De acordo com recente pesquisa de opinião feita pelo Instituto Gallup, uma incrível porcentagem de 95% dos norte-americanos já ouviram falar ou pelo menos leram algum artigo sobre objetos voadores não identificados, e 65% deles acreditam que os UFOs existem [Eram apenas 55% dez anos atrás]. Até mesmo os ex-presidentes Jimmy Carter e Ronald Reagan, além de muitos deputados, senadores e até astronautas já afirmaram ter visto UFOs em alguma época de suas vidas. Muitos ufólogos e organizações privadas de pesquisa ufológica norte-americanas acusam o governo dos Estados Unidos – em particular a Agência Central de Inteligência (CIA) – de estar engajado em uma grande conspiração e acobertamento dos fatos. A idéia de que a CIA faz pesquisas secretas sobre o tema é predominante entre os ufólogos desde que a Era Moderna dos Discos Voadores surgiu, no final dos anos 40.
Há alguns anos, após ter sido pressionado por ufólogos e pelo público para liberar as informações da CIA sobre os UFOs, um de seus diretores gerais, James Woolsey, ordenou uma revisão de todos os arquivos da agência para localizar aqueles que estivessem relacionados aos discos voadores. Usando os resultados dessa busca concluímos, neste estudo, que a agência esteve interessada e envolvida em casos ufológicos desde 1948 até o presente.
O começo de tudo — A CIA fez, de fato, um grande esforço para tentar solucionar o mistério causado pelo Fenômeno UFO, analisando o impacto dos avistamentos e empenhando-se em esconder os fatos da população. Este artigo também mostra que, enquanto o acobertamento da agência a respeito dos objetos voadores não identificados tenha sido substancial até o início dos anos 50, a CIA declara que somente se interessou pelo fenômeno superficial e limitadamente nos anos recentes, o que é mentira.
O surgimento da Guerra Fria, em 1947, coincidiu também com o início da primeira onda de avistamentos de UFOs em todo o mundo e, em especial, nos EUA. Uma das primeiras notícias de avistamentos neste país, como se sabe, veio em 24 de junho de 1947, quando o piloto Kenneth Arnold, enquanto procurava um avião perdido, observou nove objetos em forma de disco próximo ao Monte Rainier, em Washington, viajando em formação e a uma velocidade inacreditável. A notícia de Arnold foi seguida por muitos outros avistamentos, incluindo declarações de pilotos civis e militares, além de controladores de tráfego aéreo por todos os Estados Unidos. Em 1948, o então general Nathan Twining, na época chefe do Comando do Serviço Técnico Aéreo, fundou o Projeto Sign [Inicialmente chamado Projeto Saucer, disco em inglês]. De acordo com o professor e ufólogo norte-americano David Jacobs, em seu livro The UFO Controversy in America [A Controvérsia Ufológica na America, Bantam Books, 1975], tal projeto fora implantado para “coletar, avaliar e dirimir toda a informação relativa aos casos de objetos voadores não identificados em relação ao governo”, com a premissa de que “os UFOs poderiam ser reais e uma ameaça a segurança nacional”.
A Divisão de Inteligência Técnica do Comando de Material Aéreo (AMC), em Wright Field [Mais tarde chamado de Base Aérea de Wright-Patterson], em Dayton, Ohio, assumiu o controle do Projeto Sign e começou seu trabalho em 23 de janeiro de 1948. Embora houvesse receio de que os objetos voadores não identificados pudessem ser armas secretas russas, a Força Aérea Norte-Americana (USAF) logo concluiu que os UFOs eram reais – embora, segundo o relatório, “explicáveis em termos naturais e sem nada de extraordinário”. Um relatório da USAF diz que a maioria dos casos poderia ter três explicações. A primeira seria decorrente de histeria e alucinação em massa. Outra explicação seria a de fraude. E a terceira seria a de interpretação errônea de aviões incomuns. Todavia, o relatório recomendou a continuidade da pesquisa sob controle militar e investigação de todos os avistamentos, não descartando a possibilidade do fenômeno ser extraterrestre.
Mesmo em meio a vários casos, a USAF continuou a coletar e a avaliar dados no final dos anos 40, mas agora através de um novo projeto, o Grudge, o qual tentava aliviar a ansiedade da mídia sobre os UFOs através de uma campanha pública designada a convencer a todos de que os discos voadores não eram coisa de outro mundo. Os avistamentos eram explicados como sendo balões, aviões, planetas, meteoros, ilusão de ótica, reflexos solares etc. Os oficiais encarregados do Projeto Grudge diziam não ter encontrado evidências de que os discos voadores fossem alguma arma desenvolvida por outro país, que pudessem colocar em risco a segurança nacional dos EUA. Recomendaram, então, que o projeto fosse enfraquecido, já que o interesse oficial da Força Aérea poderia estimular a população a acreditar nos discos voadores e a contribuir, assim, para uma atmosfera de histeria de época de guerra [Veja DVD Segredos Governamentais, código DVD-005 da seção Shopping UFO desta edição].
Projetos para esvaziar o assunto — Em 27 de dezembro de 1949, a USAF finalmente anunciou o fim do Projeto Grudge, mas com o crescimento das tensões geradas pela Guerra Fria e a Guerra da Coréia, além do aumento nos casos de UFOs, o diretor de inteligência da corporação, general Charles P. Cabell, ordenou a criação de um novo projeto em 1952, o Blue Book. As pesquisas de Jacobs apontam que, entre as décadas de 50 e 60, o Projeto Blue Book foi a maior tentativa já feita para se estudar o Fenômeno UFO. A tarefa de identificar e explicar os UFOs continuou a cargo do AMC, em Wright-Patterson. Com uma pequena equipe, o Centro Aéreo de Inteligência Técnica (ATIC) tentou convencer o público de que os objetos não eram extraterrestres – tanto que, naquela época e por mais 30 anos, os projetos Sign, Grudge e Blue Book foram essenciais para a afirmar a posição oficial do governo norte-americano com relação ao assunto. De acordo com um memorando enviado a Edward Tauss, do Serviço de Inteligência da USAF, a CIA já monitorava o trabalho dos militares, atenta ao aumento nos avistamentos e a possibilidade dos UFOs se tornarem uma ameaça à segurança do país.
