As sociedades e a história estão cheias de fatos imponderáveis e insólitos, muitos dos quais ainda persistem até os nossos dias sem que se tenha sido encontrado para eles explicação ou resposta adequadas. Aos poucos, e sem que nos apercebamos disso, todos nos acostumamos com a presença de ocorrências e acontecimentos que não podemos explicar e dos quais a ciência foge, pois representam para ela um desafio além de sua capacidade de ação. Assim, pouco se produz sobre esses temas.
O atual estado da produção acadêmica brasileira sobre assuntos insólitos, como os provenientes da Ufologia, devido à raridade de publicações, pode ser facilmente delimitado. No entanto, podemos perceber um crescente interesse da ciência, já que nos anos de 2015 e 2016, a título de exemplo, tivemos duas publicações de doutorado sobre o tema, a primeira de Rafael Almeida, pela Faculdade de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB), e a outra de Leonardo Martins, pela Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). E devemos a Claudio Tsuyoshi Suenaga um trabalho inaugural no Brasil sobre Ufologia na história, publicado em 1999, com um amplo debate político, além de cultural, sobre o tema ufológico.
Muito antes do boom da internet e da divulgação de documentos confidenciais, pesquisadores brasileiros empreenderam esforços para trazer à academia — um espaço definitivamente desconfiado dos temas insólitos — suas investigações sobre questões de interesse direto da Ufologia. Contudo, com o maior acesso à informação que temos hoje, novas pesquisas tornaram-se possíveis, como a que desenvolvi durante o mestrado em história pela UnB, dedicada a uma perspectiva militar sobre o tema, baseada nos documentos liberados da Força Aérea Brasileira (FAB), sob o contexto tecnológico de um embate aéreo.
Assim, como o tema da pesquisa esteve centrado nas investigações da FAB sobre os UFOs, prevaleceu uma proposta que aliava a emergência de uma guerra aérea e o desenvolvimento tecnológico da Aeronáutica no século XX como um contexto histórico ideal para se analisar não somente o surgimento do Fenômeno UFO, mas também as preocupações militares sobre o tema. Sabe-se, pela documentação da FAB hoje disponibilizada no Arquivo Nacional, que existem inúmeros registros sobre UFOs catalogados dos anos de 40 até hoje. Além do mais, a instituição participou diretamente em pesquisas, operações e missões de interceptação a esses objetos. Sob o ponto de vista daquele que é responsável pela segurança do espaço aéreo brasileiro, UFOs oferecem um desafio à segurança nacional, pois sempre há a possibilidade de serem vetores secretos de potências estrangeiras invasoras. O cidadão comum pode ter variadas reações diante dos objetos não identificados, mas o agente militar tem uma visão distinta, já que tais presenças desconhecidas põem em risco o tráfego autorizado, por exemplo.
Foo fighters e a Segunda Guerra
A acepção moderna do termo foo fighters, como sendo engenhos não identificados que foram relatados ao final da Segunda Grande Guerra, nos leva a considerar que a primeira grande onda de avistamentos de UFOs do século XX ocorreu justamente em um contexto de guerra global, em que o poder aéreo foi decisivo para a resolução do conflito. Por conseguinte, ao discutirmos os UFOs, necessariamente teremos que lidar com a ideia de guerra e de tecnologia aérea, já que os primeiros relatos sobre eles, igualmente da Segunda Grande Guerra, estão relacionados ao uso ostensivo de aeronaves de combate — quando o poder aéreo ganhou novos usos segundo o avanço técnico das aeronaves.
Durante os últimos anos do conflito, quando a Europa e as ilhas do Pacífico se tornaram campos de ininterruptos bombardeios aéreos, começaram os primeiros relatos de avistamentos ufológicos, narrados por pilotos e suas equipes — eram estranhas luzes nos céus acompanhando as aeronaves em suas missões. Nesse sentido, os relatos de foo fighters ocorrem justamente no momento em que o poder aéreo se torna proeminente frente às forças de superfície, ao ser utilizado como estratégia para imersão no território inimigo.
