A Argentina tem uma extensa literatura ufológica, com registro de casos impressionantes que vêm de longa data, muitos dos quais confundidos pelas testemunhas com fenômenos paranormais e, portanto, não chegaram aos ouvidos dos pesquisadores. Outros, ao contrário, foram intensamente pesquisados e analisados, como o caso que veremos neste artigo. O fato em questão foi descoberto nos anos 80 e pesquisado naquela e nas décadas seguintes pelo grupo Investigación de la Vida Extraterrestre (IVE), que realizava intensamente pesquisas e investigações de campo pela Argentina. Em julho de 1983, parte do grupo havia planejado uma viagem a Cerros Colorados, uma província de Córdoba, rica em pinturas rupestres. Na volta, tomou-se conhecimento, pela imprensa, do caso de Julio Platner e foi possível se chegar ao local dos fatos apenas três dias após a experiência.
Chegar à cidade logo após os acontecimentos proporcionou aos pesquisadores do IVE a possibilidade de comparar situações e relatos ao longo dos anos, enriquecendo a pesquisa e a compreensão do fenômeno ufológico em si. Para este autor e muitos outros estudiosos argentinos, o Caso Platner é um dos mais importantes de toda a casuística do país e Julio Platner se mostrou uma testemunha confiável e sólida, o que deu mais peso a sua estranha experiência. Tudo se deu na cidade de Winifreda, a 670 km de Rosário e 45 km de Santa Rosa, capital da província de La Pampa. O pequeno povoado de 1.700 habitantes viu seu monótono ritmo de vida ser completamente alterado em 09 de agosto de 1983 por um acontecimento de características extraordinárias, protagonizado por um de seus habitantes.
Platner, à época dos fatos, tinha 33 anos e era um homem alto, saudável e corpulento, cujo grau de educação resumia-se a ter completado o ensino fundamental — era o tipo de sujeito que lia apenas as manchetes dos jornais e notícias esporádicas que lhe chamassem a atenção. Era calmo, honesto, trabalhador e tinha muitas amizades, sendo respeitado, querido e digno da confiança dos moradores da pequena Winifreda. A testemunha vivia de maneira simples com sua família, composta por mulher e três filhos, Julio Ariel, Miguel Angel e Diego Mariano, que à época contavam com 10, 7 e 1 ano, respectivamente. Platner se dedicava ao negócio de financiamento de empresas e cereais e era empregado de algumas companhias locais.
Em 09 de agosto de 1983, a testemunha dirigiu até a fazenda de Antonio Fischer, situada 12 km ao norte da cidade, na Estrada 35, que une as cidades de Castex e Winifreda. Ao sair do local, por volta das 19h30, desceu de seu veículo, uma caminhonete da marca Fiat, para abrir a porteira. Naquele momento, percebeu uma forte luz que o cegou por completo e em um gesto natural de defesa cobriu o rosto com as mãos — o homem também ouviu um estranho apito, como de uma turbina. Platner não viu um objeto ou nada parecido, apenas a luz. Embora os jornais, quando tomaram conhecimento do evento, falassem de naves, UFOs e discos voadores, o homem foi categórico em afirmar que apenas viu uma luz muito forte. “Quando me abaixei para abrir a porteira, foi como se alguém tivesse colocado um refletor em meu rosto. Como fazemos perto de uma máquina de solda elétrica que solta muitos raios, tive que cobrir a vista. Foi isso que vi, e depois não me lembro de mais nada”, declarou à época.
A próxima coisa da qual Platner se lembrava era de estar em um quarto que se parecia com um teatro. A sala era esférica e as paredes, de cor bege claro, pareciam estofadas. Ele notou algumas estruturas que lembravam vitrines saindo do estofado. Sua tonalidade era semelhante à das paredes, mas pareciam ser mais claras e sem brilho, como o resto do quarto. A sala estava iluminada por uma luz branca muito clara e natural, que não machucava a vista, não se distinguia sua fonte. Nas palavras de Platner, “era uma sala, apenas. Mas algo como uma bola, que estava coberta como se fosse estofada, como eu nunca vi, estava tão clara como se fosse de dia. Não pude distinguir de onde vinha a luz, porque ali não havia nada, um foco, uma lâmpada ou uma fonte. Estava claro, muito claro e tranquilo”.