Verificando a vasta distribuição dos avistamentos, os oficiais da agência, em 1952, perguntavam-se se esses avistamentos poderiam se refletir em um simples modismo de época. Mas aceitaram as conclusões emitidas nos relatórios da USAF, embora tivessem também concluído que “…mesmo que haja uma remota possibilidade de que sejam aeronaves interplanetárias, é necessário investigar cada caso em profundidade”. Vários avistamentos sobre os Estados Unidos, em 1952, especialmente em julho, alarmaram o governo atual. Entre 19 e 20 de julho, por exemplo, os radares do Aeroporto Nacional de Washington e da Base Aérea de Andrews, nos arredores da mesma cidade, detectaram numerosos pontos nas suas telas. Depois, em 27 de julho, os
pontos reapareceriam nos radares, tanto que foram enviados aviões para interceptá-los, mas nada foi encontrado. Os incidentes deram manchetes em todo o país. A Casa Branca quis saber o que estava acontecendo e a Força Aérea rapidamente ofereceu uma explicação banal para o fato: os pontos seriam resultado de inversão de temperatura. Mais tarde, uma investigação do Departamento de Aviação Civil quis ratificar tal disparate, confirmando que os pontos eram comuns e tinham causa meteorológica.
Embora tenha monitorado relatórios sobre UFOs nos anos seguintes, a CIA reagiu à nova onda de avistamentos formando um grupo especial de estudo juntamente com o Departamento de Inteligência Científica (OSI) e o Departamento de Inteligência Atual (OCI) para reverem a situação. Tauss, então chefe da Divisão de Armas do OSI, disse ao grupo que a maioria dos avistamentos teria que ser explicada. Entretanto, recomendou que a agência continuasse monitorando o problema junto ao ATIC. Tauss também pediu para que se escondesse da mídia e do público que o governo tivesse interesse por objetos não identificados, “em razão da provável tendência alarmista deles”, conforme um documento oficial admitia, enquanto aceitava e confirmava a existência dos UFOs. Em 02 de janeiro de 1952 foi criado o Departamento de Inteligência (DDI), que foi posteriormente dividido em outros menores e com funções específicas, todos interessados nos UFOs. Ao receber o relatório de Tauss, o diretor do Departamento de Inteligência, Robert Amory Junior, imediatamente responsabilizou-se pelas investigações ufológicas e nomeou físicos do OSI e da Divisão Eletrônica para lidarem com o assunto. O senhor Ray Gordon foi designado para o comando de tal operação. Cada departamento da nova divisão contribuiu com as investigações sobre o assunto, enquanto Gordon era coordenado de perto pelo ATIC.
Ameaça à segurança nacional — Amory pediu ao grupo para que centralizasse suas análises nas implicações que os UFOs tinham em relação à segurança nacional dos Estados Unidos, já que esse era o grande temor de todos. Outro diretor do Departamento de Inteligência, o general Walter B. Smith, queria saber se a investigação da USAF era suficientemente objetiva para lidar com o assunto e quanto de dinheiro e pessoal seria necessário para explicar a causa dos UFOs. Smith era cauteloso ao extremo e acreditava que “existe apenas uma chance em 10 mil de que o fenômeno seja uma ameaça à segurança nacional, mas mesmo assim nenhuma possibilidade pode ser descartada”. Segundo ele, era responsabilidade da CIA empreender esforços para tentar resolver o problema. Em uma reunião secreta do departamento, o diretor declarou também que queria saber se poderia usar o Fenômeno UFO de alguma forma para propósitos de guerra psicológica, usando os esforços de especialistas norte-americanos em traumas de guerra. Comandado por Gordon, o grupo de estudo da CIA se encontrou com os oficiais da Força Aérea em Wright-Patterson para analisar a questão, mas a USAF afirmou que 90% dos avistamentos podiam ser facilmente explicados.
Os outros 10% foram caracterizados como “objetos incríveis descritos por observadores idôneos”. Não se sabe, mas se suspeita que sim, se a agência usou mesmo os UFOs como arma psicológica. De qualquer forma, a USAF rejeitou a teoria de que tais avistamentos envolviam armas secretas russas ou mesmo “homenzinhos verdes” – não havia base para esses conceitos. A síntese do esforço dos militares era explicar os fenômenos como interpretações equivocadas de objetos conhecidos ou fenômenos naturais, e não havia espaço para uso do assunto em guerra psicológica. Mesmo assim, em memorando de 14 de agosto de 1952, a Força Aérea e a CIA admitiram que o vazamento de informações sobre os UFOs poderia acarretar problemas muito sérios. Tudo teria que ser mantido em segredo, e foi isso o que alimentou as teorias de conspiração e acobertamento até hoje. A agência também procurou informações sobre UFOs na imprensa russa, mas nada encontrou. Isso levou a concluir que a extinta URSS jamais iria aceitar que se divulgasse tais notícias [Veja livro Quedas de UFOs, código LIV-009 da seção Shopping UFO desta edição].
O grupo da CIA imaginou a possibilidade dos russos também usarem os UFOs como armas psicológicas. A agência estava preocupada com a possibilidade do sistema de defesa aéreo norte-americano ficar abarrotado de sinais destes objetos, dando assim margem a um ataque nuclear de surpresa por parte dos russos. Por causa das tensões da Guerra Fria e o crescimento da tecnologia da então URSS, a CIA passou a ver os UFOs como uma situação de extrema gravidade para a segurança nacional. Imaginava-se que os russos poderiam utilizar notícias sobre avistamentos ufológicos para provocar histeria e pânico na população dos EUA. Tinha-se como certo que sinais de UFOs nos radares poderiam confundir os norte-americanos, que não saberiam distinguir alvos militares ou civis de objetos não identificados. O então diretor do OSI, Marshall Chadwell, disse que considerava esse problema tão importante “que deveria ser trazido ao conhecimento do Conselho de Segurança Nacional, para imediata solução da questão”.
Sinais de objetos inexplicáveis — Chadwell assumiu a mesma linha de raciocínio de Smith, pedindo, em dezembro de 1952, que se agisse com rapidez e cautela. Ele admitiu que estava convencido de que “alguma coisa estava acontecendo e deveria ser dada atenção imediata, visto que sinais de objetos inexplicáveis, a grandes altitudes e voando a altas velocidades nos arredores das maiores instalações de defesa norte-americanas, estão sendo tão insistentes que a nenhum avião terrestre podem ser atribuídas tais apariç
ões”.
