O acobertamento governamental que se faz do Fenômeno UFO já foi exaustivamente analisado pelos ufólogos, que buscam compreender suas causas. E tudo indica que o fator unânime na manutenção do sigilo aos objetos voadores não identificados seja uma imposição global feita pelo governo dos Estados Unidos. Esse país parece ser o responsável pela política adotada oficialmente, em todo o planeta, para lidar com a questão ufológica. E até mesmo na análise da casuística ufológica brasileira encontramos fortes evidências de que os norte-americanos já foram e ainda são acionados por nosso Governo para acompanhar ou resolver assuntos da área.
Independente de qual partido esteja no poder em nosso país, militares dos Estados Unidos sempre estiveram envolvidos no levantamento de casos ufológicos brasileiros, direta ou indiretamente. E sempre mantiveram sua relação com nossos militares e os resultados de suas diligências conjuntas em total sigilo. Quando tiveram oportunidade, nossos oficiais também preferiram não se pronunciar a respeito, talvez por concordarem com a postura de seus colegas do hemisfério norte. Um bom exemplo disso é o Caso Varginha, no qual foram registrados, imediatamente após as capturas de criaturas supostamente alienígenas naquela cidade, militares norte-americanos acompanhando os procedimentos médicos no Hospital Humanitas, ao lado de brasileiros [Veja o livro O Caso Varginha, código LV-08 da Coleção Biblioteca Ufo].
Sobre essa espinhosa questão, devemos nos perguntar e convidar nossas autoridades também a se perguntarem: essa política de parceria e acobertamento ainda é válida para o nosso país, nas atuais circunstâncias políticas em que vivemos? Para entendermos um pouco sobre as manobras de acobertamento ufológico, é necessário que conheçamos como o governo norte-americano tem se comportado diante do Fenômeno UFO, desde seus primórdios. Afinal, os fortes indícios de que os Estados Unidos determinam o tom da orquestração mundial sobre a questão estão fundamentados em documentos que ufólogos daquele país obtiveram de suas próprias instituições, com o uso da Lei de Liberdade de Informação (Freedom of Information Act, ou FOIA).
Hipótese extraterrestre
A partir de 1945, os serviços militares de informação dos EUA passaram a investigar discretamente o Fenômeno UFO. No final daquele ano, criou-se a primeira comissão de pesquisa destinada a estudá-lo. Publicamente, quando a imprensa ainda utilizava o termo “disco voador”, a principal explicação difundida pelos militares era de que aqueles estranhos aparelhos seriam apenas armas secretas soviéticas. No entanto, com vários incidentes registrados – como o Caso Roswell –, a cúpula do poder norte-americano passou a saber com precisão que a natureza do fenômeno era extraterrestre, sem que isso fosse admitido publicamente. A hipótese extraterrestre era um incômodo para as autoridades, e era insistentemente difundida por ufólogos da época, entre eles o major Donald Keyhoe, que promoveu grande polêmica sobre o tema ao publicar seu histórico artigo “Os Discos Voadores são Reais”, na revista True de janeiro de 1950.
Naquele mesmo ano, o livro Behind the Flying Saucers [Por Trás dos Discos Voadores], de Frank Scully, já assegurava que as autoridades norte-americanas tinham em seu poder três discos voadores que haviam se acidentado no país – um no Arizona e dois no Novo México. Esse fato motivou de vez a opinião pública a aceitar a hipótese extraterrestre, para desespero do governo. Antes dessa data, mais precisamente em 1948, o Projeto Sign já tinha levado ao conhecimento do Pentágono um volumoso relatório chamado Estimativa da Situação, no qual se chegava à conclusão de que os UFOs eram reais e de origem extraterrena. Mas isso jamais foi admitido pelas autoridades.