Três homens e uma mulher
A testemunha disse que estava sentado em uma cadeira parecida com as que são usadas por dentistas, aparentemente feita do mesmo material que as paredes e o estofado. Também relatou que tinha a impressão de que a cadeira estava suspensa no ar, sem nenhum tipo de sustentação, e que se sentia muito bem acomodado. Ao seu redor, Platner notou a presença de quatro seres humanoides, três homens e uma mulher, com altura de aproximadamente 1,67 m e corpos atléticos. Não pôde notar se o que vestiam era um traje inteiriço muito ajustado ao corpo ou se o que via era sua pele, de cor semelhante à da sala. Distinguiu lábios, mas sem saber se faziam parte do rosto ou da vestimenta. Diferenciou claramente uma espécie de bota.
O que mais impressionou Julio Platner, juntamente com a grande tranquilidade que sentia, foram os olhos dos alienígenas — eram saltados, opacos, grandes, sem pálpebras e se sobressaíam do rosto, enquanto olhavam fixamente. Suas orelhas estavam bem coladas ao crânio e suas mãos tinham cinco dedos. A mulher se diferenciava por parecer humana e ser mais magra do que os homens. Nenhum deles tinha cabelo. Em frente à testemunha, porém afastados, estavam um dos homens e a mulher. Os outros dois estavam a seu lado, um à direita e outro à esquerda. Platner quis falar, mas não pôde emitir nenhum som. Porém, percebeu que sua pergunta era respondida sem que ouvisse vozes. Ele recebeu a resposta como um pensamento em forma de palavras. O mesmo lhe indicava que permanecesse tranquilo, que havia milhares de casos como o seu e que, se ele quisesse, poderia contar sua história a outras pessoas. Algumas iriam acreditar e outras não, lhe disseram. Os seres lhe transmitiam uma sensação de total tranquilidade.
Em dado momento, a mulher se aproximou como se deslizasse no ar, colocando a mão direita sobre a mão esquerda de Platner e o ser parado à sua direita fez o mesmo por sobre seu ombro esquerdo. Repentinamente, apareceu nas mãos da entidade da esquerda uma espécie de tubo, composto por uma metade rígida e a restante flexível, transparente, com aproximadamente 20 cm e da mesma cor da sala. O observador não pôde notar se o ser segurava aquilo desde o início ou se o tirara de uma das tais vitrines. Os extraterrestres colocaram a parte rígida do tubo no punho de sua mão esquerda e ele não sentiu dor ou sequer o toque — Platner podia notar o contato com aquele aparelho, mas não o sentia, assim como as mãos dos alienígenas sobre si, embora pudesse vê-las. Não havia pressão.
Experiência surreal
Depois, colocaram a parte flexível e
mais fina do tubo na dobra de seu cotovelo e a testemunha viu o sangue subindo até a parte rígida do instrumento, mas, ao contrário das extrações comuns, ele não sentia pressão alguma. Ao tentar tocar o ser à sua direita, Platner encostou em algo invisível, o mesmo acontecendo quando tentou se levantar. Ao fazê-lo, sentiu que bateu a testa em algo também invisível. Tal situação nos remete à outra, acontecida em 06 de setembro de 1978, na cidade de Venado Tuerto, igualmente na Argentina, quando o menino Juan Perez tentou tocar os seres e os elementos da suposta nave e percebeu a presença de uma parede invisível que os seres atravessavam sem o menor problema, mas ele não.
Platner declarou que o ser que estava à sua direita “tinha uma das mãos sobre o meu ombro, eu via que ela estava apoiada, mas não sentia nenhuma pressão. Quis tocá-lo e senti como se estivesse rodeado por um recipiente de vidro, como um cristal invisível. Além disso, em um determinado momento, tentei levantar e toquei minha testa contra algo, contra essa espécie de vidro”. Terminada a extração, a testemunha se ergueu sem problemas e viu que nenhum dos seres estava mais ao seu redor. O homem sentia que estava em pé sobre algo solto e que flutuava. Durante a experiência, algo entre 30 minutos e 35 minutos — dos quais se lembra de apenas sete ou 8 minutos —, se deu conta de que não tinha seu relógio, nem a blusa e a jaqueta que vestia e não lembrava se tinha seu anel de casamento no dedo. Sua camisa estava com as mangas arregaçadas.