O diretor do OSI escreveu então um memorando para o Conselho de Segurança Nacional (NSC) propondo ao diretor desse órgão estabelecer a investigação dos discos voadores como prioridade máxima em um projeto totalmente de pesquisa, inteligência e desenvolvimento científico. O memorando também sugeriu que se criasse um grupo externo de pesquisas junto aos maiores cientistas da época para estudar o problema dos UFOs. Após isso, Smith encaminhou a Amory uma instrução para preparar uma estratégia de ação para o NSC, lidando com a necessidade premente de se continuar a investigação secreta dos UFOs, o que foi coordenado com a Força Aérea. Em 04 de dezembro de 1952, o Comitê Consultivo de Inteligência (IAC) passou finalmente a se responsabilizar pelos documentos relacionados aos UFOs. Este comitê, criado em 1947, era quem coordenava instruções oriundas do serviço de inteligência. Amory, como seu presidente, apresentou à diretoria da CIA o assunto e formalmente discutiu a questão nos vários departamentos envolvidos com a pesquisa e o sigilo aos discos voadores – era o embrião da política de acobertamento.
Cientistas foram selecionados — Em documento oficial o Comitê concordou que a agência deveria “…convocar os serviços de cientistas selecionados para rever e analisar as evidências disponíveis à luz da ciência”, deixando isso aos cuidados do Conselho de Segurança Nacional. O general John A. Samford, diretor de inteligência da USAF, ofereceu cooperação total. Ao mesmo tempo, Chadwell aproximou-se dos britânicos para ver o que faziam nessa área, e constatou que também eram ativos no estudo dos UFOs. Um renomado cientista inglês, R. V. Jones, liderava na época um respeitável comitê de estudos ufológicos criado em 1951. Suas conclusões eram similares as dos agentes da CIA: para eles, os avistamentos não eram aviões inimigos ou fenômenos naturais mal interpretados. Os ingleses estavam no momento analisando um interessante caso de um disco voador observado durante um show aéreo de pilotos da Força Aérea Real (RAF). As declarações desses oficiais à imprensa britânica tinham trazido sérios problemas para Jones, que tentava mudar a opinião da mídia sobre os UFOs. Os jornais ingleses, no entanto, já estavam completamente convencidos de que os UFOs eram reais.
Logo em seguida, conforme documento expedido em 09 de janeiro de 1953, Chadwell e H. P. Robertson, conhecido físico do Instituto Tecnológico da Califórnia, reuniram um grupo de cientistas civis para estudar os UFOs. O grupo incluía além de Robertson, como diretor, o físico nuclear do Laboratório Brookhaven Samuel Goudsmit, o físico Luiz Alvarez, o diretor do Escritório de Operações de Pesquisa Thornton Page, o especialista em radar Johns Hopkins e o especialista em geofísica e diretor do Brookhaven Lloyd Berkner. O trabalho desse grupo era rever os conhecimentos sobre os UFOs, analisar as tendências da população sobre o assunto e considerar a possibilidade de ameaça à segurança nacional. No entanto, estudaram apenas superficialmente os arquivos da Força Aérea e declararam precipitadamente que a maioria dos avistamentos poderia ser facilmente explicada – se não todos! Isso foi publicado no documento que ficou conhecido como Relatório Robertson. Entre outras coisas, dizia o documento que “a filmagem de um UFO em Tremonton, Utah, em 02 de julho de 1952, e outra em Great Falls, Montana, em 15 de agosto de 1950, eram apenas efeitos luminosos causados pelo Sol, quando já se sabia que esses eram casos legítimos de objetos não terrestres”.
O Comitê Robertson também concluiu por unanimidade que não o Fenômeno UFO não representava evidência de uma ameaça direta à segurança nacional dos EUA e sequer uma prova de que os objetos não identificados fossem de fato extraterrestres. Concluiu também que a ênfase dada às informações sobre UFOs pela imprensa poderia ameaçar a ordem e a estabilidade do governo, “especialmente quando os canais de comunicação distorcem os fatos e induzem o povo à histeria em massa, prejudicial à autoridade constituída”. O grupo preocupava-se também com os inimigos potenciais que poderiam atacar os Estados Unidos e explorar os UFOs para romper as defesas aéreas norte-americanas. Para confrontar esses problemas, o Comitê Robertson recomendou que o Conselho Nacional de Segurança instituísse uma política de acobertamento oficial – embora disfarçada de educativa – para “tranqüilizar” a população sobre os discos voadores. Sugeriu-se a utilização de meios de comunicação, campanhas de propaganda, clubes de negócios, escolas e até mesmo empresas como a Disney para atingir a toda a população. O grupo também recomendou que grupos privados de Ufologia, tais como a própria Aerial Phenomena Research Organization [Organização de Pesquisa de Fenômenos Aéreos, APRO], fossem monitorados por desenvolverem atividades subversivas.
Tem início o acobertamento — As conclusões do Comitê Robertson foram bem similares às dos projetos Sign e Grudge e às da própria CIA: todos afirmaram que os UFOs não apresentavam perigo para o país e que não havia evidência de que fossem extraterrestres. O acobertamento estava sendo implantado e já atingia sucesso. Seguindo os resultados do comitê, através de um memorando de fevereiro de 1953, a CIA afirmava ter desistido de continuar estudando os UFOs. O conselho científico do comitê submeteu seu relatório ao IAC, ao secretário de Defesa dos EUA, ao diretor federal da Defesa Civil e ao presidente do Conselho de Segurança Nacional. Esperava-se que fosse a pá de cal sobre o Fenômeno UFO, o que estimulou a CIA a recusar-se a prestar esclarecimentos sobre os UFOs à imprensa, alegando não promover debates sobre assuntos não autorizados. Mesmo assim, a agência continuava monitorando os avistamentos em todo o país, em função do interesse militar pelo tema. Instados por Philip Strong e Fred Durant, do OSI, alguns membros da CIA procuraram saber se alguma instituição norte-americana havia feito estudos independentes sobre o assunto, especialmente se fossem mais abrangentes que o Relatório Robertson, que consi
deraram muito restrito. Seu interesse era monitorar a questão sem interferir, já que qualquer menção sobre a participação da agência nisso havia sido proibida. Essa atitude mais tarde se tornaria um problema para a CIA, que resultou em perda de sua credibilidade.
