Em 1965, a família Bin morava na Parada Inglesa, um bairro da Zona Nordeste da capital paulista. E o senhor Voalide Bin, pai de Rogério Tadeu Bin, trabalhava como operador de áudio na Rádio São Paulo, localizada na Zona Sul. Uma noite, Voalide perdeu o último ônibus, que passava à meia-noite, e por isso teve que esperar pelo que se chamava antigamente de “corujão”, o coletivo que passava somente às 03h00. Depois que chegou ao seu destino, o homem seguiu a pé e, segundo seu próprio relato à esposa, só tinha um pensamento: “Ficar atento com algum assaltante ou alguém mal-intencionado”.
Voalide Bin cruzou algumas esquinas até chegar à Padaria do Luiz, subindo a Rua Salvador Romeu e passando por muitos dos terrenos baldios que os mais antigos bairros da cidade ainda guardavam naquela época. Ao contrário dos outros dias, quando estava quase para chegar em casa, começou a sentir que algo estranho estava acontecendo e uma sensação ruim o atingiu em cheio. “Era como se alguma coisa estivesse acontecendo dentro e fora de mim”, contaria ele, mais tarde, para a esposa.
Arrepio de gelar a espinha
A testemunha carregava no bolso direito um pequeno canivete, já devidamente aberto para ser usado em um eventual assalto. Ele olhava ao redor, para todos os lados, para certificar-se de que não havia ninguém por perto, o seguindo. Talvez por conta do horário atípico, Voalide continuava se sentindo angustiado, como se alguém realmente estivesse vigiando-o, a ponto de um arrepio gelar sua espinha — ele tinha certeza de que algo iria lhe acontecer. De repente, a cerca de dois quarteirões de casa, o homem se deparou com um estranho objeto voador pairando a poucos metros de altura sobre um dos terrenos baldios.
A história a seguir se tornou conhecida quando o senhor Voalide concedeu um depoimento ao veterano jornalista Adílson Machado, que seria publicado mais tarde no jornal Diário Popular, na edição de 24 de novembro de 1977. Machado já vinha pesquisando o Fenômeno UFO desde aquela década. Segundo a Biografia dos Ufólogos Brasileiros, Machado é “veterano e conceituado pesquisador no Brasil, que teve artigos publicados sobre o assunto em diversas revistas nacionais”. O título da matéria, um pouco entrevista, um pouco depoimento, era um tanto prolixo — “Os Meios com que os Anjos se Comunicam com os Homens” —, mas já dava o tom da conversa que o jornalista deve ter tido com o Voalide Bin.
Medo em meio às sombras
“A cerca de dois quarteirões de minha casa, eu vi uma coisa. Ela estava lá, pairando no ar, como se estivesse por cima de um terreno baldio. Era um disco voador muito grande, todo iluminado em volta, como um cinturão de janelinhas. Não girava. Apenas estava lá, no ar. Minha sensação de desconforto aumentou mais ainda. Apavorei-me diante daquela coisa redonda e imóvel. Detive-me a contemplar a estranha nave, com os pensamentos fervendo dentro da minha cabeça. A gente sempre pensa em tanta coisa na vida, mas em uma coisa daquelas, juro, nunca tinha pensado”, confessou a testemunha.
E continua: “Senti que estava parado, ainda arrepiado, e tive um pensamento aterrador. Aquela coisa poderia cair e explodir. Eu só queria estar longe dali. Este foi meu pensamento, porque, na verdade, não pude me mover. Surpreendi-me ainda mais por constatar que meus nervos não me obedeciam — eu estava imobilizado e pregado ao chão. Comecei a suar, sempre apertando fortemente o canivete aberto no bolso. Aí pensei: será que é a lâmina do canivete? É possível que aquela ‘coisa’ esteja pesquisando metais e eu tenho metal na mão. Tentei, então, me desfazer da arma, largar o canivete. Mas não consegui abrir a mão para isso. Eu estava encostado à parede de uma casa, parado, estacado, imóvel e arrepiado olhando para o disco voador. Era pura expectativa, diante de um quadro tão estranho e, por que não, ridículo”.
Segundo o relato de Bin, uma pequena porta retangular se abriu na parte de baixo da nave e algo indefinível, parecido com um facho de luz, começou a sair por ela. “Mas não era luz, mas uma coisa mole. Movia-se na medida em que se alongava para fora. Pensei que já tinha chegado à minha casa e que estivesse talvez dormindo e sonhando com aquilo”. Quando lhe foi pedido que explicasse melhor, a testemunha disse que “a coisa era como uma tromba de elefante, mas era luminosa. Não, não era luminosa, era luz, mesmo — aquilo ia saindo do disco e, à medida que aumentava, ia se abrindo na ponta, como um funil. Parecia que me ‘cheirava’ do alto, pois se dirigiu na minha direção”.
