A premissa da distorção do espaço-tempo já era prevista, mas agora pôde ser mensurada no buraco negro
Quando um objeto muito grande e massivo está girando ele pode mudar o espaço-tempo ao seu redor. Até mesmo o nosso planeta tem essa capacidade. Quanto maior o objeto, maior o estrago. Buracos negros supermassivos são alguns dos maiores que temos registro, sendo milhões de vezes mais massivos que estrelas e, quando eles giram, as mudanças podem ser profundas.
Quanto mais rápido é o giro, mais o espaço ao redor dele fica distorcido. A Terra faz isso em uma escala pequena. Já o Sagitário A* achata tudo ao seu redor, em uma velocidade de rotação difícil de determinar. Um novo estudo, entretanto, pode ter conseguido descobrir isso usando uma estratégia chamada de “método de saída”, que consiste em medir como o material está fluindo para longe de um buraco negro.
Estranho em um primeiro momento, já que esses objetos sugam mais matéria do que expelem, mas alguns aglomerados de plasma produzidos no disco de matéria em torno de um buraco negro, e que podem então afastar-se, são suficientemente quentes para serem detectados em raio-X. Apontando radiotelescópios para o Sagitário A*, os cientistas mediram a velocidade do buraco negro. O resultado mostra que ele gira 60% do máximo permitido pelas leis da física, ou seja, 60% da velocidade da luz.
Isso é bem rápido, e o suficiente para distorcer profundamente o espaço tempo. “Nossos resultados indicam que o Sgr A* está girando muito rapidamente, o que é interessante e tem implicações de longo alcance”, disse Ruth Daly, da Penn State University, líder da pesquisa. Quanto mais rápido um buraco negro gira, mais poderosos são os jatos colimados de radiação que ele emite, à medida que as partículas do disco quente de matéria que gira em torno da anomalia são varridas e cuspidas.
Hoje, o buraco da nossa galáxia é pouco ativo, mas movimentos estelares podem mudar isso e os jatos podem voltar a acontecer. “Os jatos movidos e colimados pelo buraco negro central giratório de uma galáxia podem afetar profundamente o fornecimento de gás para uma galáxia inteira, o que afeta a rapidez e até mesmo se as estrelas podem se formar”, disse Megan Donahue, da Michigan State University, no mesmo comunicado à imprensa.
“As bolhas de Fermi vistas em raios-X e raios gama em torno do buraco negro da nossa Via Láctea mostram que a anomalia provavelmente esteve ativa no passado. Medir a rotação do nosso buraco negro é um teste importante deste cenário”, finalizou.
A descoberta foi publicada na edição de janeiro da revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.