O poderio dos Aliados passou a ser o fator decisivo na derrota da Alemanha, que rapidamente perdeu o controle do espaço aéreo de todo o seu território, ou seja, a derrota alemã começou com a derrota de sua Força Aérea frente à Força Aérea Aliada, mesmo tendo os alemães as melhores aeronaves da época, incluindo aí inúmeros projetos radicais, além dos primeiros mísseis guiados lançados por aviões caça, mísseis balísticos, aeronaves a jato e com sistema antirradar.
Existem na internet informações difíceis de ser confirmadas sobre projetos alemães de aeronaves com formato e dinâmica de voo semelhantes aos dos UFOs. O documentário russo Third Reich: Operation UFO Nazi Base in Antarctica [Terceiro Reich: Operação de Base Nazista e Ufológica na Antártida], de 2006, é rica fonte sobre o tema dos UFOs desenvolvidos pela Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial e suas supostas instalações secretas no Continente Ártico, ao reunir o depoimento e pesquisas de cientistas e militares russos de renome.
Se os soviéticos e os norte-americanos, no espólio da indústria e dos cientistas alemães, levaram consigo para seus países projetos, equipamentos e protótipos de UFOs, isso é muito difícil de se comprovar. No entanto, vários outros projetos e tecnologias foram rapidamente incorporados ao complexo industrial militar dos Estados Unidos e da União Soviética, e eles não apenas moldaram a nova matriz tecnológica que marcou a Guerra Fria como também criaram um enorme desequilíbrio entre as duas grandes potências e a iminência, existente ainda hoje, de uma nova Guerra Global, com a utilização de ogivas termonucleares acopladas a mísseis balísticos intercontinentais (ICBM), baseados nas “armas de represália” do tipo V2, da Alemanha.
O Brasil e os UFOs
A partir disso houve um imenso descompasso tecnológico entre Estados Unidos, União Soviética e as demais nações, que puderam acompanhar apenas olhando de longe quais novos vetores secretos seriam lançados e, eventualmente testados, para além dos inúmeros outros testes de bombas termonucleares, que os dois gigantes produziam em uma escala inimaginável. O Brasil, como não fazia parte das grandes nações produtoras de tecnologia de ponta, poderia esperar entre seus militares, especialmente àqueles da Força Aérea Brasileira (FAB), que as grandes nações produzissem tecnologias díspares e não convencionais que eventualmente pudessem ser confundidas com UFOs ou discos voadores, dependendo da época.
O primeiro interesse oficial pelos objetos voadores não identificados relatado ao público veio do coronel João Adil de Oliveira, que, em 1954, já alertava a todos que os rumores sobre presenças desconhecidas nos céus deveriam ser levados à sério. Com base nisso seria razoável supor que os militares brasileiros colocavam todas as possibilidades em jogo, incluindo aí novos tipos de artefatos aéreos, distanciando-se de forma enérgica do sensacionalismo midiático em torno dos discos voadores e das suposições unicamente extraterrestres. É correto supor que os militares de todas as nações se preocupavam com o mistério dos UFOs e que as principais e mais comprometedoras fontes de informação sobre o envolvimento dos Estados Unidos com o acobertamento de informações sobre eles foram oficiais e agentes militares de renome.
Havendo quase três décadas de debates sobre o tema, tanto na imprensa quanto
em círculos oficiais, em 1969, os militares da FAB criaram o Sistema de Investigação de Objetos Aéreos Não Identificados (Sioani) e foram a campo tentar decifrar o enigma desses objetos com aquilo que dispunham na época. Como o Brasil não detinha recursos, indústrias ou centros de pesquisa para desenvolver suas próprias tecnologias aéreas, nos restava apenas a pesquisa de campo junto aos observadores ou testemunhas de avistamentos e, para tanto, foi criado um elaborado e criterioso sistema de investigação, com um bom número de saídas a campo para coleta de dados.
