Em 1977 aconteceu uma das maiores ondas ufológicas já registradas em nosso país. Os fenômenos parecem ter começado ainda no primeiro semestre daquele ano, no Estado do Maranhão, mas foi a partir do segundo que a atividade ufológica se intensificou, principalmente nos municípios de Pinheiro, São Bento, São Vicente de Ferrer e Bequimão, situados na Baixada Maranhense. Os contatos que ocorriam nestes lugares eram surpreendentes e revelavam um aspecto assustador do Fenômeno UFO. Os objetos voadores avistados muitas vezes emitiam estranhos raios luminosos que, segundo a crença popular, tinham capacidade de extrair sangue das pessoas que atingiam. A grande maioria das vítimas da “luz vampira” ou do “aparelho”, como eram denominados pela população, sentia uma sensação de calor intenso e fraqueza, que levavam estas pessoas quase sempre ao desfalecimento.
Com o passar das semanas, o Chupa-Chupa, como também passou a ser conhecido o fenômeno, chegou ao Estado do Pará com uma intensidade ainda maior, levando as populações das áreas atingidas a uma reação de perplexidade e desespero. A situação ficou tão explosiva que o prefeito do município de Vigia enviou um ofício ao I Comando Aéreo Regional (COMAR) pedindo providências. Diante desta situação, o brigadeiro Protázio Lopes de Oliveira, comandante da instituição, criou um projeto confidencial para investigar os fenômenos, que mais tarde receberia o nome de Operação Prato.
Poucas semanas após o início do projeto, o então capitão Uyrangê B. S. N. de Hollanda Lima retornava a Belém, depois de um período em Brasília (DF), e comandaria o projeto até seu término. Se no início das investigações os oficiais da Força Aérea Brasileira (FAB) eram ainda céticos em relação aos fenômenos, com o passar das semanas as coisas foram se modificando. Hollanda e seus comandados acabaram por ficar frente a frente com naves e sondas extraterrestres, o que foi documentado através de mais de 500 fotos e várias filmagens. Em alguns desses contatos as naves chegaram a menos de 100 m de distância dos militares.
No início de agosto de 1997, este autor e o editor de UFO, A. J. Gevaerd, estiveram com o coronel Hollanda em sua residência, na cidade de Cabo Frio, no litoral do Rio de Janeiro. Depois de 20 anos de silêncio, Hollanda nos prestou um depoimento impressionante sobre suas experiências, e de sua equipe, com os discos voadores. Apesar do programa Fantástico e da revista Manchete terem divulgado o assunto poucos dias antes – através de interferência do próprio Gevaerd, que colocou Hollanda em contato com os jornalistas Luiz Petry e Bia Cardoso, respectivamente da Rede Globo e da Manchete –, foi indiscutivelmente através das páginas de UFO e do vídeo Operação Prato que os interessados em Ufologia passaram a conhecer detalhada e profundamente toda a história do envolvimento dos militares da FAB com UFOs na Amazônia.
Os UFOs existem, as forças armadas investigam suas manobras e escondem o fato da população
– Uyrangê Hollanda
Esta revista publicou, em suas edições 54 e 55, de outubro e novembro de 1997, extensa entrevista com Hollanda, que posteriormente viria a ser traduzida para vários idiomas. Nela, o ex-militar faz revelações que mudariam por completo a forma como se encara a Ufologia no Brasil. Pouco antes, no dia 07 de setembro, este autor promoveu a única conferência pública proferida pelo coronel, durante um dos eventos da série UFO Rio, realizado pela Associação Fluminense de Estudos Ufológicos (AFEU). Durante duas horas, os participantes do evento puderam ouvir diretamente do próprio comandante da Operação Prato um relato impressionante, que seria repetido no I Fórum Mundial de Ufologia, em Brasília, em dezembro daquele ano.
Afirmações Absurdas — Entretanto, infelizmente, menos de um mês depois de sua palestra no Rio, Hollanda estava morto. Nem sequer chegou a ver impressa sua entrevista em UFO, iniciada em sua edição 54, que circulou a partir de 16 de outubro daquele ano. Fui a primeira pessoa na área ufológica a tomar conhecimento do falecimento do coronel, além de ter sido o único que procurou saber o que realmente havia acontecido. Hollanda faleceu de maneira trágica, tendo se suicidado em 02 de outubro. Isso, evidentemente, suscitou imediatos rumores e teorias dentro da Comunidade Ufológica Brasileira, acerca das razões que o levaram a tão desesperado ato. Alguns dias após seu falecimento, observei com tristeza pesquisadores fazerem as mais absurdas afirmações em relação ao assunto.
Em linhas gerais, estes irresponsáveis diziam claramente, ou davam a entender, que Hollanda havia se suicidado por ter divulgado a verdade sobre a Operação Prato. Como se tal ato tivesse violado a segurança nacional e motivado obscuros serviços de informações a encomendarem a morte do ex-militar, disfarçando-a como se fosse um suicídio. A verdade, no entanto, é outra. Desde agosto de 1997, este autor vinha mantendo contatos cada vez mais freqüentes com o Hollanda. Ao mesmo tempo em que crescia minha admiração por sua pessoa, fui percebendo que o coronel, ao contrário do que havia tentado transparecer inicialmente, em nosso encontro inicial, estava longe de ter uma vida tranqüila. Hollanda estava vivendo, na verdade, um drama pessoal que se tornava progressivamente muito perigoso para ele.