Formalmente, após os resultados do Comitê Robertson, a agência arquivou todos os dados que havia coletado sobre UFOs. Informalmente, em maio daquele ano, transferiu a responsabilidade de continuar o estudo do assunto para os físicos do OSI e da Divisão de Eletrônica, requisitando que a Divisão de Ciência Aplicada desse todo o suporte necessário. Entretanto, Todos M. Odarenko, chefe da Divisão de Eletrônica, não quis ficar com tal problema, argumentando que isso “…iria requerer muito esforço de sua divisão, além de atrair a curiosidade da imprensa”. Odarenko propôs que se considerasse a pesquisa ufológica como “inativa”, destacando somente um analista de seu staff e um arquivista para manter um banco de dados de referência das atividades da Força Aérea e de outros departamentos sobre os discos voadores.
Engenharia alemã e Ufologia — Nem a Marinha ou o Exército norte-americanos mostraram interesse na continuidade da pesquisa. Descrente da existência dos UFOs, Odarenko procurou ainda tirar de seu departamento a responsabilidade de acompanhar as atividades ufológicas. Em 1955, recomendou que tais atividades fossem encerradas porque nenhuma nova informação havia surgido. Além disso, seu departamento havia sofrido cortes no orçamento e não poderia continuar a manter o monitoramento da questão.
Chadwell e outros agentes da CIA, entretanto, continuavam preocupados com os discos voadores – e uma das razões para isso eram notícias de que engenheiros alemães estavam sendo apoiados pelos russos para desenvolver tais naves como armas de guerra. Pode-se constatar tal preocupação através de uma nota divulgada entre os militares. Para a maioria dos políticos e líderes militares, a extinta URSS havia se tornado um perigoso oponente nos anos 50. O progresso dos então soviéticos, com armas nucleares e mísseis teleguiados, era alarmante. No verão de 1949, a União Russa detonou sua primeira bomba atômica e, em agosto de 1953, após somente nove meses da primeira bomba de hidrogênio detonada pelos Estados Unidos, os russos fizeram o mesmo. Por causa disso, na primavera de 1953, a Corporação Rand [Um instituto ultra secreto instalado dentro do próprio Pentágono], estudou a vulnerabilidade das bases do Comando Aéreo Estratégico (SAC) a um ataque russo com mísseis de longo alcance. Ora, o crescimento no número de avistamentos de UFOs aumentava a preocupação com um ataque russo, deixando os congressistas norte-americanos inquietos.
O aumento dos avistamentos no Leste Europeu e no Afeganistão, na época, também contribuiu para os norte-americanos concluírem que a então URSS estava fazendo progresso rápido demais neste setor. Nesse meio-tempo, a CIA sabia que ingleses e canadenses faziam experimentos com discos voadores, tanto que foi criado então um novo projeto – chamado de Y –, que era uma operação conjunta entre Canadá, Inglaterra e Estados Unidos para construir uma aeronave nos moldes de um UFO [Veja UFO 124]. O Projeto Y de fato conseguiu produzir uma nave em pequena escala que planou a alguns metros de altura. Isso fez com que a diretoria da agência temesse que os russos pudessem estar fazendo a mesma coisa. Somando-se a isso houve ainda o avistamento de um disco voador pelo então senador norte-americano Richard Russel e seu grupo, enquanto viajava de trem pela ex-URSS, em outubro de 1955. A CIA debruçou-se sobre esse fato, para avaliar se o UFO observado poderia ser uma arma secreta, concluindo finalmente que isso seria impossível, visto que os russos ainda não detinham a tecnologia apresentada pelo objeto.
Alta tecnologia russa — O caso criou um embaraço entre norte-americanos e russos. Herbert Scoville, do OSI, chegou a escrever que o objeto observado por Russel próximo a Baku era “…provavelmente um avião a jato em trajetória ascendente”. Wilton E. Lexow, da Divisão de Ciências Aplicadas da CIA, também mostrou-se cético em relação ao caso e, em um documento endereçado a outros departamentos, questionou se seria possível que os russos estivessem desenvolvendo aviões com alta tecnologia. Mais tarde, Scoville pediu a Lexow para avaliar a capacitação e as limitações da tecnologia aeronáutica russa e informar tudo o que descobrisse sobre UFOs na URSS. Em novembro de 1954 a CIA entrou no mundo da espionagem de alta tecnologia. Trabalhando em parceria com o Departamento de Desenvolvimento Avançado da Aviação Lockheed e com Kelly Johnson, um famoso engenheiro aeronáutico, em agosto de 1955 a agência começou a testar seu avião experimental de grandes altitudes, o polêmico e famoso U-2 – uma aeronave secretíssima que poderia voar a cerca de 20.000 m de altitude quando, na época, a maioria dos aviões comerciais voava a não mais que 7.000 m. Coincidentemente, uma vez iniciados tais testes, os avistamentos de supostos UFOs por pilotos comerciais e controladores de tráfego aéreo aumentaram significativamente.
Os primeiros aviões U-2 eram prateados [Depois foram pintados de preto] e refletiam os raios de Sol, especialmente no alvorecer e anoitecer. Assim, essas aeronaves freqüentemente apareciam flamejantes para os observadores. Os militares do Projeto Blue Book estavam cientes dos vôos secretos do U-2 e tentavam também explicar esses avistamentos como sendo de fenômenos naturais explicáveis, como cristais de gelo ou inversão de temperatura, tal como no caso dos UFOs. Trabalhando junto à equipe que desenvolveu o U-2, em Washington, os investigadores do Blue Book podiam dar muitas explicações convenientes para as observações do avião em vôo. Entretanto, foram cuidadosos em não relatar a verdadeira causa de tais aparições para o público. De acordo com estimativas da CIA, após as missões do U-2 e do Oxcart [Outro projeto militar ultra secreto que levou à construção do SR-71, um avião invisível ao radar, também conhecido como Blackbird], mais da metade dos relatos de avistamentos de discos voadores no final dos anos 50 e toda a década de 60, nos EUA, foi reconhecida como vôos secretos do U-2.
