O recente incidente ocorrido no México causou uma verdadeira reviravolta nos meios científicos e de pesquisas paralelas. Ainda mais em tempos de internet, quando uma notícia pode dar a volta ao mundo em poucos minutos. Muitas análises apressadas do caso, feitas sem o menor cuidado, acabaram sendo postadas em listas de discussão da rede mundial por fanáticos, descrentes, céticos e “detratores profissionais” do Fenômeno UFO, cada um dando sua versão para explicar algo que, na verdade, ninguém ainda sabe ao certo o que é. Embora não seja possível chegar à alguma conclusão definitiva sobre o que aconteceu em 05 de março, podemos pelo menos examinar algumas questões técnicas a respeito do caso. Por exemplo, sabemos que o equipamento de radar utilizado é o modelo AN APS-143 (V) 3, da categoria de equipamentos de detecção e busca aerotransportada.
Radiação Infravermelha — É um sistema que opera na chamada banda X, utilizado em operações de vigilância marítima e costeira, tanto para rastrear alvos em superfície como no ar. O instrumento tem alcance de quase 320 km e é manufaturado pela empresa Telephonics Corporation. Ele possibilita detecção de alvos laterais e perpendiculares ao deslocamento da aeronave, para produzir imagens em duas dimensões – uma chamada de “escala” ou trilha cruzada e, a outra de “azimute”. Outro equipamento empregado no registro dos 11 objetos voadores não identificados é um detector de radiação infravermelha, uma região do espectro eletromagnético que está situada entre as ondas visíveis e as microondas. O espectro de radiação infravermelha consiste em três faixas distintas: próximo (NIR), médio (MIR) e longo (FIR). Cada um é usado para uma determinada função.
Por exemplo, a faixa NIR é ótima para medir regiões de baixa e alta reflexão, e a MIR fornece melhor a distribuição térmica de corpos acima do zero grau absoluto. Alguns animais, tais como as cobras, enxergam neste intervalo de comprimento de onda, percebendo o calor emitido por suas presas e pelo ambiente. No caso da astronomia, a radiação infravermelha é emitida por qualquer corpo que esteja acima do zero grau absoluto.
No incidente mexicano, vários alvos foram plotados no radar de bordo do Merlin C-26A e, após a detecção, escaneados e iluminados por sistemas de recepção de radiação eletromagnética na faixa do infravermelho. Esse equipamento é o Flir Star Zapphir II, que está configurado para ser sensível à captura de corpos que estejam emitindo radiação eletromagnética na escala de 3.000 a 5.000 nanômetros. Esta faixa está além da sensibilidade de filmes especiais para infravermelho, o que significa que se tais objetos fossem fotografados ou filmados, não iriam ser registrados.
Mas isto também pode significar que objetos dessa natureza sempre estiveram por aí e não notávamos sua presença por não termos equipamento específico para tal. O Flir, que também equipa a polícia e as Forças Armadas nacionais, capta o gradiente de emissão eletromagnética de corpos e os exibe numa tela de tevê comum. As imagens registradas possuem diferenças de temperatura, que são mostradas em contraste de escala de cinza e imagem normal, dependendo da configuração utilizada. No caso do México, relatou-se que os objetos não estavam visíveis, enquanto todo o resto estava, tal como o meio ambiente ao redor. E somente teriam se tornado visíveis por estarem emitindo radiação infravermelha (ou calor) fora do espectro normal daqueles do meio ambiente. A opção de “ver” a imagem normal no equipamento pode ser chaveada a qualquer momento pelo operador. Se alguém deseja somente detectar assinaturas infravermelhas acima de um certo padrão, muda-se a escala do equipamento e, assim, o resto da paisagem aparecerá como tela de fundo. Nesse caso, tudo que estiver fora dessa escala será detectado e exibido. O Flir também suaviza o formato angular e cantos de objetos, o que leva a uma redução na capacidade de identificação da real forma dos corpos detectados.Igualmente, as imagens geradas pelos sistemas Flir de segunda geração têm pouco contraste e muito ruído, podendo gerar falsos resultados se a lente do equipamento estiver com partículas de sujeira.
Ataques Científicos — Vistos estes dados, podemos chegar a algumas conclusões interessantes sobre esse inusitado caso. Como sabemos, raramente a ciência acadêmica se interessa pelo Fenômeno UFO e é intrigante como tem atacado a Secretaria de Defesa Nacional do México (Sedena), alegando que ela não liberou determinadas informações sobre o registro feito. Mas isso não corresponde à verdade, pois existe farta quantidade de dados a respeito do incidente – e todos com respaldo técnico de equipamentos e testemunhas treinadas. Pessoalmente, deposito toda a confiança no governo do México, que não disponibilizaria tal material se tivesse uma explicação razoável para o evento. O importante, no momento, é tentar enxergar além dos paradigmas tradicionais – ciência versus mídia versus Ufologia – e perceber que o relevante é a possibilidade de se estudar um fenômeno aéreo não identificado (UAP) de forma científica e técnica jamais realizada antes. Algo parecido ocorreu no Chile e no Peru, em tempos recentes.
Também temos de compreender, aceitar e nos conscientizar de que não existe um único caso na Ufologia que seja perfeito e que tenha provado a existência de UFOs como artefatos tecnológicos de procedência extraterrestre. Se isso já existisse, então a problemática da fenomenologia ufológica estaria resolvida. O importante não é tentar a todo custo explicar este caso de imediato e, sim, pegar um detalhe aqui, outro ali e começar a ampliar o atual conhecimento científico. Afinal, podemos estar até diante de um novo fenômeno terrestre. Os EUA fazem isso há décadas para tentar sair da dinâmica dos fluídos, observando o comportamento de UFOs em vôo.
A tarefa de descobrir a atividade de alguma coisa inteligente operando de forma clandestina na biosfera terrestre não é algo que a ciência, sozinha, possa fazer. Este hercúleo trabalho exige a combinação equilibrada de habilidades, como as utilizadas pelas agências de inteligência. Fazendo isso, um especialista pode examinar as duas vias de informação: o testemunho especializado, fornecido pela inteligência humana, e o tecnológico, oferecido por
sistemas de radar, Flir, Lidar etc. Assim, será possível determinar se o incidente representa a atividade de uma inteligência versus natureza ou indica uma atividade humana desconhecida do público leigo e especializado, possivelmente militar.
A situação merece que não nos deixemos influenciar pelo verdadeiro circo que se costuma formar ao redor de situações como esta e examinar atentamente a natureza da Ufologia e sua implicação para a civilização atual. Existem fortes suspeitas do que sejam os objetos registrados no México – mas são somente isto, suspeitas. Mais importante do que tentar explicar o que ocorreu naquele 05 de março é saber o que o governo mexicano e seus representantes irão fazer com o Fenômeno UFO daqui em diante. Espero que siga os passos de Chile, Espanha, França, Peru, China e Bélgica e criem uma organização com respaldo científico e uma meta multidisciplinar: documentar, examinar e questionar os casos de fenômenos aéreos não identificados que ocorrem nos céus daquele país.