86 foi um ano que marcou para sempre a Ufologia de nosso país, tendo hoje, durante os procedimentos da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já, importância inquestionável e significativa. O que aconteceu em 1986 serve de base de sustentação do requerimento que os ufólogos brasileiros fazem ao Governo Federal, para que reconheça a realidade dos objetos voadores não identificados e sua origem não terrestre. E para que abra os arquivos que possui, fechados a sete chaves no Comando de Defesa Aéreo Espacial Brasileiro (Comdabra), complexo centro das operações de defesa da soberania aérea no Brasil. Na noite de 19 de maio daquele ano, a Força Aérea Brasileira (FAB) mais uma vez ficou frente a frente com discos voadores sobre os céus de nosso país. Mais de 20 objetos voadores não identificados foram detectados pelos radares do Cindacta e perseguidos por caças da FAB, no caso de maior concentração simultânea de discos voadores sobre o Território Brasileiro de que se tem notícia. No dia seguinte ao incidente, o próprio ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Júlio Moreira Lima, pronunciou-se a respeito, divulgando detalhes do incidente e – num momento raro em nosso país – colocando os pilotos dos caças que haviam perseguido os UFOs à disposição dos jornalistas. Na oportunidade, em rede nacional de tevê, Moreira Lima prometeu apresentar um relatório detalhado sobre o episódio em 30 dias. Mas, se ele foi realmente produzido, nunca foi divulgado ao público.
A história do que se conhece em nossa Ufologia como a “Noite Oficial dos UFOs no Brasil” começou no Vale do Paraíba, em torno da cidade de São José dos Campos, à 83 km de São Paulo. Os avistamentos tiveram início da noite, por volta das 18h30, quando da torre de controle do aeroporto foram notados dois objetos luminosos de cor laranja, à 15 km de distância do aeródromo da cidade. Os objetos estavam a aproximadamente 2.000 m de altura, alinhados com o eixo da pista de pouso e decolagem. Às 19h00, o Centro de Controle de Aproximação de São Paulo (órgão que controla e orienta as aeronaves dentro de uma área terminal, até a efetivação dos pousos) e o Centro de Controle de Área (que monitora as aeronaves dentro das chamadas aerovias) confirmaram para o Centro de Controle de Aproximação de São José dos Campos a detecção de três artefatos não identificados na região. Às 19h40, de dentro da torre de controle, foram avistados mais dois objetos, movimentando-se de norte a oeste, que se posicionaram acima dos primeiros UFOs, permanecendo imobilizados durante longo tempo. Às 20h00, o Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta) já captava em suas telas 8 alvos desconhecidos – os chamados “tráfego hotel” pelo Comdabra.
Observação e radarização
Mas os fenômenos estavam apenas começando. Às 20h30, outro UFO extremamente luminoso foi visto rumando em direção à Serra do Mar. O artefato estava inicialmente a uma distância de 60 km, mas em seguida se aproximou até chegar cerca de 20 km da torre de controle do aeroporto, para logo depois se afastar, sendo acompanhado através das telas do radar, além de visualmente. Meia hora mais tarde, o avião bimotor Xingu da Empresa Brasileira de Aeronáutica (Embraer), pilotado pelo comandante Alcir Pereira da Silva, aproximou-se da pista do aeroporto de São José para pousar e percebeu a presença dos UFOs.
A bordo do avião estava também o coronel Ozires Silva, que deixava a presidência da empresa para assumir o comando da Petrobrás. Os objetos voadores já estavam sendo detectados pelo Cindacta há algum tempo quando Alcir resolveu perseguir um deles. O próprio Ozires, excitadíssimo com o fato, resolveu assumir o comando do bimotor, iniciando o encalço a um dos artefatos. Mas não conseguiu uma aproximação maior dele, que fez com que o objeto desaparecesse diante dos olhos dos seus perseguidores. Minutos depois, quando já se preparava para pousar, o Xingu saiu novamente à procura do outro objeto, que emitia uma luz muito forte e avermelhada e se movimentava em direção à cidade de Mogi das Cruzes (SP), a baixa altitude. Pouco antes de pousar, no momento em que o bimotor sobrevoava uma refinaria da Petrobrás, seus ocupantes observaram mais três objetos, também a baixa altitude e rumando em direção à Serra do Mar.
