Uyrangê Bolívar Soares Nogueira de Hollanda Lima. Este é o nome do primeiro oficial de nossas Forças Armadas a vir a público falar sobre impressionantes atividades de pesquisas ufológicas desenvolvidas secretamente no Brasil. Conhecido por todos como Hollanda, o coronel reformado da Aeronáutica, ainda quando era capitão, comandou a famosa e polêmica Operação Prato, realizada na Amazônia entre setembro e dezembro de 1977.
Por determinação do comandante do 1º Comando Aéreo Regional (COMAR), de Belém (PA), Hollanda estruturou, organizou e colheu os espantosos resultados desse que foi o único projeto do gênero de que se tem notícia em nosso país – e provavelmente um dos poucos no mundo. Logo após conceder esta entrevista à Revista Ufo, antes mesmo de vê-la publicada, o militar se suicidou. Sua morte causou grande polêmica, tanto quanto suas extraordinárias revelações. Foram elas, em grande parte, que motivaram a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) a iniciar a campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, que chega agora ao seu quarto mês.
Nada mais justo que publicar, nesta edição, uma versão reeditada da histórica entrevista de Hollanda à Ufo, feita em 1997 e veiculada nos números 54 e 55, que circularam nos meses de outubro e novembro daquele ano. Seu conteúdo é chocante e mostra duas coisas com excepcional clareza: primeiro, a que ponto a Força Aérea Brasileira (FAB) chegou em sua determinação de conhecer o Fenômeno UFO, através de uma equipe de militares. Segundo, a coragem do chefe de tal equipe em empreender uma operação inédita e arriscada, mas que foi coroada de êxitos – que, infelizmente, são do conhecimento de pouquíssimos brasileiros. Hollanda era um militar ímpar, homem de fibra e resolução, que talvez tenha sido o único do mundo a passar pelas experiências que viveu na Floresta Amazônica – justamente no comando de um programa oficial, e não de uma aventura qualquer.
Homem extremamente objetivo, impressionantemente culto e com vívida memória de inúmeros episódios de sua carreira militar – especialmente em relação à Ufologia –, Hollanda recebeu a Revista Ufo em seu apartamento em Cabo Frio, litoral do Rio de Janeiro, para uma longa e proveitosa entrevista, em junho de 1997. Das 48 horas em que o editor A. J. Gevaerd e o co-editor Marco Antonio Petit passaram em sua residência, colheram uma valiosíssima quantidade de informações ufológicas inéditas e assustadoras. Sua atitude de quebrar um silêncio militar de 20 anos sobre o assunto não se deu por acaso.
Revelação e repreensão
Hollanda confessou que acompanhava discreta mas entusiasmadamente as atividades da Ufologia Brasileira desde o surgimento de Ufo, em 1985. Já naquela época, oito anos após a realização da Operação Prato, e ainda com memória fresca sobre os inúmeros casos ufológicos que viveu, a então revista Ufologia Nacional & Internacional, antecessora de Ufo, recebeu de uma fonte confidencial ligada à Aeronáutica uma série de fotos de naves alienígenas que teriam sido tiradas pela FAB, na Amazônia. Pouco ou nada, além disso, sabíamos sobre esse material, mas mesmo assim o publicamos.
Sabíamos na época – e Hollanda depois nos confirmou – que eram fotografias secretas, obtidas oficialmente pelos militares que compunham a Operação Prato. Esse material tinha que ser publicado a todo custo, para que a Comunidade Ufológica Brasileira soubesse de sua existência, mesmo que isso pudesse trazer problemas legais para a revista. E trouxe: tal atitude resultou em repreensão do editor da revista por um certo comando militar. De qualquer forma, as fotos e um texto sobre o pouco que sabíamos na época a respeito da operação foram publicados. Evidentemente, os oficiais que integraram a operação não apreciaram tal fato, em especial o comandante do 1º COMAR, que havia determinado a criação do projeto e estabelecido que o mesmo fosse mantido em segredo. Mas nenhum militar foi punido em razão da publicação daquele material em Ufologia Nacional & Internacional, pois nunca se soube quem era nossa fonte de informação. Não era Hollanda, ao contrário do que muitos pensaram.
Apesar das dificuldades inerentes a uma revelação como aquela, nos primórdios de nossa trajetória, nossos leitores tomaram conhecimento de que uma missão de investigação oficial de objetos voadores não identificados, conduzida pela FAB, foi realizada na Amazônia em sigilo, resultando em experiências diversas vividas pelos militares envolvidos e na confirmação não só da realidade do fenômeno em si, mas também de sua origem extraterrestre. Nem o próprio Hollanda, que não conhecíamos na época, chegou a se irritar com a publicação do material, pois julgou importante que todos soubessem dos fatos, como admitiu anos depois, na entrevista que daria à Revista Ufo, em 1997. “A publicação fez seu papel, doa a quem doer. Tem gente que não gostou, é claro. Mas, assim como eu, vários outros militares acharam que a medida foi acertada”, disse Hollanda ao editor Gevaerd.
Alguns meses depois, já baixada a poeira, Hollanda, ainda com patente de capitão, passou a acompanhar as edições da revista, discretamente, constatando de longe a seriedade do trabalho desenvolvido pela Equipe Ufo. Nosso interesse por informações mais detalhadas sobre a Operação Prato nos levou a contatá-lo em Belém, em 1988, em seu posto no 1º COMAR. O capitão nos recebeu com formalidade, mas amigável. Evidentemente, não pôde nos dar os dados que buscávamos, mas notou nossa insistência em ver o assunto disseminado através da publicação. Por isso, tentamos ainda um novo contato no início dos anos 90, já no Rio de Janeiro, quando o oficial estava em vias de se aposentar. Nessa ocasião, num encontro casual, trocamos algumas idéias sobre o Fenômeno UFO, mas nada mais consistente. Ainda não seria dessa vez que teríamos conhecimento dos detalhes das descobertas da FAB na Amazônia.
A hora certa chegaria em junho de 1997, por iniciativa do próprio Hollanda, motivado por uma reportagem que assistira no programa Fantástico. Numa matéria específica sobre o sigilo imposto aos discos voadores pelos governos – especialmente no Brasil –, o editor de Ufo declarou fatos sobre a Operação Prato e mostrou alguns poucos documentos que a equipe tinha na época. Na segunda-feira imediatamente após o programa ter ido ao ar, Hollanda, já na reserva, viu que era hora de quebrar o silêncio.
