Enquanto a Ufologia está prestes a completar mais um ano de idade em 24 de junho, também presenciamos um dos ramos desta nova ciência, conhecido como Ufoarqueologia, ultrapassar quatro décadas. Para chegar a esta data, tomamos como parâmetro o ano de 1969, quando surgiram os primeiros questionamentos do autor austríaco Erich von Däniken sobre as possibilidades dos antigos deuses, propalados nas mais variadas religiões através das Escrituras, serem na verdade astronautas. Na sequência deste estudo, em 1970 surgia no Brasil uma variação da Ufoarqueologia tratando de um assunto correlato, embora muito mais delicado, que a partir de então assumiu posição de destaque na Ufologia — apesar das severas críticas recebidas, a maioria delas infundadas.
Falamos dos impressionantes relatos de UFOs e de contatos com seres de origem desconhecida contidos nas Escrituras cristãs, principalmente a Bíblia. Com o surgimento de novos fatos nesta área, sobretudo originados de representantes do Vaticano, resolvemos retornar a este debate aprofundando informações já transmitidas aos leitores em outras edições, e incorporando a elas o novo tempero proporcionado por declarações recentes de religiosos de expressão, admitindo a existência de vida extraterrestre inteligente [Veja edições UFO 089 e 143].
O objetivo é chamar novamente a atenção dos leitores para as explícitas, mas geralmente ignoradas, ligações entre a Ufologia e o Cristianismo, assim como explorar até onde vai a disposição da Igreja em discutir o assunto, descortinando as verdadeiras origens e reais intenções de seu principal representante, Jesus Cristo, quando aqui esteve. Para tanto, mantém-se o alerta dado pelo decano ufólogo Fernando Cleto Nunes Pereira, em seu famoso livro A Bíblia e os Discos Voadores [Editora Bisordi, 1971]: “Aqueles que seguirem com muito afinco uma religião de cunho cristão, não deverão ler esta obra”. Por outro lado, acrescento, no mesmo tom de alerta, que aqueles ufólogos cujo ceticismo os fazem cegos para esta questão igualmente não deverão ler esta matéria.
Quando esta discussão surgiu pela primeira vez no Brasil, reinava o regime militar e as práticas religiosas ditadas pela Igreja Católica Apostólica Romana eram rigidamente cumpridas no maior país católico do mundo. Era essa a religião nacional oficial, a única ministrada no ensino religioso das escolas públicas. Neste cenário, dificilmente o clero se manifestaria publicamente sobre o assunto, ficando o tema restrito aos meios ufológicos e outros igualmente alternativos. Contudo, com o passar dos anos assistimos a novas e calorosas discussões na mídia sobre o que alguns teólogos expressavam em suas declarações e obras literárias. Em boa parte delas as bases vinham das releituras dos chamados Manuscritos do Mar Morto, descobertos entre 1947 e 1956, após escavações arqueológicas. Tais abordagens, curiosamente apenas no final do século passado e início deste, começaram a remexer e a questionar o que sempre foi dito oficialmente pelo Vaticano, e repetido em missas e cultos cristãos desde o século IV. Contudo, precisamente no que se refere aos evangelhos canônicos e apócrifos constantes dos manuscritos, as discussões teológicas ainda estão longe de chegar ao ponto que desejam os ufólogos.
No que tange à Ufologia, este reaquecimento filosófico dentro da Igreja só apareceu no final dos anos 90, com as declarações do falecido monsenhor Corrado Balducci, amigo do papa João Paulo II, e mais recentemente, em 2008, com as do padre jesuíta José Gabriel Funes, diretor do Observatório Astronômico do Vaticano. Mas tanto nas palavras de Balducci como nas de Funes — e principalmente deste — o assunto é tratado de forma superficial, às vezes até evasiva, dando a impressão de que o imenso poder de obtenção de informação que dispõe a Igreja Católica está sendo subestimado pelos próprios integrantes da Santa Sé. Ou, o que é pior, totalmente deixado de lado, quanto ao que se pode retirar do imenso acervo contido na Biblioteca do Vaticano.