De volta à estrada
Quando tentou caminhar, ainda dentro da nave alienígena, viu-se instantaneamente dentro de sua caminhonete e com as mãos sobre o volante. Surpreso, Platner começou a olhar para todos os lados. Sua primeira reação foi ligar o motor e sair dali. Mas, ao acender as luzes, percebeu que estava a 19 km da porteira da fazenda de Fischer, lugar do início da experiência. Ele estava na Estrada 11, de terra, que une à Estrada 35 com a cidade de Villa Mirasol — o carro estava posicionado de oeste para leste. Quando chegou ao cruzamento das Estradas 11 e 35, lembrando-se de tudo o que tinha acontecido com muita tranquilidade, recordou-se também de que a porteira havia ficado aberta e que Fischer lhe havia recomendado deixá-la fechada por causa dos animais da fazenda. Ele então voltou à propriedade e, ao chegar, encontrou a porteira aberta.
Era algo como uma bola, que estava coberta como se fosse estofada. Estava tão clara como se fosse de dia. Não pude distinguir de onde vinha a luz, porque ali não havia nada, um foco, uma lâmpada ou uma fonte. Estava claro, muito claro e era muito tranquilo
Antes de seguir viagem, aproveitou para olhar seu braço esquerdo. Platner não viu nenhum tipo de marca nem gota de sangue, mas sim uma espécie de casquinha na dobra do cotovelo. Ele foi embora, se perguntando se aquilo realmente havia acontecido ou se fora produto de um sonho ou delírio. Chegou ao seu local de trabalho por volta de 20h25 e não contou nada a ninguém, mas estava muito tranquilo. Porém, ao chegar em casa, viu seus filhos e se desesperou, pensando neles e em sua pessoa. E contou-lhes tudo. Naquela noite a testemunha não dormiu porque se lembrava de todo o acontecimento repetidamente e sentia ardência nas marcas. No dia seguinte, voltou ao local e comprovou, pelos rastros dos pneus na Estrada 11 e na frente da porteira, que algo estranho lhe havia acontecido — os pneus da caminhonete deixavam sulcos distintos e inconfundíveis, e Platner viu que as marcas paravam a 1,5 m da porteira, mostrando o trajeto interrompido até a mesma. Na Estrada 11, o caminho de terra onde ele acordou, as marcas apareciam do nada.
Investigação policial
Naquele mesmo dia, Platner contou sua experiência a Adolfo Pizarro, um médico conhecido na região, que examinou as marcas em seu braço [Veja box]. Sem sinais físicos no local dos acontecimentos, as evidências mais claras do fato eram as marcas no braço esquerdo de Platner e os efeitos observados sobre os animais na fazenda de Fischer. Além das marcas dos pneus do carro, houve também outras pistas, como cabos de telégrafo cortados e depois arrumados, que passavam sobre a porteira da estância de Fischer e, por último, uma estranha explosão ouvida a muitos quilômetros, na quarta-feira, dia 11 de agosto, como analisaremos mais tarde. Tais situações não são acontecimentos isolados dentro da fenomenologia das abduções, mas há nelas padrões comuns tanto em casos nacionais como em estrangeiros — o que adiciona uma riqueza de informações que tendem a aumentar ou diminuir a certeza do acontecimento.
A doutora Ana Priotti, uma bioquímica que analisou as marcas no braço de Julio Platner, nos informou que as mesmas correspondiam a uma extração de sangue não convencional, pois não existia furo. Ela relatou que havia diferenças de tamanho nos cortes e uma pápula [Elevação da pele] na dobra do cotovelo, como se houvesse sido feita uma absorção ou sucção. O que poucos sabem é que houve uma investigação oficial em torno do caso, levada a cabo pelo pessoal da polícia da província. Quando Platner conversou com Pizarro, o médico, após ver as lesões nos braços da testemunha, ficou intrigado com elas e com a estranheza do relato e efetuou uma denúncia policial. A partir daí, o chefe de polícia da província interveio diretamente no caso e, com o pessoal da Prefeitura de Winifreda, investigou os acontecimentos.
Estranhos efeitos físicos
A investigação foi feita da seguinte forma: os policiais foram ao campo e tomaram o testemunho de Antônio Fischer, constatando na ocasião que os cabos telegráficos estavam queimados — motivo da investigação não foi apenas a denúncia de Pizarro, mas principalmente a repercussão do caso. Os policiais tratavam de estabelecer se por trás daquilo havia algum tipo de delito encoberto. Ao comprovar que a única coisa estranha era o caso em si, deram por terminada a investigação sem emitir um parecer a respeito. A informação chegou à imprensa justamente pela denúncia policial, e, segundo o testemunho do próprio Platner, ele não pensava em deixar o acontecimento se tornar público. O cabo Carlos Ovídio Ponce, da polícia de Winifreda, que participou da primeira investigação sobre o caso, nos trouxe alguns dados interessantes: “Onde a luz cegou Platner, a linha telegráfica que une Winifreda a Santa Rosa estava cortada. Parecia queimada. Na quarta-feira se ouviu uma explosão em diferentes localidades, por volta das 17h50. Pode ter sido um avião, mas diante do grande susto das pessoas, o fato aumentou o fenômeno visto por Platner”.
