Ao sul da Herzegovina, nos confins da Croácia Meridional, a poucos quilômetros da Costa Dálmata, encontra-se Medjugorje [Que significa entre colinas], um vilarejo perdido que antes das aparições de Nossa Senhora da Paz não constava da maioria dos mapas. De fato, situa-se entre o Morro Crnica, em cuja encosta denominada Podbrdo [Pé da colina] ocorreram as primeiras aparições, e o Cipovac, que é seu prolongamento, porém mais alto, com cerca de 540 m. Em 1933, como parte das comemorações do 19º centenário da morte de Cristo, se erigiu uma cruz de cimento com 14 m de altura no cume do Cipovac, que a partir daí também passou a ser chamado de Krizevac [Morro da Cruz].
Na pequena aldeia, pastoreada pelos franciscanos, fica a sede da paróquia, que engloba ainda os povoados de Bijakovic – local de nascimento dos videntes, exceto de Ivanka, que nasceu em Mostar –, Milietina, Vionica e Surmanci. Religiosamente, Medjugorje pertence à Diocese de Mostar, distante cerca de 30 km e politicamente faz parte do município de Citluk. Inaugurada em 1969, a ampla e moderna igreja, com 700 m2 de área interna e três naves, com suas torres brancas sobressaindo-se sobre o verde dos parreirais, se tornou um símbolo imbatível da fé cristã em meio à propaganda atéia comandada pelo governo comunista. Chovia pouco na região, carente de fontes ou poços. Cultivava-se principalmente fumo, vinha e trigo. O trabalho nas lavouras, pouco mecanizado, continuava sendo feito com antigos arados de relha, puxados a cavalo, o que exigia um tremendo esforço físico. Em contraste, o nível educacional dos habitantes era excepcionalmente alto. Eles firmaram uma aliança cúmplice com Deus, cientes de que não fosse Ele, ninguém lhes trouxera nada de positivo.
Reconstituímos a história das aparições valendo-nos basicamente de duas fontes que, embora comprometidas com o catolicismo e a propagação dos dogmas consignados, apresentam os testemunhos daqueles que alegaram tratar-se não de fenômenos religiosos, mas ufológicos. Os livros são de Olivo Cesca, Medjugorje Urgente: As Aparições de Nossa Senhora na Iugoslávia [Editora Pallotti, 1989] e do padre Valério Alberton, A Virgem Maria nas Aparições de Medjugorje [Editora Loyola, 1986]. Servimo-nos ainda do livro Diário de Medjugorje: Maria Fala ao Mundo [Edições Louva-a-Deus, 1987], da religiosa norte-americana Lucy Rooney, freira que residia na Itália, em parceria com o teólogo e padre Robert Faracy, professor de Teologia Ascética e Mística da Universidade Gregoriana, em Roma.
As manifestações em Medjugorje somente se destacam das antecessoras por se constituírem nas longas e mais intensas da história, mas também pelo uso freqüente de um linguajar moderno, mais afinado com nosso tempo, e por uma profusão jamais vista de fenômenos paranormais e ufológicos. Elas eclodiram e se concentraram marcadamente em 1981, pouco mais de um ano depois da morte do ditador croata Josif Broz, o marechal Tito, que mantinha uma caleidoscópica federação de seis repúblicas totalmente distintas em termos étnicos, religiosos e culturais, unidas sob mão de ferro. Com a morte deste, que estivera à frente do país desde 1945, a situação da Iugoslávia se agravava. A dívida externa ultrapassava os US$ 19 bilhões e a inflação aos 80% anuais. A renda per capita despencara em mais de 50%. O salário médio mensal não passava dos US$ 100, sendo que numa cidade, uma família de quatro pessoas precisava do dobro disso só para comer. Sem Tito, a autoridade de Belgrado se enfraqueceu e os vários grupos étnicos, especialmente os sérvios e os croatas, passaram a reivindicar independência.
