Para quem busca vida em outros mundos, a água em sua forma líquida talvez seja o principal indicador. A vida tal qual a conhecemos na Terra se baseia em água e carbono. E, se os organismos podem prosperar aqui em ambientes desagradáveis – gêiseres, profundezas abissais, resíduos tóxicos, água quente demais, fria demais, ácida demais ou alcalina demais- , por que não lá fora?
Os cientistas por anos consideraram a água líquida uma raridade no Sistema Solar, pois, aparentemente, só a Terra parecia ter os atributos físicos necessários, exceto talvez Europa, uma lua gelada de Júpiter, que, provavelmente, oculta um oceano subterrâneo. Porém, os últimos 20 anos de exploração espacial, têm causado o que o astrobiólogo David Grinspoon chama de mudança de mentalidade.
Agora, parece que a gravidade, a geologia, a radioatividade e substâncias químicas anticongelantes, como sal e amônia, deram a muitos mundos “hostis” a capacidade de reunirem condições de temperatura e pressão compatíveis com a existência de água líquida. E as pesquisas na Terra mostram que, se há água, pode haver vida.
Em Marte e em Vênus, nas luas Encélado e Titã, de Saturno, e até mesmo em dois asteróides remotos, os pesquisadores já demonstraram que a presença de água líquida é possível e até provável. “A vida baseada em água e carbono funciona bem”, disse Grinspoon. “Isso não significa que seja o único jeito, mas é o que conhecemos, e isso nos dá algo para procurar”.
Encontrar água no espaço na forma de gelo nunca foi problema. O hidrogênio é o elemento mais comum no Sistema Solar e o oxigênio não fica muito atrás. Já a água líquida é outra questão. O calor do Sol derrete o gelo, mas, no vácuo espacial, não há praticamente nada que mantenha as moléculas aquecidas unidas, fazendo com que elas dispersem imediatamente como vapor. É um processo chamado sublimação.
O gelo, por outro lado, sobrevive a temperaturas baixíssimas e os detritos espaciais que vagam nos confins gélidos além de Netuno são a maior fonte de água no Sistema Solar. Essas bolas de neve suja entram novamente, na forma de cometas, no sistema planetário. Quando chegam mais perto do Sol, o gelo começa a sublimar, dando aos cometas a sua peculiar cauda de poeira e vapor de água.
Muitos cientistas consideram que grande parte do gelo no âmbito interno do Sistema Solar veio de cometas. Na Terra, os impactos dos cometas no início da história planetária podem ter fornecido essa matéria-prima, e o Sol e a pressão atmosférica teriam se encarregado do resto. Mas outros mundos intrigam os pesquisadores.
Eles foram capazes de estudar de perto as forças das marés, por meio de sobrevôos da sonda Cassini, da Agência Espacial Norte-Americana (NASA), sobre Encélado. Em 2005, a Cassini descobriu que essa lua, com um diâmetro de 480 km, expele grãos de gelo a partir de fissuras na sua região polar sul. Os grãos eram a “poeira” que forma o anel E de Saturno, e os cientistas suspeitam que as partículas vieram de uma fonte líquida sob a superfície.
“Eu não diria que é certo, mas eu daria 80% a 90% de chances”, disse John Spencer, cientista do Instituto de Pesquisas do Sudoeste, em Boulder, Colorado. “As coisas podem ser mais estranhas do que imaginamos, mas, basicamente, suspeito que tenhamos um oceano.”