As discussões mais acaloradas giraram em torno de questões puramente teológicas, como as afirmações levantadas sobre a impossibilidade de Ana, mãe de Maria, ter filhos, sobre a virgindade ou não desta, sobre as posses nada modestas de Joaquim, avô de Jesus, e sobre a inusitada rispidez de Jesus no trato com sua família. Tais características e atitudes estão descritas nas obras Jesus, Um Retrato do Homem, do jornalista A. N. Wilson [Ediouro, 2000], Cristo, Uma Crise na Vida de Deus, do ex-jesuíta Jack Miles [Companhia das Letras, 2002], e em Mãe, A História de Maria, de Júlia Bárány [Editora Mercuryo, 2003]. Todas são obras baseadas nos evangelhos apócrifos e nenhuma toca na espinhosa questão dos verdadeiros causadores de fatos tão incomuns nas vidas desses ícones do Cristianismo. Já outras discussões, contidas em tais obras e mais interessantes à Ufologia, tinham como cerne as visitas de “anjos” em determinadas épocas a estes mesmos personagens e os pequenos milagres de Cristo quando ainda era criança.
Misteriosos visitantes
Por parte dos representantes oficiais do Vaticano, já cientes do trabalho desempenhado pela Comunidade Ufológica Mundial no assunto, tivemos mais avanços recentes nas declarações de Balducci, em 1999 e 2005, sobre a “real possibilidade de que outras criaturas inteligentes vivam na imensidão do espaço”, ou ainda que “a igreja reconhece plenamente que não estamos sozinhos no universo e defende um procedimento de investigação dos objetos voadores não identificados”. O Monsenhor Ufólogo, como ficou conhecido no meio, chegou a ir mais longe quando declarou “que o universo é cheio de vida, e não há nada mais óbvio do que isso. Que estejamos sendo observados por seres pertencentes a civilizações mais avançadas, idem. A questão está em entender o que querem aqui nossos misteriosos e curiosos visitantes”.
Mas, quando instados a se manifestarem oficialmente quanto à presença alienígena nas Escrituras, infelizmente os religiosos do Vaticano recuam. Sobre o livro sagrado dos cristãos, pondera Balducci que “a Bíblia não se refere diretamente aos extraterrestres, mas também não os exclui. A realidade dos UFOs é muito provável no infinito mistério da criação”. Porém, se para o
religioso, já falecido, não havia indícios claros da presença de ETs na Bíblia, ele também fazia questão de complementar que “a filosofia explicará a origem destes homens do mesmo modo que elucidou a nossa, recorrendo ao argumento da causalidade que postula o criador. E a teologia nos convidará a glorificar a grandeza, a bondade e a prodigalidade infinita de Deus”.
Do mesmo modo “oficialmente evasivo” se exprime o padre astrônomo José Gabriel Funes ao levantar dúvidas sobre provas deixadas por extraterrestres tanto nas escrituras como na pesquisa astronômica recente — mas ele levanta, ao mesmo tempo, a possibilidade de vida inteligente no universo. Conforme suas declarações ao jornal L’Osservatore Romano, impresso pelo próprio Vaticano, “pode haver seres semelhantes a nós ou até mais evoluídos em outros planetas, ainda que não haja provas da existência deles”. Mesmo tentando manter seu lado científico separado do religioso — ele é Ph.D. em astrofísica —, Funes ainda procura uma correlação entre um e outro, como se previsse alguma revelação religiosa à frente, ao questionar, no mesmo jornal, “por que não poderemos falar de nossos irmãos extraterrestres? Eles devem existir e fazer parte da criação divina”.
Onipotência divina
As abordagens dos evangelhos canônicos e apócrifos adotadas por teólogos como Bárány, Miles e Wilson, em suas obras citadas acima, são coerentes com suas visões. Isto se deve muito provavelmente ao fato de eles serem leigos em Ufologia. Contudo, as visões específicas de Balducci e Funes, dois homens cientes quanto ao estudo informal e científico dos UFOs — o primeiro era frequentador de congressos ufológicos —, bem como da Antiguidade e da hipótese extraterrestre para origem dos mesmos, são, no mínimo, interessantes, merecendo profunda análise dos ufólogos. Elas revelam, sobretudo do ponto de vista filosófico, uma face intrigante, por causa da aparente contradição existente entre o que dizem oficialmente e o que sabem a Igreja e a Ufoarqueologia sobre o assunto.