Esse fato acabou levando a Força Aérea Norte-Americana (USAF) a fazer declarações enganosas ao público para suavizar os temores da população e também para proteger projeto de seu avião de espionagem secreto. Entretanto, tal atitude acentuou as teorias de conspiração e acusações de acobertamento nos anos 70. Ainda de acordo com Jacobs, a porcentagem de avistamentos que a USAF considerava inexplicável era de 5,6% em 1955 e 4,0% em 1956. Ao mesmo tempo, a pressão para que se revelassem os relatórios do Comitê Robertson estava crescendo. Em 1956, Edward Ruppelt, antigo chefe militar do Blue Book, revelou publicamente a existência do grupo.
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Teorias de conspiração — Em seu livro The Flying Saucer Conspiracy [A Conspiração dos Discos Voadores, Henry Holt Company, 1955], o ufólogo Donald Keyhoe, major aposentado da Marinha, defendeu abertamente a liberação de todas as informações relacionadas aos UFOs. Grupos ufológicos civis, como o National Investigations Committee on Aerial Phenomena [Comitê Nacional de Investigações de Fenômenos Aéreos, NICAP] e a já citada APRO, imediatamente também pediram tal liberação por parte do governo. A pressão aumentava e, sem ter outra opção, a USAF deu à CIA permissão parcial para revelar alguns documentos secretos sobre UFOs. Mesmo assim, menosprezando a gravidade da situação, o burocrata da agência Phillip Strong recusou-se a liberar os documentos mais reveladores e ameaçou revelar o apoio que a CIA teria dado Comitê Robertson. Como alternativa, a agência preparou uma versão “mais leve” do relatório, retirando qualquer menção à Central de Inteligência e evitando qualquer referência à guerra psicológica que seria deslanchada usando-se os UFOs. Entretanto, pedidos para liberação de mais informações não paravam. Em 08 de março de 1958, em uma entrevista a Mike Wallace, da rede de TV norte-americana CBS, Keyhoe afirmou que a CIA estava envolvida com os UFOs e com o Comitê Robertson. Isso culminou com uma série de cartas de Keyhoe e do engenheiro químico e ufólogo Leon Davidson para a agência.
Eles insistiam em que todos os relatórios do comitê e o envolvimento da CIA fossem revelados de uma vez. A população também clamava por isso. Davidson defendia que a agência – e não a Força Aérea – havia conduzido a maioria das análises sobre os UFOs, e que “…as atividades secretas do governo norte-americano eram responsáveis pelos avistamentos da última década”. De fato, por causa da revelação dos vôos do U-2 e do Oxcart, Davidson estava mais perto da verdade do que pensava. A CIA, entretanto, manteve sua política de silêncio ao não revelar suas investigações ou liberar os relatórios do comitê. Isso pode ser comprovado através de diversos documentos daquele órgão, emitidos entre abril e maio de 1957. Em um encontro com representantes da USAF para se precaver de futuras acusações, como as de Keyhoe e Davidson, agentes da CIA confirmaram sua oposição à liberação dos resultados do Comitê Robertson, pois temiam que Roscoe Hillenkoetter, antigo diretor da agência, desse ouvidos a Keyhoe.
Às vezes eu me pergunto quão rapidamente as diferenças entre as nações da Terra seriam desfeitas se tivéssemos que enfrentar uma ameaça alienígena
— presidente Ronald Reagan, em 1985, perante a Assembléia Geral da ONU, ao discutir sobre o Projeto Guerra nas Estrelas
Os agentes declararam na época que a situação melhoraria caso o conselheiro-geral da CIA, Lawrence R. Houston, mostrasse discretamente os relatórios a Hillenkoetter. Frank Chapin, também da agência, tentou desacreditar Davidson insinuando publicamente que “talvez ele tivesse outros motivos, alguns dos quais lesivos aos interesses dos Estados Unidos”. Chapin sugeriu que o FBI entrasse em cena com uma investigação sobre Keyhoe e Davidson por atividades subversivas, mas isso acabou não levando à parte alguma. Mesmo assim, serviu para que se revelasse o sujo jogo do poder na comunidade de espionagem. A CIA acabou por se envolver com Davidson e Keyhoe em dois outros famosos casos de avistamento de UFOs nos anos 50 – casos que contribuíram para o crescimento da desconfiança do público em relação à política governamental de sigilo. Um era a gravação de sinais de um objeto desconhecido e, o outro, fotografias de uma nave extraterrestre.
Código não identificado — Em 1955, Mildred e Marie Maier, duas irmãs de Chicago já em idade avançada, narraram ao jornal Espaço Voador suas experiências com UFOs, incluindo a gravação de um programa de rádio no qual um código não identificado foi ouvido. A seqüência de suas apresentações passou a ser conhecida como o incidente Código no Rádio, que começou inocentemente. As irmãs gravaram o programa e alguns operadores de rádio afirmaram ter ouvido uma “mensagem do espaço” nele. O OSI se interessou e pediu, através de Edwin Ashcraft, que a Divisão Científica obtivesse uma cópia da tal gravação. Oficiais de campo da Divisão – que foi criada para coletar informações a respeito de discos voadores nos EUA – entraram em contato com as irmãs Maier, que se mostraram apavoradas com o interesse do governo, segundo relatório do agente Dewelt Walker. Na tentativa de proteger sua política de acobertamento, os oficiais da CIA tentaram desmoralizar as velhinhas dizendo que as fitas tinham “cheiro de coisas velhas e até de arsênico”, como se isso foi induzir as pessoas a imaginarem que as irmãs fossem dementes. Quando os agentes finalmente conseguiram uma cópia da fita, esta foi analisada pelo OSI, que alegou ter descoberto que os sinais nada mais eram do que código Morse vindo de uma estação de rádio norte-americana.
O assunto foi praticamente deixado de lado até o ufólogo Leon Davidson falar com as irmãs, em 1957. Elas então se lembraram de ter falado com um tal Walker, que dizia ser do governo. Isso levou Davidson a escrever a Walker, quem pensava ser um da USAF em Wright-Patterson. Davidson imaginava que a fita tivesse sido analisada no ATIC, mas Walker respondeu-lhe que ela fora entregue às autoridades para estudos e que os resultados não estavam disponíveis ao público. Não satisfeito – e desconfiando de que Walker fosse na verdade um agente da CIA –, Davidson escreveu a Allen Dulles, da diretoria da agência, para verificar o que era a fita e quem realmente era Walker. Querendo manter em segredo que Walker era seu agente, a CIA respondeu que outra agência governamental havia analisado a fita e que a Força Aérea iria atender ao pedido de Davidson. Em 05 de agosto seguinte, a USAF escreveu ao ufólogo dizendo que Walker era um oficial de seus quadros e que “a fita estaria ainda sendo analisada”, confirmando a declaração da agência.