Entrevistamos Antônio Fischer, um homem de grande simplicidade e simpatia que nos disse que notou, ao se despedir de Platner, por volta das 19h30, que “os cavalos foram em conjunto para o lado do curral e logo saíram para o lado do campo assustados. Isso aconteceu quando Platner se encontrava a uns 400 m da porteira da estância”. Sobre seu televisor, que havia dado problemas, ele nos informou que no sábado, dia 13 de agosto, o aparelho tinha apenas 15 dias de uso, mas que deixou de funcionar às 19h00 — hora do encontro de Platner com os ETs. A TV nunca mais funcionou. Fischer também comentou, indignado, sobre a atuação da imprensa: “Disseram que eu havia visto duas pessoas e que gritava por Julio. Mas não sei de onde tiraram essa brutalidade. Nada disso ocorreu”.
Um empregado de Empresa Nacional de Correios e Telégrafos (Encotel), que quis permanecer no anonimato, confirmou a ruptura dos cabos telegráficos e a reparação inexplicada dos mesmos — o que ocorreu, segundo o homem, na quarta-feira, um dia depois dos fatos. Quanto às marcas de pneu, Fischer comprovou o rastro do carro, deixadas quando Platner disse ter regressado para fechar a porteira, mas não os achou na saída da fazenda. Sobre a explosão ouvida na quarta-feira, cabe esclarecer que no dia seguinte foram realizados os festejos da Força Aérea Argentina (FAA) na Base General Pico, não muito distante, e que lá ocorreu, entre outros atos, explosões típicas da passagem de aviões superando a barreira do som.
Uma nova experiência
Deve-se ressaltar que todas as pessoas entrevistadas, incluindo Pizarro, a doutora Priotti, Fischer, o cabo Ponce, o farmacêutico, o dono do bar mais importante do povoado, o empregado da Encotel, o representante do jornal La Reforma, de Winifreda, entre muitas outras, sustentaram e afirmaram a credibilidade do caso — todos se baseavam na personalidade ilibada de Julio Platner. E todos, sem exceção, o descreveram como incapaz de mentir apenas para aparecer. Ante à hipotética possibilidade de encontrar-se novamente com os seres que o abduziram, Platner nos disse: “Se me avisarem que vêm um dia antes, é possível que eu me esconda e não queira encontrá-los. Mas se vierem de improviso…”
Mantivemos contato frequente com Julio Platner até o ano de 1989, visitando-o uma ou duas vezes ao ano, e naquele período houve alguns episódios que valem a pena assinalar. Aproximadamente 15 dias depois de sua experiência, mais precisamente em 23 de agosto, por volta das 20h30, a testemunha saiu acompanhada de sua esposa e em seu carro utilizando o acesso da localidade para a Estrada 35, a caminho da cidade de Santa Rosa. A noite estava um pouco nublada e Platner observava através do para-brisa um círculo de luz que em um primeiro momento confundiu com a Lua. O círculo começou a aumentar de tamanho e ele não comentou o que estava vendo para não assustar a esposa — a mulher havia ficado muito sensibilizada pela experiência passada.
Mas, naquele momento, ela lhe perguntou se havia visto algo diferente no céu. Platner respondeu que sim e parou o carro no acostamento, sem desligar o motor. Naquele instante ele viu sobre o automóvel um anel branco opaco e esfumaçado no centro. A esposa estava muito assustada, mas o homem não quis voltar para casa, como ela lhe pedia. Ele desceu do veículo e começou a caminhar pelo acostamento — o anel se movia com ele e Platner continuou caminhando durante alguns minutos. Por fim, ele voltou para o carro e ambos decidiram seguir viagem. O anel, situado ao lado direito do automóvel, os seguiu por mais uns 20 km, até a Estância La Primavera, onde começou a diminuir até desaparecer.
Mudanças ao longo dos anos
Esse acontecimento foi presenciado por várias testemunhas, algumas em distintos lugares da Estrada 35 e outras na província de Neuquén, segundo consta dos jornais da época. A relação com os acontecimentos de 09 de agosto podem parecer óbvias, mas características do que foi observado se assemelham muito mais ainda ao que se veria meses mais tarde em toda a Patagônia, que corresponderia a testes efetuados com alguns satélites atmosféricos, ainda que estejamos muito longe de poder afirmar que o que foi visto por Platner fosse a mesma coisa. Aparentemente, não havia qualquer relação entre os dois acontecimentos, ainda que, para Platner, a segunda experiência tivesse um alto significado.
