Neste começo do século XXI, a questão dos UFOs continua da mesma maneira que há algumas décadas, quando estranhas histórias de fenômenos misteriosos que se desenrolavam em nossos céus eram reportadas pela mídia e grupos de aficionados. Em consequência, as autoridades civis e militares de certas nações criaram estruturas oficiais para o estudo desses fenômenos. Eu participei, em 1977, na França, da criação do Groupement d’Etude des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés [Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados, GEPAN] e fui responsável pelo órgão até 2004. Portanto, durante aproximadamente 27 anos convivi com a realidade do Fenômeno UFO em todos os seus aspectos. Durante esse longo período, minha equipe e eu tivemos a oportunidade de encontrar especialistas do mundo inteiro, civis e militares, que estavam ligados à questão ufológica em seus países. Durante as décadas de 70 a 90 ficou claro que cada nação tinha uma visão e uma atitude diferente quanto ao tema.
Nos Estados Unidos, o encerramento do Projeto Blue Book [Livro Azul] e do Relatório Condon, no final dos anos 60, enterrou o assunto oficialmente por parte das autoridades e dos militares. A partir disso, somente ufólogos civis e algumas personalidades — como o milionário Laurence Rockfeller, que é obcecado pelo tema e organizou um workshop científico sobre o assunto em 1997 — tentaram uma pesquisa científica do fenômeno. Recentemente houve, também, a iniciativa da jornalista Leslie Kean para retomar o estudo da questão dos UFOs.
Na Europa, com exceção da posição assumida pela França, sobre a qual falaremos mais longamente adiante, nenhum país se comprometeu oficial e publicamente com a pesquisa ufológica. Surgiram somente iniciativas particulares, como a formação de grupos de pessoas interessadas que substituíram, em certos casos, as estruturas governamentais, coletando casos de avistamentos e tentando estabelecer uma colaboração mais ou menos oficial com as autoridades. Quando da criação do GEPAN, estabelecemos contato com numerosos países a fim de construir uma rede de correspondentes visando futuras colaborações. Foi nessa época que os primeiros responsáveis pelo órgão, Claude Poher e Alain Esterle, firmaram com a Força Aérea Italiana (FAI) um processo de troca de informações sobre o assunto. Em 1994, a questão foi levada ao Parlamento Europeu pelo deputado francês Tulio Régé, que é astrônomo e queria colocar em funcionamento uma estrutura similar àquela constituída na França em todo o continente. Infelizmente, um veto da Inglaterra pôs fim ao projeto.
Os primeiros casos franceses
Nesta época, acontecia a mais célebre onda de avistamentos ufológicos dos últimos decênios na Europa, que teve lugar na Bélgica, em 1990, quando um grupo de pesquisas privado, a Société Belge d’Étude des Phénomenès Spatiaux [Sociedade Belga de Estudo dos Fenômenos Espaciais, Sobeps], tentou durante muitos anos resolver o enigma dos estranhos triângulos que sobrevoavam seu território e estarreceram os europeus das mais diversas nacionalidades — o órgão se beneficiava da colaboração das autoridades militares. Em outros países do continente, vários grupos ufológicos privados se constituíram e pontualmente colaboraram oficialmente com as autoridades, sempre que estas se mostravam interessadas.
A questão ufológica foi evocada pela primeira vez na França em 1951, por ocasião de um estranho evento ocorrido nos céus do sul do país. Em 15 de junho daquele ano, às 23h23, três caças Vampires F-5B decolaram da Base Aérea de Orange. Um dos aviões avistou no céu um objeto brilhante que surgiu à sua esquerda. Ele o perdeu de vista, mas, ao executar uma curva, o percebeu novamente. Seu chefe de patrulha também avistou o UFO e pensou que o objeto estivesse parado. A nave era redonda, de cor prateada e muito brilhante, além de não se parecer com um avião. Um terceiro piloto havia retornado para a base com problemas no trem de pouso e os outros dois decidiram, então, também retornar. Naquele momento, o artefato se colocou em movimento, balançou ligeiramente e tomou uma forma oblonga. Com toda potência, os jatos tentaram, por alguns instantes, alcançá-lo, mas foi em vão. Cada vez que eles se aproximavam do UFO, o mesmo se distanciava, inclusive aumentando a velocidade. Os pilotos fizeram um relatório detalhado, que foi transmitido às mais altas autoridades militares do país.