A USAF afirmou ainda que o material continha somente código Morse, mas Davidson escreveu a Dulles novamente, desta vez para saber a identidade do operador da estação de onde vinham tais sinais e se a agência tinha feito uma análise. A CIA e a Força Aérea estavam então em um verdadeiro beco sem saída. Aume
ntava o calor das discussões na época. Tanto uma quanto a outra negaram mentirosamente que tivessem feito análise da fita e disseram que Walker era oficial da Força Aérea. Entrementes, agentes da CIA disfarçados entraram em contato com Davidson, em Chicago, e lhe prometeram a tradução do código e o nome do operador.
Negações mentirosas — Em uma outra tentativa de acalmar Davidson, membros da agência, novamente disfarçados e vestindo uniformes da USAF, encontraram-se com ele em Nova York. Desta vez disseram-lhe que não havia nenhum órgão do governo envolvido com UFOs e que a política da USAF era a de não revelar quem fazia o quê. Fingindo aceitar tal argumento, Davidson pressionou a CIA para que fosse revelada a fita e a fonte. Depois de algum tempo, um membro da agência telefonou para Davidson para dizer que a fita tinha sido acidentalmente apagada. Furioso com a grosseira evasiva, Davidson disse ao agente que “ele e sua agência, qualquer que fosse, estavam agindo iguais a Jimmy Hoffa ao destruírem evidências e gravações que pudessem mostrar a verdade ao público norte-americano”.
Acreditando que qualquer outro contato com Davidson poderia gerar ainda mais confusão e estimular mais revolta com a política de acobertamento, a Divisão de Contato se afastou dizendo que nada mais tentaria fazer. Desta forma, um pequeno e inconseqüente incidente – tratado com indiferença pela Força Aérea e pela CIA – tornou-se algo muito maior e acrescentou ainda mais mistério a respeito dos UFOs e sua investigação pela agência. Poucos meses antes disso, outro fato, ainda que de menores proporções, também ajudou a espalhar a desconfiança de que a CIA não estivesse sendo verdadeira em suas afirmações sobre os discos voadores. Desta vez a política de segredo da agência gerou um problema ainda maior. Em 1958, o major Keyhoe disse que a agência CIA deliberadamente pedia às testemunhas de avistamentos de UFOs que não levassem suas histórias a público. Isso se deu principalmente em novembro de 1957, quando o OSI requisitou as fotos que Ralph C. Mayher, de Cleveland, Ohio, havia tirado em 1952 de um objeto não identificado. Harry Real, um agente da Divisão de Contato, foi à casa de Mayher e obteve cópias das fotografias para análise. No dia 12 de dezembro de 1957, John Hazen, da mesma Divisão, devolveu as cinco fotos para o fotógrafo sem nenhum comentário.
Evitando complicações — Mayher então perguntou a este agente sobre o resultado das análises, pois planejava participar de um programa de tevê sobre o assunto. Ele queria dizer no programa que a inteligência dos Estados Unidos se interessou pelas fotos e que as analisou. Quando ouviu isso, o agente deixou bem claro que Mayher deveria desistir de seus planos, “para evitar complicações”. Mais tarde, o ufólogo Keyhoe contatou Mayher e ouviu dele tal história, envolvendo a CIA e um de seus agentes. Keyhoe então pediu à agência que confirmasse as atividades e credenciais de Hazen, na tentativa de expor a público como a CIA conduzia suas investigações. Mas a agência se recusou veementemente a tratar do assunto. O auxiliar de Dulles na Diretoria Central de Inteligência (DCI), John S. Eraman, simplesmente enviou a Keyhoe uma carta dizendo que a agência nada tinha a ver com investigações sobre discos voadores. “Por serem os UFOs assunto da Força Aérea, encaminhamos seu pedido de explicações para o órgão competente”, diria Eraman ao ufólogo, então diretor da NICAP. Como acontecera com Davidson, a agência respondeu a carta de Keyhoe dizendo que tudo o que falavam sobre a CIA e os UFOs era especulação.
A pressão para a agência liberar informações ufológicas estava crescendo, embora afirmasse publicamente que seu interesse em relação aos UFOs estivesse diminuindo. A CIA continuava acompanhando os casos nos EUA e em todo o mundo. No início da década de 60, Keyhoe, Davidson e outros ufólogos mantiveram seus ataques à CIA constantes, os quais visavam a liberação de informações relativas às pesquisas dos discos voadores. Davidson agora afirmava que a CIA “…era a responsável por criar mitos em torno dos discos voadores como ferramenta de tensão psicológica durante a Guerra Fria”. Mas essa política não mudaria facilmente, apesar dos apelos de vários deputados norte-americanos. Em 1964, entretanto, seguindo uma onda de discussões na Casa Branca sobre o que fazer se alguma civilização alienígena fosse detectada aproximando-se da Terra, John McCone, da Diretoria Central de Inteligência (DCI), foi incumbido de reativar algumas atividades da CIA em relação aos discos voadores. Tal nova iniciativa incluía acercar-se da entidade civil NICAP e avaliar o que de novo sabia sobre o fenômeno. Era uma tentativa “amigável” de se valer dos esforços da NICAP para lograr êxito em conhecer melhor os UFOs. Assim, Keyhoe e Richard Hall, da diretoria da entidade, receberam visitas de agentes da CIA e deram a eles provas mais recentes de avistamentos de UFOs nos Estados Unidos.