Às 21h40, ainda a partir do aeroporto de São José dos Campos, mais uma vez foi notada uma esfera luminosa amarela, de grandes dimensões, tendo em suas proximidades vários outros objetos menores e esféricos, que emitiam luz branca. Era um verdadeiro show aéreo. Passados alguns minutos mais, outro UFO surgiu no céu com características idênticas, juntando-se aos demais, na mesma posição, criando uma formação – a nave maior ocupava a posição central. Em meio a tal situação, começaram a ser acionados de maneira progressiva três caças F-5E, da Base da Força Aérea de Santa Cruz, no Rio de Janeiro, e três aviões Mirage, da Base de Anápolis, em Goiás. Todos os caças passaram a ser comandados pelo controle de terra para os alvos, que neste momento já infestavam as telas dos radares do Cindacta, criando dificuldades para o próprio controle de tráfego aéreo. O tenente Cléber Caldas Marinho, que pilotava um dos F-5E, perseguiu durante vários minutos um objeto que emitia uma luz vermelha intensa. Apesar de atingir o limite de velocidade de seu avião, isto não foi suficiente para permitir uma maior aproximação, o que o levou a abandonar a perseguição.
Os fatos de maio de 1986 não estão de forma alguma relacionados a algum fenômeno eletromagnético. Não existe tal possibilidade. Tais acontecimentos também não poderiam ser explicados como qualquer tipo de aeronave conhecida, por causa das altas velocidades e das trajetórias exercidas, muito além das nossas possibilidades tecnológicas
– Octávio Moreira Lima, ex-ministro da Aeronáutica
Perseguição aérea
Já o capitão Armindo Souza Viriato de Freitas, que pilotava um dos Mirage, constatou através do seu radar de bordo as evoluções de vários objetos. Um dos UFOs chamou-lhe a atenção de forma especial: ele apresentou, repentinamente, uma aceleração espantosa e sumiu. Segundo o piloto, em questão de segundos o artefato atingiu a velocidade de Mach 15, ou seja, mais de 10 vezes a velocidade desenvolvida pelo caça de fabricação francesa que pilotava. Era evidente que os nossos mais modernos aviões estavam longe de poder competir com aqueles aparelhos. Porém, o capitão Márcio Brizolla
Jordão, que conduzia outro F-5E, teve mais sorte: em determinado momento, em meio às perseguições, o piloto foi acompanhado por 13 objetos, sendo seis de um lado e sete do outro. Durante alguns instantes, os controladores do Cindacta ficaram sem saber como proceder, como orientar o capitão Jordão, que de perseguidor passou a ser escoltado por aqueles aparelhos.
Toda a movimentação foi acompanhada atentamente pelos operadores de radar. Os primeiros UFOs que surgiram sobre São José dos Campos, e que haviam partido quando os caças se aproximaram, voltaram a evoluir sobre a região com o retorno dos aviões às suas bases. O ministro Moreira Lima, numa atitude sem paralelo, irrompeu a programação das redes de tevê no dia seguinte e pessoalmente divulgou os acontecimentos daquela noite. Numa coletiva para a imprensa foram apresentados os próprios pilotos que participaram da operação, que informaram ainda que, além das altas velocidades desenvolvidas pelos objetos, suas trajetórias muitas vezes eram erráticas, com deslocamentos verticais e em zigue-zague. De acordo com um documento sigiloso do Ministério da Aeronáutica, do qual alguns detalhes vazaram, foram detectados 21 objetos não identificados através dos radares dos centros de controle de tráfego aéreo. Esse é um dos documentos que os ufólogos brasileiros empenhados na campanha UFOs: Liberdade de Informação Já querem ver divulgados.
Conforme declarações do capitão da Aeronáutica Basílio Baranoff, membro do Instituto de Atividades Espaciais do Centro Técnico Aeroespacial (CTA), que compilou todos os detalhes ligados a estes acontecimentos, os UFOs voltaram a evoluir sobre São José dos Campos na noite do dia 29 de maio do mesmo ano, sendo novamente detectados através de radar – fato que não havia sido divulgado por nossas autoridades na época. Na verdade, no final de maio e no início de junho de 1986, diversas outras manifestações desses artefatos estavam sendo registradas em vários pontos do país, em meio a uma grande onda ufológica. Objetos voadores foram filmados nos Estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná etc.
Apesar das evidências e, inclusive, dos depoimentos iniciais dos militares envolvidos com o caso da noite do dia 19 de maio, mais uma vez, membros da nossa comunidade científica deram demonstrações de como estão despreparados para tratar o assunto. Em vez de procurarem investigar seriamente o caso, emitiram as mais absurdas explicações para os fenômenos. Cada um, em particular, defendendo um ponto de vista distinto. A única coisa que parecia unir estes homens de ciência era o desejo explícito de ignorar totalmente os detalhes básicos relacionados aos fenômenos. Meteoros, planetas e algumas estrelas mais brilhantes seriam, para eles, a causa de tudo que aconteceu na noite do dia 19 de maio de 1986. Esta atitude arrogante frente ao desconhecido, por parte de nossos cientistas, prejudicou uma maior abertura e esclarecimento de todos os detalhes do caso, que já havia sido iniciada através da atitude corajosa do brigadeiro Moreira Lima. O relatório oficial que havia sido prometido para 30 dias nunca foi divulgado e o episódio acabou caindo no esquecimento, com a colaboração dos nossos meios de comunicação, que não cobraram de nossas autoridades a divulgação da verdade.