Esse foi o evento que provocou um estado de alerta na Força Aérea Francesa (FAF), que criou, na sequência, um departamento permanente para tratar do assunto na Base do Estado-Maior da Força Aérea, em Paris. Na ocasião, a população chamava os UFOs de misteriosos objetos celestes (MOC). O tema teve uma guinada em 1954, quando uma onda de várias centenas de casos de avistamentos aconteceu durante vários meses. A Polícia Nacional coletou, oficialmente, perto de 120 relatos e sua análise mostrou que ocorreram 38 casos mais graves, dos quais 20 foram considerados como sendo decontatos imediatos. Jamais, após o registro daqueles eventos, tal concentração foi registrada nos países europeus em um período tão curto. Ainda hoje a Onda Ufológica de 1954, como foi chamada, permanece um enigma para os especialistas.
Durante vários meses, a França se interrogou sobre aquela série de observações de discos, esferas e cilindros voadores de grande tamanho. Numerosos casos de grande estranheza provocaram uma forte tensão na opinião pública e as autoridades governamentais reagiram. Em 07 de outubro de 1954, os deputados franceses apresentaram uma proposta por escrito ao secretário das Forças Armadas e à Força Aérea, para saber se o país abriria uma investigação sobre os discos voadores, como já haviam feito os Estados Unidos e a então União Soviética. A resposta oficial foi tal que forneceu até mesmo as normas que a Força Aérea deveria seguir em caso da presença próxima daqueles objetos.
O primeiro avistamento coletivo?
A Onda Ufológica de 1954 durou de setembro a novembro daquele ano, e entre os 120 relatos oficiais colhidos pela Polícia Francesa, 20% foram classificados como contatos com tripulantes dos objetos. Um caso excepcional ilustra bem aquele período de avistamentos. Trata-se da observação feita por inúmeras testemunhas de um UFO que sobrevoou a cidade de Antan
anarivo, capital da Ilha de Madagascar, então colônia francesa. Um dos aspectos mais espetaculares e extraordinários do caso foi, sem dúvida, o fato de que, enquanto acontecia o sobrevoo da capital, a iluminação pública se apagou e só foi religada quando o UFO partiu.
Esse caso, que aconteceu em 16 de agosto de 1954, foi relatado por uma testemunha de alta credibilidade, Edmond Campagnac, engenheiro e representante da companhia aérea Air France baseado em Antananarivo. Segundo Campagnac, eram um pouco mais de 18h00, a noite acabava de cair e o céu estava limpo. Subitamente, surgiu uma grande bola luminosa de cor verde vinda do leste e com trajetória inclinada em 45°. As pessoas imaginaram que se tratasse de um meteorito que se chocaria contra o solo. Mas nenhuma explosão aconteceu, pois o objeto nunca tocou a terra. O UFO se desviou de sua trajetória inicial, sobrevoou a capital fazendo uma curva sobre o palácio da rainha e sumiu, reaparecendo alguns segundos depois, fazendo a volta em torno das colinas que circundam a cidade.
O UFO era uma espécie de esfera verde do tamanho de um avião e seguida por uma fuselagem no formato de uma bola de rúgbi. Faíscas brancas, azuis e vermelhas acompanham o artefato, que teve a velocidade estimada em centenas de quilômetros
O artefato passou silenciosamente a uma altitude de algumas centenas de metros sobre o mercado local, onde se encontravam milhares de pessoas. Em seguida, a nave virou-se em direção ao norte e ao longo da avenida principal, antes de desaparecer ao longe — as testemunhas estavam atônitas com o que tinham acabado de ver. Elas descreveram o objeto como sendo uma espécie de esfera verde do tamanho de um avião e seguida por uma fuselagem no formato de uma bola de rúgbi. Faíscas brancas, azuis e vermelhas acompanham o artefato, que teve a velocidade estimada em algumas centenas de quilômetros por hora. A iluminação pública se apagou para reacender após alguns minutos e os cães correram pela cidade uivando desesperadamente. Na saída do município, um rebanho de zebus em pânico destruiu a cancela de uma cerca e se espalhou pela capital, apavorando a população. As autoridades locais realizaram uma pesquisa, dirigida pelo diretor do observatório astronômico local, que foi transmitida às autoridades coloniais e aos ministérios franceses.