À primeira vista, nos parece que tudo o que os teólogos enxergam nas atividades, fatos, acontecimentos e poderes incomuns observados nos protagonistas do Antigo e do Novo Testamento deve-se pura e simplesmente ser atribuído a Deus e a seus anjos, arcanjos, querubins e serafins, assim como o relacionamento destas falanges “mais próximas de nós”, digamos, com humanos escolhidos daquelas longínquas épocas bíblicas. Não há espaço para discussão sobre seres extraterrestres inteligentes — pelo menos não no sentido que a Ufologia dá à questão. O problema para esta lógica é que hoje, com a imensa quantidade de dados de que dispõe a Ufologia, qualquer discussão neste sentido mais cedo ou mais tarde acabará resvalando na questão dos UFOs na Bíblia — até porque, esta relação está explícita na narrativa. Para os ufólogos, o centro do debate está exatamente aí: quem é Deus e quem eram estes “auxiliares” que tanto influenciaram os protagonistas das Escrituras. Considerando-se que nela mesmo, em Gênesis, os evangelistas se referem a Deus em hebraico, por meio da palavra elohim — que significa deuses, no plural, e não Eloah, no singular, como seria o correto —, podemos ter uma ideia da variedade de líderes e suas falanges celestes que nos visitaram no passado.
Entre os ufólogos, alguns religiosos mais liberais e também em reservados círculos científicos e militares, não é novidade nenhuma que tanto a Bíblia e seus apócrifos quanto os livros sagrados de outras crenças nos lembram nitidamente como as histórias religiosas estão repletas de relatos sobre seres estranhos e suas máquinas voadoras. A título de exemplo temos o Mahabarata, do Hinduísmo, em que os UFOs são muito bem identificados como vimanas, o Corão ou Alcorão, do Islamismo, que descreve como o profeta Maomé fazia suas viagens celestes guiado pelo arcanjo Gabriel. Os feitos de tais seres e suas naves, narrados nestas obras, são indícios incontestáveis da presença de outras espécies cósmicas em nosso planeta, demonstrando tecnologia muito superior à nossa e uma origem que, dentro de nossos conhecimentos históricos, não tem explicação. Ou seja, a não ser que toda nossa história, inclusive a religiosa, tenha que ser reescrita com radical mudança de fatos, a origem de tais seres não pode ser outra senão alienígena.
Dificuldades no sincretismo
O filósofo e teólogo Roberto dos Santos Miranda, padre excardinado da Diocese de Brasília e uma das maiores autoridades em religiões afro-brasileiras no país, acha perfeitamente viável que estas teorias ufológicas tenham seu fundo de verdade. Contudo, ele pensa que jamais o Vaticano abordará o assunto do ponto de vista desejado pelos ufólogos. Especialmente porque as provas disponíveis, concernentes à Bíblia e aos apócrifos, quando não são tidas como manifestações metafóricas exageradas de seus autores — sendo este um dos motivos que levaram os apócrifos a serem proscritos dos textos sagrados —, são então encaradas como milagres e só podem ter, portanto, origem divina. A partir daí, sincreticamente não se discute mais nada.
Agora, se existem provas que justifiquem a continuidade da discussão, estas estão muito bem guardadas nos andares subterrâneos e longos corredores secretos da Biblioteca do Vaticano. Padre Miranda nos lembra que a Santa Sé tem inúmeros volumes da Biblioteca de Alexandria, milagrosamente salvos por antigos sacerdotes, que, antes de ser totalmente destruída no seu último incêndio, ocorrido em 646 d.C., conteve toda a história do conhecimento das primeiras civilizações compilada em quase um milhão de papiros. Assim, ainda que revelações provenientes de uma discussão desta importância poderiam gradualmente colocar em cheque toda a teologia católica e seus dogmas, percebemos que existe certa revisão de conceitos ocorrendo gradualmente dentro da fechada cúpula da Igreja de Roma. As manifestações públicas de Balducci e Funes não a confirmam explicitamente, mas se tal revisão for de fato consistente, podemos supor que há algum propósito de mudança que fatalmente levará à releitura das Escrituras.
Ufologia e evangelhos
Tal releitura pode e deve ser feita em todo acervo da Biblioteca Apostólica Vaticana. Segundo levantamento
s recentes divulgados na internet, ela dispõe de 8.300 incunábulos [Primeiros livros impressos, datados do século XV], 150 mil códices manuscritos — dentre os quais se encontram alguns papiros salvos de Alexandria —, 100 mil gravuras e desenhos, 300 mil moedas e medalhas e quase 20 mil objetos de valor artístico, distribuídos em quadros, tapeçaria, pinturas e esculturas. Ninguém tem dúvidas que este acervo se reveste de valor histórico e informativo incalculável, muito menos os ufólogos, que já se debruçam sobre alguns destes documentos há anos, com especial atenção aos evangelhos apócrifos. A grande questão é que, se não houver qualquer intenção de revisão teológica destes documentos, sob a égide de manutenção dos dogmas religiosos, as palavras de Balducci e Funes nada mais são do que opiniões próprias jogadas ao vento.