A criação do Projeto Sign se deu por decisão do secretário de Estado James Forrestal, em 30 de setembro de 1947, diante dos incontáveis relatos de observação de UFOs nos EUA. Forrestal deu a ordem de constituir o projeto sabendo, já naquela época, que pelo menos um dos UFOs acidentados estavam sendo secretamente examinados pelos militares, justamente o recuperado em Roswell, no Novo México. O impacto do Sign sobre a cúpula norte-americana era evidente, pois ela reconhecia que os discos voadores eram naves não-terrestres. Mas o relatório Estimativa da Situação foi rejeitado pelo chefe do Estado-Maior da Força Aérea Norte-Americana (USAF), o general Hoyt Vandenberg. Vandenberg ordenou destruir todas as suas cópias, salvando-se apenas duas, classificadas como top secret e jamais conhecidas da população. Nascia ali o primeiro esboço da política de acobertamento ufológico, que foi ganhando corpo através dos anos e hoje está consolidada e espalhada por nações do mundo inteiro, ou pelo menos onde os EUA têm seus tentáculos.
Vandenberg foi um dos primeiros a ocultar o Fenômeno UFO de que se tem notícia. Mas, na verdade, sua atitude era apenas o reflexo da situação nas esferas oficiais naquela época, alarmadas com a confirmação da realidade ufológica. Temia-se pânico por parte da população e tentava-se evitar a todo custo que se soubesse que os EUA, uma super potência, estavam fragilizados e incapacitados de fazer frente ao que os militares consideravam uma “nova ameaça”. Dentro da comunidade de inteligência da USAF, diante dos resultados iniciais do Projeto Sign, surgiram duas tendências bem claras. A primeira opinava que o crescente número de informes de avistamentos de UFOs tinha que ser levado a sério e, ainda, que o fenômeno poderia se tratar de uma intrusão extraterrestre. A segunda acreditava que esses informes não eram dignos de credibilidade e que a física daquela época teria condições de explicá-los como absurdos e improváveis.
Intensa pressão popular
O doutor Joseph Allen Hynek comenta em seu livro Relatório Hynek [Editora Portugália, 1979] que a postura de não aceitar o Fenômeno UFO tomou força em sucessivos projetos norte-americanos, até se chegar a uma posição amplamente contrária à liberação de qualquer indício de sua realidade. Essa situação culminou com a apresentação à nação dos resultados do chamado Relatório Condon, de 1969, que resolvia as pressões que a força aérea
vinha sofrendo por parte dos cidadãos norte-americanos com relação aos UFOs. Tal atitude influiu notavelmente sobre os cientistas que aventuravam se envolver nas investigações oficiais do fenômeno – a tal ponto que o próprio Hynek confessou ter sempre procurado explicações naturais e humanas para cada um dos informes recebidos, inclusive aqueles que deixavam claro que havia algo muito incomum acontecendo.
Um exemplo da postura antiufológica que se formou desde os primórdios da Ufologia foi uma observação difundida pelo jornal Times News, de Twin Falls, Idaho, em 15 de agosto de 1947. A notícia descrevia o avistamento de dois discos voadores se deslocando a grande velocidade, com um som semelhante ao eco de um motor. Vários anos após o fato, quando Hynek já trabalhava para a USAF, sugeriu que aquilo seria explicado pela presença de um turbilhão atmosférico deslocando-se com rapidez. A absurda justificativa era o melhor que se pôde encontrar na época, e as forças armadas imediatamente a adotaram, desqualificando o caso.
Política arbitrária
Hynek confessou ter se chocado com a atitude dos militares, que transformaram um mero comentário sem compromisso numa explicação pretensamente científica. O astrofísico alegou que nunca havia tido conhecimento de algo que descrevesse o fenômeno observado, tal como as testemunhas o relataram, e que apenas fez uma inocente suposição. Mas não adiantou e a USAF não voltou atrás – o que, vindo a se repetir outras vezes, fez Hynek optar por abandonar os programas militares a que servia. Não é à toa que ele, após se desligar do governo, viria colaborar com os ufólogos civis. Hynek próprio viu que o objetivo da força aérea não era descobrir o que fosse possível sobre o fenômeno, mas desqualificá-lo totalmente – algumas vezes de forma claramente arbitrária. Até 1986, quando faleceu, Hynek constatou que o funcionamento da política de acobertamento ufológico estava em pleno vapor. Apesar de toda a reação negativa diante do estudo científico do Fenômeno UFO, o Projeto Sign catalogou 243 avistamentos de objetos voadores não identificados nos EUA e 30 no exterior, servindo-se para isso do auxílio de diversos órgãos, tais como a Universidade de Ohio, que deveria identificar os fenômenos astrofísicos, a Rand Corporation, que iniciou um estudo para avaliar a possibilidade de alguns objetos serem naves espaciais terrestres ou satélites, e a Junta de Assessoramento Científico da USAF. Na verdade, tais instituições, soube-se depois, receberam instruções claras para aplicarem protocolo de sigilo aos casos a serem analisados. Seu esforço era para invalidar qualquer chance de se constatar que o fenômeno fosse legítimo.