É interessante ressaltar como, com o correr dos anos, o homem foi integrando a experiência. Ele partiu do não querer saber mais nada sobre o assunto dos primeiros dias para passar a desejar que sua experiência se repetisse, uma vez que ficaram muitas perguntas sem respostas. Assim, voltamos a manter contato com Julio Platner em julho de 1995, quase 12 anos depois de sua primeira experiência. Encontramos o mesmo homem de sempre, amável, tranquilo, calado. As lembranças do caso estavam tão claras em sua mente como no primeiro dia e sua descrição dos acontecimentos era exatamente igual a que tivéramos — não havia nenhuma contradição ou adição ao relato. Das marcas, a única que permanecia era a do pulso, onde se podia notar a cicatriz de um corte de aproximadamente 3 mm sobre uma veia.
Onde a luz cegou Platner, a linha telegráfica que une Winifreda a Santa Rosa estava cortada. Parecia queimada. Na quarta-feira se ouviu uma explosão em diferentes localidades. Pode ter sido um avião, mas o fato aumentou o fenômeno visto por Platner
O que havia mudado era a evolução da experiência no seio da família. Nos primeiros anos, sua esposa mantivera uma atitude de receio e temor ante o que havia acontecido. Aos interrogatórios, visitas, viagens e pressões se somava o medo de que o acontecimento tivesse afetado o marido. Concretamente, ela temia pela vida dele. “Ela agora está mais tranquila, mas por um bom tempo esteve bastante mal por causa da experiência. Sempre pensou que podia me acontecer algo que me afetasse a saúde nos próximos anos. E à medida que passou o tempo, se tranquilizou ao ver que não aconteceu nada”, confidenciou Platner.
Com o correr dos anos, a esposa mudou de atitude, até chegar a compartilhar a experiência com o marido, no desejo de querer saber o que aconteceu e por que não tiveram a vivência juntos. Por outro lado, semelhante ao que aconteceu em outros casos, eles também começaram a ter experiências que poderíamos definir como visitas de dormitório, envolvendo seres de iguais características daqueles que primeiro abduziram Platner. “Minha senhora sonha de tempos em tempos. Por isso se levanta de manhã e diz: ‘Seus amigos estavam ao pé da cama esta noite’. Mas não é um sonho: ela diz que os sente, que se desperta e os vê parados em frente da cama” [Sobre visitas de dormitório, veja as edições UFO 213 e 214].
Plantaçã
o de girassóis
Poderíamos pensar que tudo isso não passa de imaginação fértil do casal, produto de tudo que foi vivido por ambos nesses anos, mas dado que é constante em casos tanto nacionais quanto estrangeiros o envolvimento de outros membros da família na experiência, nos permitimos dar como legítimos os relatos. Para corroborar a isso, em 1994, ocorreram alguns fatos que podem ou não estar relacionados com a experiência original. Aparentemente, um deles, ao menos na opinião de Platner, se relacionaria com os acontecimentos de 1983. Segundo o abduzido, ao visitar com a esposa e o filho mais velho um lote de terra onde havia plantado girassóis, deparou-se com algo que não soube explicar: “Olhando para o centro da plantação, vimos um círculo que estava completamente limpo. Não havia nada ali e nós ficamos mudos de espanto. A plantação havia sido visitada por nós dois ou três dias antes, estava verde, com uma altura de 1,5 m e muito vistosa, sem nenhum sinal daquela marca circular”.
Sobre o círculo, a testemunha disse que era perfeitamente redondo, com 15 m de diâmetro, e que as plantas em seu interior foram totalmente carbonizadas, mas não pareciam as mesmas de antes, pois estavam bem menores, encolhidas. “É algo muito curioso realmente. As plantas ao redor haviam tomado uma forma curiosa: elas estavam no solo, mas seus troncos, que eram grossos, estavam dobrados como se fosse com a mão, em três ou quatro partes, e as folhas da beirada haviam se queimado completamente”. Platner também contou que, depois, o que se pôde observar foi uma espécie de prego que havia sido espetado na terra, como se estivesse separando o solo em duas partes. “Saíam por uma fileira do girassol umas pegadas que pareciam feitas por uma só pata, um só pé, curiosamente uma só pisada. Era redonda, nada parecido com a pegada de nenhum animal. E no sulco onde estavam as marcas as plantas também estavam secas, mas não como àquelas que haviam ficado totalmente pulverizadas: estavam secas no tamanho natural”.
