Como se sabe, as discussões sobre os UFOs começaram nos Estados Unidos, lugar das primeiras observações do fenômeno. E nas esferas oficiais, desde 1947, seu estudo tem sido voltado principalmente para se determinar se constituem um perigo para a segurança nacional e se podem servir de inspiração para a criação de novas invenções, que seriam baseadas em sua avançada tecnologia. Com o início da Guerra Fria, à sombra de uma conflagração bélica entre a então União Soviética e os Estados Unidos, as coisas mudaram.
Em agosto de 1951 foi criado pela Força Aérea Norte-Americana (USAF) o Projeto Livro Azul, que reforçava a tese do perigo representado pelos UFOs e insistia que todos os relatos de avistamentos podiam afetar a defesa nacional. Assim, sujeitos às leis de comunicação e de contraespionagem, logo surgiram suspeitas de que pudessem se tratar de arma secreta inimiga. Na época, argumentou-se também que a observação de discos voadores e discussões sobre sua procedência extraterrestre serviam para distrair o público ou encobrir testes com naves secretas.
No entanto, o silêncio, a censura e o segredo sobre o tema, que sempre prevaleceram, indicavam uma trama ainda maior. Em um clima bélico, que se estende por anos, o Fenômeno UFO começou a germinar e a ganhar corpo. É neste cenário que os militares se dedicam aos aspectos técnicos e de segurança que tais objetos envolvem, desprovidos de interesse científico, enquanto os grupos civis empreendem, com muitas limitações, pesquisas destinadas a respaldar determinadas hipóteses e a buscar na casuística um novo e potencial conhecimento. E empregam vários procedimentos, desde aqueles usados na prática científica até os mais estapafúrdios e absurdos que se possa imaginar.
Considerando tudo isso, vê-se que o objeto de estudo é o mesmo tanto para as comissões oficiais que se dedicam ao tema — geralmente militares — quanto para os grupos civis de investigadores do Fenômeno UFO, embora seus propósitos divirjam. O problema então se resume em uma visão dissociada e estrábica da casuística ufológica, em diversas direções, distanciando ao máximo a solução do enigma.
Consolidar esforços
Para piorar, a dispersão de esforços sem qualquer coordenação se converteu em uma dificuldade para o progresso da investigação. Mesmo assim, as mais recentes apresentações dos fatos — inerentes ao fenômeno e ao seu contexto histórico —, impõem a necessidade de legitimar o estudo dos UFOs com a conveniência de unificar critérios, definir regras de investigação, normalizar protocolos etc.
Neste sentido, a gradual abertura dos governos em relação ao tema é o sinal de uma era que deixa para trás tanta aversão que o assunto sofreu, sendo ignorado ou negligenciado. A persistência desses fenômenos em nossos céus e o insistente trabalho de vários ufólogos — tais como A. J. Gevaerd, no Brasil, Guillermo Aldunati e Andrea Pérez Simondini, na Argentina, Rodrigo Fuenzalida, no Chile, entre tantos outros — tende a promover a abertura oficial para o tema em seus respectivos países, e isso permite vislumbrar um panorama alentador.
Mas deve-se entender que a abertura não pode ser uma questão meramente regional — o assunto é sério e global. Assim, as iniciativas isoladas em vários países, despojadas de dúvidas e preconceitos, devem proporcionar a formalização de um esquema de trabalho em conjunto, maior do que suas partes. Isso seria possível desde que consignado a pautas básicas e rigorosas de investigação, entre elas:
1 Que todos os passos dessa tarefa investigativa, desde a coleta de dados até a publicação dos resultados finais, permitam o escrutínio público, sejam controláveis e possíveis de serem repetidas por parte de qualquer outro estudioso.
2 Que se reduza o grau de subjetividade no que refere às decisões de caráter investigativo a tomar, mediante critérios imparciais.
3 Que a única e exclusiva finalidade da investigação ufológica seja a resolução do enigma, e não fortalecer determinado sistema de crenças filosóficas, políticas ou religiosas.