Primeira aparição — Na tarde de 24 de junho daquele ano, dia do santo São João Batista na paróquia católica de Medjugorje – e não menos sagrado para os ufólogos e simpatizantes, que comemoram nessa data o início da Era Moderna dos discos voadores – as amigas Ivanka Ivankovic, 15 anos, e Mirjana Dragicevic, 16 anos, do povoado de Bijakovic, resolveram passear no sopé do Monte Podbrdo, repleto de espinhosos arbustos e pedras. Nesse dia o tempo amainara após a tempestade que desabara na noite anterior trazendo graves danos à comunidade. Aproveitaram para colher flores e, no regresso, Ivanka notou sobre a colina “algo resplandecente, parecido com uma silhueta luminosa”. Olhando atentamente, discerniu uma jovem docemente radiante vestindo trajes cinzas, pairando à cerca de 40 cm do solo, apoiada sobre uma espécie de prado ou plataforma. Às vezes chegava a tocar o chão com os pés – em certas ocasiões posteriores, apareceria apoiada sobre uma nuvem.
Amedrontadas, as moças voltaram correndo e contaram aos seus familiares sobre aquilo que tinham visto. Dirigiram-se em seguida à casa da irmã mais nova de Mirjana, Milka, que pediu às duas para acompanharem-na em busca do seu rebanho de carneiros. Seguiram pelo mesmo caminho trilhado, passando antes na casa de Vicka Ivankovic, 16 anos, que dormia após retornar da escola. Apesar do sobrenome em comum, não há parentesco com Ivanka. Solicitou aos pais dela que assim que despertasse fosse imediatamente encontrar-se com Jakov Colo, 10 anos, já a par do ocorrido. Os últimos a se juntarem ao grupo foram Marija Pavlovic, 10 anos, além de Ivan Dragicevic, 16 anos, e Ivan Ivanovic, o mais velho de todos os jovens, que colhiam maçãs.
Já passavam das 18h30, chuviscava e a escuridão começava a cobrir o Monte Podbrdo. Ivanka foi novamente a primeira a ver a aparição. Ao observar a imagem o grupo aterrorizado fugiu em desabalada carreira. Cada qual contou sua versão, mas ninguém conferiu crédito. A irmã de Vicka opinou que aquilo parecia ser, conforme suas próprias palavras, um disco voador. Para alguns se tratava mesmo de um UFO, mas a maioria – devido ao ambiente de intenso fervor religioso e cerceamento político que vigorava – achou prudente não tocar no assunto e tal possibilidade não voltou a ser cogitada.
Segunda aparição — Ansiosas por retornarem à colina, no dia seguinte Ivanka e Mirjana terminaram mais cedo a colheita de fumo cultivado pelas suas famílias. Vários jovens e dois adultos os acompanharam desta vez. Dos presentes no dia anterior, ausentaram-se Ivan Ivanovic, a quem a aventura parecera pueril, e Milka Dragicevic, escalada para fazer os serviços de casa. Ivanka ia à frente. Vicka e Mirjana seguiam logo atrás, conversando. De repente, Ivanka se volta ao grupo e exclama: “Olhem a Virgem!” Os dois adultos nada vêem, a n&atild
e;o ser os jovens, que acenam comovidos. A mulher estende ternamente os braços. Agora eles não têm mais medo e uma alegria inunda seus corações. Sem conter o choro, se ajoelham e começam a rezar. Eram por volta das 18h00 quando conversaram pela primeira vez com a senhora. Esta pede que rezem bastante e anuncia sua volta para o dia seguinte. Com a presença do pequeno Jakov Colo, o grupo era constituído por Ivanka Ivankovic, Vicka Ivankovic, Mirjana Dragicevic, Ivan Dragicevic, Marija Pavlovic e Jakov Colo.
Terceira aparição — Em 26 de junho de 1981, pouco antes das 18h00, horário que depois se tornaria habitual, os seis jovens encaminham-se ao monte. Mal iniciam a subida e vêem no horizonte, na direção do local das aparições, uma forte luminosidade que atrai entre duas a três mil pessoas de todas as povoações circunvizinhas: Bijakovic, Medjugorje, Miletina e até de Citluk, sede do cantão, distante 7 km. A maré humana tenta se aproximar dos videntes e quase os esmaga. Mirjana e Ivanka desmaiam. Um vizinho delas, Marinko Ivankovic, que doravante as protegera de outras situações, as arrebata para fora do tropel. Milka, irmã de Marija, que visualizara a Virgem da primeira vez e não pudera estar presente da segunda, não a viu, nem a veria mais. Só vislumbrou, como o restante da multidão, o relâmpago que por três vezes enlaçou o céu e a terra anunciando a chegada da Mãe Celeste, que pela primeira vez se apresenta como sendo a Rainha da Paz e diz aos jovens: “Vim porque há aqui verdadeiros crentes. Desejo estar com vocês para convertê-los e reconciliar o mundo. Paz, paz, paz! Reconciliem-se! Vão na paz de Deus!”
