Em uma noite de 1990, durante o que já se conhece como Onda Ufológica Belga, ou ainda como Noite Oficial dos UFOs na Bélgica, dois radares militares detectaram um “eco” vindo de um objeto não identificado, porém real, que se movia lentamente a uma altitude de 3.000 m. Dois jatos F-16 foram destacados para investigar o alvo e conseguiram capturar o sinal em suas telas. Os dados arquivados documentaram o estranho comportamento do objeto. Poderíamos tentar explicar os sinais como sendo nuvens invisíveis ou turbulência atmosférica com céu claro, mas tivemos que aceitar que as medidas de velocidade por instrumentos Doppler descartam fenômenos naturais.
Apesar de a detecção ter sido particularmente difícil devido à forma achatada da superfície dos objetos, encontramos dois ecos que permaneceram sem identificação — um deles apareceu por ocasião do voo dos F-16. É comum as telas de radar mostrarem ecos esporádicos sem qualquer correlação com aeronaves. Os operadores chamam esses sinais de “anjos”, como se fossem puros espíritos. Para esses profissionais, os ecos constituem ruídos incômodos, frequentemente ignorados. A priori, eles tanto poderiam ser UFOs, como fenômenos naturais que aparecem ocasionalmente nas telas.
O efeito anjos voadores
Um controlador aéreo não pode se dar ao luxo de perder tempo com sinais anjos. Quando gravamos sistematicamente as posições em que esses ecos apareciam naquela noite, entretanto, notamos que se moviam em linhas retas — nós os chamamos de “efeito anjos voadores”. A velocidade média de seus movimentos é relativamente baixa comparada à dos jatos, cerca de 50 km/h. São flutuações aleatórias, mas sua velocidade é bem definida. As linhas de movimento são de comprimento limitado e sua direção não tem correlação com o vento. Mais ainda, elas normalmente aparecem quando o céu está claro.
Uma explicação simplista
O centro de Controle de Tráfego Aéreo de Semmerzake pôde localizar a posição física dos retornos de radar, como também são conhecidos os ecos. Com a acumulação dos dados, ficou evidente que este fenômeno não poderia envolver UFOs — tinha que ser um problema atmosférico, muito especial por sinal, uma vez que os operadores de radar não haviam percebido o efeito. Uma pesquisa bibliográfica mostrou que o fenômeno ainda não havia sido descrito. Mas, finalmente, descobrimos uma explicação baseada em princípios conhecidos da física e em alguns dados independentes: o efeito anjos voadores é sem dúvida alguma de origem atmosférica.
A segunda descoberta é que não foi encontrada nenhuma confirmação nos relatos de testemunhas de avistamentos de UFOs, mesmo após examinados em diferentes lugares e momentos. Sabíamos, no entanto, que houve casos anteriores de detecção de UFOs por radar. A evidência nesses fatos parece ser aceitável e não pode ser explicada por meio do efeito anjo. Dada à falta de confirmação de sua natureza, seria fácil defender mais uma hipótese simplista: ou as testemunhas não viram nada de natureza material ou aeronaves de combate F-117 tipo stealth estiveram envolvidas. Mas nenhuma dessas hipóteses leva em consideração o alcance do que foi observado.
Os UFOs avistados na Bélgica foram corriqueiramente descritos como plataformas estacionárias ou movendo-se horizontalmente. Isto é o suficiente para explicar a baixa probabilidade de detecção pelos radares de terra — os feixes de radar seriam refletidos de volta como se fossem provenientes de um espelho horizontal. A mesma técnica é utilizada pelo avião F-117 Stealth. Em várias ocasiões os UFOs foram descritos como tendo uma ponta vertical, com um domo no topo. Visto lateralmente ou de cima, como seria o caso dos pilotos, a detecção poderia ter sido mais fácil. Assim, um F-16 poderia detectar um objeto desse tipo se as superfícies não fossem feitas de material absorvente de ondas de radar.
Mudanças na velocidade
Isso nos leva a questionar por que, já que alegadamente são de origem extraterrestre, os UFOs mudaram de forma ao longo do tempo. Podemos também questionar se seus construtores adaptaram suas aeronaves em relação ao nosso sistema de radar, ou se os visitantes que invadiram o espaço aéreo da Bélgica naquela época viriam de outro lugar.
Quanto aos dados dos radares de bordo dos F-16, que operam de forma diversa dos radares de terra e podem gravar tipos diferentes de dados, podemos apenas dizer que são impressionantes. Há mudanças abruptas na velocidade, assim como outras ocorrências estranhas. Isso clama por estudo técnico de maior envergadura. Os ufólogos belgas apenas começaram a fazer isso e ainda não sabem a que conclusão poderão chegar, e nem quando.