A verdadeira natureza do interesse das forças armadas estava refletida num dos parágrafos de seus relatórios, que dizia textualmente: “A avaliação dos informes de objetos não identificados é uma atividade necessária das agências de informações militares. Tais observações são inevitáveis e, em tempo de guerra, as condições favorecem a rapidez de soluções naturais convincentes, que são necessárias para manter a moral do pessoal civil e militar”. A tal rapidez para se encontrar “soluções naturais convincentes” para manter a moral do pessoal civil e militar demonstra que o assunto tinha que ser explicado a qualquer custo e rapidamente, como uma estratégia militar, em vez de se promover uma busca real de esclarecimento do fenômeno.
Embora nunca admitido publicamente, e apesar das falhas na avaliação das informações, frutos de pressões internas antiufológicas, o Projeto Sign chegou à conclusão de que havia um número de avistamentos que só poderiam ser explicados satisfatoriamente como objetos extraterrestres. Em face disso, em 11 de fevereiro de 1949, a USAF criou o Projeto Grudge, dando seqüência ao Sign, mas cuja atividade seria totalmente focalizada no descrédito do Fenômeno UFO. Foi para isso que o doutor Hynek foi contratado: tentar explicar a maior parte dos relatos de avistamentos do ponto de vista astronômico. Após ter estudado 237 das melhores observações, os técnicos do Grudge descobriram que 32% delas podiam ter uma explicação astronômica, e 35% eram balões, sondas, aviões, foguetes ou reflexos. 13% não tinham explicação por falta de maiores informações e 20% resultaram ser algo incomum e não identificado.
UFOs simplesmente não existem
Em 27 de dezembro do mesmo ano, dez meses após sua criação, o Projeto Grudge foi dissolvido. Como resultado, foi emitido o infame Informe Técnico 102, com 600 páginas, que deixava claro que os esforços dos militares norte-americanos deviam agora ser concentrados naqueles 20% de casos sem explicação. O Informe recomendava que se encontrasse a todo custo uma resposta para tais episódios, porque “…objetos voadores não identificados simplesmente não existem”, segundo o documento. Embora instituições como o prestigiado Serviço Meteorológico Nacional confirmassem que tais ocorrências não tinham caráter atmosférico, as últimas declarações dos técnicos da USAF asseguravam a doutrina já estabelecida da negação a todo custo: “A Força Aérea anuncia que, depois de dois anos de investigações, pode afirmar que não existem discos voadores”. Fim da questão.
Mas os UFOs ignoraram a decisão da Aeronáutica norte-americana de não existirem e novos avistamentos foram se sucedendo, sem parar. Vários pilotos e técnicos tiveram a oportunidade de ver estranhos objetos voando em muitos estados, e boa parte das testemunhas eram pessoas qualificadas e treinadas para observações aéreas. Com o agravamento da situação, a política de desinformação foi tomando corpo nos EUA. E como UFOs apareciam também noutras partes do mundo, os diplomatas e militares norte-americanos trataram de acompanhar os casos no exterior, ora sugerindo, ora impondo que as autoridades das nações onde tais fatos aconteciam agissem de acordo com sua doutrina. Foi assim que países orientados politicamente com os Estados Unidos começaram a fazer parte do quadro internacional de acobertamento ao tema. Isso inclui o Brasil e demais países da América do Sul.
No fervor das circunstâncias, com discos voadores sendo vistos em todo o planeta, e temendo um agravamento ainda maior da questão, o major-general Charles P. Cabell, diretor do Serviço de Informação da Aviação Militar dos EUA, deu ordens para que se fizesse um novo estudo do Fenômeno UFO, um trabalho que caiu nas costas do capitão Edward Ruppelt. Foi criado, assim, o Projeto Blue Book, que teria a oportunidade de analisar interessantes observações e muitos casos que podem ser considerados clássicos da Ufologia. Claro, sempre mantendo uma postura cética e visan
do associar os fenômenos a causas naturais e humanas. Em muitos casos, as explicações oficiais oferecidas chegavam a ser uma atrocidade ao bom senso.