As autoridades intervêm — A intensa movimentação popular em torno dos casos suscita estupor e apreensão nas autoridades. Os sacerdotes começam a interrogar separadamente os jovens. As perguntas visavam confundi-los e contradizê-los, porém, era espantoso o grau de consonância das respostas. A polícia também intervém. Por volta das 09h00, do dia 27 de maio naquele mesmo ano, agentes da Segurança Pública chegaram discretamente a Bijakovic. Logo de saída tentam dissuadir Ivanka: “Queremos lembrar-lhe que essas aparições na montanha constituem grave infração. A lei é bem clara: o culto é permitido, mas deve ser privado”. No início da tarde, os agentes reúnem as seis testemunhas que moravam a poucos metros um do outro e os conduzem a Citluk para interrogatório. Inquiridos longa e severamente, respondem com uma firmeza imperturbável. Submetidos a exames psiquiátricos pelo médico Ante Vujevic, são declarados saudáveis e mentalmente sãos. Faltando poucos minutos para as 18h00, os jovens se dirigem religiosamente ao local dos fenômenos. Mirjana, abalada com a perseguição, se queixa à Virgem acerca da situação a que foram submetidos, mas Ela lhe tranqüiliza ao dizer: “Sempre houve injustiças no mundo e sempre haverá. Não se assustem com isso”.
Quinta aparição — Um Sol tórrido castigava as encostas naquele dia 28 de maio. A notícia das aparições se espalhara para as povoações vizinhas, atraindo uma multidão de mais de 15 mil pessoas. Os clarões observados ao longe foram encarados por muitos como um verdadeiro convite da Gospa [Que significa senhora, especialmente com relação à Mãe de Deus, em croata]. Na hora habitual, os jovens caem de joelhos. A Virgem se despede e deixa um rastro de luz no céu, avistado somente pelos videntes. O padre Zrinco Cuavalo, coadjutor da paróquia, submete-os a um rigoroso interrogatório e se convence da autenticidade dos acontecimentos. Em 29 de maio, dia da festa de São Pedro e São Paulo, a santa retorna. Porém, a mando das autoridades, duas assistentes sociais de Citluk convidam os jovens para um inocente passeio com a nefanda intenção de afastá-los de Medjugorje. Cinco deles as acompanham e na hora habitual divisam de longe a Virgem. Às voltas com a polícia, eles perguntam à Senhora se não podia aparecer na igreja, único local em que o culto era permitido. O acesso à colina é dificultado e em 13 de julho interditado por uma barreira policial. O movimento arrefeceu e a polícia acabou afrouxando o cerco. A Gospa aproveita para convidar os jovens a subirem lá novamente, só que durante a noite, por volta das 23h00.
Entre as cerca de 40 pessoas presentes encontrava-se o mecânico Marinko Ivankovic, primo de Vicka, que relatou: “Assim que começamos a rezar, levantei os olhos e vi um arco de 3 a 4 m se abrindo no céu, e uma grande luz avançando sobre nós. Todos viram e se puseram a gritar. Formávamos um círculo em torno do lugar da primeira aparição, onde agora, no meio do buraco aberto pelas pessoas que haviam levado terra e pedras como lembranças, erguia-se uma cruz de madeira. Então aconteceu algo que nem eu e muito menos os outros souberam explicar. Da cruz saiu um globo luminoso, que explodiu no meio de nós espalhando milhares de pequenas estrelas”. A partir desse dia, tendo em vista o fato da colina continuar interditada, Nossa Senhora se transferiu para as residências, nas quais passou a falar com os jovens ora individualmente, ora coletivamente. Depois do horário das aparições, uma missa era rezada na igreja, único local de culto autorizado pelo regime comunista. E seria justamente no santuário de Medjugorje que as manifestações se fixariam a partir de janeiro de 1982.