Estudos e classificações
Em março de 1974, Robert Galley, então ministro da Defesa da França, declarou em uma transmissão da Rádio Nacional, quando falava sobre a onda de avistamentos que estava ocorrendo, que “existem fenômenos inexplicados para serem estudados e se nota o interesse dos cientistas para se encarregarem deste estudo”. Três anos mais tarde, em 20 de junho de 1977, um relatório da Associação dos Auditores do Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional (IHEDN), sob a presidência do general Jacques Richard, reforçou a ideia de se elaborar um vasto estudo científico do Fenômeno UFO. Então, o Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) — a agência espacial francesa — foi o encarregado de iniciar as investigações oficiais sobre as observações de UFOs no país, estabelecendo um departamento para tal. Inicialmente, e até 1986, este departamento foi chamado GEPAN e foi dirigido por Claude Poher, engenheiro e doutor em astrofísica.
Em seguida, o departamento ganhou o nome de Service d’Etude des Phénomènes de Rentrées Atmosphériques [Serviço Especializado de Fenômenos de Reentrada Atmosférica, SEPRA], que durou até 2004. Hoje em dia, o Serviço existe ainda e agora se intitula Groupement d’Etude et de Information des Phénomènes Aérospatiaux Non Identifiés [Grupo de Estudos e de Informação sobre os Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados, GEIPAN]. Notem que, diferentemente do GEPAN, o GEIPAN é também um órgão de “informação” sobre o Fenômeno UFO, uma variação muito importante. Um comitê de pilotos independentes, sob a direção de Yves Sillard, antigo diretor-geral do CNES, supervisiona e orienta os trabalhos do GEIPAN. Em sua fase inicial, o grupo utilizou uma metodologia adaptada para a classificação de dados sobre os fenômenos aeroespaciais não identificados, como os UFOs são chamados no meio científico. Acordos foram elaborados com a Polícia Nacional, a Gendarmeria [Polícia Militar francesa] e órgãos da aviação civil e militar para que os dados resultantes dos avistamentos pudessem ser centralizados, tratados e analisados no GEPAN.
Esses estudos iniciais foram examinados por um conselho científico instituído e sob supervisão do presidente do CNES, Hubert Curien, que mais tarde tornou-se ministro da Pesquisa. O conselho se reunia anualmente para apreciar e orientar os estudos e investigações do então GEPAN, e os primeiros trabalhos, efetuados entre os anos de 1977 e 1983, chegaram a conclusões que são ainda atuais — os eventos que permanecem inexplicáveis após uma análise rigorosa não são nem numerosos e nem frequentes, mas existem e são consistentes. Percebe-se que certos fenômenos são refratários a uma explicação em termos da física, de psicologia ou de psicossociologia convencional e, por fim, parece altamente provável que certos aparelhos voadores não identificados observados tenham um componente físico real, ou seja, sejam feitos de uma estrutura metálica.
Atitude científica
Após essa primeira etapa, o então GEPAN empreendeu um estudo mais elaborado sobre a atitude científica a ser adotada para tratar dos avistamentos mais graves. Era preciso compreender plenamente o relato das testemunhas, avaliar a qualidade da narrativa e a psicologia dos depoentes, mas também do ambiente físico no qual se encontravam fenômeno e testemunhas. Um dos pontos principais de todo o estudo é aquele da qualidade e da origem dos dados coletados, onde a origem e a fonte devem ser controladas. O GEPAN constituiu uma base de dados, única em seu gênero, que contém o conjunto dos casos de avistamentos de fenômenos aeroespaciais registrados na França pelas autoridades oficiais, desde 1951. Esse material constitui um banco incalculavelmente rico sobre o qual repousa toda a análise estatística dos UFOs. O método empregado é similar àquele que praticaram os entomologistas no século XVIII para classificar e estudar os insetos desconhecidos que se encontravam na natureza.
Uma classificação foi adotada e ela define os fenômenos aeroespaciais em quatro categorias. O tipo A inclui fenômenos identificados e sem ambiguidade. O tipo B refere-se a fenômenos de natureza provavelmente identificada, mas são casos sobre os quais ainda restam dúvidas. No tipo C, os relatos das testemunhas não puderam ser analisados porque a falta de precisão não permite que uma opinião seja formulada. E nos casos do tipo D o testemunho é coerente e preciso, mas não pôde ser interpretado em termos convencionais. Ou seja: estes são os evento
s que envolvem aparelhos voadores que desafiam o conhecimento científico terrestre, assumidamente de origem externa ao planeta Terra.