Por outro lado, como o Brasil não tinha grandes segredos tecnológicos e nem mesmo segredos de estado relacionado aos UFOs, o país pôde participar de forma mais descomprometida em sua pesquisa, ainda que à época os rumores sobre discos voadores e a exploração midiática sensacionalista do tema contribuíssem para a desvalorização do assunto frente ao mundo científico. No entanto, compreendendo bem suas limitações e a dificuldade de seguir no caminho tortuoso da pesquisa sobre o insólito, a equipe do Sioani conseguiu cumprir algumas de suas metas.
Não podemos dizer que as ações do Sistema foram em vão, até porque é bastante razoável que uma nação mantenha um centro de pesquisa sobre objetos que cotidianamente surgem nas telas dos radares de seus centros de controle e que não são passíveis de identificação. Isso já ocorre em vários países, como a Argentina, o Chile, o Peru, o Uruguai e o Equador, apenas na América do Sul. No entanto, o Sioani estabeleceu metas mais arrojadas, pois queria decifrar o enigma por trás dos UFOs. Mas o que vemos por meio da documentação existente do órgão, hoje parcialmente liberada, ele produziu apenas uma grande coletânea de relatos de eventos insólitos, além, é claro, de uma síntese histórica do fenômeno, expondo de forma clara a importância da pesquisa do tema, mesmo havendo uma grande resistência por parte do mundo acadêmico.
A Operação Prato
Sim, entre 1969 e 1972, quando foi extinto, o Sioani produziu uma razoável quantidade de narrativas ufológicas, coletadas indiretamente e catalogadas segundo uma metodologia militar, o que em si já é um grande feito, já que puderam valorizar tais relatos, preocupando-se mais em buscar fontes confiáveis — ou seja, pessoas sóbrias que não confundiriam com facilidade fenômenos naturais e engenhos humanos com UFOs — do que narrativas críveis. Nesse ponto, o Sistema foi fiel ao relato de suas fontes sem tentar diminuí-las, por mais insólita que fosse a situação. Infelizmente, o órgão foi encerrado após três anos de pesquisa, sendo que, se tivesse permanecido, apenas cinco anos adiante, poderia ter conduzido as investigações que ocorreram durante a Operação Prato, uma vez que já dispunham de conhecimento acumulado e de uma experiência especializada sobre o assunto.
Na conhecida Operação Prato encontramos um contexto que reúne as mais variadas possibilidades de interpretação do Fenômeno UFO, sendo esse um dos eventos mais marcantes sobre o tema, acompanhado por pesquisadores de todo o mundo. Não somente ocorreu ali um intenso envolvimento de agentes do Estado Brasileiro e de cidadãos locais com UFOs, que muitas vezes atuavam de forma agressiva, como foram descritas as mais diversas situações com objetos de variados formatos, elementos esses trazidos especialmente pelo depoimento do coronel Uyrangê Hollanda à Revista UFO, em 1997, pelos relatos de sua equipe, de moradores e pelos documentos da Operação, boa parte deles hoje também liberada.
A suposição extraterrestre e alienígena como explicação para os estranhos acontecimentos na região de Colares (PA) foi apresentada justamente pelo coronel Hollanda, o chefe da Operação, que observou e participou de inúmeras situações que envolveram, inclusive, contatos próximos com seres supostamente não humanos. A hipótese que Hollanda elaborou, baseando-se em suas evidências e experiências pessoais, era a de que havia uma preparação, por parte de seres alienígenas, para um futuro contato.
A coleta de amostras de material biológico humano estaria sendo feita para que os visitantes pudessem criar uma forma de defesa orgânica, como um soro imunológico ou uma vacina, para que um futuro contato direto pudesse ser feito. O coronel usava sua experiência com populações indígenas como analogia, já que sempre se preocupava em não levar aos índios doenças às quais eles não estavam biologicamente preparados para lidar. Era a forma de explicar a razão dos raios que atacavam as pessoas, chamados de chupa-chupa, que provocavam paralisia, queimaduras e um verdadeiro terror entre os cidadãos nativos.