Missão cumprida
Aposentado desde 1992, ele nos telefonou para elogiar a atuação da revista e para retomar o contato e colocar-se à nossa disposição. Disse que já havia passado bastante tempo desde a operação, e que julgava ter chegado a hora de romper o silêncio. “Estou na reserva, cumpri minha missão para com a Aeronáutica. O que eles podem me fazer? Prender? Duvido!”, disse, quando questionamos sobre a possibilidade dele sofrer punições de seus superiores quanto à atitude de nos revelar os fatos.
A decisão de Hollanda era corajosa e absolutamente sem precedentes na Ufologia Brasileira. Nunca, em momento algum, um militar tinha tomado tal resolução. Assim, com seu consentimento, colocamos o repórter e editor do Fantástico Luiz Petry e a jornalista Bia Cardoso, da Manchete, em contato com ele. Esses profissionais foram os primeiros a chegar em Cabo Frio e entrevistar Hollanda. Com isso, cumpríamos nossa obrigação de informar à imprensa fatos significativos dentro do mundo ufológico. Tínhamos consciência de que, por mais que pudéssemos – e fôssemos tentados – a guardar para a Revista Ufo a exclusividade de tais informações, numa espécie de “furo” mundial de reportagem, não tínhamos esse direito. UFO tinha, sim, a obrigação de dar todos os detalhes, todas as minúcias aos seus leitores. Mas a imprensa precisava levar tais fatos, ainda que de maneira bem mais reduzida, à toda população. Seguindo esse mesmmo princípio, a publicação consentiu que a entrevista esse direito. Ufo tinha, sim, a obrigação de dar todos os detalhes, todas as minúcias ao seus leitores. Mas a imprensa precisava levar tais fatos, ainda que de maneira bem mais reduzida, à toda população. Seguindo esse mesmo princípio, a publicação consentiu que a entrevista que fez com Hollanda fosse inúmeras vezes reproduzida em revistas e sites da internet, em todo o mundo.
Mais do que um entrevistado, Hollanda transformou-se num querido amigo de vários integrantes da Equipe Ufo e aceitou, sem vacilar, o convite que formulamos para vir a ser um dos consultores da publicação, o que não chegou a se efetivar em razão de seu suicídio. Experiência não lhe faltava, pois, em seus quatro meses de Operação Prato, além de muitos outros passados na selva em missões onde o Fenômeno UFO estava presente, teve a oportunidade não apenas de conhecer detalhes íntimos sobre o assunto, mas de viver pessoalmente dezenas de espetaculares experiências com objetos enormes e à curta distância.
Naves de 30 andares
Hollanda se recorda dos detalhes de ocorrências assustadoras passadas na selva, onde avistou diversos UFOs, desde “objetos cilíndricos do tamanho de prédios de 30 andares, que se aproximavam a não mais do que 100 m de onde estava”, disse, até as enigmáticas e onipresentes sondas ufológicas. Na época em que o entrevistamos, Hollanda estava casado pela segunda vez e vivendo uma vida pacata de aposentado em Cabo Frio, após 36 anos de atividade militar – nos quais desenvolveu funções que vão desde chefe do Serviço de Intendência do 1º COMAR a comandante do Serviço de Operações de Informação (A2) e coordenador de Operações Especiais de Selva.
Hollanda era um homem realizado – poucos tiveram a vida que ele teve. E era bastante franco também. “Gevaerd, a Operação Prato tinha o objetivo de desmistificar aqueles fenômenos na Amazônia. Eu mesmo era cético a respeito disso”, disse, logo no princípio da entrevista, informando que ele fora designado por conhecer como nenhum outro militar a região afetada. “Mas depois de algumas semanas de trabalho na área, quando os UFOs começaram a aparecer de todos os lados, enormes ou pequenos, perto ou longe, não tive mais dúvidas”, desabafou, admitindo que se convenceu da realidade dos fatos na Amazônia.
É esse incrível personagem, agora eterna referência na Ufologia, quem deu a maior contribuição que essa disciplina receberia em nosso país, em mais de cinco décadas de atividades. Porém, a Comunidade Ufológica Brasileira mal chegou a conhecer o homem a quem passou a dever tanto desde junho de 1997, quando ele resolveu romper o sigilo. Quatro meses depois, em 02 de outubro, o coronel Uyrangê Hollanda cometeu suicídio. Tinha feito outras três tentativas anteriores, pois era vítima de depressão – sendo que, da última, adquiriu um problema na perna que o levara a andar mancando. O coronel deixou filhos de seus dois casamentos, em Belém e no Rio de Janeiro.
Hollanda foi-se esse mundo sem saber que enorme benefício o causara. Talvez, se a primeira parte de sua entrevista tivesse sido publicada um pouco antes, ele se sentiria menos deprimido ao ver o respeito com que seus depoimentos e sua coragem foram tratados na Revista Ufo. Infelizmente, por problemas inerentes a uma publicação de circulação nacional, a entrevista com Hollanda só pôde ser divulgada na edição 54, de outubro de 1997, indo às bancas no dia 12 daquele mês – precisamente 10 dias após seu falecimento. Já não havia mais tempo de parar as máquinas gráficas para incluir, na edição, a triste nota. Ela teve que ser publicada junto da segunda parte do material, na edição 55, de novembro. “Carrego comigo até hoje a impressão de que, se tivesse conseguido publicar a entrevista pelo menos uma edição antes, em Ufo 53, Hollanda, ao ver o que escrevi a seu respeito e a contribuição que estava dando à Ufologia Brasileira, não teria tirado sua vida”, declara o editor Gevaerd. Lamentavelmente, a história não pode ser mudada. Mas eis a seguir, em mais uma justa homenagem a Uyrangê Bolívar Soares Nogueira de Hollanda Lima, sua entrevista na íntegra.
Coronel, o senhor é o primeiro militar a vir a público e admitir tudo o que pretende uma entrevista como essa. Quais são as razões para isso? Em 1977, quando ocorreram as coisas que vou descrever, fui muito procurado por ufólogos e pela imprensa para fazer alguma declaração a respeito. Mas não podia falar na época, porque tinha uma obrigação militar. Eu havia cumprido uma missão e não podia revelar qual era. Minha fidelidade era apenas para com meu comandante. Mas depois de quatro meses de estudos e pesquisas, a Aeronáutica interrompeu a Operação Prato. O comandante tinha ficado satisfeito com os resultados e não me competia julgar, na época, se isso era certo ou errado.
