas a que nos referimos é o caso recentemente publicado na revista científica inglesa New Scientist, retirado dos arquivos liberados pelo governo. A publicação reporta que dois caças da USAF, num vôo sobre território inglês ordenado pela Base Aérea da RAF, em Kent, em maio de 1957, receberam ordens para abater um
UFO de dimensões gigantescas, “semelhantes às de um porta-aviões”, disse o piloto de um deles, tenente Milton Torres. Segundo Torres, após o início da perseguição e na iminência dos disparos dos mísseis de seu caça F86 Sabre contra o UFO, o objeto, antes estático, se evadiu a uma velocidade superior a 12.000 km/h, o que o tornou impossível de ser atingido. Já se sabe há décadas que, durante a Guerra Fria, quando este fato ocorreu, várias aeronaves e bases militares norte-americanas se instalaram na Inglaterra, em cumprimento aos acordos que criaram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), e muitas se envolveram com UFOs.
Outra pérola que certamente deve ser disponibilizada para consulta pública através do site dos Arquivos Nacionais do Reino Unido – agora com mais detalhes, para desespero dos insistentes acobertadores norte-americanos – é o Caso Rendlesham, ocorrido na floresta homônima, situada a leste da cidade de Ipswich, condado de Suffolk. Incidente dos mais famosos, envolvendo o encontro entre UFOs e militares dos EUA em território inglês, o caso foi tão comentado e estudado que se tornou um dos clássicos da Ufologia Mundial. O canal The History Channel chegou a chamá-lo de “O Caso Roswell Inglês”, dedicando ao mesmo um dos melhores episódios da famosa série Arquivos Extraterrestres. Na época da ocorrência, Natal de 1980, as bases militares de Bentwaters e de Woodbridge, que possuem territórios divididos pela enorme mata de pinheiros, eram arrendadas aos Estados Unidos, conforme afirmam os arquivos da OTAN e da Defesa britânica. Elas foram palcos do avistamento, aterrissagem e interação de um UFO triangular luminoso com várias testemunhas militares norte-americanas e inglesas, que estavam de plantão. Este caso já foi admitido pelo Ministério da Defesa britânico, em 2002, mas com poucos detalhes e sem os principais documentos.
“Mídia tupiniquim”
A maior prova das ocorrências foram os depoimentos dos principais militares envolvidos, o coronel Walter Halt e o sargento James Penniston, que confirmaram tudo em declarações prestadas no Clube Nacional de Imprensa de Washington, em novembro de 2007 [Veja edição UFO 137]. Mas se ainda não está claro para alguns membros do Governo e da imprensa em geral o que tudo isso tem a ver com a nossa morosa República e seus melancólicos meios de comunicação em massa, comumente alcunhados de “mídia tupiniquim” pelos próprios analistas de notícias, cabe relembrar alguns detalhes da história ufológica brasileira. O País foi um dos primeiros a estudar e a formular oficial e cientificamente teorias sobre a existência de vida inteligente fora da Terra, quando, em 1954, o coronel João Adil de Oliveira reuniu militares, membros da imprensa e da sociedade carioca na Escola Superior de Guerra (ESG), no Rio de Janeiro, para admitir que estávamos sendo visitados por outras espécies cósmicas.
Este pioneirismo atravessa décadas, como relatado no Dossiê UFO Brasil. Tudo isto está descrito em documentos públicos, legalmente passíveis de serem consultados pelos cidadãos. O processo de divulgação destas pesquisas só foi interrompido após o golpe militar, que lacrou definitivamente as portas da transparência oficial durante 30 longos anos, sob os atentos e mais do que colaboradores olhos da CIA, a agência de espionagem norte-americana, até que surgisse a Constituição de 1985.