4 Que a divulgação dos estudos ufológicos se mantenha dentro do marco de seriedade que a hierarquia do trabalho impõe.
Fundamentos básicos
Na maioria dos casos, o Fenômeno UFO supõe que se trata de um processo objetivo e real, e isso estimula apontar várias fases no desenvolvimento de sua investigação. Primeiro, deve-se proceder ao reconhecimento do fenômeno como problema, que, por sua condição de desconhecido, requer uma identificação positiva e satisfatória — todo problema devidamente formulado requer uma resposta ou solução.
Em segundo lugar, deve-se reconhecer a importância amplamente justificada que esse problema constitui, seja qual for sua natureza, tanto como fenômeno físico desconhecido (por seu potencial significado), quanto como uma questão psicológica e social (por seus persistentes e profundos efeitos), como por se tratar de inteligências não humanas, o que implica em interferência em todos os níveis na humanidade, científica, religiosa, econômica, militar etc.
Por fim, deve-se efetuar um estudo científico interativo do tema, multi e interdisciplinar, com uma visão ampla da realidade e com tendência a se determinar as características do Fenômeno UFO atendendo suas consequências ou derivações técnicas e humanísticas.
É pertinente, aqui, destacar a existência e trabalhos acadêmicos dedicados aos UFOs e à vida extraterrestre, na forma de teses de doutorado, mestrado e de licenciatura. Eles têm dado ao assunto um marco de seriedade que a ciência exige. Só entre 1970 e 2001, por exemplo, foram defendidas 34 teses de doutorado, 21 de mestrado e 27 de licenciatura sobre o tema em todo o mundo, segundo o pesquisador Ignacio Cabria. Ou seja, a ideia obsoleta de que o tema não pode ser abordado no meio acadêmico, ante o risco de desprestígio profissional, foi superada. Ademais, é notável que 90% desses trabalhos se realizaram em universidades norte-americanas — em nosso continente destacam-se a Argentina, o Chile e o Brasil.
Outro tema importante a se tratar é o da comunicação responsável sobre o Fenômeno UFO. Sabe-se que informar exige responsabilidade, pois normalmente atribuímos esta exigência aos comunicadores e jornalistas. No entanto, comunicar responsavelmente é um dever que envolve a todos. Os veículos de mídia têm enorme importância nesse processo, e por isso os ufólogos devem transmitir aos jornalistas instrumentos adequados para se difundir a Ufologia, dado o impacto que isso causará nos meios de massa.
Transparência
Deve-se também usar fon
tes autênticas e confiáveis, além de estatísticas que possam ser interpretadas corretamente — comentários espontâneos dos pesquisadores devem ser administrados com cuidado, ainda mais nesta era em que a comunidade toda se comunica. Ser responsável implica em uma conduta mais ética com a sociedade, coerente entre o que se diz e o que se faz, pois a mesma outorga reputação, transparência e credibilidade.
Em função do exposto, no I Congresso Ufológico de Puerto Madryn, celebrado na Argentina em setembro de 2012, foi proposto por este autor uma síntese objetiva de como tratar o Fenômeno UFO nestes novos tempos, uma série de itens que deveriam acompanhar os processos de abertura ufológica de documentos secretos sobre UFOs na América Latina, como se vê no box deste texto.
PROPOSTAS PARA A UFOLOGIA
O estudo do Fenômeno UFO, devido à sua complexidade, exige a participação ativa de toda a sociedade, tanto de civis como de militares, sem exclusão.
A importância do fenômeno requer tornar público o que é mantido secreto pelos governos.
A Ufologia deve tender à institucionalização, ou seja, devem ser reforçados e mais desenvolvidos os mecanismos de legitimação do objeto de estudo para que se aperfeiçoem as condições de sua investigação.
Os pesquisadores devem ter capacidade para acessar recursos técnicos e científicos, intelectuais e financeiros, de forma constante e sustentada.
Deve-se profissionalizar e treinar todos os indivíduos envolvidos no processo de investigação ufológica.
É necessário agrupar a pesquisa entre os países do continente para que, em conjunto, ela flua de maneira sistemática e coordenada.
Deve-se acentuar a comunicação responsável e divulgação dos processos e resultados.