Então o senhor evitou falar sobre a Operação Prato esse tempo todo? Eu não podia falar. E também não tinha vontade. Conversei com vários ufólogos, entre eles o general Uchôa, e fui procurado até por pessoas dos EUA, inclusive Bob Pratt [Autor do livro Perigo Alienígena no Brasil, código LV-14 da Biblioteca Ufo]. Conversamos muito em off. Minha posição como militar colocaria o Ministério da Aeronáutica numa situação difícil de se explicar, e além disso havia punições para quem tratasse desse assunto sem autorização. Eu não tinha permissão nem do meu comandante, quanto menos do ministro. E o que eu falasse seria interpretado como sendo a palavra oficial da Força Aérea Brasileira (FAB). Mesmo assim, após o encerramento da Operação Prato, pesquisei e mantive contato com ufólogos de vários países, mas nunca falei nada a respeito.
O senhor se reformou da FAB em 1992. Não passou pela sua cabeça conversar com ufólogos antes e relatar tais fatos? Eu apenas conversava com eles, sem entrar em detalhes. Conversei muito com Bob Pratt quando ele veio ao Brasil, com dona Irene Granchi, com Rafael Sempere Durá e outros. Mas nunca disse que queria falar à televisão ou coisa assim. Pediram-me que escrevesse um livro, mas nunca me interessei. Hoje penso diferente: acho que já deve ser dito alguma coisa sobre a Operação Prato. Esse assunto deve ser propalado e explicado, pois vou fazer 60 anos daqui a pouco. De repente posso morrer, e aí a história se acaba…
Por ter procurado a Revista Ufo para dar essas declarações, quer dizer que confia que ela irá fazer um trabalho sério de divulgação sobre o que o senhor está falando? No fim dos anos 80, começo dos 90, estive conversando com você [Dirigindo-se a Gevaerd] e não pude autorizar a publicação de nada sobre o que falamos em sua revista. Mesmo assim você o fez, por achar que o assunto não poderia ficar escondido. Eu estava na ativa e não podia dar nenhuma declaração formal. O que saiu publicado foi sem permissão, o que nos causou um pouco de complicação na época. Mas precisava ser dito. Alguns anos depois, eu já estava na reserva e a coisa tinha mudado. Já podia fazer declarações sem problemas. E por saber de sua seriedade, da Revista Ufo e de seus demais membros, hoje sinto mais tranqüilidade para falar sem correr o risco disso virar sensacionalismo. Não creio que esta revista vá dar tal conotação a essa matéria apenas para aumentar suas vendas.
Obrigado pela confiança, coronel. Mas como é que tudo começou? Qual foi o estopim inicial de seu interesse por Ufologia? Foi anterior à Operação Prato? Em 1952 eu tinha 12 anos e estava na janela de minha casa, em Belém (PA), quando apareceram uns objetos muito grandes que me chamaram a atenção. Havia uma luz imensa sobre a cidade. No dia seguinte a história estava publicada no jornal. A matéria dizia que aquilo tinha parado sobre uma federação de escoteiros, durante um campeonato de natação, e todo mundo viu. Foi aí que surgiu meu interesse por essas coisas, bem antes de ser militar e muito antes da Operação Prato. Sempre acreditei em vida extraterrena e na possibilidade de “eles” terem a curiosidade de nos observar. Somos um planeta com vida inteligente que deve suscitar interesse de extraterrenos.
O senhor chegou a se engajar na Aeronáutica por causa de seu interesse pela vida fora da Terra? Não. Sempre tive uma paixão muito grande pela aviação e pela vida militar. Como aviador da FAB, cheguei a ser chefe do Serviço de Intendência, no qual tinha muitas atribuições. Minha função era dar suporte administrativo e financeiro para ações do comando ao qual servia. Também fui chefe de operações do Serviço de Informações do meu comando. Era uma tarefa ligada à segurança do Estado, que combatia aos movimentos subversivos durante a efervescência e após a Revolução de 64. Batalhávamos contra as ações de terroristas e de partidos comunistas que tentavam se infiltrar no país.
Consta em seu currículo também uma função bastante interessante, como chefe do Serviço de Operações Especiais de Selva. O senhor deve ter muitas experiências para contar. Sim. A FAB tinha como projeto fazer um “colar de fronteiras”. Era idéia do inteligentíssimo brigadeiro João Camarão Teles Ribeiro, que tinha muito conhecimento da Amazônia. Ele queria formar pontos-chave por todas as fronteiras, construir campos de pouso de 200 em 200 km ao lado de missões religiosas protestantes ou católicas, e assentar lá agrupamentos que dessem assistência aos índios. A FAB daria suporte a tudo isso. Eu trabalhei nessa operação como pára-quedista, pois gostava muito desse tipo de atividade.
O senhor efetuou muitas missões na selva? E apareciam muitos índios? Eram muitas tribos indígenas, com muitos de seus componentes abrindo áreas na mata para construção de campos. Alguns eram aculturados, outros não. Mas a gente sempre trabalhava em algumas missões em contato com eles. Nessa época, as ações do Parasar sempre estavam em alta [Parasar significa Parachute Search and Rescue, termo em inglês para Pára-quedismo e Salvamento]. Eu era um pára-quedista responsável por ações de busca e salvamento na selva.
Durante essa época, o senhor tomou conhecimento de algum tipo de descoberta relacionada à arqueologia ou alguma observação feita por militares na Amazônia, ligada a esse tipo de programa? Sim, alguns colegas iveram experiências do gênero, principalmente um amigo meu, que relatou que estava sobrevoando a selva e ficou surpreso ao ver uma formação piramidal coberta pela vegetação, no meio do nada. Parece que ali tinha existido algum núcleo de uma civilização muito antiga e que fora abandonada, tendo a selva tomado conta de tudo. Mas havia uma formação piramidal nítida, com ângulos perfeitos no Amazonas. Só não posso precisar exatamente onde. Mas, se não me engano, foi na região do Rio Jaguari. Isso me foi relatado pelo coronel Valério.
Coronel, agora que sabemos bastante sobre sua atividade na FAB, vamos falar de Ufologia. Qual foi sua primeira participação na pesquisa ufológica oficial dentro da Aeronáutica? Foi a Operação Prato ou já havia alguma coisa antes disso? Não, de minha parte não. Minha atividade era somente a segurança do Estado e as coisas que envolviam o comprometimento da segurança nacional. Não tinha nada a ver com UFOs ou seres extraterrestres. Mas eu já tinha conhecimento de alguns casos acontecendo na Amazônia.