Os relatos de ocorrências do tipo A e B foram, em seguida, subdivididos pela natureza do fenômeno: astronômico, aeronáutico, espacial, misto e identificado. As análises estatísticas mais elaboradas deste grupo permitiram a classificação segundo certos critérios físicos. Já para os casos de ocorrências ufológicas da categoria D — aqueles que permanecem não identificados —, a subclassificação adotada retoma àquela estabelecida pelo professor J. A. Hynek, astrônomo, pioneiro da Ufologia Mundial e antigo consultor da Força Aérea Norte-Americana (USAF) de 1951 a 1966. Ela se dá em função da distância da observação e dos efeitos gerados pelo fenômeno no meio ambiente e nas testemunhas. Essa última categoria permitiu a comparação com outros arquivos e bases de dados nos quais havia eventos similares acontecendo em outros lugares. A partir de 1990, o SEPRA separou as bases de dados em duas categorias distintas, aquelas provenientes de observações terrestres e as aeronáuticas.
As pesquisas sobre efeitos de avistamentos ufológicos sobre o meio ambiente, realizadas por solicitação da Polícia Nacional, da Gendarmeria ou da aviação civil e militar, no quadro dos procedimentos estabelecidos conjuntamente com o GEPAN, permitiram validar a abordagem teórica e também confirmar a existência de fenômenos físicos raros, alguns deles desconhecidos até nossos dias. Essa demanda estabeleceu a necessidade de se desenvolver novas técnicas para a coleta de dados, notadamente em matéria de sistemas de detecção como, por exemplo, uma metodologia de análise de imagens, pesquisas sobre psicologia da percepção e das relações psicológicas de grupos, e um estudo, em escala mundial, de dispositivos de coletas de dados sobre os fenômenos insólitos em geral.
Base de dados
A base de dados ufológicos francesa era constituída, até 2013, de milhares de relatos de observações, que inclui aproximadamente 6.000 testemunhos coletados desde 1951, tanto no país quanto nas colônias francesas no exterior. Uma análise quantitativa destas ocorrências, em função dos anos, mostrauma grande diferença entre casos únicos e múltiplos, que são aqueles em que UFOs são avistados por várias testemunhas — entre eles estão picos importantes que representam os fatos particulares ou casos que alcançam a mídia, e uma queda significativa no número de relatos anuais recebidos depois do fim dos anos 80.
Após análise, a classificação estabelecida mostra que fenômenos de categoria A somam 18,3% dos relatos. Já os do tipo B chegam a 27,7%. Os do tipo C são 40,6%. E, por fim, os do tipo D, aqueles não identificados, alcançam 13,5%. Os tipos A e B, que juntos somam 46% da totalidade dos testemunhos, englobam as confusões e má interpretações dos fenômenos observados, compostas em grande maioria por casos de entradas na atmosfera de objetos naturais ou artificiais. Já os fatos descritos como do tipo D têm maior importância durante determinados períodos, intitulados ondas ufológicas, como aquela do ano de 1954, e perto de 40% deles pertencem a essa última categoria.
Mais de 150 pesquisas sobre os locais de incidência ufológica foram iniciadas e elaboradas pelo GEPAN e pelo SEPRA em 30 anos, cada um a seu tempo. Essas pesquisas, especificamente selecionadas para se tentar compreender e identificar o evento observado, conseguiram também caracterizar igual número de situações e fenômenos naturais ou artificiais desconhecidos, como relâmpagos raros ou raios globulares. De todos os eventos pesquisados, somente três envolvendo objetos não identificados, nos 30 anos de coleta de dados, permanecem sem uma explicação convincente e podem ser considerados discos voadores no sentido próprio da definição, como veremos a seguir.
Caso Cristelle
A primeira ocorrência significativa do tipo D investigada, e que até hoje permanece inexplicada, ficou conhecida como Caso Cristelle. O incidente ocorreu em 27 de novembro de 1979 e começou em torno de 17h30, quando um policial de plantão recebeu o telefonema de uma pessoa dizendo que um disco voador estava pousando perto de sua casa — a testemunha pediu a ajuda da polícia, que foi imediatamente ao local para investigar. Os policiais interrogaram também uma vizinha da testemunha, que confirmou dizendo que igualmente vira algo semelhante. Eles, então, coletaram outros depoimentos e localizaram o ponto da presumível aterrissagem do artefato. O então GEPAN foi ao local dois dias depois com uma equipe multidisciplinar de pesquisadores. O relato dos observadores foi coerente com os fatos apurados pela polícia e a localização da zona de aterrissagem foi encontrada.