O primeiro ufólogo a questionar as Escrituras sagradas do Cristianismo, bem antes das atuais conclusões levantadas pelos teólogos, foi o autor espanhol J. J. Benítez, em sua obra Os Astronautas de Yaveh [Editora Mercuryo, 1980]. Ele chama diversas vezes a atenção do leitor quanto à constante presença de anjos na Terra e seus feitos, e sobre os talentos dos protagonistas do Antigo e do Novo Testamento, que são ainda mais surpreendentes nos apócrifos. Conclusivamente, assim como Fernando Cleto Nunes Pereira, Benítez e outros ufólogos afirmam que só um plano muito bem elaborado por criaturas tecnológicas e espiritualmente superiores estaria por trás dos acontecimentos relatados nas Escrituras.
O primeiro versículo do relato atribuído a Enoque refere-se à aparição de dois seres de enorme estatura, que realmente deveriam ser muito estranhos, tal foi o terror demonstrado pelo contatado ao notar suas incomuns características físicas
É importante saber o que representam os Evangelhos e outros livros apócrifos para as diversas igrejas e suas doutrinas cristãs, bem como para os demais seguidores independentes dos ensinamentos bíblicos. Conforme o Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, a palavra apócrifo significa “obra ou fato sem autenticidade, ou cuja autenticidade não se provou. Diz-se, entre os católicos, dos escritos de assunto sagrado não incluídos pela igreja no Cânon das Escrituras autênticas e divinamente inspiradas”. Entre os cristãos esotéricos, o conceito mais usado vem do grego apocrypha, que, como coloca o Glossário Teosófico, significa “erroneamente traduzido e adotado como duvidoso ou espúrio. A palavra significa simplesmente secreto, oculto ou esotérico”.
No nascimento do Cristianismo, este último conceito era usado para identificar algumas obras, sobretudo pelos sumos sacerdotes e seus iniciados nas escolas secretas, das quais, as mais conhecidas encontravam-se na Antiga Grécia, Egito, Índia e nas montanhas do Himalaia — que hoje compõem parte do não reconhecido Tibete. É comum nesses meios a afirmação de que, num período ocultado pela Bíblia, o próprio Jesus Cristo frequentou uma dessas escolas durante sua infância e adolescência, a dos essênios, tendo acesso a vários documentos apócrifos e trocando alguns de seus conhecimentos com mestres de tal linha. Há, inclusive, alguns autores que defendem a ideia de que Jesus, nesse mesmo período oculto de sua vida, teria ido até a Índia. Mais tarde, os conceitos adquiridos nas peregrinas experiências sacerdotais seriam utilizados em sermões e confrontos nos templos judeus.
Iluminatis e o caso de Fátima
Conforme o historiador Plínio, os essênios constituíam uma seita misteriosa de judeus de cunho espírita que viveram próximos do Mar Morto por millia soecolorum [Milhares de séculos). Após a chegada daquele que fora profetizado, muitos dos essênios passaram a compor os cristãos gnósticos, outra seita esotérica dentre vários novos agrupamentos que passariam a compor o embrião católico. A realidade é que os evangelhos apócrifos, conforme os conhecemos hoje, começaram a aparecer após o Concílio de Niceia, no ano de 325 d.C., quando alguns foram separados dos 73 livros canônicos. Contudo, suas origens remontam ao século I a.C. Os motivos para sua separação e, em alguns casos, reinserção através dos diversos concílios é questão de caloroso debate entre os estudiosos, mas vale mencionar que algumas das razões são completamente despropositadas.
Dicionários e enciclopédias teológicas, assim como opiniões de renomados especialistas, apontam os apócrifos como fontes de elevado valor histórico. Tais comportamentos de exceção adotados pela Igreja, característicos de seitas dominantes no Cristianismo nascente, podem ser comparados com aquele que encontramos na suposta predicação final de Cristo no Evangelho de Bartolomeu, onde ele fala da Igreja Católica, que não teria fundamento e “representaria um anacronismo ridículo”, segundo as palavras de Maria de Oliveira Tricca, compiladora da obra Apócrifos, Os Proscritos da Bíblia [Editora Mercuryo, 1989].
