Boitatá, Mãe do Ouro, Luz do Mundo, Luz Andeja. Os nomes variam, mas as manifestações continuam a surgir. Neste caso, deixaram uma vítima fatal e uma família traumatizada para contar a história. As muitas histórias que correm no interior de nosso país, e que não raro são vistas apenas como invencionices, ilusões ou coisas de pessoas ignorantes, são um tesouro de informações sobre como se formou a interpretação humana de fenômenos que desafiavam as explicações comuns. As figuras de nosso folclore, assim como também ocorre em todo mundo, podem esconder informações preciosas.
Quando olhamos para as antigas histórias com “olhos ufológicos”, descobrimos um verdadeiro mar de casos espalhados pelo país inteiro, envolvendo contatos próximos, avistamentos e interações entre humanos e seres de outros mundos. O episódio ocorrido com João Prestes Filho, em 1946, no interior de estado de São Paulo, é um exemplo claro do quanto se esconde por trás das imagens folclóricas. O primeiro pesquisador do Caso Prestes chama-se Fernando Grossmann. Tivemos a sorte de localizá-lo há alguns anos residindo em um bairro da periferia de São Paulo, próximo à Reserva da Cantareira. O entomólogo mora dentro de um verdadeiro bunker de concreto, criado para o que deveria ter sido um centro de estudos ufológicos, com cômodos individuais para acolher os pesquisadores por longos períodos de tempo.
Grossmann, um dos pioneiros e veteranos da Ufologia Brasileira, nos lembrou que as pesquisas ufológicas sobre o “homem queimado” começaram em 1971, com um cidadão chamado Irineu Marinho, que levantou a hipótese de que uma nave extraterrestre poderia ter queimado e matado o pobre João Prestes Filho. Em 1974, o pesquisador, na companhia do suíço Willy Wirtz e do doutor Luís Braga Cavalcante de Araújo, entrevistou na cidade de São Roque o cirurgião Aracy Gomide, que afirmou que a carne da vítima “se desprendia em fiapos” que caíam ao solo, ao redor da cama.
Rosto do homem queimado
O cirurgião chegou à conclusão de que o sitiante morrera com queimaduras de terceiro grau provocadas por “efeitos indiretos de radiação, semelhantes a uma explosão atômica”, conforme disse. Mas quem, em 1946, e em pleno interior de São Paulo, poderia experimentar tal coisa? Outros pesquisadores falam que as queimaduras podem ter sido feitas por micro-ondas, uma vez que seus tecidos mortos e suas roupas não foram queimados.
Em 2005, Hermes da Fonseca, morador de Araçariguama, ajudou-nos a achar um dos sete filhos ainda vivos de João Prestes Filho. Getúlio apenas se lembrava do trágico final de seu pai e confirmou tudo que sua irmã Genésia, então com 83 anos, nos disse no interior da sua casa, em São Roque. Quando lhe perguntamos como faleceu seu pai, ela nos respondeu que morrera queimado. “O rosto dele queimou, assim como a pele e as mãos, enquanto ele gritava de dor. Morreu a caminho de Santana de Parnaíba”, afirmou a senhora. Veja representação ao lado.
Quanto a quem ou o que seria o responsável sobre a morte de seu pai, Genésia nos disse que ele “estava em casa quando apareceu o fogo, ‘o fogo do mundo’. Foi para a casa da minha tia para ver a minha mãe, embaixo de chuva, gritando, gritando”. Nós lhe perguntamos se ela tinha alguma foto do pai e a senhora, levantando-se, fez um sinal para que a acompanhássemos até seu humilde quarto. Ali mostrou um velho quadro com moldura de madeira e uma foto antiga colorida à mão — o retrato de seus pais.
Pela primeira vez João Prestes Filho ganhava um rosto para nós, os pesquisadores do mistério. Ele fora um homem de tez branca, usava um fino bigode de época e cabelo penteado para trás. Aquela era a única imagem que temos da vítima do misterioso boitatá. Nós nos perguntamos quantas outras pessoas tiveram a mesma experiência, sem que nunca tenhamos sabido.