Esses casos atraíam, de alguma maneira, interesse ou preocupação por parte das Forças Armadas, como se fossem uma ameaça externa à soberania nacional? Não eram vistos como ameaça externa. Os UFOs eram encarados mais como um fenômeno duvidoso. Alguns oficiais – talvez até a maioria deles – viam os UFOs como uma coisa improvável e faziam muita gozação a respeito. Faziam tanta brincadeira que acho que foi sorte essa Operação Prato sair. Acho que só aconteceu mesmo porque o comandante do 1º COMAR, brigadeiro Protásio Lopes de Oliveira, na época, tinha muito interesse nisso e acreditava em objetos voadores não identificados. Se não…
Como surgiu a idéia da Operação Prato? Foi um projeto seu, do comandante do 1º COMAR ou uma coisa do Governo? Eu não estava em Belém nessa época. Embora estivesse servindo na cidade, fazia um curso em Brasília. Mas, quando retornei, apresentei-me ao chefe da Segunda Seção do 1º COMAR, o coronel Camilo Ferraz de Barros, e ele me perguntou se eu acreditava em discos voadores. Foi meio de surpresa. Eu nem sabia que estava ocorrendo uma pesquisa sobre o assunto. Quando respondi que sim, ele falou: “Então você está designado para este caso”. E me deu uma pasta com o material. Era o início da operação, da qual eu ficaria encarregado, embora nem nome ainda tivesse.
De onde veio a idéia de a operação se chamar Prato? Essa idéia foi minha. Dei esse nome porque o Brasil é o único país no mundo que chama UFO de disco voador. Em francês é soucoupe volante, que significa pires. Os portugueses o chamam de prato voador. Na Espanha é platillo volador, e platillo é prato também. Enfim, até em russo se fala prato, nunca disco, como se faz no Brasil! E como nas Forças Armadas a gente nomeia algumas operações com uma espécie de código, esse caso não podia ser exceção, ainda que não pudesse ser identificado o objetivo da operação. Por exemplo, não poderíamos chamá-la de Operação Disco Voador. Por isso, ficou Operação Prato.
Se o senhor recebeu uma pasta de seu chefe, então quer dizer que já estava em andamento alguma investigação a respeito? Sim, quando eu cheguei de Brasília já havia agentes sendo enviados para investigar as ocorrências de objetos voadores não identificados, porque essa coisa já estava acontecendo há muito tempo na região de Colares, que é uma ilha pertencente ao município de Vigia, no litoral do Pará. O prefeito da cidade mandou um ofício para o comandante do 1º COMAR avisando que os UFOs estavam incomodando muito os pescadores. Alguns deles não conseguiam mais exercer sua atividade, pois os objetos sobrevoavam suas embarcações. Às vezes, certos UFOs até mergulhavam ao lado delas, nos rios e mares, e a população local passava a noite em claro. As pessoas acendiam fogueiras e soltavam fogos para tentar afugentar os invasores. Foi o pavor que fez com que o prefeito se dirigisse ao comando do 1º COMAR solicitando providências, e o brigadeiro mandou que eu fosse investigar as ocorrências.
Na época da Operação Prato, em 1977, eu não podia falar a respeito, porque tinha minha obrigação militar. O que eu falasse seria interpretado como sendo a palavra oficial da FAB. Por isso, não tinha autorização nenhuma
Em algum momento houve a participação ou instruções do comando da Aeronáutica, em Brasília, para que a situação fosse averiguada? Na época, eu não participava das discussões. Era apenas um capitão e recebia ordens somente. Eu não fiz parte desse trâmite e não sei como as decisões foram tomadas ao certo. Mas, pelo pouco que sei, a decisão foi do comando do 1º COMAR. Se houve envolvimento de Brasília, não tomei conhecimento…
Como é que o senhor estruturou a Operação Prato? Quantas divisões, pessoas ou missões teriam que ser empreendidas? Enfim, como o senhor organizou todas as tarefas? Bem, nós éramos uma equipe, e eu era o chefe dela. Tínhamos cinco agentes, todos sargentos, que trabalhavam na segunda seção do 1º COMAR. Além disso, tínhamos informantes aos montes, gente nos locais de aparição das luzes, em campo, que nos ajudava. Às vezes eu dividia a equipe em duas ou três posições de observação diferentes na mata. Claro que ficávamos constantemente em contato uns com os outros, através de rádio.
Qual era o objetivo imediato da Operação Prato? Observar discos voadores, fotografá-los e contatá-los? Olha, eu queria mesmo é tirar a prova dessa coisa toda. Queria botar isso às claras. Porque todo mundo falava nas luzes e objetos e até os apelidavam com nomes populares, tais como chupa-chupa. E a FAB precisava saber o que estava realmente acontecendo, já que isso se dava no espaço aéreo brasileiro. Era nossa a responsabilidade de averiguar. Mas, no início da Operação Prato, eu queria mesmo era uma confirmação do que estava acontecendo.
O que motivou a população local a chamar as luzes de chupa-chupa? Havia uma série de relatos de pessoas que tinham sido atingidas por um raio de luz. Todas julgavam que o efeito sugava-lhes o sangue. E realmente! Verificamos alguns casos e descobrimos que várias delas, principalmente mulheres, tinham estranhas marcas em seus seios esquerdos, como se fossem dois furos de agulha em torno de uma mancha marrom. Parecia queimadura de iodo. Então as pessoas tinham o sangue sugado, em pequena quantidade, por aquelas luzes. Por isso passaram a apelidá-los de chupa-chupa ou apenas chupa. Era sempre a mesma coisa: uma luz vinha do nada e seguia alguém, geralmente uma mulher, que era atingida no seio esquerdo. Às vezes eram homens que ficavam com marcas nos braços e nas pernas. Na verdade, a cada dez casos, eram mais ou menos oito mulheres e dois homens.