O local de pouso apresentava um manto de capim deitado, bem como os arbustos que tinham seus brotos totalmente secos — esses efeitos eram a consequência provável de um efeito estufa sobre aquele local. As conclusões da investigação determinaram a provável presença de um UFO, que pousou sobre o solo e foi observado por duas testemunhas, a curta distância, durante alguns minutos. Esse, como já dissemos, foi um dos episódios classificados como sendo do tipo D, ou seja, como não identificado. Outras marcas de pouso foram relatadas e localizadas ao redor do planeta.
A base de dados ufológicos francesa era constituída, até 2013, de milhares de relatos de observações, que inclui aproximadamente 6.000 testemunhos coletados desde 1951, tanto no país quanto nas colônias francesas no exterior. É muito significativo
Outro episódio ufológico do tipo D muito interessante é este, ocorrido na quinta-feira, 08 de janeiro de 1981, em torno de 17h00, quando um eletricista aproveitava a bela tarde ensolarada para construir um abrigo para uma bomba d’água em seu jardim. Subitamente, ele ouviu um pequeno assobio que vinha do céu e seu olhar e atenção se dirigiram ao que ele pensou ser um pequeno avião ou um helicóptero. Para sua grande surpresa, o que ele observou não se parecia com uma aeronave convencional, mas com uma espécie de disco, como dois pratos colados um sobre o outro. O artefato desviou de sua trajetória inicial e pousou brutalmente, fazendo muito barulho sobre um platô em seu terreno. O homem observou perplexo o estranho aparelho silencioso no solo e se aproximou para vê-lo melhor, por de detrás de uma pequena construção. Ao final de alguns segundos, o UFO decolou e desapareceu no
céu, sem emitir o menor som.
Relato preciso
A esposa da testemunha, aconselhada por um vizinho, chamou a polícia, que chegou na mesma noite para averiguações no local. O então GEPAN deslocou uma equipe de pesquisadores alguns dias depois do avistamento — em particular um especialista em biologia vegetal para examinar as marcas no solo. A testemunha forneceu um relato preciso e inteiramente coerente da experiência, o que permitiu correlacioná-la precisamente com a localização da marca no solo e nos forneceu muitas informações sobre a natureza daquele artefato, sua forma e suas características mecânicas. As dimensões da impressão no solo correspondiam a uma coroa de 2,5 m de diâmetro com de 20 cm de largura. Ela compreendia dois arcos simétricos de 50 cm, mais profundamente marcados. Nesses locais existiam fendas finas de forma encurvadas e separadas, com alguns milímetros de profundidade cada uma. No fundo das fendas se notava a presença de traços negros, a redor dos quais a poeira sobre o solo tinha desaparecido, provavelmente varrida por um sopro potente e localizado.
Análises feitas nos traços negros indicaram a presença de ferro e zinco, que foram confirmados por exames espectrográficos. A estimativa da massa do disco voador, realizada a partir da marca geométrica no solo, foi calculada em aproximadamente 700 kg. Análises bioquímicas efetuadas nas plantas selvagens do local revelaram uma alteração profunda da vegetação, provocada por uma emissão de potentes campos eletromagnéticos. O professor Michel Bounias, do Laboratório de Análise Bioquímica do Instituto Nacional de Pesquisa Agronômica (INRA), mostrou que os vegetais do local provavelmente haviam sofrido uma degradação por micro-ondas pulsantes. No ano seguinte, novas medições efetuadas no local indicaram uma atividade biológica normal.
Essa investigação, a mais completa que se pôde realizar de um caso ufológico naquela época, mostrava que o método utilizado a partir da criação do GEPAN justificava os esforços empreendidos para intervir nos episódios de observação de fenômenos aeroespaciais não identificados com elementos de toda a natureza. Entretanto, os meios e os métodos empregados eram, ainda, insuficientes para determinar com precisão a natureza da ocorrência, e menos ainda sua origem.
