Eles foram criados no princípio dos tempos. Ainda estão por aí, vagando pelo Universo, atravessando corpos como se eles não existissem e somente em raras ocasiões interagindo com a matéria normal. Quem você vai chamar? Com certeza, não os Caça-Fantasmas. Mas tente Ben Moore, do Instituto de Física Teórica da Universidade de Zurique, na Suíça. Usando um supercomputador para simular nada menos que a evolução do Universo, quase desde o Big Bang — começando uns 20 milhões de anos depois da explosão que teria dado origem ao cosmo — ele chegou à conclusão de que os primeiros objetos formados foram nuvens com o tamanho do Sistema Solar e a massa da Terra, feitos de partículas que ninguém consegue ver. Esses chamados “halos” ainda existem por aí e varrem o planeta a cada poucos milhares de anos com tudo que há nele, inclusive nós. Há um bocado deles lá fora. Só nos arredores da Via Láctea, a galáxia na qual o Sistema Solar está, haveria cerca de um milhão de bilhões de objetos como esses, se os cálculos de Moore estiverem corretos. Esse número equivale a 10 mil vezes mais do que o total de estrelas na mesma região.
“Eles são mais como nuvens de partículas, mais concentradas na região do centro”, disse o cientista à Folha de São Paulo. Seu estudo, publicado na revista científica britânica Nature, ajuda a explicar onde está toda a matéria do Universo. Minoria O mistério intriga os cientistas há décadas. Ao somarem todas as estrelas e galáxias que puderam ver, eles descobriram que essa matéria comum não responde nem por 5% de toda a massa que deveria haver para explicar alguns efeitos gravitacionais observados, como, por exemplo, o ritmo de rotação de galáxias — que é mais rápido do que deveria ser se as estrelas e o gás fossem tudo o que há por lá. À massa faltante os cientistas deram o nome de matéria escura e ninguém até hoje sabe o que ela é de fato.
O grupo de Ben Moore aposta que é composta por partículas chamadas de neutralinos, os primos ricos dos neutrinos. “Bem, neutrinos e neutralinos são bem parecidos, ambos têm massa e interagem de forma fraca com os átomos normais. Portanto, os dois passam direto por nosso corpo em enormes quantidades a cada segundo. A principal diferença é a massa que do neutralino é bem maior”, diz Moore. Um problema para a hipótese defendida pelo pesquisador, que hoje é a principal candidata a explicar a matéria escura, é o fato de que, diferente dos neutrinos, nunca ninguém conseguiu ver um neutralino. A própria idéia vem da teoria de que existe uma supersimetria entre partículas. Algo que também não foi confirmado.
Mas não será por muito tempo, segundo Moore. “O Grande Colisor de Hádrons — LHC, na sigla em inglês —, no Cern — principal laboratório de física de partículas na Europa, irá detectar evidências da supersimetria e dos neutralinos, se eles estiverem lá!”, afirmou. Segundo ele, tal fato embora não-comprovado, é uma idéia consolidada. “Não é tão controversa, já que grande parte da motivação para gastar os bilhões de dólares que o LHC vai custar e demonstrar a existência da supersimetria. Os cientistas em geral não gastam esse monte de dinheiro sem uma razão muito boa”. De acordo com o pesquisador, também será possível detectar uma nuvem de neutralinos no espaço. Caso exista realmente emitiria raios gama, o tipo de radiação eletromagnética mais energético do Universo, num padrão bem distinto, reconhecível.