“Na próxima década, poderosos satélites nos ajudarão a entender a vida, o destino do nosso Universo e a teoria do todo”, diz Michio Kaku, professor de física teórica no City College da Universidade de Nova York, formado em Harvard. O grande biólogo do século 19, Thomas Huxley, escreveu uma vez que “a maior pergunta da humanidade é a que se refere à definição da posição do homem na natureza e à sua relação com o cosmos”.
Muitos pesquisadores acreditam que em breve seremos capazes de desvendar este enorme enigma, a medida que uma bateria de instrumentos, incluindo satélites, detectores de ondas de gravidade e aparelhos à laser, não só comecem a nos dar impressionantes idéias sobre o nosso lugar no cosmos, mas nos forcem a confrontar com o nascimento e a morte final do Universo, além da idéia de existência de universos paralelos.
Muitos pesquisadores acreditam que em breve seremos capazes de desvendar qual a posição do homem na natureza e à sua relação com o cosmos. Na próxima década, novos e poderosos satélites encontrarão evidências de planetas semelhantes à Terra orbitando outras estrelas. Até agora, os nossos instrumentos são tão rudes que podemos detectar apenas 130 gigantes — planetas do tamanho de Júpiter — que são provavelmente desprovidos de vida. No próximo ano, o satélite Kepler será lançado com a missão de analisar 100 mil estrelas à procura de planetas grandes. Já em 2014, o instrumento “descobridor de planetas terrestres” começará a caçar pequenos planetas, como características semelhantes à da Terra, em 500 sistemas estelares. Para isso, será utilizado um telescópio construído especialmente para filtrar as estrelas-mãe, cuja luz intensa impede a visualização da fraca radiação oriunda dos planetas vizinhos.
Quando estes esforços vingarem, as pessoas terão um choque existencial ao saber que ao olhar à noite para estes planetas, gêmeos ao nosso, poderá haver também alguém olhando para nós. A possibilidade de detectar vida inteligente no Universo é altamente estimulante para muitos cientistas. Entretanto, como uma vez nos alertou o autor de ficção-científica Arthur C. Clarke: “Pode haver vida inteligente no espaço ou não. Ambas as alternativas são assustadoras”.
Cosmologia ou a compreensão do universo podem ser revolucionadas quando a LISA— antena espacial por interferometria laser — for lançada em 2011. Ela irá orbitar o Sol a mesma distância da Terra, mas nos seguindo a uma extensão de uns 48 milhões de quilômetros. O aparelho será constituído por três satélites interligados por feixes de laser. Eles formarão um enorme triângulo de luz laser, com aproximadamente 4,8 milhões de quilômetros de cada lado. Se uma onda gravitacional vinda do espaço atingir este triângulo causará pequenas distorções nos feixes de laser, que serão detectadas pelos seus instrumentos. A LISA será capaz de detectar distorções de até 1/100 do tamanho de um átomo, além de explosões cósmicas a 9 bilhões de anos luz da Terra, o que vai muito além do universo visível. Registrará também a colisão de buracos negros e até mesmo as ondas de choque emitidas um trilhonésimo de segundo após o Big Bang — a enorme explosão que pode ter gerado o Universo e que ainda estão circulando pelo Universo.
A antena espacial será capaz de responder a uma das mais perplexas e teimosas perguntas da Cosmologia: “O que aconteceu antes do instante do gênesis?”. Várias teorias propostas para explicar o momento anterior ao Big Bang prevêem um tipo diferente de onda de choque gravitacional emitida quando a explosão aconteceu. O equipamento analisará com precisão as freqüências e os padrões de tipo de onda gravitacional emitidos no instante do fato e poderá fazer distinções entre elas, provando ou contestando estas teorias. Até agora, a principal é chamada Inflação que afirma que de maneira incrivelmente rápida houve uma super e acelerada expansão do Universo após a sua criação no Big Bang. Entretanto, se o processo de inflação realmente ocorreu ele pode acontecer de novo. A última versão dessa idéia é chamada Inflação Caótica e diz que os Big Bangs podem acontecer de maneira aleatória. Da mesma maneira que bolhas de sabão podem se separar e crescer de outras bolhas os universos podem germinar e criar novos universos bebês.
Nesta visão esses fenômenos acontecem o tempo todo, até mesmo agora, no momento em que você está lendo este artigo. Mas, para realmente entender o que causa esta inflação os físicos precisam primeiro encontrar uma teoria que possa incorporar a gravidade e todas as formas de radiação à chamada Teoria de Tudo. A única candidata para isso é a Teoria das Cordas ou Teoria-M, na qual os universos podem flutuar num espaço hiper-dimensional contendo 11 dimensões, ou seja, um “multiverso de universos”. Imagine duas folhas de papel paralelas. As formigas numa folha seriam invisíveis às da outra, mas ainda assim estariam separadas por poucos milímetros. Da mesma maneira se um universo paralelo flutuasse a poucos milímetros do nosso, em outra dimensão. Ele seria invisível para nós.