O Caso Amarante
Em 21 de outubro de 1982, aproximadamente um ano após o caso de Trans-en-Provence, ocorreu outro evento inexplicável do tipo D, que merece atenção neste trabalho. A única testemunha do acontecimento foi um biólogo e cientista que estava em um centro de pesquisa sobre segurança sanitária. Voltando para casa na hora do almoço, como todos os dias, ele fez a volta pelo jardim para inspecionar seus canteiros de arbustos e flores. Subitamente, sua atenção se voltou para o céu, onde um pequeno ponto luminoso que refletia o Sol parecia se aproximar rapidamente do solo. Naquele momento, a testemunha pensou que o objeto que voava em silêncio iria cair sobre a casa ao lado.
No último instante, o UFO desviou sua trajetória e flutuou lentamente sobre o local onde estava a testemunha, imobilizando-se a um metro do solo, bem no meio do gramado. Paralisado pelo choque, o biólogo observou o artefato durante aproximadamente 20 minutos, constatando a forma exótica do aparato, que se parecia com dois pires metálicos um sobre o outro, acrescido de um domo de cor azul profunda. Ao final daquele período silencioso, o aparelho subiu e desapareceu no céu. A polícia local chegou ao local no mesmo dia e informou o incidente ao GEPAN, que deslocou uma equipe de pesquisadores 48 horas mais tarde, dando início a uma grande e minuciosa investigação. Os membros do órgão coletaram um bom conjunto de dados sobre a testemunha e seu relato, e fizeram as análises bioquímicas das amostras de amarante, o tipo de arbusto com flores roxas afetado pelo UFO.
O psicólogo, encarregado de analisar o relato e traçar o perfil psicológico da testemunha mencionou em suas conclusões que as declarações do depoente não haviam sido inventadas e que ele não era nem um mitômano e nem um embusteiro. Quanto aos efeitos constatados sobre um dos arbustos de amarante, no qual as folhas estavam secas e desidratadas, as análises mostraram que somente um possante fluxo térmico poderia dar origem àquela forma de degradação — também se mostrou que tal fluxo poderia ter sido gerado por campos eletromagnéticos potentes. A conclusão das investigações indicou, mais uma vez, que se tratou de um objeto não compreendido entre o que se conhece na tecnologia terrestre da época, ou seja, um verdadeiro e típico disco voador.
A prova fornecida pelos radares
Os protocolos de coleta de testemunhos e experiências de avistamentos ufológicos feitos por pilotos civis e militares na França também permitiram constituir uma base de dados de importantes ocorrências — são cerca de 150 casos de observação de UFOs de 1951 até nossos dias. Como nos episódios terrestres, a classificação tipológica em quatro categorias de eventos aeronáuticos mostrou que há perto de 11% de casos que pertencem à categoria D e 5% de eventos nos quais foram mencionados elementos de perturbação do meio ambiente — que correspondem a interferências eletromagnéticas nos instrumentos de bordo ou a perturbações no contato de rádio com o controle aéreo. Elas são geralmente mencionadas pelos pilotos em casos de contatos do tipo D, observados nas proximidades do avião.
Vejamos um exemplo. Em 28 de janeiro de 1994, o Airbus A320 fazia o voo AF 3532, da companhia aérea Air France, entre as cidades de Nice, na França, e Londres, na Inglaterra, seguindo a uma velocidade de 650 km/h e sobrevoando a região de Paris a uma altitude de 11.700 m. A visibilidade era excelente e o trajeto se desenrolava nas melhores condições, até que o comissário de bordo entrou na cabine do piloto e sinalizou ao comandante, e à sua copiloto a presença de um objeto escuro à esquerda do aparelho. Eram 13h14 e o Sol estava no zênite, quando a equipe constatou que a uma distância estimada de 35 km havia um artefato escuro que atravessava o céu a uma altitude de 10.000 m. Aquilo não se parecia com nada conhecido pelos experientes pilotos e tinha um aspecto de lente. Instantes depois, desapareceu. A duração da observação foi de aproximadamente um minuto.
