Acompanhando discussões sobre o papel das ciências acadêmicas no âmbito ufológico, seja por meios eletrônicos, seja pessoalmente, nota-se um descompasso nos argumentos usados pelas partes envolvidas. A Academia se norteia, exclusivamente, em fatos e teorias que tenham algum embasamento. Quanto a isso não há discordância. Por isso, temos figuras de destaque no cenário científico internacional que simplesmente descartam a possibilidade de haver vida inteligente fora da Terra, visto o fato de não termos ainda a prova definitiva. E se houver, por questões estatísticas, nunca teremos contato com ela, devido às literalmente astronômicas distâncias entre as estrelas e seus planetas circundantes.
Cabe lembrar que até o começo da década de 90, qualquer astrônomo que viesse a público dizer que um dia encontraríamos planetas fora do nosso Sistema Solar seria simplesmente ridicularizado ou até mesmo colocado à margem da comunidade científica, visto a impossibilidade técnica que tínhamos para tal empreendimento. Um exemplo clássico dessa situação aconteceu com o famoso astrônomo Geoffrey Marcy. Certo de que, cedo ou tarde, iríamos encontrar exoplanetas, Marcy se dedicou durante a década de 80 a maximizar a precisão de cálculos. Talvez poucos saibam, mas, na época, seu trabalho foi tido como uma ilusão de uma mente sonhadora.
Em sua autobiografia, ele diz: “Quando contávamos a outros astrônomos sobre nossa busca por planetas extrassolares, eles frequentemente sorriam educadamente, olhavam para baixo e mudavam de assunto. Entendia-se que detectar esses astros estava bem além da tecnologia corrente”. Finalmente, em 1995, confirmou-se a descoberta do primeiro planeta fora do Sistema Solar, graças ao trabalho de Marcy — hoje temos mais de 800 desses astros confirmados, alguns milhares à espera de confirmação e outros potencialmente detentores de vida, ainda que microbiana.
Abram suas mentes
Naquele ano, rompeu-se um limite técnico existente. O que veio a seguir foi apenas consequência. Será que não havia um clamor surdo na mente dos astrônomos de que um dia pudéssemos visualizar tais corpos celestes? Óbvio que sim. Era uma questão estatística. Contudo, eles aprenderam nas universidades que seria impossível visualizá-los e foi essa a informação que passaram para frente. Nem por isso eram melhores ou piores do que os outros e nem devem ser julgados por isso. Eles trabalhavam com o que tinham nas mãos.
Isso nos faz pensar: será que não existem inúmeros cientistas que têm certeza da existência de vida extraterrestre inteligente, mas que, por questões profissionais, de política corporativa ou até mesmo com receio de eventual escárnio público, se abstêm de se pronunciar nesse sentido? Com certeza absoluta eles existem. Ao mesmo tempo em que há aqueles que, a exemplo do físico teórico Michio Kaku, são mais sagazes e colocam as questões discutidas na Ufologia como possibilidades teóricas, estatísticas e até mesmo mostram o “caminho das pedras” de como tudo pode funcionar. Mas fazem isso de forma mais inteligente, de um jeito lúdico e sempre baseado em fatos já confirmados ou em teorias ainda não confirmadas, mas fortemente embasadas.
Inimiga ou parceira?
Referindo-se especificamente sobre o Fenômeno UFO, Kaku declarou em entrevista à NBC que 5% das aparições se mantêm totalmente sem explicação, indo além das leis conhecidas da física. Poderíamos até dizer que ele é apenas um cientista que faz uso da mídia em geral para promover suas ideias e pesquisas. Mas se assim fosse, ele certamente não teria sido um dos convidados para um painel no Fórum de Competitividade Global, em 2011, na Arábia Saudita, para falar especificamente sobre o impacto de tecnologia considerada extraterrestre em nosso planeta.
O evento reuniu alguns dos maiores empresários do mundo para discutir a atual e futura situação internacional dos negócios, não se tratando de um simples encontro de lunáticos e visionários. Chamou-me especial atenção sua frase de abertura: “Abram suas mentes porque um dia faremos contato com civilizações inteligentes”. Kaku e outros cientistas têm dado à Comunidade Ufológica Mundial todas as ferramentas para que possamos estudar e, eventualmente, entender esse fenômeno que tanto nos intriga.
Como vimos, não há apenas uma corrente dentro da ciência acadêmica. Existem os conservadores, os que estão profundamente arraigados em sua formação pretérita e aqueles que têm seus olhos e ouvidos voltados para o futuro e para as novas possibilidades. Devemos, por isso, jogar fora o bebê junto com a água suja? Devemos simplesmente dizer que a ciência é estanque ou retrógrada — por conta dos conservadores acima descritos — e, por isso, inimiga da Ufologia? Seria uma inconsistência, visto que os verdadeiros pesquisadores de discos voadores, em especial os de campo, se fazem valer de equipamentos desenvolvidos justamente por esses mesmos cientistas e suas ideias outrora mirabolantes. Vide o GPS, cuja valia seria nula não fosse alguém dizer, há um século, que o tempo muda seu ritmo dependendo da velocidade do objeto em questão.