Fenômenos luminosos — Numerosas foram as testemunhas que avistaram das povoações mais afastadas, especialmente de Miletina, Citluk e Graidina, uma luminosa figura feminina pairando sobre a colina de Krizevac. Os peregrinos também observaram o fenômeno que durava entre alguns minutos a meia hora e se manifestava em diferentes momentos do dia. Um deles o descreveu da seguinte maneira: “A cruz da colina de Krizevac se transforma numa coluna de luz que assume a forma de um T’, para dar lugar, em seguida, a uma jovem luminosa, a Virgem Maria”. Em 22 de outubro de 1981, um grupo de 70 pessoas, entre elas o padre Janko Bubalo, viram em Medjugorje, no lugar da cruz de Krizevac, uma silhueta de mulher abrindo os braços. Os pés estavam ocultos por uma nuvem luminosa. Eis como o padre Stanko Vasilij, que a contemplou de binóculo, descreveu a aparição: “Notei que a cruz desaparecera. No seu lugar surgiu uma coluna branca e, em seguida, a silhueta de uma senhora vestida com uma capa cinzenta, um cinzento muito suave e luminoso, como luz néon. De sua face direita saiu um raio brilhante e, no final, uma nuvem se ergueu, clara e transparente”.
Os fenômenos luminosos, atmosféricos ou cósmicos foram vistos por todos, mesmo p
or aqueles situados em pontos distantes. Certa vez, algo como um incêndio generalizado parecia tomar conta do monte, o que levou os moradores a chamarem os bombeiros que, no entanto, não encontraram nenhum vestígio de fogo. Em outras ocasiões, a palavra mir [Paz em croata] apareceu inscrita no céu em forma de enormes letras ígneas. E como em Fátima, o Sol também foi visto a girar espargindo raios multicolores. A maioria dos fenômenos luminosos ocorreu em Krizevac, diante da cruz de cimento, que muitas vezes pareceu desaparecer em pleno dia e outras, substituída por uma coluna branca e luminosa que aos poucos se transformava em uma figura de lineamentos femininos com os braços estendidos em direção à igreja paroquial. A silhueta também era observada junto ao crucifixo, pousada sobre um globo opaco. Por diversas vezes o objeto cruciforme foi visto emanando uma luz que clareava a área adjacente ou rodopiando sobre si mesma, ora lentamente, ora vertiginosamente até retomar a posição original.
Na segunda tarde das aparições, em 25 de junho de 1981, muitas pessoas, incluindo o pároco da época, padre Jozo Zovko, viram no céu a palavra mir escrita em letras de luz. Por volta das 18h15 do dia 06 de agosto de 1981, logo após a Virgem ter rezado pela paz, a expressão apareceu inscrita com símbolos de fogo no céu acima da coluna da cruz. Curiosamente, em croata e em outras línguas eslavas, mir é a sílaba inicial do nome hebraico de Maria, Miryam. Símbolos semelhantes foram estampados no início da noite de 24 de agosto, entre Krizevac e Podbrdo. Segundo o frei Jozo, “pareciam de fogo ardente e se moviam com vivacidade, ondulando em direção a nós, como as luzes de um carro”. Na tarde de 15 de setembro de 1981, a senhora Anka Pehar, de Gradnici, avistou acima da colina de Crnica uma luz em forma de funil, isto é, que subia da terra e se alargava em direção ao céu. Dentro dela estava Nossa Senhora, de braços abertos.
Nenhum sinal de fogo — Raios brilhantes saíam por detrás de sua cabeça e costas. O funil se deslocou rumo à igreja de Medjugorje. Um mar de chamas pareceu consumir Podbrdo na noite de 28 de outubro de 1981. De Citluk acorreram bombeiros e policiais, certos de que teria ocorrido um ato de provocação. Ao chegarem no local, o fogo que ardera durante cerca de 15 minutos já havia se extinguido. A área foi vasculhada logo pela manhã, mas, surpreendentemente, não se encontrou nem um mínimo sinal de chamusco nas ervas. Espécie de incêndio semelhante se verificaria posteriormente em Krizevac. Chamas altíssimas envolveram a cruz. Naquela noite serena, a polícia achou por bem deixar um dos seus homens montando guarda junto a ela. De súbito, um raio caiu a poucos metros da sentinela. Seus companheiros encontraram-no em estado de coma. Levado para o hospital, ali permaneceria por três meses. No dia em que voltou a si, resolveu se converter e tornar um fiel devoto da Virgem.