Retorno da consciência global
No final desta época obscura surgiu a Revista UFO, junto com o registro de diversos grupos ufológicos, cujos membros até então trabalhavam no mais absoluto anonimato. Enquanto isto, países do chamado Primeiro Mundo raramente abordavam a questão oficial e publicamente, como foi o caso da França, em 1976 [Veja o livro Dossiê Cometa, código LIV-021 da coleção Biblioteca UFO. Consulte a seção Shopping UFO desta edição]. No entanto, no final do século passado, parece ter havido uma retomada da consciência global, quando vários países latino-americanos começaram a abrir seus arquivos, uma vez que não há perigo algum, pois esta é uma questão pacífica. Começamos então, no I Fórum Mundial de Ufologia, em dezembro de 1997, a longa caminhada da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) em sua luta para que o mesmo ocorra em nosso país. Foi esta batalha que levou à eclosão, em 2004, da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que em dezembro de 2006 entrou em sua segunda fase, com o protocolo do Dossiê UFO Brasil na Comissão de Averiguação e Análise de Assuntos Sigilosos (CAAIS), órgão da Casa Civil da Presidência da República.
Com o movimento dos ufólogos brasileiros, o País também voltou ao seleto grupo de nações colaboradoras para o progresso da Ufologia em 2005, apenas 10 meses após o início da citada campanha, quando ocorreu a visita oficial e inédita dos ufólogos da CBU ao Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) e ao Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), em Brasília, durante a qual tiveram acesso a alguns arquivos secretos de nossa Aeronáutica, confirmando que a documentação que a entidade requer oficialmente através do Dossiê realmente existe. Aquele foi um marco importante e raras vezes registrado em outras nações, amplamente divulgado e reconhecido como tal. Mas, mesmo com tudo isto, ainda persiste a pergunta colocada inicialmente: “O que falta para os documentos ufológicos brasileiros, vencidos pela Lei, serem finalmente todos liberados?” Será que a “notícia para inglês ver” que o governo precisa é a de que um disco voador se espatifou no telhado do Palácio do Planalto? Obviamente, a se julgar pela renitente morosidade de nossas autoridades, isto só pode se tratar de uma piada.
para breve a liberação do Caso Rendleshan.
De nossa parte, todos os esforços foram colocados à prova. Os principais órgãos públicos que detêm, que são responsáveis pela guarda ou que têm a responsabilidade de liberar os tão cobiçados arquivos, foram instados por meio da Lei, cujo protocolo completará um ano na virada de 2008 para 2009. Ou seja, os prazos legais para respostas – um mês para cada solicitação oficialmente registrada – expiraram. Todos os membros da CAAIS, criada pela Lei 11.111/2005, pertencentes à direção de sete ministérios do Governo Lula, estão cientes e foram cobrados neste ano que se finda, assim como as três Forças Armadas, através do Ministério da Defesa. Destas, até o momento, só a Aeronáutica se manifestou positiva e abertamente sobre os anseios da Comunidade Ufológica Brasileira – mas só ela não representa o Ministério da Defesa. A Casa Civil, cuja ministra Dilma Rousseff é a coordenadora da CAAIS, é semanalmente cobrada por meio de telefonemas que membros da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) disparam à Subchefia de Assuntos Jurídicos (SAJ). Pouco, ou quase nada, nos é informado sobre o andamento do processo.
Diante deste descalabro e da total falta de respeito do Governo Brasileiro com o cidadão e as próprias leis do País, não nos resta alternativa a não ser acionar a Justiça. O ato se dará através de uma petição de mandado de segurança, que é uma espécie de habeas data coletivo, a ser impetrado no Supremo Tribunal Federal (STF), nas próximas semanas. Este “plano B” já fora pensado pela assessoria jurídica da CBU, mas só seria posto em prática se todas as tentativas, apelos e opções de negociação para fazer a Lei valer fossem tentadas em 2008. Isso de nada adiantou, não nos deixando alternativa. Ao que tudo indica, no início de 2009, teremos uma nova fase da campanha UFOs: Liberdade de Informações Já. Começaremos cantando “parabéns pra você” em comemoração ao primeiro aniversário do Dossiê UFO Brasil, debaixo dos belos arcos projetados pelo arquiteto Oscar Niemeyer, em Brasília. Só que, desta vez, a comemoração não se dará no Palácio do Planalto, e sim do outro lado da Praça dos Três Poderes, na entrada do STF