Uma declaração da tripulação foi registrada junto às autoridades civis de controle aéreo e um relatório foi enviado em seguida ao SEPRA, que classificou o avistamento como sendo do tipo C, quer dizer, insuficientemente documentado para poder ser analisado. No entanto, um ano depois, o Centro Operacional da Defesa Aérea da França liberou na íntegra as informações de radar do episódio, o que possibilitou reclassificá-lo como sendo do tipo D e possibilitou retomar-se a pesquisa. O que transformou o relato em um verídico caso de UFO foi o que as autoridades militares registraram simultaneamente nos radares primários, nos centros de controle e de vigilância aérea, além de os parâmetros de voos do avião e do objeto desconhecido. A duração do episódio, perto de um minuto, e depois o desaparecimento instantâneo do UFO foram observados pelos equipamentos e registrados pelos radares. Apesar de todas as pesquisas efetuadas sobre eventuais fenômenos ou artefatos conhecidos, nenhuma identificação sobre a natureza e a proveniência daquele artefato foi possível.
O Relatório Cometa
Os estudos sobre fenômenos aeroespaciais não identificados na França, então confiados ao CNES e seus organismos, foram completados por contribuições de entidades mais ou menos oficiais, em particular por aquele conhecido como Cometa, associação originada por antigos auditores do Instituto de Altos Estudos da Defesa Nacional. O instituto publicou um relatório, em 1999, sob o título Os UFOs e a Defesa, que abordava e sublinhava os aspectos científicos, técnicos, estratégicos e políticos levantados pela questão ufológica. O documento, popularmente conhecido como Dossiê Cometa foi levado às mais altas instâncias do Governo Francês, mas despertou interesse apenas na imprensa e nos meios de Ufologia.
O Comitê Cometa se reuniu durante cerca de dois anos e em suas conclusões mencionou o interesse de continuar a coleta, a análise e o estudo do Fenômeno UFO dentro das instituições francesas — o órgão solicitou que fossem realizados estudos sobre a física dos misteriosos objetos, a fim de compreender os efeitos constatados sobre veículos, como, por exemplo, apagamento dos faróis, parada dos motores e perturbações eletromagnéticas. O Dossiê Cometa menciona, igualmente, que se for levado em consideração o exame de fatos semelhantes em outros países, seria possível ver a evolução do fenômeno em nível planetário. Finalmente, o documento afirma que o evento conhecido como Caso Roswell colocara em jogo mecanismos de manipulação de informações, por meio de processos de desinformação ativos e passivos, não permitindo conhecer os verdadeiros fatos que teriam acontecido em julho de 1947, no Deserto do Novo México, nos Estados Unidos. Eram franceses falando de um caso icônico norte-americano.
Os segredos e a internet
Hoje em dia não é mais o caso de se abordar esse assunto como se fazia nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial, pois o contexto internacional é diferente e os países têm abordagens totalmente diferentes a respeito do Fenômeno UFO — estamos em um mundo onde a informação circula rapidamente graças a meios tecnológicos como a internet, e toda a informação, qualquer que seja sua natureza, é rapidamente trazida ao conhecimento do público pela mídia. Hoje é mais difícil reter dados relacionados à presença alienígena na Terra. Isso, claro, não quer dizer que não existam mais segredos sobre os UFOs, mas apenas que é mais difícil escondê-los do que era há 60 anos.
A questão que permanece, no entanto, é se o assunto deve ser levado em conta pelos países ou se deve ser deixado aos grupos de pesquisadores e à mídia. Parece-nos justo e natural considerar que essa questão seja de domínio das nações, pois o aspecto de segurança civil e militar que o Fenômeno UFO implica é inegável, uma vez que é fato que os fenômenos citados se manifestam geralmente no espaço aéreo. Entretanto, deve existir uma informação completa e independente, fora das questões estratégicas e de segurança nacional, para que os cidadãos possam formar uma opinião sobre a matéria. A questão dos UFOs não é do domínio de uma autoridade militar, científica ou política específica, mas deve ser universal, global e levada em consideração por cidadãos responsáveis de todo o planeta.
O assunto é polêmico e há décadas vem gerando numerosos grupos opostos, desde os crentes em extraterrestres até os céticos de todas as tendências, que rejeitam qualquer resposta que não aquela de sua convicção pessoal ou que a ciência admita. Por outro lado, autoridades políticas e governamentais de muitos países, por questões de segurança interna ou de interesse nacional, recusam-se a tomar o assunto como seu encargo. Essa maneira de proceder, que dura mais de 60 anos, só faz reforçar a confusão e confundir a sociedade planetária.