Outras explicações
A suspeita alienígena também foi exposta ou, melhor dizendo, explorada pela Rede Globo e pelo canal a cabo The History Channel em suas reportagens e documentários sobre o evento, que contribuíram bastante para tornar a Operação Prato conhecido mundo afora. No entanto, de acordo com as evidências e com os documentos existentes, outras possibilidades também foram exploradas. Tendo como origem artigos publicados pelo site Via Fanzine, resolvi desenvolver outras suposições possíveis além da hipótese extraterrestre, que davam continuidade ao tema da guerra aérea e do lançamento de novos vetores secretos.
Para tal, um documento especial da Operação apresentou-se especial devido à sua descrição de um UFO em forma de asa voadora, com três “turbinas” de onde se relatou sair uma luz vermelha. O objeto foi visto na praia de Ararirá, em Santarém, sul do Pará. Nesse documento são expostos sete desenhos em miniatura do artefato, para ressaltar sua característica em voo, e mais um desenho para ressaltar seu formato. O UFO descrito no tal arquivo da Operação Prato tinha um formato que se assemelhava muito aos projetos de aeronaves de bombardeio com formato de asas voadoras, inicialmente desenvolvidos pelos alemães durante a Segunda Grande Guerra e, naquela época, provido de um incipiente sistema antirradar.
As semelhanças entre a descrição do tal UFO e os projetos de aeronaves com formato de asas voadoras são notáveis, e não podemos afirmar que esse tipo de modelo já fosse conhecido pelos militares brasileiros na época, uma vez que faziam parte de projetos secretos e só se tornaram conhecidas do público com a popularização da internet e com a propaganda dos Estados Unidos sobre suas aeronaves com tecnologia Stealth [Invisíveis aos radares], utilizadas inicialmente durante a Guerra do Kosovo (1998-1999).
Essa nova linha de raciocínio nos leva a supor que, para além da hipótese alienígena e extraterreste, os eventos que marcaram a região do litoral norte do Brasil no final da década de 70, existe outra possibilidade viável — a de que ali ocorreu um grande teste de várias tecnologias combinadas, na utilização de aparelhos então desconhecidos, como, inclusive, aeronaves em forma de asa voadora. Para tal suposição, teríamos que trabalhar também com a possibilidade do uso de outros aviões radicais que se assemelhassem aos UFOs, especialmente aqueles em forma de objetos luminosos, largamente relatados em toda a Operação. Além disso, nesse “variado campo de testes”, poderiam ser usadas também armas psicológicas, a exemplo daquelas citadas no Projeto Blue Beam, ou seja, armas supostamente capazes de criar gigantescas ilusões holográficas, que poderiam ser facilmente confundidas com UFOs.
Ainda que sejam impossível provar a existência desses s
upostos armamentos holográficos, existem algumas evidências de eventos que apontam para a utilização de tecnologias sofisticadas capazes de criar uma grande confusão sobre sua origem e finalidade, como a estranha luz que surgiu nos céus na Noruega, em 09 de dezembro de 2009, para a qual ainda hoje não existe uma explicação razoável, por mais que o Ministério da Defesa da Federação Russa tenha dito que o efeito visual foi provocado pelo teste defeituoso de um míssil lançado por um submarino.
Armamentos holográficos
A explicação oficial russa levanta a suspeita da existência de armamentos especialmente desenvolvidos para produzir efeitos psicológicos diversos, como criar ilusões visuais nos céus. Por fim, nessa concepção alternativa, a região de Colares e cercanias teriam sido escolhidas como campo de teste para diversos tipos de tecnologias não convencionais combinadas, desde aeronaves do tipo asa voadora, até diferentes tipos de lasers — utilizados para paralisar e queimar os civis —, UFOs e armas psicológicas do tipo holográficas para simular a presença de UFOs gigantescos, como alguns relatados pelo coronel Hollanda e outros, que descrevem objetos de mais de 100 m de diâmetro.