E vocês documentaram as marcas verificadas nas pessoas? Sim, foi tudo visto e analisado por médicos, que às vezes iam conosco aos locais. Sinceramente, eu entrei nessa como advogado do diabo. Queria mesmo era desmistificar essa história e dizer ao meu comandante que essa coisa não existia, que era alucinação coletiva, sei lá. Achava que alguma coisa estava sendo vista, mas que não era extraterrestre…
O senhor imaginava que fosse o que, então, aquilo que estava sendo visto e até atacando as pessoas? Não sei bem. Talvez a plumagem de uma coruja refletindo a luz da lua ou alguma outra coisa dessa natureza. Até acreditava em extraterrestres, mas não que as pessoas os estivessem vendo. E eu fui para lá verificar se era realmente isso. Passei pelo menos dois meses respondendo ao meu comandante, quando voltava das missões, que nada havíamos descoberto. Eram os primeiros dois meses da Operação Prato, nos quais nada vi que pudesse mudar minha opinião. Às vezes passava uma semana no mato e voltava apenas no domingo, para conviver um pouquinho com a família. A cada retorno, meu comandante perguntava: “Viu alguma coisa?” E eu sempre respondia: “Vi luzes estranhas, mas nada extraterrestre”. De fato, víamos luzes que piscavam, que passavam à baixa altitude, mas nada muito estranho.
Isso era durante a noite. E o que acontecia de dia? Vocês tinham alguma outra atividade incorporada à Operação Prato?Sim, tínhamos outras coisas a fazer, que eram parte dos objetivos da operação. Fazíamos entrevistas com pessoas que tiveram experiências, preparávamos os locais para passar a noite e buscávamos lugares quentes para fazer vigílias. Quando descobríamos que algo aparecera em tal lugar, para lá nos deslocávamos. Fazíamos um levantamento da situação, e sempre cadastrávamos os nomes dos envolvidos em um formulário próprio.
Que procedimentos ou metodologia eram utilizados na coleta de informações? Sempre colocávamos o nome da pessoa que teve a experiência, o local onde ocorreu, horário etc. Fazíamos uma descrição de cada fato ocorrido. Assim, se acontecessem três casos numa noite, ouvíamos três testemunhas. Algumas das descrições eram comuns, outras mais estranhas. Às vezes recebíamos relatos de coisas que não podíamos comprovar a autenticidade, como desmaterialização de paredes inteiras ou de telhados, por exemplo.
O senhor tem algum caso para ilustrar esse tipo de ocorrência? Sim. A primeira senhora que entrevistei em Colares, por exemplo, me disse coisas absurdas. Tínhamos saído de helicóptero de Belém só para ouvirmos uma mulher que tinha sido atacada pelo chupa-chupa. Vi que ela tinha realmente uma marca no seio esquerdo. Era marrom, como se fosse uma queimadura, e tinha dois pontos de perfuração. Quando conversamos, relatou-me que estava sentada numa rede fazendo uma criança dormir quando, de repente, o ambiente começou a mudar de temperatura. A senhora achou aquilo esquisito, mas nem imaginava o que iria ocorrer a seguir. Então, deitada na rede, viu que as telhas começaram a ficar avermelhadas, em cor de brasa. Em seguida, ficaram transparentes e ela pôde ver o céu através do telhado. Era como se as telhas tivessem se transformado em vidro. Ela via o céu e até as estrelas.
Histórias bizarras como essa eram muito comuns durante a Operação Prato? Muito, e me assustavam bastante, porque nunca tinha ouvido falar dessas coisas. Quando ouvia casos assim, ficava cada vez mais preocupado e curioso. Essa gente parecia ser sincera. Por exemplo, através do buraco que a mulher descreveu ela viu uma luz verde brilhando no céu. A senhora então ficou meio dormente, até que, em seguida, um raio vermelho que saiu do UFO atingiu seu seio esquerdo. Era curioso que na maioria das vezes as pessoas eram atingidas do lado esquerdo. E tem mais: exatamente na hora em que estávamos falando disso, uma menina chegou perto e disse: “Olha, aquilo está passando aqui em cima”. Quando saí da casa, vi cruzar a luz que a moça estava apontando, numa velocidade razoável, ainda que o céu estivesse bastante encoberto. Não era muito veloz e piscava a cada segundo, dirigindo-se ao norte. Parecia até um satélite, só que essa luz voltou em nossa direção – e satélites não fazem isso! Logo em seguida, aquilo ficou mais estranho ainda. Mesmo assim, não poderia dizer se era uma nave extraterrestre. Aliás, eu não estava lá para classificar qualquer coisa que surgisse como sendo disco voador.
Vocês utilizavam algum tipo de equipamento de radar que pudesse confirmar ou fazer acompanhamento desses fenômenos? Não. Todos os aeroportos têm radares fixos. Nós não portávamos nada desse tipo.
Os ataques que estavam acontecendo com certa freqüência eram comunicados ao Governo, às autoridades estaduais ou municipais? Sim, claro. Vários médicos da Secretaria de Saúde do Pará foram enviados pelo Governo para examinar as pessoas. Eles analisavam o lugar queimado e tomavam depoimentos dos pacientes, mas não faziam mais nada – nem tinham como. Algumas vítimas se recuperavam facilmente. Outras ficavam muito apavoradas. Havia umas que diziam ficar enjoadas, com o corpo dormente por vários dias. Um cidadão uma vez veio me procurar para dizer que próximo à sua casa tinha surgido uma luz, que focou um raio brilhante em sua direção. Ele me relatou ter ficado tão apavorado que correu para dentro da casa, pegou uma arma e apontou para a luz. Aí veio outra ainda mais forte que fez com que ele caísse. O pobre coitado passou uns 15 dias com problemas de locomoção, mas não houve nada mais sério. Ele não foi atingido por nada sólido, como um tiro, por exemplo. Parece que a natureza dessa luz é uma energia muito forte, que deixa as pessoas sem movimento. Acredito que as autoridades federais estavam informadas de que esse tipo de ataque a humanos estava acontecendo na região, mas desconheço provas. Eu apenas recebia ordens de meu comandante, mais nada.
Se esses depoimentos foram coletados desde o início da Operação Prato, quando foi que o senhor teve seu primeiro contato frente a frente com objetos voadores não identificados naquela região? Foi bastante significativo. Certa noite, nossa equipe estava pesquisando na Ilha do Mosqueiro, num lugar chamado Baía do Sol, pois havia informações de que lá estavam acontecendo casos. Era um balneário conhecido de Belém, bem próximo a Colares, e como estávamos investigando todo e qualquer indício de ocorrências ufológicas, fixamo-nos no local. Nesse período, os agentes que tinham mais tempo do que eu nessa operação – já que peguei o bonde andando –, questionavam-me o tempo todo, após vermos algumas luzinhas, se eu já estava convencido da existência do fenômeno. Como eu ainda estava indeciso, diziam-me: “Mas, capitão, o senhor ainda não acredita?” Eu respondia que não, que precisava de mais provas para crer que aquelas coisas eram discos voadores. Eu não tinha visto, até então, nave alguma. Somente luzes, muitas e variadas. E não estava satisfeito ainda.