Conjunto de informações confiáveis
Por isso, é necessário, antes de tudo, reunir um conjunto de informações confiáveis que estão dispersas pelo mundo e transformá-las em uma base de dados informatizada, com tratamento e análise estatística, instrumentos de medição e captadores físicos. Essa base global de dados, então, deveria ser colocada à disposição — em um formato a ser definido — dos pesquisadores. Se depois de décadas nenhuma resposta satisfatória foi oferecida para resolver esse enigma, de duas uma: ou os métodos empregados não são satisfatórios ou ainda nos escapam muitos elementos da fenomenologia ufológica, notadamente informações ainda inacessíveis aos pesquisadores que estudam a matéria. Entretanto, tomando os elementos que estão atualmente disponíveis, já podemos responder às seguintes questões essenciais sobre os UFOs: Onde? Quando? Como? Por quê?
Para isto, é possível, baseando-nos em casos de avistamentos do tipo D em todo o mundo, mostrar que os discos voadores existem como objetos materiais e não são fenômenos comuns. Os eventos do tipo D são menos numerosos, mas suas características extraordinárias associadas a efeitos físicos permitem, sem dúvida, validar a demonstração e hipótese que propomos, de que os causadores destas ocorrências têm origem f
ora da Terra. Quanto aos casos verificados, na maior parte conhecidos e clássicos, podemos demonstrar a veracidade e concretude dos UFOs sem ambiguidade, particularmente nos casos do voo AF 3532, na França, e outros locais.
Outra tese interessante que propomos é a de que existe uma relação estreita entre a estratégia militar e a presença de UFOs por várias décadas. Durante a Segunda Guerra Mundial, os ingleses utilizaram pela primeira vez um aparelho de detecção baseado na emissão e na reflexão de ondas eletromagnéticas, no domínio das hiperfrequências. Nascia o radar. Desde o fim do conflito, quando nos Estados Unidos o radar tornou-se um instrumento operacional de vigilância contra eventuais agressões vindas da União Soviética, registramos cada vez mais a presença de estranhos fenômenos detectados na proximidade de aviões.
O radar tornou-se o primeiro instrumento explorável para a detecção física de dados e muito próximo das condições experimentais de laboratório, e as primeiras informações relativas a UFOs obtidas por radar começaram em 1947. Outro fato fundamental, que se junta ao interesse das observações aeronáuticas, é a qualidade técnica das testemunhas — pilotos civis e militares, controladores de radar e meteorologistas. Diferentemente das testemunhas terrestres, os pilotos estão no meio das missões de transporte ou de segurança aérea, respeitam limites e seguem as diretivas vindas do controle de navegação.
Até agora, 1.650 casos de observação do tipo D foram recolhidos em todo o mundo, desde 1945. Essas observações são absolutamente impressionantes e inexplicadas, e foram reunidas em um banco de dados mundial por Dominique Weinstein. Os relatos são todos originários de fontes oficiais, como o ProjetoBlue Book, e de organismos civis e militares de controle de tráfego aéreo. Na França, é a que os transmitem ao atual GEIPAN, que está em plena atividade. Dos 150 casos franceses oficiais de avistamentos, já mencionados, pelo menos 15 são do tipo D. E o Governo Francês os têm como provas da presença alienígena na Terra.
A classificação do Fenômeno UFO pelas instituições oficiais francesas
Atualmente, é o Grupo de Estudos e Informação de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados (GEPAN) que está à frente das atividades de investigação ufológica no país, após uma sucessão de órgãos que se dedicaram ao assunto no passado, todos sob a tutela do Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES), a agência espacial do país. Há décadas os franceses definiram quatro categorias principais para agrupar os casos ufológicos que investigam, a seguir:
Tipo A São fenômenos identificados e sem ambiguidade. Casos que, apesar de relatados como sendo observações ufológicas, podem ser explicados. Na França, a maior quantidade destes casos referem-se a objetos artificiais e meteoritos reentrando na atmosfera. Somam 18,3% dos relatos
Tipo B São fenômenos de natureza provavelmente identificada, mas sobre os quais ainda restam dúvidas. Os franceses os mantêm em arquivo para posterior confirmação ou expurgo dos mesmos de seus bancos de dados. Correspondem a 27,7% dos incidentes.
Tipo C São relatos de testemunhas que não puderam ser analisados porque a falta de precisão não permitiu uma opinião. Ou