Entre algumas linhas do estudo, a discussão sobre interferências nocivas à lógica cristã vai além do que propõem intelectuais religiosos. Entra no campo dos constantes monitoramentos de grupos internos com grande poder na Cúria Católica. Segundo vertentes da Maçonaria, os agentes nocivos à verdade cristã são identificados como os Iluminatis da Igreja, os quais possuiriam conhecimento suficiente para identificar nas Escrituras a presença de seres extraterrestres entre os anjos e deuses. Ainda segundo esta corrente, os Iluminatis sabiam muito bem o que estavam fazendo ao interferirem, por exemplo, nas investigações sobre as aparições da Nossa Senhora de Fátima, em 1917. Um fenômeno que, conforme conclusões da jornalista Fina D’Armada e do doutor em história Joaquim Fernandes [Veja entrevista com ele na edição UFO 157], do Centro Transdisciplinar de Estudos da Consciência da Universidade Fernando Pessoa, desenhou nitidamente seu caráter ufológico séculos depois da morte de Maria, mãe de Jesus, e décadas antes da chamada Era Moderna dos Discos Voadores.
Com várias obras publicadas sobre o tema, uma delas em conjunto, Fina e Fernandes recolheram depoimentos e documentos da época que não deixam dúvidas s
obre suas conclusões. Segundo eles, o fenômeno do encontro ocorreu com todas as características de um contato típico estudado pela Ufologia nos dias de hoje [Veja edição UFO 157]. Houve a presença de UFOs, a ocorrência de efeitos físicos presenciado por milhares de testemunhas, a transmissão de mensagens entre supostos alienígenas e humanos — ou pelo menos a tentativa delas, assimiladas de forma discutível pelas três crianças, protagonistas principais de vários contatos. E como se não fosse o próprio evento em si tão comprobatório, houve a previsão mediúnica do início dos encontros, publicada em jornal da época.
Total ausência da ciência
Mas Fernandes discorda de ideias ligando a manipulação dos fatos às interferências conspiracionistas, no intuito de explicar o direcionamento dado ao caso de Fátima por autoridades eclesiásticas. Também não acredita em influências semelhantes nos bastidores do conhecimento acadêmico, durante as pesquisas e conclusões deste caso fantástico, que só agora puderam ser mais bem analisadas. Para ele, o que houve foi uma total ausência da ciência, causada muito mais pela incompetência explícita e falta de métodos para tentar entender a fenomenologia naquela época, do que propriamente pela influência de grupos secretos ou políticos — mas que, de forma oportuna, foi muito bem aproveitada pela igreja.
Ainda segundo Joaquim Fernandes, que é consultor da Revista UFO, foi a partir da lacuna deixada pela ciência que o clero, muito forte na Europa até meados do século XX, literalmente tomou para si a ocorrência, da mesma forma como faz na interpretação dos casos ufológicos, a exemplo dos relatados contidos na Bíblia. O resultado não poderia ser outro senão a mitificação religiosa de um dos mais impressionantes casos da história da Ufologia Mundial. Hoje temos a interpretação católica dominando completamente o assunto, especialmente no que tange à tentativa de comunicação do suposto alienígena que agiu em Fátima durante meses. Conforme a igreja, a “mensagem” se resume aos Três Segredos de Fátima, e ela continua sob total controle do clero episcopal.
Embora não acredite em conspiracionismo levado a cabo por especuladores, que chama de “fatimistas que pretendem ser maiores que Fátima”, Fernandes não nega que, como toda instituição grande e com representatividade suficiente para se tornar um estado teocrático, o Vaticano possui em seu bojo organismos que brigam pelo poder, seja este religioso, político ou até econômico, a exemplo do Banco do Vaticano. Como tais, eles exercem pressão sobre a cúpula papal. A mais recente instituição deste tipo a se tornar mundialmente conhecida responde pelo nome de Opus Dei, cuja influência paralela curvou até mesmo o papa João Paulo II. Ela manteve no papado de Bento XVI a mesma influência, como um verdadeiro poder paralelo, institucionalmente constituído pelo próprio João Paulo II, quando ainda era o papa. Mas este não é o caso de um grupo interno que represente uma “Ufologia Católica”, e muito menos formado por padres ou bispos ufólogos.