Episódio de tempo perdido
A aparição de marcas circulares com plantas queimadas ou desidratadas é algo comum de se encontrar nos arquivos dos ufólogos. Esse tipo de sinal, às vezes, pode se associar à presença de luzes ou de algum objeto estranho, o que poderia, talvez, estabelecer uma relação de causa e efeito. O caso relatado por Platner não apresentou nenhum tipo de associação com observações de UFOs, e embora o episódio não deixasse de chamar a atenção, não pudemos determinar a causa das marcas. Claro que o fato de as marcas aparecerem em um terreno cujo dono viveu uma experiência ufológica poderia ser mais do que coincidência. Apesar de não podermos afirmar que o segundo incidente teve algo a ver com o primeiro, é importante destacar que há outros casos registrados nos quais apareceram marcas nos terrenos das testemunhas — porém, nesses outros casos, havia também outras experiências acompanhando o fato.
Há outra situação vivida por Julio Platner que se relaciona com a de 1983 quanto ao tempo perdido, à amnésia e à interpretação da testemunha. Segundo ele, em uma noite, havia ido a um campo a 10 km de sua casa e diz não se recordar de haver visto nada durante o trajeto. Ele falou que demora 10 ou 15 minutos para chegar àquele local, mas que naquela ocasião levou 45 minutos e que não se lembra de nada do que lhe passou neste tempo todo. “Só me recordo que minha esposa me viu chegar com a luz de dentro do carro acesa e vindo do lado contrário de onde está o campo. Segundo ela, eu desci da caminhonete e entrei em casa andando com os olhos fechados”. Platner afirmou ainda que se lembra de ter descido para abrir a porteira do campo, de subir no carro e sair. “E depois me deu uma dor de cabeça infernal que me obrigou a ficar deitado na cama”. Ele também afirmou que, quando sua esposa lhe perguntou o que havia acontecido, ao entrar em casa, foi como se ele tivesse acordado naquele momento.
É difícil emitir uma opinião a respeito do último acontecimento, mas o concreto é que é certo que fenômenos estranhos continuaram acontecendo na vida de Julio Platner. Alguns ufólogos se contentam em recolher os dados que concordem com suas teorias e na maioria das vezes se esquecem do caso. Como para muitos deles a realidade em que vive a testemunha é a realidade do que aconteceu, não se preocupam com o sujeito. O mesmo ocorre com os céticos e com alguns ufólogos voltados à corrente psicossocial, que em alguns casos pecam pela presunção de pensar que podem explicar tudo, ainda que tenham que forçar os próprios acontecimentos. Outras vezes, quando o caso apresenta muitas dúvidas, o desqualificam diretamente, argumentando que se tratou de uma fantasia psicológica ou simplesmente uma fraude.
Depoimento consistente
Tendo seguido a investigação por mais de 20 anos, entrevistando centenas de vezes a testemunha e mesmo não podendo determinar com exatidão o que aconteceu com Platner, pode-se analisar os acontecimentos e tirar algumas conclusões. O que temos de fato é que, tanto nesse como em outros casos investigados, é importante analisar a experiência através do tempo — ele talvez nos traga algumas respostas, mas o mais provável é que as perguntas apenas aumentem. Diante de um caso complexo como o de Julio Platner, imediatamente nos perguntamos se não se trata de uma farsa total. Mas se pensarmos que tudo foi uma mentira, podemos pressupor duas coisas: que ele mentiu buscando algum crédito pessoal ou econômico, ou que estamos diante de um homem doente, cuja patologia o leva a mentir. Porém, como vimos ao longo do relato, Platner é uma pessoa inocente. Em um povoado de poucos habitantes e onde a maioria se conhece desde criança, a vida e a obra das pessoas são sempre bem conhecidas — isso é uma das coisas mais importantes no caso, ainda que alguns investigadores pretendam diminuir sua importância. Por outro lado, Platner não obteve lucro algum com o ocorrido e teve até que suportar o assédio da mídia em geral e inclusive tomar a decisão de não atender mais ninguém por um tempo, quando percebeu que sua história estava a ponto de ser usada para fins comerciais.