Tão fantásticas quanto estas teorias, a LISA poderia ser capaz de confirmá-las ou não, pois cada uma delas deixa uma “impressão digital diferente ou, em outras palavras, um padrãode ondas gravitacionais diferente após o Big Bang. Agora, de maneira ameaçadora, os satélites também estão nos dando a possibilidade de dar uma olhada no destino final do Universo. Os filósofos têm se perguntado se o Universo irá morrer em fogo ou gelo. Os dados estão fortemente a favor de um “Grande Congelamento” — Big Crunch — ao invés de um “Grande Esmagamento” — Big Bang.
Na realidade o universo não está desacelerando, mas sim, acelerando. Correndo freneticamente e fora de controle. Uma misteriosa forma de atividade chamada de energia escura está agindo como uma força anti-gravitacional, fazendo com que a galáxia acelere de maneira descontrolada e, finalmente, se quebre em pedaços. Num futuro distante, bilhões ou trilhões de anos adiante, as estrelas irão exaurir o seu combustível nuclear, os oceanos irão congelar, o universo ficará escuro e as temperaturas cairão para perto do zero absoluto. Parece inevitável que todas as formas de vida inteligente irão perecer quando o universo congelar.
Esta possibilidade de desespero absoluto foi explorada pelo matemático Bertrand Russell ao escrever, numa das mais tristes passagens da língua inglesa, que “nenhum fogo, heroísmo ouintensidade de pensamento ou sentimento
pode preservar a vida além do túmulo. Todo o trabalho ao longo das eras, toda a devoção, inspiração e o brilho do gênio humano estão destinados a se extinguir na imensa morte do sistema solar. E o templo das conquistas do homem será inevitavelmente enterrado sob os escombros de um universo em ruínas”.
Hoje em dia acreditamos que arcas espaciais poderiam preservar a vida após a morte do Sol daqui a cinco bilhões de anos. “Mas, seríamos capazes de construir uma arca espacial para fugir da morte do próprio Universo?”. A única maneira possível de escapar da morte do Universo é fugir. Talvez, civilizações bilhões de anos além de nós sejam capazes de controlar energia suficiente para criar um buraco no espaço e escapar numa arca espacial hiper-dimensional para um outro universo. Apesar disto parecer uma idéia muito distante, até mesmo ridícula, os físicos têm levado esta possibilidade em consideração utilizando as leis conhecidas da Física. As equações de Einstein, por exemplo, permitem que se construa pontes einstenianas para conectar dois universos paralelos, como duas folhas de papel paralelas unidas por um fino tubo vertical. A energia necessária para se criar um buraco de minhoca — wormhole — conectando dois universos é imensa. Seriam necessários cerca de 1.019 bilhões de elétrons volts, um quatrilhão de vezes a energia do nosso mais potente acelerador de partículas.
Em desespero, uma civilização avançada poderia criar enormes agrupamentos de feixes de laser e aceleradores de partículas capazes de gerar temperaturas incrivelmente altas, energia e densidades suficientes para abrir um buraco no espaço e fugir para outro universo.Os cálculos demonstram que estas máquinas gigantes seriam do tamanho de sistemas solares. Mas isto poderia ser viável para civilizações bilhões de anos à frente de nós. Infelizmente, os cálculos preliminares também mostram que este buraco de minhoca seria microscópico em largura. Se for assim, esta civilização avançada poderia se utilizar robôs do tamanho de uma molécula, chamados nanorobôs e lançá-los através do orifício. Uma vez do outro lado, eles poderiam então construir enormes fábricas de DNA, gerar clones e réplicas dos seus criadores. Se pensarmos que estes clones conteriam todas as informações da civilização original, eles poderiam ser utilizados para fazer com que a própria civilização ressuscite no outro local.
Apesar dos corpos físicos desses indivíduos morrerem quando o seu universo congelar, seus gêmeos genéticos sobreviverão e, assim, a sua civilização renascerá como uma fênix. Apesar de incríveis, estas histórias são coerentes com as leis conhecidas da física e biologia. Então, ao examinar as questões levantadas por Huxley em 1863, nosso verdadeiro papel no universo seria espalhar o precioso germe da vida inteligente através dele e, um dia, transportar a semente da vida ao fugir em agonia para um outro novo. Este artigo foi adaptado do seu livro “Mundos Paralelos” (Parallel Worlds) que será publicado hoje.