A localidade teria sido escolhida devido à sua distância dos centros urbanos, ser cercada por florestas, rios e praias, ser povoada por pessoas simples, com baixo índice de IDH e pouca educação formal, dispersa em uma ampla região. Nesse caso, o teste poderia ser facilmente camuflado, não despertando muito interesse nas autoridades, já que ocorria em locais remotos do Brasil. Ainda assim, mesmo com o grande número de evidências de que algo bastante incomum ocorria ali, seria fácil também usar a “máscara alienígena” como camuflagem final, já que, devido à presença ostensiva, intensa e agressiva de UFOs, certamente em algum momento eles iriam chamar a atenção de autoridades civis e militares, o que de fato aconteceu e resultou na Operação Prato.
A Operação Prato e os incidentes em Colares e região nos oferecem grandes desafios interpretativos, sendo um dos eventos insólitos mais conhecidos e debatidos na contemporaneidade, especialmente pelo envolvimento entre atividades de UFOs e investigação estatal. Mesmo que não haja uma explicação definitiva para o que ocorreu no norte do Brasil naquela época, o certo é que, qualquer que seja a verdade, ela terá de se lançar ao imponderável, ao fantástico e ao extraordinário, até porque a única certeza que temos é que ali ocorreu uma grande agitação social que durou poucos meses, mas que ficou eternamente marcada no corpo e na memória daqueles que se envolveram diretamente com os fatos. Explicações ordinárias ou simplistas não cabem nesse caso.
E esse é o tipo de evento que a comunidade científica se sente pouco confortável para oferecer explicações ou conclusões que fujam a alusões a psicopatologias coletivas ou ilusões em massa. Da mesma forma, dificilmente os militares brasileiros teceriam uma posição oficial sobre a Operação Prato sem afirmar a dificuldade de se formular conclusões científicas sobre o fato, como ocorreu em notas lançadas à imprensa, quando foram inquiridos por jornalistas. É uma posição sóbria, até porque parece improvável que os militares tenham alguma conclusão real sobre o que ocorreu ali. É muito difícil se fazer ciência como de costume em um evento insólito de largas proporções.
A Noite Oficial dos UFOs
Assim como a Operação Prato, a perseguição feita por aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) a UFOs ocorrida em 19 de maio de 1986 é outro evento paradigmático do envolvimento do Estado Brasileiro com o fenômeno — só que, neste caso, evidências materiais foram coletadas e expostas ao público. Vários artefatos foram detectados por radar em regiões densamente povoadas e industriais, como São José dos Campos, em São Paulo. Tendo sido registrados “tráfegos” não autorizados em áreas de grande fluxo de aeronaves, logo os centros de controle do espaço aéreo requisitaram que aeronaves próximas de alguns “alvos” tentassem fazer contato visual com os aparelhos.
Uma das aeronaves que voava sobre a região naquela noite levava ninguém menos do que o coronel Ozires Silva, que após ocupar a presidência da Embraer por alguns anos, fora designado para assumir a presidência da Petrobras. Silva dispensa apresentações, dada a sua importância para o desenvolvimento da indústria aeronáutica nacional. Ele relatou em várias entrevistas e também em seu livro o que viu, afirmando que os UFOs tinham diferentes formatos e cores. Com ele seguia pilotando o avião, um Xingu, o comandante Alcir Pereira, que relatou o fato à Revista UFO apenas duas semanas depois.
Naquela mesma noite, 21 objetos voadores não identificados foram detectados por radares, exigindo uma atitude de resposta da FAB, que logo mandou acionar sete aviões do tipo caça para a interceptação dos objetos. Algumas aeronaves conseguiram se aproximar dos UFOs, outras os detectaram em seus radares de bordo, mas não conseguiram contato visual, e outras ainda conseguiram o contato, mas não tiveram registros de radar. Alguns caças chegaram a ser acompanhados e perseguidos por UFOs e outros que não conseguiram interceptar os artefatos, que reagiram com manobras evasivas. Todos esses eventos foram relatados mais tarde pelo então ministro da Aeronáutica, brigadeiro Octávio Moreira Lima, conjuntamente com os pilotos e o pessoal de terra.