Além de tudo isso, teve muitas complicações no seio familiar quando sua esposa passou a temer por sua saúde, como vimos anteriormente. Ele também não era um mentiroso patológico ou alguém que inventou a história para brincar com o povo, ainda que não tenhamos realizado nenhum teste de personalidade com o protagonista — em uma cidade tão pequena, qualquer indí
cio de conduta anormal seria notado por parentes ou amigos. Por fim, comparando as gravações e declarações originais com as que fizemos em 1995, não encontramos diferenças quanto ao relato do acontecimento. E ainda que se tenha comentado e escrito sobre seu caso, ele aparentemente não foi contaminado com influências externas. “O que aconteceu comigo foi o que contei. O que foi aquilo, eu não posso dizer. Alguns me perguntam pela nave ou o objeto, e eu não vi nada disso, nem sequer posso dizer o que era aquilo. Era uma sala esférica e estofada, mas daí dizer que era uma nave…”
Fatos que corroboram
Quanto à experiência em si, existem quatro fatos independentes do relato que apresentam algumas situações concretas e objetivas que merecem análise. Em primeiro lugar, temos os cabos telegráficos, que, de acordo com numerosos relatos de testemunhas, incluindo do pessoal da polícia e de empregados da Encotel, foram cortados na junção que une Winifreda com Santa Rosa, exatamente sobre a porteira onde ocorreu o incidente. Os cabos cortados eram do telégrafo e transportavam uma voltagem baixa. Há dois motivos que podem fazer com que tal tipo de cabo se queime: alta intensidade de corrente ou uma descarga de alta tensão. Isso pode acontecer devido a uma sobrecarga de corrente na linha ou entre os contatos, ou por indução de um campo eletromagnético variável. Mas nada disso ocorre naturalmente.
É algo realmente muito curioso. As plantas ao redor haviam tomado uma forma curiosa: elas estavam no solo, mas seus troncos, que eram grossos, estavam dobrados como se fosse com a mão, em três ou quatro partes, e as folhas da beirada estavam queimadas
Algo importante a se considerar vem da qualidade do material — quando ele está em mau estado, a distribuição das cargas pode chegar a queimar o cabo. Em todos os casos que mencionamos, ele começaria a faiscar e logo sairia fumaça dele. Poder-se-ia pensar que a luz que Julio Platner viu fosse somente a queima dos cabos, mas a descrição da testemunha em nada se parece com isso. Outro fato que levamos em conta foi o comportamento incomum dos animais da fazenda, que, segundo o relato de Antônio Fischer, quando Platner se encontrava próximo à porteira, se assustaram sem motivo aparente e não quiseram mais sair do curral. Cabe destacar que aqueles eram animais tranquilos, que não se assustavam com facilidade. Algo espantou os cavalos mesmo que não tenhamos determinado o quê. Porém, a vinculação com o caso não pôde deixar de ser levada em conta.
As marcas deixadas pelos pneus da caminhonete de Platner também não saíam da porteira de Fischer. Isso foi corroborado por ele próprio e por alguns companheiros da empresa onde trabalhava no dia seguinte aos acontecimentos. Também não foi encontrado o rastro de ida à Estrada 11, onde apareceu a caminhonete — aquele é um caminho de pouco trânsito e as marcas dos pneus, com o desenho tão particular que apresentavam, foram vistas voltando até a Estrada 35, mas não indo até lá. Fischer também comprovou que as marcas que vinham da direção do caminho de Mirasol se detinham na entrada da porteira, o que corroborava o testemunho de Platner.
Estados crepusculares
Por último estão as marcas no braço da testemunha. Os relatos do médico e da bioquímica citados assinalaram que se tratou de uma extração de sangue não convencional. A doutora Priotti foi mais concreta sobre as características das marcas ao dizer que aparentemente se tratou de uma absorção. Os pequenos orifícios descritos por Pizarro são claramente visíveis nas fotos da época. Uma das suposições seria a de que o sangue visto pelo homem quando lhe aplicaram o tubo flexível se deveu a uma ruptura de capilares e não de um furo, ainda que a marca se encontrasse sobre a veia mais visível do braço de Platner. Sobre a marca do pulso, como dissemos anteriormente, também se encontra uma veia, mas ali não seria uma absorção e sim um corte, que era claramente visível ao menos até 1995.
É interessante notar que tanto o relato de 1983 como o de 1994 apresentam características que poderiam ser enquadradas no que se conhece em psiquiatria como “estados crepusculares”. Eles se caracterizam por apresentar o que se denomina como “estreitamento da consciência”, que acontece quando uma parte da personalidade e suas manifestações psíquicas ficam inativas. Quando em estado crepuscular, a personalidade conserva algumas atividades de ordem motora, mas a memória não fixa absolutamente nada — só se conservam as atividades automáticas dos centros cerebrais inferiores e não há registro de memória devido à desconexão cortical. Assim, o indivíduo ainda atua, vê e ouve, mas sua memória não absorve nada pela falta de registro da consciência.