Após 1982, os fenômenos luminosos continuaram a ocorrer apenas esporadicamente, na ordem de um ou dois por mês. Eles são principalmente de dois tipos. A cruz do Krizevac desaparece e cede lugar a uma coluna de luz ou a um globo opaco, sobreposto por uma silhueta que remete à imagem da Medalha Milagrosa, em que a Virgem aparece sobre o globo terrestre. Em agosto de 1982, Nossa Senhora apareceu a Ivan, quando ele se encontrava com alguns amigos na encosta do monte defronte a aldeia, dizendo-lhe: “Agora eu lhe darei um sinal para fortalecer a sua fé”. Ele viu então dois raios luminosos vindo do céu, um brilhando sobre a igreja e outro sobre a cruz do Monte Krizevac. Os amigos dele também viram os mesmos feixes de luz.
Em 11 julho de 1983, o médico Luís Frigério retornou a Medjugorje para oferecer aos bispos iugoslavos a cooperação de alguns médicos italianos, dispostos a integrar uma comissão científica internacional. Eram por volta das 17h00, quando, segundo o especialista, “no gramado que circunda a igreja, deparei-me com uma pequena multidão que rezava o terço, de joelhos, olhando na direção do Krizevac. De longe, à contraluz, o símbolo religioso parecia negro. Mas eis que, subitamente, se tornou branco, fosforescente e brilhou até desvanecer. A parte vertical reapareceu tomando uma forma semelhante às silhuetas estilizadas de Nossa Senhora. Logo tudo sumiu e a cruz reapareceu inteira, porém com a parte vertical na cor branco-fosforescente e a horizontal negra. Esta, no entanto, não ocupava o lugar anterior, e sim o ápice da parte vertical, formando um grande T. A parte horizontal negra começou a fazer movimentos ondulatórios”. Um professor de letras disse: “Isso não é um T. Vêem como está ondulando? Isso é um tau, uma letra do alfabeto grego”.
Em 1985, uma freira do Vaticano em peregrinação a Medjugorje foi convidada a presenciar a aparição com os videntes em uma sala anexa ao altar da igreja. No momento em que eles entraram em êxtase, ela bateu uma foto do local para onde olhavam, perto de um crucifixo. Quando o filme foi revelado, surgiu a face de Maria. A imagem foi mostrada a um dos videntes que olhou atentamente e disse: “Realmente se parece com ela”.?Uma outra fotografia foi tirada pela máquina de um padre, também em peregrinação a Medjugorje, em 1990. Enquanto celebrava uma missa vespertina com outros sacerdotes no altar, pediu a um padre que os fotografasse. A chapa foi batida no momento da elevação da hóstia. Após a foto ter sido revelada, os celebrantes foram substituídos pela face de Maria, praticamente idêntica a registrada em 1985. A hóstia permaneceu.?Em 25 de maio de 1985, às 19h00, as câmeras filmadoras dos senhores Englebert, de Bruxelas, e Sestini, de Milão, registraram simultaneamente em Bijakovic, porém a partir de pontos diferentes, um fenômeno análogo àquele filmado por Louis Desrippes, em 07 de agosto de 1984: o desaparecimento da cruz e o surgimento de um globo sobreposto por uma figura luminosa. Contudo, os fenômenos mais comuns foram relacionados ao Sol.