Além dos depoimentos vinculados na imprensa em cerimônia no Palácio do Planalto, temos acesso, hoje, ao relatório da missão de interceptação, datado de 02 de julho de 1986, mas que somente veio a público em setembro de 2009, na liberação de um lote de documentos da FAB sobre UFOs produzidos na década de 80, como consequência da campanha “UFOs: Liberdade de Informação Já”, iniciada pela UFO em parceria com a Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU). As conclusões militares acerca da presença desses artefatos no espaço aéreo brasileiro atestam que alguns UFOs coincidiram tanto em detecção como em visualização de pilotos em relação a velocidades, comportamento, iluminações e acelerações. Que produziram eco em radares tanto de terra como de bordo, como também foram visualizados pelos pilotos.
Atestam, também, que os objetos variavam entre velocidades subsônicas e supersônicas, bem como se mantinham em voo parado, que voavam a baixas e grandes altitudes, que produziam luzes de variadas cores e tinham capacidade de acelerar e desacelerar de modo brusco, de efetuar curvas com raios constantes e outras vezes com raios não definidos. Os militares concluíram, por fim, que “os objetos eram sólidos e que refletiam uma certa forma de inteligência pela capacidade de acompanhar e manter distância dos observadores, como também voar em formação”, como está no documento.
O que falar das conclusões
Tais informações, em conjunto com os demais relatos e a liberação de novos documentos — como as fitas de áudio do diálogo entre controladores de voo e pilotos —, demonstram que para a Força Aérea Brasileira (FAB), ou seja, para o Governo Brasileiro, os UFOs relatados na missão de interceptação têm algum tipo de ciência. Diante dessas informações, podemos afirmar que os objetos presentes naquela noite eram frutos de uma tecnolo
gia incompreensível, mas real, não havendo dúvidas quanto a isso. Nesse intrigante evento, podemos conduzir novas análises sobre o impacto dessas afirmações, já que os militares, de forma sóbria, apenas afirmam aquilo que viram, relatam suas evidências e que é por meio delas que podemos seguir com o raciocínio dedutivo.
A aceitação da veracidade dos UFOs como engenhos avançados, devido à sua captação por radar e outras evidências, abre espaço para se considerar reais também diversas outras situações em que foram narradas a presença de objetos semelhantes, situação que nos leva para os primeiros relatos dos foo fighters da Segunda Grande Guerra, na suspeita de serem armamentos secretos alemães, por exemplo. Tal conjetura faria coro às várias fontes sobre o pioneirismo alemão no desenvolvimento de aeronaves radicais, incluindo-se aí, aquelas “não identificadas” e nos levando também a reconsiderar incontáveis outras situações em que são narradas evidências parciais de UFOs registradas apenas em relatos, documentos ou em material gráfico.
Portanto, segundo as autoridades brasileiras, os UFOs existem, são materiais e fruto de uma tecnologia. Logo, como tecnologia, fazem parte de uma ampla rede de laboratórios, cientistas, técnicos, instalações industriais, enfim, um amplo complexo de instituições que são o suporte de criação dessas tecnologias. Independentemente da hipótese humana ou não humana — ou de uma combinação das duas —, como tecnologia, os UFOs são produtos de uma civilização avançada. Nós seguiremos esse raciocínio de forma que ele não defenda exclusivamente nenhuma das hipóteses, mas que possa cobrir, até certo ponto, as semelhanças entre elas.
Por derivação, devido ao pouco conhecimento que temos sobre os UFOs e as suas ações evasivas, as forças que os dominam e controlam são tais que estão por trás dos bastidores. Podemos supor, além disso, que são praticamente insensíveis às disputas geopolíticas atuais, já que não atuam, ao menos abertamente, nesses conflitos. Como tal, é lógico supor que são forças ocultas, mas presentes, e que fazem grandes esforços para se manterem desapercebidas. Por outro lado, a explosão tecnológica que ocorreu durante a Segunda Grande Guerra e durante a Guerra Fria continua ainda hoje e é nesse grande avanço que repousa a possibilidade de lançamento de tecnologias revolucionárias, às quais não temos acesso e cuja existência desconhecemos.