Anomalias magnéticas
Em 1991, ou seja, cinco anos após os fatos, o pesquisador e co-editor de Ufo Rafael Cury, presidente da Associação Nacional dos Ufólogos do Brasil (ANUB), encaminhou ao Ministério da Aeronáutica um ofício cobrando a divulgação do relatório, com as conclusões das investigações. A resposta, datada de 18 de setembro do mesmo ano, e assinada pelo brigadeiro Fernando Mendes Nogueira, chefe do Centro de Comunicação Social do Ministério da Aeronáutica (Cecomsaer), declarou textualmente:
“O compromisso inarredável com a transparência administrativa significa pronta e imediata resposta à opinião pública dos assuntos de seu interesse, resguardados aqueles cujo teor recomende classificação de alguma ordem. No episódio ao qual o senhor se refere, todo o tratamento técnico disponível pelos órgãos do Ministério da Aeronáutica, responsáveis pelo controle do espaço aéreo brasileiro, foi utilizado e as conclusões nos remetem a anomalias magnéticas que se transformaram em plots [Termo que significa pontos nas telas dos radares de controle de movimentações aeronáuticas]. No caso em questão, todo o aparato militar de defesa do espaço aéreo foi mobilizado sem que, efetivamente, fosse feito qualquer contato visual que justificasse a presença daquele(s) plot(s). O Ministério da Aeronáutica, na qualidade de instituição nacional, não pode se afastar da sua destinação e produzir inferências a respeito de assuntos que não trazem em seu bojo um respaldo técnico-científico suficiente para definir uma opinião”.
É curioso que o brigadeiro Fernando Mendes Nogueira, ao mesmo tempo em que apresenta como conclusão para o caso as tais anomalias magnéticas, faz menção que não é do desígnio do Ministério da Aeronáutica “… produzir inferências a respeito de assuntos que não trazem em seu bojo um respaldo técnico-científico suficiente para definir uma opinião”. Isto, acrescido da referência feita pelo militar sobre a existência de assuntos classificados, deixa claro que a história das anomalias magnéticas não pode ser levada a sério. O ponto mais absurdo do documento, entretanto, é a negativa de contatos visuais que justificassem os alvos detectados nos radares.
Ainda em 20 de maio de 1986, em meio à onda que não se extinguia, o próprio ministro Moreira Lima colocou à disposição da imprensa os pilotos que tomaram parte nas perseguições e que relataram suas observações, isto para não falarmos dos contatos visuais mantidos a partir do aeroporto de São José dos Campos e os objetos observados pelos tripulantes do Xingu, o comandante Alcir e o coronel Ozires Silva. Estas testemunhas, como todo o povo brasileiro, merecem mais respeito. Que anomalias magnéticas poderiam provocar aquele espetáculo? Tive a oportunidade de conhecer há pouco tempo um irmão do brigadeiro Mendes No
gueira, que, ao saber do conteúdo de sua resposta, não ficou surpreso, tendo em vista a posição ocupada por ele. Mas acabou me surpreendendo ao revelar que seu irmão já havia tido uma experiência com um UFO.
Acobertamento
É interessante ressaltarmos ainda que há poucos anos foi obtida a liberação de um documento do governo dos Estados Unidos, através da Lei de Liberdade de Informações (FOIA), referente ao caso de 19 de maio. Segundo o texto deste documento, o evento apresenta evidências suficientes para as autoridades considerarem seriamente a realidade dos UFOs. O documento chama a atenção justamente para o registro de vários contatos visuais compatíveis com a presença dos alvos não identificados nos radares. As declarações do brigadeiro Mendes Nogueira, evidentemente, só podem ser entendidas como uma peça de desinformação relacionada ao processo de acobertamento ufológico – ou como um posicionamento de alguém que não desejava se comprometer ou se envolver com o assunto.