Desinformação
As investigações continuaram durante anos e, mais uma vez, de centenas de casos analisados, apenas 20% restavam não identificados – e novamente eram desqualificados. O Blue Book continuou suas investigações com a assessoria científica do doutor Hynek, que já mostrava certa rebeldia e afirmava, em pequenos círculos, que o Fenômeno UFO não estava realmente recebendo tratamento adequado. Hynek comentava com freqüência que a questão era motivo de brincadeiras entre os cientistas ligados ao Blue Book, e que eles simplesmente não davam atenção aos dados obtidos. Essa falta de seriedade era reflexo da postura da USAF, empregadora de tais cientistas, que iria de qualquer modo desmoralizar os casos considerados, mesmo se dados como legítimos. Assim, os membros do projeto passaram a dar explicações sem quaisquer critérios e até insustentáveis para eles.
O deboche era tão grande e a engrenagem da política de acobertamento tão evidente, já com tentáculos no exterior, que a mídia ironizava o trabalho do Blue Book “Para cada 200 avistamentos de UFOs, a USAF tinha 201 explicações”, diziam os jornalistas. E ainda, para manter seu fingimento de que levava o assunto a sério, a Aeronáutica norte-americana resolveu contratar uma comissão independente e civil para analisar os resultados obtidos até então pelo Blue Book. Assim, foi feito um acordo com a Universidade do Colorado, cabendo ao professor Edward U. Condon, por 18 meses, realizar um estudo acurado do material obtido no projeto.
Lamentavelmente, a esperança de uma investigação imparcial por parte da comunidade científica iria converter-se em nova desilusão, já que os integrantes do que passou a ser chamado Relatório Condon seguiriam o mesmo contexto político do Blue Book e projetos anteriores. A verdadeira medida do espírito que animou esta comissão da Universidade do Colorado foi bem definida na afirmação de Robert Low, de 09 de agosto de 1966: “Sua fraude foi descrever o projeto de forma que parecesse para o público um estudo totalmente objetivo, enquanto que, para a comunidade científica, é apenas a imagem de um grupo de descrentes fazendo o possível para serem objetivos”. Pelo menos tal comissão nunca escondeu, desde o início, sua completa descrença no Fenômeno UFO…
Os resultados do Relatório Condon eram tudo o que a USAF precisava para pôr um fim definitivo nas investigações oficiais do assunto. “O secretário da Força Aérea Norte-Americana, Robert Seamans, anuncia o fechamento do Blue Book, porque não foram encontradas provas que justificassem sua prolongação, nem em interesse da ciência, nem em razão da segurança nacional”, destacava a revista Vanguard, de 21 de dezembro de 1969. Estava sepultado o assunto, pelo menos temporariamente. Ponto para a política de acobertamento, já plenamente efetiva nos EUA e em boa parte do mundo. Junto ao Blue Book estavam também enterradas as chances de surgir outro projeto oficial de pesquisa do Fenômeno UFO. Agora, o assunto seria tratado sempre – e somente – sigilosamente.
Era óbvio que aquelas luzes estavam sendo operadas por algum tipo de inteligência, e ela sabia que estávamos ali. Eu coloquei isso no meu relatório para o comandante do I COMAR, que acabou sendo enviado à Brasília. Tornou-se oficial: um militar brasileiro informava aos seus superiores um fato dessa magnitude
— Uyrangê Hollanda, comandante da Operação Prato
Política “Made in USA”
Como se vê, a política oficial norte-americana sempre foi de negação total do Fenômeno UFO, um procedimento que acabou importado e adotado por muitos países, principalmente seus aliados após a Segunda Grande Guerra. Como vitoriosos do conflito, os Estados Unidos passaram a ser referência máxima em tecnologia militar, em escala mundial, inclusive para o Brasil. E aqui também tivemos projetos oficiais de pesquisas ufológicas, a maioria inspirados ou baseados nos norte-americanos. Já em 1952, o coronel-aviador João Adil de Oliveira fora aos EUA receber instruções militares sobre o assunto de seus colegas. De volta ao Brasil, passou a fazer conferências para nossos oficiais sobre a questão. Na época, ele era chefe do Serviço de Informações do Estado-Maior da Aeronáutica e, num momento único e sem precedentes, em 1954, reuniu vários militares e a imprensa no auditório da Escola Técnica do Exército, no Rio de Janeiro, e discursou sobre o Fenômeno UFO de forma aberta e em caráter oficial. Simplesmente, por alguma razão, Oliveira não trouxe consigo, dos EUA, o ranço de acobertamento que imperava naquele país.