Logo, a impossibilidade de uma guerra global fez com que as grandes potências não se enfrentassem diretamente. No entanto, elas poderiam estar desenvolvendo um novo tipo de guerra não convencional na qual, ao contrário das guerras indiretas, os armamentos de maior tecnologia e potencial destrutivo, como bombas termonucleares, não são utilizados. Do mesmo modo, essas potências poderiam estar aguardando o momento propício para o uso de tecnologias tão discrepantes, como as de poderio nuclear, quiçá semelhantes aos UFOs descritos pela FAB, em um novo contexto de guerra não convencional.
Podemos avançar na hipótese de que certos tipos de sistemas de armas radicais, incluindo aí os de efeito psicológicos e de criações holográficas, assim como aquelas que se utilizam de sistemas de propulsão e fontes de energia revolucionárias, a exemplo dos UFOs, apenas serão utilizados em um ambiente de guerra global ou em um ambiente propositalmente criado para esse fim, como uma opção a ser utilizada em momento ideal, planejado a fim de que sua “revelação” tenham os efeitos e impactos desejados.
Isso ocorreu com o lançamento dos primeiros artefatos atômicos, sendo o Projeto Manhattan, que os produziu, paradigmático em vários aspectos. Não apenas ele demonstra que armamentos de última geração e de tecnologia radical são utilizados somente em momentos críticos, como em uma guerra global, como aponta para a existência de um grande segredo militar que envolve a produção dessas tecnologias, já que o Projeto Manhattan foi concebido e realizado em sigilo, inclusive do Congresso Norte-Americano. Isso mostra que há orçamentos secretos e de aplicação irrastreável, além de toda uma infraestrutura industrial, que na época do projeto era comparada, se não maior, a toda indústria automobilística dos Estados Unidos, contando com imensas instalações e com a participação de empresas e institutos privados de pesquisa de vários segmentos.
Os segredos militares e o desenvolvimento de tecnologias não convencionais nos Estados Unidos já não dependem mais do controle direto de seus representantes e congressistas, muito menos de sua população. Como bem assinalou o presidente Dwight Eisenhower, o complexo industrial militar nos Estados Unidos está fora do controle da própria Presidência e do Congresso. Às suas afirmações poucos deram importância, mesmo que suas palavras tenham revelado a grande independência das forças colossais que atuam à sombra do próprio governo norte-americano, com monumental financiamento de projetos secretos.
A contar também com os paraísos fiscais, o dinheiro de carteis de drogas e outras máfias, o absurdo da imensa riqueza em dígitos sem lastro, secreta e não contabilizada, pode servir de suporte material para a existência de organizações paragovernamentais, não mais dependentes de governos, mas influentes sobre eles, que possam desenvolver tecnologias em segredo, utilizando-se de imensos orçamentos. Tudo isso tem que ser posto em jogo, pois não há como apontar que os UFOs sejam engenhos russos ou norte-americanos, simplesmente. Podemos ir além, a contar também com a clássica hipótese alienígena e extraterreste, ou mesmo uma combinação de todos esses fatores.
Limites da realidade
Ao tentarmos desenvolver uma teoria sobre as informações prestadas pelo Governo Brasileiro sobre o Fenômeno UFO, podemos seguir afirmando que tais dados atestam a existência de um “realismo fantástico”, pois admitem a realidade de algo intangível e, por vezes, absurdo. Em outras palavras, as informações dos militares brasileiros nos levam a um limite peculiar, à admissão da existência de uma brecha na realidade. Mas sobre o que há por detrás dela pouco se sabe, apenas se pode deduzir. Porém, a admissão de um realismo fantástico veraz, como o da Força Aérea Brasileira (FAB), por exemplo, nos permite estar abertos a outros, já que o exposto pelos militares é limitado e não oferece um contexto geral, uma explicação maior acerca dos objetos voadores não identificados e nem uma explicação sobre suas origens ou sobre as forças que podem ser identificadas como portadoras desses engenhos. A grande pergunta permanece: quem os domina?