O comandante da Operação Prato sofria há vários anos de um processo depressivo, que já o havia levado antes a uma tentativa de suicídio – na época em que morava no Rio de Janeiro. Por tudo isso, quando liguei para ele para marcar um novo encontro, no início de outubro daquele ano, e soube por uma vizinha que tinha se suicidado, apesar do choque inicial da notícia, não fiquei surpreso. Hollanda vivia entre duas realidades distintas. Havia sido protagonista de experiências impressionantes com o Fenômeno UFO, que fizeram dele uma pessoa muito especial, mas, ao mesmo tempo, vinha convivendo com problemas familiares que em nada contribuíam para um estado de equilíbrio emocional.
Apesar disso, fui com o jornalista Luis Petry para a região dos Lagos, no norte do Rio de Janeiro, a fim de apurar de forma definitiva, e em detalhes, o que realmente havia ocorrido. Estivemos pessoalmente com os policiais militares que constataram o óbito, ao serem chamados pelas filhas de Hollanda. Estivemos na delegacia policia
l de São Pedro da Aldeia, onde o caso foi registrado, no Instituto Médico Legal (IML) da cidade de Araruama, para onde havia sido levado seu corpo, e no condomínio para onde sua família havia se mudado poucos dias antes da tragédia.
Tudo aconteceu inesperadamente. Na noite de 02 de outubro, Hollanda entrou em sua casa no Condomínio Dom Vital I, em Iguaba Grande, e subiu para seu quarto, que ficava no segundo andar, deixando suas filhas no andar inferior. Como houve um silêncio prolongado, sua filha Daniela subiu para ver o que estava acontecendo. Ela encontrou seu pai já morto, enforcado com o cinto de seu roupão de banho. Imagino co- mo deve ter sido difícil para esta filha ver seu pai naquele estado. Em nossa pesquisa, conseguimos apurar, inclusive, os motivos que o levaram a perder o controle e partir para o ato extremo do suicídio, que não vamos divulgar aqui em respeito a alguns de seus familiares.
No entanto, logo após a notícia da morte de Hollanda se espalhar, recebemos alguns telefonemas de ufó logos que queriam saber a verdade. Evidentemente, não estava disposto a fazer afirmações definitivas antes de averiguarmos todas informações. Talvez por isso, alguns chegaram até mesmo a insinuar que eu estaria acobertando alguma coisa, o que nunca foi verdade, pois não omiti informações sobre o suicídio, exceto ossupostos motivos de Hollanda. Ainda assim, fantasias em relação a sua morte continuam a ser divulgadas até hoje, em prejuízo da Ufologia, justamente quando vários militares já saíram do anonimato e passaram a colaborar com os pesquisadores civis, revelando informações e documentos.
No ano passado, durante um evento ufológico realizado no Museu de Arte Moderna, em São Paulo, chegou a haver um debate sobre o assunto, quando o ufólogo Carlos Machado fez comentários sobre as “circunstâncias misteriosas” que envolvem a morte do comandante da Operação Prato. Questionado sobre em que estava se baseando para fazer aquelas afirmações, Machado fez referência ao livro Verdades que Incomodam [Biblioteca UFO], do ufólogo baiano Alberto Romero, que divulga essas idéias. O debate somente chegou ao fim quando Rafael Cury, presidente da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB), revelou a verdade, ressaltando que o autor do livro não havia feito qualquer investigação sobre o assunto e, portanto, suas colocações na obra não eram precisas.
Pessoas Misteriosas — Embora muita gente pense que sim, Hollanda não sofreu qualquer forma de pressão ou mesmo censura, por parte da FAB, ao ter revelado a verdade sobre a operação que comandou. Muito menos recebeu a visita de “pessoas misteriosas” interessadas no acobertamento, poucos dias antes de sua morte, como Romero declara em sua obra. Nela, o autor baiano alega estar se baseando em informações passadas a ele pelo ufólogo norte-americano Cope Shellhorn. É curioso que um pesquisador estrangeiro, há milhares de quilômetros de distância de Cabo Frio, onde faleceu Hollanda, tenha feito esta inusitada descoberta. É curioso também que os defensores das tais “circunstâncias misteriosas” não tenham divulgado o fato, por exemplo, na primeira tentativa de suicídio de Hollanda. Será que eles não sabiam? Seus misteriosos informantes parecem não ser tão bons assim…
Como se vê, teorias conspiracionistas rondam a Ufologia. A morte de Uyrangê B. S. N. de Hollanda Lima, que tamanha contribuição prestou ao esclarecimento do papel que militares desenvolvem na pesquisa ufológica, é um exemplo disso. Seu suicídio, gerado por fatores exclusivamente pessoais, serviu para alimentar a gestação de teorias fantasiosas e infundadas, que não têm qualquer ligação com a realidade. Mas elas, quando divulgadas, com o tempo, passam a ser tidas como verdadeiras, impedindo que nós, estudiosos do Fenômeno UFO, sejamos levados a sério. Para finalizar esta narrativa e tentar por um ponto final nos rumores que rondam esse episódio da Ufologia Brasileira, resta apenas registrar aqui a impressão que tem até hoje o editor Gevaerd, de que, se Hollanda tivesse lido sua entrevista publicada na revista, talvez não tivesse chegado ao extremo de tirar sua própria vida.
“Ao atrasarmos o lançamento de UFO 54, por problemas técnicos de produção da revista, talvez tenhamos perdido a chance de transformar o coronel em uma pessoa realizada e satisfeita com a missão cumprida”, declarou o editor de UFO. Hollanda, quando nos procurou para fazer seu relato, deixou claro que vivia angustiado por estar mantendo exclusivamente para si informações que deveriam ser de conhecimento de todos.