Eles deram início à operação antes e tinham visto mais coisas? Mas e aí, o que aconteceu? Eles avistaram mais coisas e acreditavam mais do que eu. E me pressionavam: “Como pode você não acreditar?” Um desses agentes era o sub-oficial João Flávio de Freitas Costa, já falecido, que até brincava comigo dizendo que eu era cético enquanto uma dessas coisas não viesse parar em cima de minha cabeça. “Quando isso acontecer e uma nave acender sua luz sobre o senhor, aí eu quero ver”, dizia ele, sempre gozando de meu descrédito. E eu retrucava que era isso mesmo: tinha que ser uma nave grande, bem visível, se não, não levaria em conta. E para que fui dizer isso naquela noite? Acabávamos de fazer essas brincadeiras quando, de repente, algo inesperado aconteceu. Apareceu uma luz, vinda do norte, em nossa direção, e se aproximou. Aí ela se deteve por uns instantes, fez um círculo em torno de onde estávamos e depois foi embora. Era impressionante: a prova cabal que eu não podia mais contestar. Eu pedi e ali estava ela! Foi então que levei uma gozada da turma. “E agora?”, os soldados me perguntaram.
Quando foi isso, exatamente? Em novembro de 1977, no meio da operação. O objeto tinha uma luz que se parecia com solda de metal, como aquelas elétricas. Foi curioso, pois quando era menino ouvia muitas histórias de coisas que a gente não conseguia enxergar por possuírem luminosidade muito forte. E foi o que eu vi, junto à minha equipe: uma luz azul, forte, de brilho intenso. Mas não vi a forma do UFO, só a luz que ele emanava o tempo todo.
Vocês conseguiram fotografar esse objeto brilhante e sua emanação de luz? Fotografávamos tudo o que aparecia, mas levamos um baile durante uns dois meses com as fotos, pois nelas não saía nada. Sempre tínhamos os objetos bem focalizados, preenchendo todo o quadro da máquina, mas quando revelávamos os negativos, nada aparecia. Pensávamos, às vezes, “ah, agora vai sair”. Mas nada. Isso acontecia com freqüência, até que ocorreu um fato inusitado. Eu estava analisando os positivos, muito chateado por não conseguir imprimir as imagens que víamos em nossas missões, quando peguei uma lanterna que usava em operações de selva, e fiz uma experiência. Foi a sorte.
E o que aconteceu? A lanterna tinha uma luz normal e forte numa extremidade e uma capa vermelha na outra, que servia para sinalização de selva. Era de um material semitransparente de plástico, tipo luz traseira de carro. Tirando-se a tal capa vermelha havia um vidro fosco. Eu olhei para aquilo e me lembrei que os médicos examinam as radiografias num aparelho que tem um quadro opaco com luz por trás [Radioscópio]. Esse equipamento ajuda a fazer contraste de luz e sombra numa chapa de raio-X. Assim, tive a idéia de pegar um filme já revelado e contrapô-lo ao vidro fosco da minha lanterna de selva. Foi então que pude ver um ponto que não conseguia enxergar antes. Eu não estava procurando marca ou objeto algum, e sim uma luz, pois foi isso o que vimos na selva ao batermos as fotos. Só que a tal luz não aparecia, e sim o objeto por trás dela. No caso do rolo que estava analisando, vi um cilindro, que aparecia em todos os demais fotogramas. Ficou claro, então, que não conseguia imprimir a luz do objeto na foto, mas sim a parte sólida dele, talvez por uma questão de comprimento de onda, não sei. Não entendi por que a luz do UFO não impressionava aquele filme, somente a parte sólida. Depois, concluímos que aquele objeto seria uma sonda em forma de cilindro.
Vocês fizeram muitas fotografias de UFOs como essas? E como! Fizemos mais de 500. Eram dezenas de rolos de filmes, uma caixa de papelão cheia deles. Em quase todos os fotogramas havia UFOs ou sondas. E veja você que todos aqueles negativos ficaram na minha frente, por quase dois meses de trabalho, e não conseguimos nada. Não saía luz alguma nas fotos. Aí, depois do que descobri, fomos olhá-los novamente e havia imagens fantásticas. Depois foi só mandar ao laboratório do 1º COMAR para ampliar e ver lindas sondas e UFOs nas fotografias. Dezenas deles!
Depois de sua descoberta vocês fizeram novas fotos? Sim, com a ajuda de um amigo chamado Milton Mendonça, que já faleceu. Ele era cinegrafista da TV Liberal, de Belém, e conhecia muito sobre fotografia. Pedi sua ajuda porque confiava bastante nele e sabia que, participando da operação conosco, não ia comentar nada com ninguém. Assim, informei o fato ao meu comandante, dizendo-lhe que estava com dificuldades no processo técnico fotográfico, e ele autorizou Milton a entrar no esquema. Ele foi conosco em algumas vigílias e sempre nos auxiliava. Até instruiu-nos a usar filmes especiais, com recursos de infravermelho, ultravioleta etc. Pedimos, pois, o material para nossos superiores, em Brasília, e eles mandaram filmes ótimos. Com isso, passamos a ter melhores resultados. Conseguimos fotografar, então, objetos grandes e com formatos que a gente nem imaginava…
Quanto à forma, qual era o padrão mais comum que esses objetos apresentavam? No início da Operação Prato vimos o que todo mundo falava: sondas e luzes piscando. Inclusive, tinha um padre norte-americano, chamado Alfred de La O, também falecido, que nos dava descrições de sondas e objetos nesse formato. Ele era pároco em Colares e falava de uma sonda que tinha visto várias vezes. Segundo Alfred, ela era mais ou menos do tamanho de um tambor de óleo de 200 l. Essa sonda apresentava um vôo irregular, não era uma trajetória segura. Voava como se tivesse balançando, e emitia uma luz. Às vezes andava junto às outras, que iam e vinham de um ponto a outro. Um dia, ela passou por cima de nós.
Vocês chegaram a perceber algum tipo de interação entre o que faziam e o comportamento do fenômeno? Essa pergunta é bastante interessante, pois aquilo era uma coisa muito estranha. Eles, seja lá quem fossem, mostravam ter absoluta certeza de onde nós estávamos e o que fazíamos. Parecia que nos procuravam, pois, quando menos esperávamos, lá estavam, bem em cima da gente. Não mais do que um mês depois de passarmos a conviver nos locais de aparições, essas sondas começaram a vir sempre até nós. Às vezes, a gente se deslocava de um lugar para outro e lá iam elas, acompanhado-nos quase o tempo inteiro, como se tivessem conhecimento da nossa movimentação.