Continuar a pesquisa sobre UFOs, tendo ciência do trabalho já feito pelos militares nacionais que aferem a existência do citado realismo fantástico, é buscar agora um estudo comparativo das várias narrativas existentes que abordam um contexto geral sobre o tema em si — o que seria, nesse caso, um estudo cultural em amplos aspectos, de se levar em conta as similitudes, as divergências, as narrativas conflitantes, suas fontes, em que se apoiam, suas interpretações históricas, os grupos que a divulgam, ressaltando, no entanto, o conteúdo de suas narrativas, por mais incertas que pareçam ser. Daí a forma ideal de categorizá-las como “narrativas de realismo fantástico” — as da FAB são apenas mais uma entre tantas outras. Ou seja, há um limite claro aqui: com o que os militares brasileiros oferecem, não há como continuar, a não ser q
ue se admita a existência de outras formas de realismo fantástico.
Ao mesmo tempo, também é um prejuízo não continuar. As pesquisas militares mostrarão sempre esse limite, não importa qual governo admita a realidade de tais eventos insólitos. Eles poderão servir de elementos para uma grande narrativa, mas sozinhos não farão jus a uma explicação em amplos aspectos. Para irmos adiante, teremos que nos arriscar no estudo daquelas narrativas que expõem um contexto amplo, uma visão mais alargada do Fenômeno UFO, que por sua vez não é só um fenômeno, mas algo que nos leva ao grande mistério que cerca nossa existência, e que certamente tem sua influência sobre nós e sobre as sociedades, quase impossível de notar, mas presente, como podemos deduzir, segundo as informações confiáveis e verídicas trazidas pela experiência dos militares brasileiros, por exemplo.
Guerras não convencionais
Como afirmou o sociólogo Max Weber, o governo é aquele que detém o monopólio da força física. Nesse caso, os UFOs, como engenhos da mais alta tecnologia, estão sob o controle de forças capazes de participar de guerras não convencionais, insólitas e poderosas, e podem ser considerados como senhores de um governo que atua nas sombras. Por conseguinte, aqueles que detêm os objetos, e podem ser várias “facções”, são os senhores desta guerra, e justamente por isso, teoricamente, podem oferecer uma espécie de dominação oculta sobre a qual estaríamos alienados.
Portanto, o realismo fantástico representado seja pela suposição humana, pela alienígena ou ambas, nos leva, em nosso íntimo, a um sentimento de que existe algo de muito errado com o mundo ao nosso redor. Nos leva a acreditar, quase que intuitivamente, em algo grandioso e extraordinário que ocorre nos bastidores do cotidiano e que pode afetar todas as esferas de nossa realidade, seja psíquica, social e coletiva, especialmente se levarmos em consideração as hipóteses extraterreste e alienígena, já que, se quisermos operar em tal raciocínio, não faz sentido algum considerarmos que tais civilizações apareceram apenas “por agora”. É razoável supor, caso se admitam suas presenças, que elas estão aqui há muito tempo e nesse caso sua influência se confunde com a própria história da espécie humana.
Ainda assim, insisto em chamar a atenção para o fato de que, independentemente da escolha sobre a origem dos UFOs, eles estarão inexoravelmente ligados ao controle de tecnologia de ponta, secreta e incompreensível, e à maestria e domínio das formas mais eficazes de se fazer guerra e, portanto, a um poder e uma dominação oculta. Nós podemos suspeitar de sua influência não somente no reino da técnica, mas também na política e nas sociedades, mesmo que isso seja apenas uma suspeita. No entanto, as evidências coletadas pelos militares brasileiros nos levam a admitir o imponderável. Diante disso, quais seriam seus limites?