Keyhoe, um militar aposentado que fundou o NICAP em Washington, queria sensibilizar a agência. Depois que os agentes viram o material, Donald Chamberlain, diretor assistente da agência, amenizou seu discurso e abrandou a forma de tratar os ufólogos. Chegou a admitir à Casa Branca que tinha havido uma “pequena mudança” na forma como a CIA conduzia o assunto desde os anos 50, mas insistia que não havia provas de que os UFOs fossem uma ameaça à segurança nacional e muito menos que tinham origem extraterrestre. No entanto, Chamberlain – talvez tentando mostrar boa vontade – admitiu que a CIA e o OSI monitoraram os relatórios de avistamentos de UFOs durante décadas, inclusive toda a investigação do Projeto Blue Book, que acabaria por ser revisto por um novo grupo de cientistas. Esse novo grupo era liderado por Brian O’Brian, membro do Conselho Científico da USAF, e incluía notáveis como Carl Sagan, na época astrônomo da Universidade de Cornell, em Nova York. Entretanto, nem este novo grupo revelou algo de novo, insistindo na mesma retórica de sempre – o que frustrou boa parte da população, que esperava por resultados mais realistas.
Assunto UFO em pauta — O grupo concluiu que “além de os UFOs não serem a tão temida ameaça à segurança nacional, em nenhum caso os objetos apresentavam tecnologia ou avanço científico fora dos parâmetros terrestres”. Essa era mais uma tentativa, ainda que mais robu
sta, de se eliminar o assunto UFO da pauta de discussões. Como se vê, a CIA não poupa esforços nesse sentido. Conforme David Jacobs aponta em seu já citado The UFO Controversy in America, a Força Aérea de fato receberia desse novo grupo recomendação para continuar estudando os discos voadores intensamente – como se algum dia tivesse parado de fazê-lo. Para isso, solicitou a ajuda de uma universidade para coordenar um novo projeto e dar seu aval científico definitivo. Em 1966, a Casa Branca e outros setores do governo queriam que os UFOs fossem explicados de uma vez por todas, mas a explicação desejada era de que os objetos não existiam ou que nada tinham a ver com “seres do espaço” visitando a Terra.
Como mostra o artigo Congress Reassured Space Visits [Congresso Reafirma Visitas Espaciais], publicado em 06 de abril de 1966 no The New York Times, Harold Brown, secretário da USAF, disse que a entidade deveria manter a mente aberta e continuar a investigar todos os casos que surgissem. Após diversos fatos ligando a CIA ao estudo dos UFOs, a Força Aérea aparentava recomendar que a agência liberasse todo o Relatório Robertson, de 1953, mas a agência continuava a negar. Karl Weber, influente político norte-americano, escreveu na época que “deseja-se muito ter a confirmação definitiva de que a CIA está por trás do Comitê Robertson”. Tudo isso somente deu mais publicidade aos 13 anos de atividades do comitê e para a política de acobertamento da CIA. O editor da revista Saturday Review expôs corajosamente a questão quando publicou que “as investigações da agência sobre os discos voadores era superficiais e o Relatório Robertson incompleto”. Nesse ínterim, por ser desconhecido dos agentes da CIA, James McDonald entra em cena e desempenha um papel fundamental neste processo. McDonald era um notável físico atmosférico da Universidade do Arizona e, em junho de 1966, conseguiu acesso pela primeira vez ao Caso Durant, investigado dentro do comitê. Isso se deu em Wright-Patterson, a todo-poderosa base da USAF no Ohio. No entanto, quando o cientista retornou àquela base mais tarde, para copiar o relatório, como lhe havia sido prometido, a Força Aérea se recusou sequer a deixá-lo ver novamente o material, alegando que se tratava de documento secreto da CIA.
Intensa pressão pública — Despontando como uma autoridade em Ufologia, McDonald então afirmou publicamente que a CIA estava por trás da política de acobertamento desempenhada pela USAF, assim como outros tantos organismos dos Estados Unidos. Cedendo à intensa pressão pública e por recomendação do próprio comitê liderado por Brian O’Brian, a Força Aérea anunciou, em agosto de 1966, que havia decidido contratar uma universidade para conduzir mais uma investigação. O novo programa tinha que amenizar as acusações de que o governo escondia o que sabia em relação aos UFOs. No dia 07 de outubro daquele ano, a Universidade do Colorado aceitou realizar o contrato com a USAF, ao custo de 325 mil dólares e duração 18 meses. Edward U. Condon, físico daquela universidade e antigo diretor do Bureau Nacional de Protótipos, chefiou tal programa. Foi um desastre: Condon estava alheio aos UFOs e de toda discussão que os envolvia, embora julgasse que a possibilidade de sua origem ser extraterrestre era “improvável, mas não impossível”. O general Edward Giller e o doutor Thomas Ratchford, ambos da Força Aérea, tornaram-se coordenadores de área para o projeto. Em fevereiro de 1967, Giller contatou Arthur C. Lundahl, diretor do Centro Nacional de Interpretação Fotográfica da CIA (NPIC), e propôs um apoio informal pelo qual tal entidade assistiria o Comitê Condon com serviços técnicos avançados para a exame de fotos de UFOs. Uma parceria e tanto!
Lundahl e Jack Smith, também da agência, aprovaram o acordo como um apoio ao novo projeto, mas pediram para que a CIA e o NPIC fossem mantidos publicamente fora disso e que não fossem citados nas conclusões que forem publicadas no relatório do comitê. Ou seja, embora participando do projeto, a CIA publicamente negava seu envolvimento. Mais tarde, Ratchford pediu que Condon e seu comitê fossem autorizados a visitar o NPIC para discutir aspectos técnicos do problema e ver o equipamento que o departamento tinha para análises de fotos, o que veio a ocorrer em 20 de fevereiro de 1967. Condon e quatro membros do comitê visitaram tais instalações, mas isso nunca foi publicamente admitido. Lundahl ainda enfatizou ao que qualquer trabalho do NPIC não deveria ser identificado como sendo da CIA. Além disso, tal operação deveria ser de natureza estritamente técnica.
Assim, após receber estas orientações, o grupo ouviu uma série de explicações sobre os serviços e equipamentos que a agência utilizava. Condon e os mesmos quatro membros do comitê encontraram-se novamente no NPIC em maio daquele ano, para ver os procedimentos de análise de várias fotografias de UFOs que haviam sido tiradas em Zanesville, Ohio. Condon viu pela primeira vez como se fazia a análise científica da foto de um disco voador. O NPIC também avaliou os planos do comitê de convocar os norte-americanos a doarem fotos de discos voadores, com o intuito de se fazer um guia de como documentar tais avistamentos de forma mais proveitosa. Culminou com isso o fato de os agentes da CIA concordarem com a liberação do relatório do Caso Durant, que tinha sido pesquisado dentro pelo Comitê Robertson. Em abril de 1969, Comitê Condon veio a público e liberou, então, aquele e outros relatórios sobre UFOs nos EUA. Tudo, no entanto, havia sido previamente censurado por uma comissão de agentes da CIA. Os documentos concluíam que “…pouquíssimo, ou quase nada, do que havia sido dito sobre os UFOs nas últimas duas décadas era de fato comprovado, incluindo sua origem extraterrestre”.