Os estados crepusculares são frequentes nos casos de epilepsias. Quando acompanhados de alucinações e outras manifestações, podem enquadrar-se no caso em uma epilepsia do lóbulo temporal. Alguns dos episódios vividos por Platner, em especial o de 1994, talvez pudesse corresponder a um caso crepuscular, mas tais estados são acompanhados de outras manifestações psíquicas, motoras e de um histórico clínico, coisa que não encontramos na testemunha.
Como antigamente
Quanto ao que se passou no local ao qual a testemunha se referiu como sendo um teatro, tanto o ambiente quanto as entidades e sua maneira de agir são comuns a outros casos ocorridos em diversas partes do mundo. Pela data em que se deram os fatos com Platner, não se pode imaginar a possibilidade de contaminação da informação dada pelo sujeito. Em primeiro lugar, pelo interesse escasso que a testemunha nutria pelo assunto e, em segundo, porque em 1983 o tema das abduções não era moeda corrente na Argentina — as únicas referências a episódios similares no país vinham do Caso Dionisio Llanca, acontecido 10 anos antes, mas não encontramos similaridades entre as duas ocorrências.
Há mais um dado que é importante destacar. Independentemente do que tenha sido a experiência, para a testemunha ela foi real, embora extremamente traumático [Veja box]. Também como em outros casos, o que Julio Platner mais recorda são os olhos das entidades e a paz que sentiu enquanto durou a experiência. “Nunca mais em minha vida tive uma tranquilidade e uma paz como naquele momento. Por exemplo, eu me deito para descansar sem nenhum problema, m
as não sinto a mesma tranquilidade, aquela paz como que passei. E eu me lembro muito bem de tudo, não como se estivesse sonhando. Eu estava acordado e consciente”.
Em um povoado pequeno, como Winifreda, esse tipo de experiência deixa uma marca indelével na comunidade, primeiro pelo indivíduo com quem ocorreu e depois pela estranheza do relato e movimento de pessoas e jornalistas que queriam falar com Julio Platner. E como se isso fosse pouco, ainda por cima com o tempo, a situação econômica do protagonista se modificou e Platner passou de empregado para proprietário de uma loja de sementes. De alguma maneira, ficou no povo do vilarejo o mesmo tipo de registro que antigamente ficava nas sociedades tribais quando alguém que dizia ter viajado para o “outro lado” e visitado o “mundo dos espíritos” se convertia em xamã. Em Winifreda ocorreu o mesmo. Não existe um só habitante que não relacione a viagem de Platner com seu novo poder econômico. Aqui, como antigamente, o viajante regressou contando coisas fantásticas e trazendo novos poderes. Esse tipo de transformação não seria possível em grandes cidades, onde todos nós somos anônimos. Para Julio Platner, uma luz que brilhou em sua vida, mudou-a para sempre.
Como as experiências ufológicas afetam as testemunhas
A mudança de atitude das testemunhas em relação às abduções e encontros assustadores com seres extraterrestres pelos quais passaram nos chama a atenção e nos faz perguntar o que, afinal de contas, faz com que acontecimentos que, em tese, deveriam ser extremamente traumáticos acabem sendo vistos como normais ou até especiais? É interessante notar também que nos casos ocorridos nos Estados Unidos, na maioria das vezes as testemunhas sentem, nos primeiros momentos, um grande medo e rejeição aos seus abdutores. Porém, com o passar do tempo, conforme integram a experiência, esta parece ser altamente restruturadora da psiquê do indivíduo.
Realizando uma comparação simples das sociedades norte-americana e argentina — nesta última onde ocorreu o Caso Platner [Ao lado] —, concluímos que a argentina não é tão violenta nem tão paranoica quanto à outra. Os assassinos seriais, franco-atiradores, terroristas, as conspirações para desfazerem-se de presidentes, pena de morte e culto ao sensacionalismo violento são atributos clássicos da sociedade dos Estados Unidos. Além disso, culturalmente, para o povo norte-americano, tudo que é diferente de seu modo de vida, desde os costumes até as características físicas, é algo mal ou daninho.
Bagagem cultural
A resposta aos casos ufológicos, em especial de abduções alienígenas, que diferem em ambas as sociedades aparentemente