Outro milagre do astro — Na festa de Nossa Senhora dos Anjos, em 02 de agosto de 1981, o Sol no entardecer pareceu girar sobre si mesmo, aproximando e afastando-se dos espectadores, como se tratasse da reedição do milagre solar ocorrido no dia 13 de outubro de 1917, em Fátima, Portugal. Surgiu um grande coração e acima dele outros seis, só que pequenos, entendidos como a representação de cada um dos videntes. Várias esferas, parecidas com balões multicoloridos, foram vistas girando ao redor do astro. Muitos afirmaram que a Virgem, o Sagr
ado Coração e dezenas de anjos segurando trombetas, saíram de dentro dele. Alguns se puseram a rezar e chorar. Uma nuvem luminosa desceu, estacionou sobre a colina, tornou a ascender e desapareceu no poente. O fenômeno durou aproximadamente 15 minutos e foi contemplado por cerca de 1.500 pessoas aglomeradas no Podbrdo. Espetáculos solares voltaram a comover a multidão nos dois dias seguintes. Desde então, se tornaram tão comuns que nem chamavam mais a atenção. Conta-se que o Sol certa vez chegou a assumir a forma de uma gigantesca hóstia que pulsava intensamente como um coração. Durante uma hora, na noite de 18 para 19 de junho de 1982, ocasião da festa dos Corações de Jesus e Maria, as estrelas do céu pareceram se incendiar e apagar alternadamente.
A freira que residia na Itália, Lucy Rooney, e deu início pessoalmente a investigação das aparições em 1981, também testemunhou os milagres públicos no distrito, escrevendo várias obras. Em seu livro Mary – Queen of Peace [Maria – Rainha da Paz, Alba House, 1984], ela registrou: “Eu própria vi o Sol girando no exato momento em que principiava a missa no dia 25 de junho de 1984, por volta das 19h05. Ninguém se excitou, mas algumas pessoas apontavam para o astro. O fenômeno durou uns cinco minutos. Pude olhar diretamente para ele, que parecia um disco, achatado e de uma cor não totalmente branca. Tentei ver se o meu pestanejar coincidia com aquelas pulsações de fogo, mas não. Verifiquei que podia olhar direto, sem que meus olhos se ofuscassem. Depois o astro retornou seu brilho normal e durante a hora seguinte, antes do ocaso, não consegui mais olhá-lo”.
Um desses milagres do Sol foi documentado por Mary Craig e Roger Scott, correspondentes da BBC de Londres. Em 1986, ambos se encontravam no meio da multidão do lado de fora da igreja local esperando que os videntes aparecessem. De súbito, um clarão espocou no céu e todos olharam para cima. Diz Craig em seu livro Spark from Heaven: The Mystery of the Madonna of Medjugorje [Centelha do Céu: O Mistério da Madonna de Medjugorje, Editora Hodder & Stoughton, 1988] que “o astro moveu-se para frente e para trás como num cordão de ioiô, seu alvo incandescente central cercado por círculos giratórios de uma luz amarela, verde e vermelha”.
A atriz brasileira Myrian Rios visitou Medjugorje em 1993 e presenciou dois fatos curiosos, relatados no livro Recados de Maria para Você [Editora Elma, 1993], de João Jorge Albano: “Na madrugada do sábado santo, lá pelas 03h00, minha vizinha de quarto me acordou dizendo que a cruz do Monte Krizevac estava em chamas. Minha colega e eu nos levantamos e fomos até o outro cômodo para ver. Lá chegando, a senhora que nos chamou disse: ‘Olhem, ela está inteira em chamas!’ Eu olhava e via um fogo que subia do pé até o meio da cruz e pensei: acho que tem alguém rezando lá e acendeu uma fogueira. Enquanto assim pensava, minha companheira de quarto disse: ‘Eu não vejo nada, está tudo escuro, não vejo nem a cruz’. Aí, então, percebi que estava vendo um sinal da Virgem Maria. Foi o primeiro fenômeno que testemunhei. O segundo foi no domingo de Páscoa: eu e uma colega vimos o Sol pulsar e rodar”.