Quer dizer então que os objetos voadores não identificados, de alguma forma, pareciam se interessar pelas atividades da Operação Prato? Bem, pelo menos sabiam o que estávamos fazendo. Por exemplo, no caso da Baía do Sol, aconteceu algo peculiar. Naquela época já estava terminando o ano letivo e muita gente ficava na praia à noite. Tinha pelo menos umas 100 mil pessoas na orla, naquele fim de semana. No entanto, uma sonda veio para cima de nós, num lugar todo escuro onde não havia mais ninguém. Oras, por que veio ao nosso encontro, na escuridão, se tanta gente estava ali perto, na praia?
Esse foi o primeiro grande acontecimento ufológico envolvendo o senhor? Não digo que tenha sido grande, mas foi bastante significativo. Naquela ocasião voltamos para a base do 1º COMAR pela manhã. Foi quando conversei com meu comandante e disse que, pela primeira vez, algo estranho tinha acontecido.
O senhor teve alguma reação física desse acontecimento em seu organismo, algum problema resultante dessa observação específica? Naquele exato momento não, mas depois notei que todos perdemos um pouco da acuidade visual. Com o tempo, minha visão enfraqueceu ainda mais, tanto que passamos a usar óculos. Mas isso ocorreu em razão de outras exposições que também tivemos mais para frente, em outros inúmeros contatos.
Os UFOs eram vistos como um fenômeno duvidoso. Alguns oficiais, talvez a maioria deles, os viam como algo improvável, fazendo gozações
sobre eles
Coronel, após um caso como esse, pelo que sabemos, vocês faziam um relatório completo, que era integrado à Operação Prato. Mas vocês também se submetiam a algum tipo de exame médico? Era feito um relatório do acontecimento, com hora, local, coordenadas geográficas, mapeamento da região etc. Tudo bem descritivo. Mas nunca tivemos que fazer exame médico, mesmo porque nunca tivemos qualquer problema.
Quando seu comandante recebeu a notícia sobre o que aconteceu, como ele reagiu? Esses casos ufológicos foram se repetindo? Do que mais o senhor se lembra para nos contar? Bom, como a Baía do Sol era um local muito favorável para observações de UFOs, passamos a freqüentar a região com bastante regularidade. Tínhamos amigos no Serviço Nacional de Informações (SNI) – que não têm nada a ver com isso – que acompanhavam algumas de nossas missões. Os agentes eram nossos conhecidos, tinham curiosidade, por isso iam conosco. Às vezes, saíam notíciasa respeito em um ou outro jornal local, fazendo com que muita gente em Belém comentasse sobre esses avistamentos. Minha mulher [Do primeiro casamento, já falecida] e meu irmão sabiam das coisas que eu estava fazendo. Mas além desse círculo, ninguém de fora da base do 1º COMAR tinha ciência desses pormenores. Mesmo assim, pedia sempre muita reserva à minha esposa e irmão. Tanto que eles nem perguntavam detalhes.
A população de Belém sabia que havia uma operação da FAB na região? Não. Mas sabia que nós éramos da Aeronáutica e estávamos por lá atentos a tudo. Algumas pessoas sabiam que existia uma operação, só não sabiam do nome nem dos resultados. Outras tinham pequenos detalhes, como o fato de eu ser capitão, ou de fulano ou sicrano ser sargento, mas ninguém conhecia os resultados da missão. Nem bem o que exatamente fazíamos. O que se desconfiava era que a gente estava examinando algo. Só. No caso dos oficiais do SNI, quando me pediram para ir, disse que não teria problema, mas que deveriam pedir autorização ao seu chefe [Na época, o chefe do SNI em Belém era o coronel Filemon]. E o chefe deles autorizou, porém não como uma missão do Serviço de Informação.
O Serviço Nacional de Informações chegou a desenvolver algum trabalho ufológico depois? Não. Os agentes só queriam ver aquelas coisas voando, junto de nossa equipe. Eles sabiam que estávamos fazendo um trabalho sério em certos locais de vigília. E como confiavam em nossa experiência, seguiam-nos aos pontos mais prováveis de avistamentos de UFOs. Um dia, junto ao Milton Mendonça, chegamos à Baía do Sol, lá pelas 18h00, e montamos nosso equipamento fotográfico. Ficamos então num lugar escuro, reservado, observando o que viria a acontecer. No entanto, por razões pessoais, tive que voltar mais cedo naquela noite, para estar em Belém às 20h00, pois tinha um compromisso. Por volta das 18h30 surgiram três pontos luminosos alinhados muito alto no céu, em grande velocidade. E olha que eu conheço avião para dizer que a velocidade daquilo era bem acima da média. Os pontos estavam voando no sentido oeste-leste. Quando deu 19h00, apareceram mais dois estranhos objetos piscando alinhados, um atrás do outro, no sentido norte-sul.
Qual foi a seqüência com que os fatos se apresentaram? Bem, o pessoal do SNI não chegava. Tínhamos combinado às 18h00. Ficamos aguardando-os para que acompanhassem nossa vigília. Assim, esperei apenas mais um pouco e começamos a desmontar o material, pois não podíamos mais aguardar. Finalmente, chegaram e perguntaram se tinha acontecido algo. Eu brinquei, dizendo ter marcado às 18h00 e eles só apareceram às 19h00, numa referência ao fato de que ali passa UFO quase que de hora em hora. E um deles fez então uma pergunta idiota: “A que horas passa outro?” Respondi que não sabia e que aquilo não era bonde para ter horário. Falei ainda que eles deviam ficar ali a noite inteira, esperando para ver UFOs. Nesse momento, enquanto conversávamos, um deles disse: “Olha aqui em cima, agora. Olha para o alto”. Foi aí que o herói brasileiro tremeu nas bases, porque tinha um negócio enorme bem em cima da gente. Era um disco preto, escuro, parado a não mais que 150 m de altura, exatamente onde estávamos.
Deve ter sido uma experiência fantástica e aterrorizante. O objeto tinha luzes, emitia algum ruído, fez algum movimento? Ficou parado, mas tinha uma luz no meio, indo de amarela para âmbar. E fazia um barulho como o de ar condicionado. Parecia com o ruído de catraca de bicicleta quando se pedala ao contrário. Aquele negócio era grande, talvez com uns 30 m de diâmetro. Olhamos para aquilo por um bom tempo, até que começou a emitir uma luz amarela muito forte, que clareava o chão, repetindo isso em intervalos curtos mais umas cinco vezes.