O que foi citado até aqui são fatos. Mas a fé também existe e faz parte da natureza humana. A crença também se embrenha nos círculos científicos, por que não? Considerando fé como um sistema de crenças pré-condicionadas, ela pode ser encontrada nos meios acadêmicos sem precisar procurar muito. “Como assim sermos visitados por inteligências de outros mundos com essas distâncias incomensuráveis? Não é plausível. Melhor dizendo, é impossível!” Isso é o que diria alguém do meio científico que não quer ver quebrada sua crença daquilo que aprendeu nos bancos universitários e tomou como verdade. Felizmente, isso é apenas uma parte da comunidade e não devemos tomá-lo como regra geral.
Que tal fazer um paralelo aqui entre a posição da ciência acadêmica e a fé religiosa? Perguntado sobre a possibilidade de existência de vida inteligente fora da Terra, sem considerar se estamos sendo visitados ou não, determinado físico brasileiro, com pós-doutorado em ciências aeroespaciais e muito religioso, cujo nome não vem ao caso, disse que pessoalmente não via isso como uma realidade, ainda que teórica. Via o ser humano como a única forma de vida existente, criada por Deus para poder adorá-lo e most
rar Sua majestade divina. Falava como religioso fervoroso que é, ainda que deixasse a questão em aberto para a ciência comprovar tal proposição no futuro.
Fazendo o dever de casa
Seria essa posição muito diferente em forma ou conteúdo do que diz certa parte da comunidade científica, lembrando que o religioso acima também é um cientista? Certamente não. Devemos julgá-lo? Também não. Temos o direito de discordar? Certamente sim! Isso, porém, não significa jogá-lo em um poço de óleo fervente por suas opiniões divergentes. Nem ele nem os acadêmicos agnósticos. Por favor, não repitamos hoje tristes acontecimentos ocorridos na Idade Média.
Nenhum de nós é dono da verdade, seja lá o que se pode chamar de verdade. Devemos tomar para nós, pesquisadores, o que realmente importa: o discernimento necessário para levar em consideração aquilo que pode fazer a diferença em nossos estudos, sem deixar que nossas paixões comandem nossa visão sobre as opiniões divergentes e sem ignorar aquilo que pode ser útil em nossas pesquisas — como sempre, o caminho do meio, a moderação. Se me permitem uma sugestão, por que não deixar que a mente e alma dos religiosos se inundem com a “divindade” e a paz de espírito que isso traz sem entrar em conflito com eles? O que ganharíamos com isso? Um ego inflado por não haver prova laboratorial da existência de Deus? E por que não deixar que os acadêmicos que negam a existência de vida inteligente fora da Terra continuem fazendo seus trabalhos sossegados?
Devemos tomar para nós, pesquisadores, o que importa: o discernimento daquilo que pode fazer a diferença em nossos estudos, sem deixar que paixões comandem nossas opiniões divergentes e sem ignorar aquilo que pode ser útil em nossas pesquisas
Creio que cabe a nós, ufólogos, fazer nosso dever de casa. Mostrar para os religiosos, místicos e ufólatras, que misturam Ufologia com religião, que tais e tais coisas não existem, conforme os fatos provam e comprovam. E para os chamados céticos da comunidade científica devemos mostrar que, sim, há casos e mais casos que nos levam a, no mínimo, duvidar do fato de não estarmos sendo visitados. Tudo sem conflitos diretos, rústicos e belicosos, mas apenas divulgando o resultado de nossas pesquisas e conclusões, sempre baseadas em fatos, não em crenças.
E, o mais importante de tudo é fazer isso sem confrontos dentro da própria Comunidade Ufológica. Caso contrário, destruímos nossa própria casa com a tempestade de nossos egos e perdemos credibilidade tanto diante dos ufólatras e místicos desinformados, como dos céticos acadêmicos, fazendo com que se fechem portas importantes para divulgar a Ufologia, em um real exercício de irresponsabilidade com o qual só nós perdemos. Talvez a formação taoísta do autor fale alto nesse momento, sugerindo a todos não o conflito, mas a convergência baseada no velho e sempre infalível senso crítico e autocrítico.
É possível que o mundo não tenha acabado em dezembro de 2012 por um motivo muito melhor do que simplesmente uma profecia mal entendida não ter se realizado. Mas sim para termos mais tempo, muito mais tempo, para mostrarmos que essa nossa realidade não é única, nem nossa verdade é limitante. E que não tenhamos essa realidade e essa verdade, sejam elas quais forem — pois certamente surpreenderão a todos nós, quaisquer que sejam nossas crenças e pré-condicionamentos. Não tenhamos dúvidas disso.