Parapsicologia e Ufologia — Indubitavelmente trata-se de fenômenos físicos, passíveis de registros fotográficos, ópticos, geomagnéticos, iônicos, tectônicos e até mesmo piezelétricos. O físico nuclear Emmanuel More e o eletroquímico Paul Ameze analisaram a cruz de Medjugorje e constataram radioatividade acima do normal e uma ionização dez vezes superior à média de 150 por 1.550 a 1.700 íons negativos. A chave para a compreensão das aparições de Medjugorje, e talvez para as demais, reside em observarmos a tendência de que tais fatos sempre ocorreram em épocas de intensas conturbações, além de graves e decisivas crises de natureza político-social. Um dos maiores parapsicólogos e ufólogos de seu tempo, o doutor Scott Rogo, falecido em 1990, foi membro visitante da Universidade para Estudos Humanísticos de San Diego e conferencista sobre parapsicologia na Universidade John F. Kennedy, de Orinda, Califórnia, autor de várias obras de referência obrigatória. Em seu livro Milagres: Uma Exploração Científica dos Fenômenos Paranormais [Editora Ibrasa, 1994], propugnou uma teoria geral sobre a natureza das aparições marianas apoiada em duas linhas adicionais de evidência. “Em primeiro lugar, as clássicas aparições marianas da história ocorreram todas em países de tradição católico-romana. O estudo histórico de Sharkey, The Woman Shall Conquer [A Mulher Conquistará], mostra que tais fenômenos se manifestaram principalmente na França, Itália e Portugal. Nenhum caso clássico foi relatado nas fortalezas protestantes que são a Alemanha, Estados Unidos ou Escandinávia. Segundo, as manifestações da Virgem freqüentemente tendem a ocorrer quando o papel de Maria na igreja está sendo reavaliado, ou quando a comunidade católico-romana de um determinado país ou cidade se mostra preocupada com o culto”.
De fato, como em Fátima e outros palcos dos acontecimentos, o anticatolicismo do governo iugoslavo tinha se tornado repressivo. As autoridades destruíram uma Gruta de Lourdes, perto de Makarska, na Costa Adriática. Grandes assembléias religiosas foram muitas vezes dissolvidas. O governo comunista temia qualquer reviravolta católica, o que representaria um passo para a autonomia croata ou, pelo menos, para sua relativa independência. Apesar de todo o aparato estatal de controle e contenção posto em funcionamento, Medjugorje contribuiu sobremaneira para o despertar religioso da Iugoslávia, e junto com ele o dos nacionalismos políticos, que emergiram definitivamente em todo o seu furor com o fim do comunismo na União Soviética no final dos anos 80 e início de 1990.
Destarte, a teoria parapsicológica, por si mesma, bastaria para explicar as manifestações marianas em sua totalidade? Pensamos que apenas em parte. Reconhecemos que em fases de acentuada angústia, as massas, mormente as mais fragilizadas e suscetíveis de serem afetadas negativamente pelas mudanças históricas em curso, tendem, por mecanismos instintivos de defesa e de caráter compensatório, a apelarem &agrav
e;s forças do inconsciente coletivo, instando, sem se darem conta disso, a formação de uma “mente grupal”. Acrescentamos, porém, que essa mente ficaria inteiramente receptiva e à mercê de fenômenos externos como os ufológicos, bem como a diversos tipos de sugestionamentos, sendo o mais forte deles sem dúvida o religioso, ainda mais se a cultura da qual se faz parte a pressione nesse sentido, fornecendo-lhe imagens arquetípicas e símbolos sacralizados, bem como perspectivas de salvação. Figura essencial para a manutenção e renovação da fé católica fora desse ambiente, Nossa Senhora é vista pelos ufólogos como mais uma entidade a ocupar um nicho da tipologia alienígena.
Devemos admitir que em não poucos casos, as próprias pessoas, em estado de tensão e super excitamento, podem ser capazes de projetar formas de pensamento. Entretanto, contrariando a maioria dos parapsicólogos – que em seu pragmatismo reducionista tende a atribuir exclusivamente à mente humana toda a classe de fenômenos extraordinários, mesmo os que parecem extrapolar em muito a dimensão deste, se é que podemos falar em algo que o extrapole –, consideramos a possibilidade de que em tempos de crise e de transformações profundas, inteligências desconhecidas de outros planetas ou provavelmente daqui mesmo – “os habitantes secretos da Terra”, termo empregado pela primeira vez por Jerome Clark, em 1979, no livro Earth’s Secret Inhabitants [Habitantes Secretos da Terra], escrito conjuntamente com Rogo –, possam encontrar terrenos ideais para suas intervenções, cujos propósitos permanecem obscuros.