Em nenhum momento se mencionava ou se admitia qualquer participação da CIA nas investigações. Mesmo assim, para parecer mais transparente, um grupo de selecionados membros da Academia Nacional de Ciências reviu os métodos e resultados Comitê Condon, emitindo um parecer altamente positivo (e suspeito). “O trabalho desenvolvido n&ati
lde;o requer qualquer tipo de recomendação por parte desta Academia”. E acrescentaram, em nota oficial, que “…com base no conhecimento que se dispõe, a explicação dos UFOs pouco provavelmente está relacionada a visitas extraterrestres por seres inteligentes”. Por fim, seguindo recomendações do Comitê Condon e da Academia Nacional de Ciências, o secretário da USAF Robert Seamans anunciou em dezembro de 1969 o encerramento do Projeto Blue Book. O Relatório Condon não satisfez os ufólogos nem o público em geral, que o consideraram mais um ato de acobertamento das atividades da CIA. Somando-se a isso, alguns avistamentos de UFOs significativos no começo dos anos 70 incentivaram os que acusavam a agência de estar envolvida de alguma forma em uma grande conspiração. Foi o estopim.
Novo acobertamento de UFOs — Em 07 de junho de 1975, William Spaulding, presidente de um pequeno grupo ufológico do Arizona chamado Ground Saucer Watch [Observadores de Discos no Solo, GSW], escreveu à CIA pedindo uma cópia do Relatório Robertson e todos os dados disponíveis sobre UFOs. Spaulding estava convencido de que a agência omitia os casos mais importantes. Surpreendentemente, a CIA deu ao ufólogo uma cópia do relatório e do Caso Durant. Em 14 de julho, Spaulding escreveu de novo à CIA, desta vez questionando a veracidade dos relatórios que tinha recebido e alegando o acobertamento das atividades da agência. Gene Wilson, coordenador de informações, respondeu às acusações dizendo que “o Relatório Robertson e seus subseqüentes não tiveram qualquer participação da CIA”. Este relatório, de acordo com Wilson, era “um resumo do interesse do governo nos UFOs”. Na carta, Wilson também disse que sua agência não possuía qualquer documento relacionado a objetos voadores não identificados e que Spaulding estava enganado.
Lei de Liberdade de Informação — No mês de setembro de 1977, Spaulding e o GSW, não convencidos com a resposta de Wilson, contrataram um advogado e utilizaram-se de uma lei chamada Lei de Liberdade de Informação (FOIA) contra a CIA. Tal dispositivo garantia a qualquer cidadão obter informações não classificadas que qualquer agência governamental estivesse escondendo. Com isso, o GSW pediu legalmente os documentos a respeito dos UFOs, e teve sucesso! A partir daí, houve uma inundação de processos contra a CIA, com vários grupos ufológicos usando o FOIA. Isso forçou a agência a concordar – após muitas brigas judiciais – em fazer uma pesquisa de verdade em seus arquivos e liberar o que encontrasse sobre UFOs. Um grupo de agentes, liderados por Launie Ziebell, conduziu uma investigação completa nos arquivos da agência e garante ter vasculhado toda a CIA, produzindo 355 documentos e aproximadamente 900 páginas.
Em 14 de dezembro de 1978, finalmente a agência liberou para o GSW, por ordem judicial, 57 documentos e um total de 100 páginas. Mas todos os documentos foram censurados para que se imitisse fatos relativos à segurança nacional e à identidade de fontes de informação. Embora os documentos liberados não tenham revelado nada que fosse “quente”, já que foram camuflados, a imprensa tratou essa notícia de forma bastante agitada. O The New York Times, por exemplo, afirmou que esses documentos provavam o intenso acobertamento do governo em relação aos UFOs e que a agência estaria envolvida no processo. Por isso, incansável, o GSW usou novamente o FOIA e pediu mais uma vez a liberação de material secreto, desta vez especificando exatamente os documentos que desejava. Isso mexeu demais com a comunidade de inteligência dos EUA e fez com que chefe de administração da agência, Don Wortman, alegasse mais uma vez que a CIA não estava envolvida com UFOs. Foi chover no molhado. Wortman disse que “os arquivos da agência guardaram somente poucos documentos que tratam superficialmente do assunto”. Não era verdade, como se veria a seguir.
Durante o final dos anos 70 e até os anos 80, a agência continuou com sua tática de pouco interesse pelos UFOs, e enquanto a maioria dos cientistas rejeitava os avistamentos nas décadas de 50 e 60, agora alguns membros da comunidade de inteligência voltavam seus interesses ao estudo parapsicólogo e aos aspectos físicos associados ao fenômeno. Os agentes da CIA passaram a olhar para o problema dos UFOs com o objetivo de determinar qual a relação que poderia haver entre os avistamentos e o progresso russo, além de aspectos de contra-inteligência. Com isso, analistas da Divisão de Ciências passaram a acompanhar com maior intimidade os avanços russos na pesquisa ufológica, inclusive intercambiando informações com a KGB. Por trás desta aproximação, evidentemente, os russos também buscavam se beneficiar de informações sobre as armas secretas norte-americanas, tais como o caça Stealth.
Operações com parapsicologia — Nessa época, a CIA também manteve a coordenação de operações com parapsicologia, incluindo testes de clarividência e telepatia, embora também ocultasse isso. Em geral, a agência sempre mostrou publicamente ter um posicionamento científico conservador com relação a esses tipos de assuntos. Internamente, entretanto, sabe-se que seu interesse por eles é bem mais profundo. Foi dentro deste escopo que manteve uma postura de neutralidade com UFOs nos anos seguintes, dando aos fatos ufológicos por ela investigados o mínimo de divulgação. No fundo, a agência temia a população poderia ficar inquieta – ou mesmo em pânico – caso fossem revelados detalhes sobre UFOs. Na década de 80, a agê