Em dezembro de 1996, dez anos depois dos incidentes, tive a oportunidade de fazer uma entrevista com o brigadeiro Moreira Lima, realizada no Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica (Incaer), dirigido por ele. O ex-ministro demonstrou interesse em tomar conhecimento do atual estágio das pesquisas ufológicas civis brasileiras, especialmente o que existia de mais contundente e recente a respeito dos UFOs. Fiz um breve resumo dos fatos ufológicos mais importantes, ocorridos nos últimos anos e ressaltei as filmagens realizadas por astronautas russos e norte-americanos, documentando a presença de discos voadores na órbita terrestre. Antes de começar a entrevista, o brigadeiro nos forneceu alguns detalhes sobre o Cindacta, enfatizando a qualidade em termos operacionais do sistema brasileiro de controle de tráfego aéreo. Moreira Lima respondeu a todas as perguntas formuladas, incluindo as que tocavam nos pontos mais críticos.
Questionado a respeito da possibilidade dos fatos relativos à Noite Oficial dos UFOs no Brasil, em maio de 1986, estarem relacionados a algum fenômeno eletromagnético – conforme a alegação do brigadeiro Mendes Nogueira – o ex-ministro foi categórico: negou tal possibilidade e afirmou ainda que aqueles fenômenos também não poderiam ser explicados como qualquer tipo de aeronave conhecida, por causa das altas velocidades e das trajetórias exercidas, muito além das possibilidades tecnológicas de nossa civilização. Segundo o ex-ministro deu a entender, este foi justamente um dos pontos que levou o Ministério da Aeronáutica a reformular sua posição. Havia um receio de pânico caso a verdade fosse divulgada integralmente.
Moreira Lima afirmou ainda que o coronel Ozires Silva tinha sido por demais positivo ao relatar-lhe pessoalmente seu envolvimento com o caso e suas tentativas de se aproximar dos UFOs. O ex-ministro disse estar totalmente convencido da existência de outras civilizações no universo, das quais, segundo ele, muitas certamente seriam mais avançadas que a nossa. Confirmou ainda ter informado pessoalmente o então presidente da República José Sarney sobre aqueles fatos, na noite dos próprios acontecimentos. A partir dessas declarações, podemos notar claramente a importância que nossas autoridades militares estavam dando aos acontecimentos. Evidentemente, o presidente Sarney não foi acordado no meio da noite para ser informado de que nossos caças estavam gastando combustível seguindo algum fenômeno ilusório… Na realidade, como Moreira Lima declarou, o espaço aéreo brasileiro foi literalmente invadido por objetos voadores desconhecidos, detentores de uma alta tecnologia.
Autorização norte-americana
Em determinado momento da entrevista, quando perguntado se o Governo brasileiro teria autonomia para reconhecer oficial e publicamente a realidade dos discos voadores, sem algum tipo de “autorização” do governo norte-americano, Moreira Lima foi enfático. Afirmou que o Brasil tem autonomia suficiente para tomar qualquer tipo de atitude, sem precisar do aval de qualquer nação, inclusive dos Estados Unidos. “Possivelmente, nosso Governo faria apenas uma notificação, informando os governos de outros países”, declarou de forma categórica. Quanto a um possível contato alienígena em termos planetários, o ex-ministro explicou: “Uma parte de nossa humanidade já está preparada para manter um contato com outras civilizações extraterrestres. Entretanto, ainda existem pessoas despreparadas para um acontecimento deste tipo”.
Sutilmente, o brigadeiro disse ver um certo sentido no controle de informações ligadas ao Fenômeno UFO, mas defendeu a divulgação das informações para a população. “Estou convencido que dentro das próximas décadas haverá um contato entre nossa Humanidade e alguma civilização extraterrestre”. Depois que a fita que estávamos usando para gravar a entrevista terminou, ainda conversei bastante com o entrevistado, que revelou conhecer vários militares da FAB que também foram testemunhas de fenômenos ufológicos.
Assim, de qualquer forma, mesmo não divulgando em 1986 todos os detalhes dos acontecimentos de 19 de maio, a Ufologia Brasileira teve muita sorte em ter como ministro o brigadeiro Octávio Moreira Lima. Quantos em seu lugar comunicariam ao povo brasileiro a presença daqueles objetos no espaço aéreo brasileiro? Devemos ter em mente que um dos pilares de nossa sociedade que seriam mais abalados pela confirmação da presença extraterrena é justamente o setor militar, pois os UFOs demonstram claramente que nossas forças armadas são totalmente inoperantes frente à tecnologia que detêm. Mesmo assim, é hora de o Governo Federal dar um passo à frente e se juntar ao Chile e Uruguai, apenas para citar nações de nosso continente, e reconhecer a importância do tema para a sociedade. E é isso que os ufólogos brasileiros querem pedir através da campanha que a Revista Ufo promove.