Enoque, um enviado
Podemos até imaginar qual o nível de influência de uns poucos teólogos, como Balducci e Funes, no corpo do Vaticano. Entretanto, com a morte do primeiro em setembro de 2008 — até então mais conhecido como demonologista, do que como ufólogo —, dá para se perceber como se comportariam pretensos seguidores de suas afirmações. O próprio Funes, com suas declarações que mais lembram as dos astrônomos céticos que começam a rever suas posturas, não serve como exemplo de seguidor de Balducci.
Fato é que, se a intenção na separação entre apócrifos e canônicos pode ter sido a de esconder informações perigosas, esta não surtiu o efeito desejado, uma vez que muitos dos livros canônicos também contêm estes mesmos relatos perigosos. Devido ao grande número de textos e passagens da Bíblia canônica e da apócrifa, impossíveis de compilação numa revista, escolhemos apenas trechos de algumas destas obras, em distintas épocas, e retiramos delas os aspectos mais contundentes em relação à Ufologia. O livro apócrifo que narra a viagem aos céus de Enoque é um dos mais espantosos.
O primeiro versículo do relato atribuído a Enoque refere-se nitidamente à aparição de dois seres de enorme estatura, que realmente deveriam ser muito estranhos, tal foi o terror demonstrado pelo contatado ao notar suas incomuns características físicas. Ante seu espanto, os seres lhe informaram que dentro em pouco ele “subiria aos céus”, e que, pelo tempo que deveria permanecer fora da Terra, teria que passar instruções à sua família sobre o que fazer durante sua ausência. Literalmente, Enoque teria sido abduzido por dois seres bem diferentes dos humanos, que, conforme sua descrição, tinham faces resplandecentes, olhos como chama e uma voz que soava como um canto. Eles possuíam também algum tipo de instrumento nas costas, identificado por Enoque como “asas mais brilhantes que o ouro e as mãos mais brancas do que a neve”.
Tomando o relato ao pé da letra, tais criaturas poderiam ser enquadradas como seres humanoides do tipo 03, variação 03, conforme classificação do falecido ufólogo gaúcho Jader Pereira, ou algo entre o tipo beta e gama, segundo a classificação do ex-coeditor da Revista UFO Claudeir Covo [Ambas publicadas na edição UFO 086]. As asas douradas poderiam representar algum tipo de instrumento metálico localizado nas costas, talvez para função comunicativa, respiratória ou locomotiva. Aqueles dois seres que acompanhariam Enoque na maior parte da viagem, até seu retorno, são identificados como os anjos Samuil e Raguil. A jornada do abduzido deveria ser longa e durar muitos anos para quem estivesse na Terra, uma vez que, assim como vários lugares, ou céus, foram descritas algumas estrelas além do Sol.
Patriarca vagando nas estrelas
De acordo com a Teoria da Relatividade de Einstein, para uma pessoa que viaje grandes distâncias a velocidades muito altas, o tempo passará mais vagarosamente em relação à outra que permaneça em repouso. No caso, quem permaneceria em repouso seria sua família, e por isso as instruç&otild
e;es dadas pelo patriarca, durante um tempo que, para Enoque, em movimento, seria muito menor que o de sua família, em repouso. A jornada para Enoque deve ter durado no mínimo 30 dias, tempo em que escreveu seus 366 livros, de acordo com o que coloca o 23º capítulo do apócrifo, e mais o período de “observação dos céus”, que ele também descreve. Segundo o capítulo 05, versículos 21 a 24, do livro bíblico de Gênesis, Enoque gerou Matusalém aos 65 anos e gerou outros filhos e filhas antes da viagem. Retornou, repassou tudo o que vira em mais 30 dias na Terra e partiu novamente aos céus, vivendo ao todo 365 anos terrestres. No entanto, no apócrifo, Enoque afirma que foram 165 anos de vida antes do nascimento de Matusalém, e não 65.
Na menor das hipóteses, teria a viagem de Enoque durado mais ou menos 100 anos terrestres e, na maior, 200 entre ida e volta. Como curiosidade astronômica, é importante ressaltar que no intervalo de espaço compreendido entre 4 e 100 anos-luz já foram identificadas centenas de estrelas vizinhas ao Sol, e pelo menos 25 delas, distantes até 50 anos-luz, são sérias candidatas a abrigar planetas similares à Terra.