Estranha sensação
A luz finalmente alcançou o homem, que estava paralisado. “Fui tomado de uma estranha sensação, como se estivesse na eminência de ser sugado para dentro daquele cano mole. Senti como se estivesse sendo examinado detidamente, como com aqueles estetoscópios que os médicos põem na gente, para escutar por dentro. Não sei, agora, quanto tempo durou tudo aquilo. Não vi ninguém dentro da nave, era indistinto. Mas me senti como se estivesse sem peso, pronto para ser aspirado para o seu interior. Pareceu-me que a coisa não durou muito. Depois de me examinar como se estivesse vendo dentro de mim, e eu mesmo tinha a sensação de ter virado vidro. Era como se eu pudesse olhar para o meu próprio corpo e ver todos os ossos do meu esqueleto. Eu me sentia transparente e pensava que eles estavam me vendo exatamente assim”.
Depois, vagarosamente, a luz foi sendo recolhida, saindo de cima de mim e voltando para o interior da nave, diminuindo a boca do funil, até estar totalmente dentro do disco. A portinha se fechou e o disco começou a se deslocar, não muito rápido, para cima, em diagonal, até se tornar um pontinho e sumir de vez, no céu. Só então me lembrei de tentar me mover novamente. Consegui. Estava livre e não mais arrepiado. Movia-me, devagar, a princípio, tateando meus músculos. Eu estava normal outra vez”.
Dois raios não caem no mesmo lugar
A descrição da abdução de Voalide Bin é muito parecida, em muitos pontos, com a de seu filho Rogério Tadeu Bin, relatada na entrevista desta edição — mas as coincidências param por aí, pois a experiência dos abduzidos tomam rumos distintos a partir deste ponto de luz. Talvez Voalide não tenha contado ao jornalista tudo o que aconteceu dentro da nave, ou talvez o jornalista não quisesse constranger sua fonte. O fato é que ele, assim que pôde, narrou todo o acontecido à sua esposa. Na parte em que voltou para casa há divergências, mas seu filho conseguiu descrever em seu livro Os Anjos São Reais? [Livrus, 2014] mais alguns detalhes do que teria acontecido dentro da nave.
“Voalide tirou a roupa a pedido dos seres desconhecidos e se deitou em uma maca, sem nem ao menos saber o que iria lhe acontecer. Seu corpo ficou totalmente imóvel, sem que nada o prendesse. De repente, a mulher extraterrestre fechou os olhos como
se estivesse meditando em concentração profunda. Em poucos segundos, Voalide sentiu algo tocando-o. Não entendeu aquilo, pois não tinha ninguém próximo ao seu corpo. Ao longo daquela estranha seção percebeu que estava tendo uma relação sexual — o prazer era intenso, algo ineditamente prazeroso em toda sua vida. Chegou ao êxtase com uma emoção única. O extraterrestre que estava ao lado trazia um frasco em sua mão, para colher o sêmen. Então o colocou dentro de um tubo de ensaio”, disse.
E continua: “Em terra firme, dona Glória percebeu que o marido estava demorando e resolveu encontrá-lo no caminho. Pegou uma vela para iluminar a trajetória, pois naquela época a luz das ruas era precária. Depois de alguns minutos de caminhada, encontrou o Voalide sentado no meio do mato, com o olhar longe. Ele estava com o rosto pálido e muito fraco. Ela olhou para os lados e percebeu que a vegetação estava amassada como se estivesse pousado algo em cima. Foi buscar ajuda para poder levá-lo para casa — o homem continuava imóvel, sem falar uma palavra e com o olhar distante. Quando chegou à residência, se deitou na cama e teve um sono profundo, só acordando no dia seguinte. Assim que despertou, contou à esposa tudo o que tinha acontecido”.
Quando o Voalide Bin achou que tudo já havia acabado, sua esposa, que ficara muito impressionada com a história e assustada com o que tinha acontecido ao marido, resolveu revelar-lhe um fato muito parecido. Algo que também havia ocorrido com ela, certo dia, em um sítio no interior de São Paulo. Parece-nos que há tempos a família Bin vem sendo perseguida por extraterrestres.