De qualquer forma, pode-se dizer que a “Ufologia oficial” brasileira teve início por sua iniciativa, no começo da década de 50. No entanto, somente em março de 1969 seria criado o primeiro projeto de pesquisas ufológicas de que se tem notícia. Era o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (SIOANI), fundado e sediado no 4º Comando Aéreo Regional (COMAR), na Praça Professor Oswaldo de Vincenzo, no bairro do Cambuci, em São Paulo (SP). Quem comandava o instituto era o major-brigadeiro José Vaz da Silva, que na época era comandante daquele destacamento. O SIOANI era formado por militares e civis espalhados por diversas bases aéreas e aeroportos brasileiros, e começou a investigar muitos casos ufológicos ocorridos naquela época. O projeto foi uma iniciativa única, pois, apesar de estarmos em plena ditadura militar, havia colaboração mútua entre pesquisadores militares e civis – e estes podiam participar das reuniões, numa situação similar ao que ocorre hoje no Chile [Veja matéria em Ufo 92].
O SIOANI chegou a emitir boletins informativos restritos, dois quais os ufólogos têm conhecimento de apenas dois, tornados públicos pelo editor A. J. Gevaerd, em várias edições da Revista Ufo. O primeiro é datado de março de 1969 e explicitava o estatuto e as diretrizes do organismo. Já o segundo, de agosto de 1969, registrava a descrição de 58 casos ufológicos oco
rridos no nosso país [Conheça esses documentos através do site de Ufo, ufo.com.br]. Nesses documentos estão casos ufológicos de grande envergadura, registrados pelo militares. Alguns, inclusive, de naves pousadas e com a presença de tripulantes.
Em 1972, as atividades do SIOANI foram encerradas abruptamente. Não se sabe a razão do fechamento do órgão, mas é possível que fora devido à mudança do governo, naquele ano. mudança do governo, naquele ano. Como sempre ocorre, cada novo governo que assume acaba promovendo mudanças estruturais drásticas em diversas áreas, e estima-se que tais mudanças podem ser a razão da desativação do sistema. Outra hipótese levantada sobre o que teria gerado a extinção do SIOANI justifica tal ato pelo desinteresse do COMAR em continuar os trabalhos. Mas a verdadeira razão pode bem ser outra: as autoridades brasileiras teriam recebido forte pressão das norte-americanas, desgostosas da relativa abertura que o sistema tinha, para encerrá-lo ou passá-lo a totalmente secreto. Na avaliação de muitos ufólogos, eis o verdadeiro desfecho do órgão.
Comando da Aeronáutica
Tal conclusão tem amparo na descoberta que fizeram o engenheiro e ufólogo Claudeir Covo, co-editor de Ufo e presidente do Instituto Nacional de Investigação de Fenômenos Aeroespaciais (INFA), e o pesquisador Osmar de Freitas, presidente do Grupo de Estudos de Objetos Não Identificados (GEONI). Ambos estiveram no COMAR, após o fechamento do SIOANI, e obtiveram a informação de que ele fora realmente desativado e seu material, produzido em três anos de atividade, enviado para o Alto Comando da Aeronáutica, em Brasília (DF). O próximo projeto oficial brasileiro de pesquisas ufológicas que se tem notícia é a Operação Prato, promovida pelo I Comando Aéreo Regional nos arredores de Belém (PA), entre setembro e dezembro de 1977.