O terceiro capítulo do Livro de Enoque mostra claramente que ele foi levado a um lugar acima do solo terrestre, ao qual se refere como “primeiro céu”, através das asas dos anjos, e depois elevado “às nuvens”. Isso nos parece com um verdadeiro traslado antigravitacional, causado provavelmente por alguma força que provinha do que estava nas costas dos dois seres, suas asas, levando-o do chão ao que poderia ser uma nave espacial. Esta, por sua vez, içou voo em direção ao espaço, a exemplo do que ocorreu com Elias, narrado na Bíblia, em II Reis, capítulo 02, versículo 11. Este outro importante personagem bíblico também foi levado por uma “carruagem de fogo” aos céus.
Durante o voo de Enoque, ele tem acima a visão do espaço sideral, e no horizonte e abaixo os seres mostram o que mais lhe pareceu com um grande mar, “maior que o mar da Terra”. Neste momento, possivelmente, Enoque deve ter tido a mesma impressão de Yuri Gagarin, em 1961, quando deu a primeira volta ao redor do planeta, na nave Vostok 1. Foi quando exclamou a famosa frase “A Terra é azul”. Para Enoque, pode ser que o grande horizonte azul do planeta, quando se chega às últimas camadas da atmosfera, lhe parecera o maior dos mares. Após alguns lances de admiração, o quarto e quinto capítulos do Livro de Enoque descrevem como ele entrou em contato com outros seres que provavelmente ocupavam maiores postos na hierarquia divina, segundo seu entendimento, já que foram reconhecidos como “anciãos e os dirigentes das ordens estelares”.
Deve-se considerar que, frente àquelas novidades, o contatado poderia muito bem confundir os locais que visitava, já que sua cultura não possuía palavras para expressar exatamente o que presenciava. O que ele entendia como céu, estrelas, planetas e cidades poderiam ser veículos que transportavam ele e aqueles “exércitos de homens”, provavelmente naves que compunham uma frota estelar, dada a riqueza de detalhes de sua descrição. Aqui percorremos o perigoso terreno das suposições, mas sabemos que sem elas a ciência não caminha.
“Terríveis depósitos celestes”
No primeiro céu Enoque retrata aquilo que lhe pareceu neve e os anjos que “mantêm seus terríveis depósitos”, talvez pela cor branca ou claridade que de lá emanava. Segundo descrições, seria um local onde anjos controlavam uma “tesouraria” e de onde partiam “nuvens” para vários locais. Analisando-se essas palavras sob o ponto de vista da tradução ao pé da letra, vamos ver que tesouraria, neste caso, refere-se a um local cheio de tesouros, ou objetos reluzentes como luzes, em ambiente de forte iluminação interna. Isto nos induz a comparações bem interessantes com cabines de aviões ou torres de controle de aeroportos.
Como um habitante da Antiguidade interpretaria o conjunto de luzes coloridas, botões, alavancas, painéis, gráficos luminosos, telas de radar ou de computadores e toda espécie de equipamento para navegação aérea e espacial, dentro de uma cabine de avião ou numa sala de controle da NASA, por exemplo? Naquela época, tesouraria seria uma excepcional forma de comparação. Quanto às nuvens dirigidas e seus terríveis depósitos? O que seriam? Certamente, não se tratava de vapor d’água armado. Seriam astronautas os anjos “diretores de estrelas” que voavam em suas asas, navegavam e possuíam suas funções no céu?
Nos capítulos 11 e 12 do Livro de Enoque o viajante visita e identifica o que nos parece ser a rota da Terra no Sistema Solar, ou pelo menos segue a órbita de um planeta com vida, em torno de uma estrela [Veja box]. Acompanhado de vários aparelhos voadores alados, Enoque nomeia dois principais: Fênix, o mitológico pássaro grego que era único, não se reproduzia e ressurgia de suas próprias cinzas, e Chalkydri, termo que tem aqui a sua primeira citação na mitologia cristã, mas que parece vir da união de duas palavras do sânscrito, da mitologia Hindu, chakchur e kîrti, respectivamente significando o “olho do mundo” ou Sol e luz ou esplendor. Ambas as naves possuíam pés em formas que lembravam a cauda de um leão, corpo cônico achatado e formato de cabeça de crocodilo, com grandes dimensões. Qualquer semelhança entre esta descrição e um ônibus espacial como o Discovery, flutuando por meio de jatos estabilizadores, como várias asas laterais, sapatas de aterrissagem dotadas de sistema propulsor, bem como na parte traseira da nave, que podem lembrar caudas de leão, seria coincidência?