Qual foi a reação que tiveram os membros do SNI presentes aos fatos? Não foi só o pessoal do SNI, não. Todo mundo ficou espantado! Eu mesmo nunca tinha visto algo assim, e olha que já estava quase há dois meses nessa operação. Nunca aparecera uma nave dessa forma para gente. Foi tão inusitado que nem lembramos de montar novamente a máquina fotográfica, que já estava guardada, pois já íamos embora. Também não dava tempo, pois estava guardada em caixas próprias e demoraria para que fosse retirada e montada. Só nos restava ficar olhando, assustados, para aquela coisa que iluminava tudo com uma luz amarela forte que ora apagava, ora acendia.
Parece que estavam dando uma demonstração a vocês, latejando dessa maneira estranha… É. O UFO fazia isso em intervalos de dois segundos. Apagava, acendia, apagava. Era uma luz progressiva, que não clareava como um flash, mas que crescia e voltava à mesma intensidade. Estávamos até sentindo que alguma coisa podia acontecer, pois estava escuro, era um local bastante isolado e ninguém sabia que a gente estava lá – só nós e “eles” [Risos].
Houve alguma ocasião em que outras equipes de diferentes órgãos do Governo participaram junto a vocês? Não. O que eu sei é que houve um vazamento de informações sobre a Operação Prato. Algumas pessoas comentaram sobre a incidência de avistamentos. Creio que o vazamento se deu no Aeroclube de Belém. Teve uma vez em que uma equipe do jornal O Estado do Pará foi para o lugar onde estávamos acampados e, como sabia que agíamos na área, ficou na espreita. Na outra vez eles se enganaram: foram a um ponto onde acharam que estaríamos, mas se deram mal, pois estávamos noutro. Numa dessas aventuras, eles chegaram a ver alguma coisa, porém foi algo tão esquisito que jamais voltaram. Alguns repórteres juraram que nunca mais fariam uma missão dessas. Eles viram uma luz se aproximando à baixa altitude e pegaram o carro para chegar mais perto. A luz se dirigiu até onde estavam e focou um raio em cima deles. Pelo que soube, o teto do carro ficou translúcido, como se fosse de vidro. Aí o objeto fez umas evoluções em cima do automóvel, permitindo até que fotografassem aquilo. As fotos foram publicadas em página inteira. Tinham uma nitidez incrível. Mas depois do susto que tomaram, as testemunhas sumiram de carro – parece que algumas tiveram acesso de vômito e se descontrolaram emocionalmente. Quem pode dar informação sobre esse fato é o Ubiratan Pinon Frias, que era o piloto do Aeroclube de Belém.
Com todos esses fatos acontecendo e vocês mandando toda hora relatórios à sua chefia, em algum momento perguntaram a ela se haveria possibilidade de informar a população sobre as ocorrências da Operação Prato? Não foi feita essa pergunta porque a gente já sabia que não era possível que a população viesse a saber dos acontecimentos. Não seria cabível essa dúvida ao meu comando, porque isso era assunto reservado. Minha missão era coletar dados e entregar ao comandante, e isso era tratado com confidencialidade. Tínhamos que documentar, fotografar e filmar os UFOs, se possível, e entregar tudo ao 1º COMAR. Daí para frente, o destino que seria dado ao material era responsabilidade dele.
O senhor tem idéia do que era feito com todo esse volumoso material? Os relatórios com desenhos, fotos, croquis etc eram preparados, classificados, passados ao comandante e arquivados no próprio 1º COMAR, numa sala reservada. Depois disso, alguns iam para Brasília, segundo fui informado na época. No entanto, pelo que sei, a reação dos altos escalões era de ceticismo – alguns colegas até brincavam com os fatos.
O senhor teve conhecimento de que a FAB já teria instituído um sistema de pesquisa oficial quase 10 anos antes, em 1969, chamado Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI)? Nessa época, em 1969, eu era tenente na Base Aérea de Belém e foram distribuídos entre nós vários livretos informativos sobre o assunto, pedindo para que os oficiais que se interessassem pelo tema fossem voluntários para preparar relatórios com depoimentos. Foi só. Depois as discussões morreram.
Em algum momento houve participação de militares norte-americanos pedindo informações ou detalhes sobre o trabalho de vocês na operação? Que eu saiba, não. Se isso ocorreu foi em altas esferas e, como já disse, eu era apenas capitão. Não me metia nessas coisas e nem podia saber nada a respeito.
A incidência desse fenômeno na Amazônia, durante a Operação Prato, chegou a ser diária? Sim, era diária e muito ativa. Chegamos a verificar pelo menos nove formas de UFOs. Conseguimos determiná-las e classificá-las. Algumas eram sondas, outras naves grandes das quais saíam objetos menores. Filmamos tudo isso, inclusive as naves pequenas voltando ao interior de suas naves-mãe, as maiores. Tudo foi muito bem documentado.
Quais eram os equipamentos que vocês usavam para registrar esse movimento? Tínhamos máquinas fotográficas Nikon profissionais, com teleobjetivas de 300 a 1000 mm, dessas grandes. Era um terror trabalhar com elas, porque tinham um foco rapidíssimo. Qualquer bobeada, qualquer movimento em falso, e perdíamos os UFOs. Mas eram equipamentos de primeira. Também fazendo mistério –, podia acontecer qualquer coisa, no mato, na selva, nas praias, em qualquer lugar. Estávamos em operação militar e, por obrigação, tínhamos que agüentar tudo. O que quer que ocorresse teria sido no cumprimento do dever.
Vocês portavam armas nas missões? Não, em nenhum momento. Nunca pensei em levar arma, nem mesmo por via das dúvidas. Não esperávamos que houvesse necessidade. Por isso, nem pensamos nessa hipótese, mesmo quando estruturávamos a montagem da operação, sua parte logística, de alimentação, transporte, comunicação etc.
Mas houve algum momento dentro da operação em que o senhor teria percebido que esse fenômeno pudesse ser perigoso? Uma vez, sim. Foi o aparecimento de algo muito forte, tanto que quando essa coisa aconteceu eu tive medo de que pudesse se dar uma abdução. Só comentei com algumas pessoas, e uma delas – meu amigo Rafael Sempere Durá [Consultor da Revista Ufo] – chegou a me repreender gravemente por ter me exposto a algo perigoso. “Seu