Seu surgimento foi motivado por uma onda ufológica sem precedentes na Região Amazônica, atingindo principalmente as pequenas comunidades litorâneas e rurais. Tratava-se do fenômeno que ficou vulgarmente conhecido como Chupa-Chupa: pequenos objetos aéreos que perseguiam os moradores ribeirinhos e os atingiam com potentes feixes de luz. Para os habitantes das áreas atacadas, esses artefatos sugavam o sangue quando atingiam as pessoas com seus feixes luminosos [Veja matéria em Ufo 75]. A situação foi de tal gravidade que começou a afetar a economia local, pois os pescadores não tinham mais condições de exercer sua atividade por causa dos ataques do Chupa-Chupa. Assim, com a população alarmada, o prefeito da pequena localidade de Colares, uma ilha do município de Vigia, litoral do Pará, acabou sendo obrigado a enviar um ofício para o COMAR, onde informava que a situação estava fora de controle e toda a população se encontrava em estado de histeria.
De fato, os moradores não dormiam mais à noite por causa do fenômeno. As pessoas se reuniam em volta de fogueiras para soltar fogos de artifícios para tentar afugentar os artefatos. Com isso, o coronel Camilo Ferraz de Barro, daquele COMAR, designou o então capitão Uyrangê Bolívar Soares Nogueira de Hollanda Lima para o comando de uma operação oficial, a fim de investigar os acontecimentos. Nomeada Operação Prato pelo capitão Uyrangê, o programa envolveu o deslocamento de uma força-tarefa aos locais de incidência do Chupa-Chupa para documentar a situação. Formalmente, a operação tinha três objetivos, expressos em seus documentos: coletar informação dos avistamentos e ataques diretamente com os moradores das áreas atingidas, documentar com sofisticados equipamentos o fenômeno aéreo sendo observado e, em terceiro lugar, engajar-se numa tentativa de contatar as eventuais inteligências por trás das manifestações.
Depósito de casos ufológicos
Ou seja: a Operação Prato era um esforço oficial da Aeronáutica brasileira, explicitamente organizado para um fim no mínimo inédito no país: tentar manter contato com o que quer que fossem os tais Chupa-Chupa. Vale ressaltar que todo o programa foi realizado em caráter secreto e só se tornou público por declarações do próprio capitão Uyrangê Hollanda que, após aposentar-se, deu uma entrevista histórica para a Revista Ufo, na qual simplesmente contou tudo o que o Governo esconde. Hollanda mostrou um quadro que parece ser uma constante no Brasil, tal qual nos Estados Unidos: o Fenômeno UFO é ignorado publicamente, mas secretamente é alvo de pesquisa e documentação oficial [Veja matéria em Ufo 54].
Ainda de acordo com as revelações de Hollanda, a Operação Prato produziu inúmeros relatórios descrevendo vários incidentes com o fenômeno. Também obteve centenas de fotos de UFOs e vários registros em filme, num total de mais de 16 horas. Mas todo o material, após o encerramento da operação, em apenas quatro meses de trabalho, foi sumariamente enviado pelo COMAR para o então Núcleo do Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Nucomdabra), precursor do atual Comando de Defesa Aeroespacial Brasileiro (Comdabra), um órgão com sede em Brasília e subordinado diretamente ao Comando Geral do Ar. Nesse órgão, aparentemente, o material obtido por Hollanda e seus homens permanece trancado a sete chaves até hoje. Essa postura de sigilo é um dos alicerces da campanha UFOs: Liberdade de Informação Já.
Acalmar a população
O resultado e os desmembramentos da operação não são conhecidos, pois Uyrangê era apenas um capitão e não participava das decisões do comando da Aeronáutica, em Brasília. De qualquer forma, sua atuação foi fundamental para acalmar os ânimos da população diante d
o Fenômeno UFO. Depois da Operação Prato, não temos mais notícia de projetos oficiais específicos para investigar discos voadores no Brasil, mas sabemos que todos os casos ufológicos de grande importância, registrados em nosso país, continuam sendo enviados para o Comdabra, que é o centro nervoso das operações de defesa da soberania aérea do Brasil.
O ufólogo Claudeir Covo ainda alerta para o fato de que o órgão pode ser apenas uma espécie de “depósito oficial” de casos ufológicos. “Tudo indica que nenhum dos casos é alvo de investigação pelo órgão. E esse quadro se deve basicamente a situação econômica do Brasil. Com toda a máquina militar sucateada por falta de verbas públicas, os militares não têm condições de destinar parte de seu orçamento para a investigação de objetos voadores não identificados”, declara o ufólogo.