Armas terríveis
O relato de Enoque esquenta ainda mais quando, nos versículos 07, 10 e 18, ele relata o que lhe parecia o inferno. Nos dois primeiros, ele apenas identifica os seres sofredores, vigiados por anjos de pele escura, que descreve como “impiedosos que portavam armas terríveis”. Mas, no versículo 18, ele observa e fala aos soldados chamados grigori, seres com aparência humana que “eram maiores que os maiores gigantes”, possuíam rostos sem viços e bocas que apresentavam “silêncio perpétuo”. Segundo um dos seres que acompanhavam Enoque em sua jornada, os grigori, eram parentes dos gigantes que fecundaram mulheres terrenas, conforme relato bíblico do Gênesis, dando origem a homens que impressionavam pela altura e pelas inimizades.
Nestes versículos do Livro de Enoque percebe-se uma grande semelhança entre os fatos do Gênesis e os relatos de mulheres
abduzidas da época contemporânea, submetidas a processos de fecundação após o rapto, geralmente praticados por seres alfa-cinzentos, os famosos grays [Cinzas]. Seriam eles os tais “anjos escuros”? Nas abduções alienígenas, a maioria deles é descrita como tendo até 1,5 m, embora alguns cheguem a atingir grandes estaturas. Será que o termo grigori, pronunciado naquela época para identificar estes humanoides, tem alguma correlação com a identificação gray adotada atualmente? Tanto uns quanto outros, excetuando-se alguns casos, são mencionados como envolvidos com o lado mal da história de Enoque, assim como nos atuais raptos acompanhados de experiências reprodutivas. Outra semelhança é a descrição de rostos pálidos e bocas que, no caso dos grays atuais, aparentemente não servem para falar.
Finalizando, Enoque escreveu 366 livros resumindo tudo o que lera nos chamados “Livros do Senhor”, e retornou à Terra. Mas não sem antes passar por uma experiência comum em relatos de abdução. No dito décimo céu, citado no capítulo 22 de seu livro, ele identifica a face do Senhor como “ferro que arde em fogo e que, ao sair, emite faíscas e queima”. Seguindo as ordens do mesmo Senhor, um outro anjo chamado Micael ungiu Enoque com uma substância e o vestiu com uma roupa luminescente que o fez se assemelhar a eles, e dotou-o com uma “pena de escrita rápida”, mostrando-lhe vários livros para escolha de alguns a serem copiados. Enoque gastou 30 dias e 30 noites para concluir sua tarefa. Retornou à Terra, passou tudo a seus filhos em mais 30 dias e partiu novamente, aos céus, agora em definitivo. Em alguns casos de abduções investigados por psicólogos, os abduzidos atuais relatam, sob hipnose, ter passado por experiências semelhantes à dele, quando foram untados, submetidos a intervenções médicas e, em certos casos, recebendo informações sobre a vida na Terra e em outros planetas através de instrumentos de comunicação [Veja box].
Fatos que a igreja esconde
Nos livros apócrifos este é apenas um dos inúmeros pontos que chamam a atenção para o que a Igreja pode estar escondendo. Este texto específico denuncia a existência de mais 30 deles, escritos pelo próprio Enoque “a mando de Deus”, cujo conteúdo deve descrever com mais detalhes o que ocorrera durante sua viagem celeste, surreal à vista dos mais incautos. Estariam eles entre os códices secretos da Biblioteca do Vaticano? Não sabemos, mas não precisamos ir longe para descobrirmos indícios que nos levem às respostas. E mesmo que tais textos não tenham sido ainda descobertos, dentro da mais pífia análise é inadmissível que teólogos com experiência acadêmica tenham deixado de lado detalhes tão relevantes em apenas um apócrifo. Ainda mais quando este relata a abdução de um personagem tão importante para a Bíblia, citado dezenas de vezes até pelo próprio Jesus.
Para se ter uma mínima ideia das ocorrências suspeitas de contato com UFOs, só na Bíblia este autor já levantou mais de uma centena deles. O mesmo poderia se dizer de buscas efetivadas em outros apócrifos do Velho Testamento, como os livros de Moisés, Abraão, Esdras, Elias, Baruc e Ezequiel, assim como os Atos, Epístolas, Apocalipses e cartas de autores canônicos, mas que tiveram seus textos considerados apócrifos, como os de Pedro, Matias, Felipe, Bartolomeu, Barnabé e Nicodemos, entre outros do Novo Testamento. Um dos mais impressionantes, chamado de Apócrifos da Assunção, narra não uma, mas várias abduções dos evangelistas que estavam vivos quando da Assunção de Maria.