Há anos essa publicação vem ressaltando que a ficção científica muitas vezes se parece com a realidade — o que é uma constatação especial para a pesquisa do Fenômeno UFO. O artigo Extraterrestres na Ficção Científica: Alerta, Ameaça ou Esperança, publicado na edição UFO 184, por exemplo, mostra que a ficção tem se celebrizado por apresentar questões fundamentais a respeito de nossas origens e lugar no universo. Igualmente, algumas das produções cinematográficas ou televisivas têm lugar especial não somente entre os apreciadores do gênero, mas da arte em geral, por romperem com padrões antes considerados imutáveis.
Tudo começou em 1902, com o filme Viagem à Lua [Le Voyage Dans La Lune], obra do ilusionista e cineasta francês Georges Méliès. Com apenas 14 minutos de duração, era considerado longa metragem para os padrões da época, e foi o primeiro filme de ficção científica vagamente inspirado nas obras de Julio Verne e H. G. Wells, que seriam celebrizados em muitas outras no futuro. Viagem à Lua tornou-se a mais popular e lembrada obra de Méliès, e um ícone do cinema mudo. Em sua esteira tivemos O Dia Em Que a Terra Parou [The Day the Earth Stood Still], produção 20th Century Fox de 1951, celebrada até hoje por sua atualíssima mensagem pacifista. Foi o filme que provou que poderia haver inteligência na ficção científica, até então nicho somente de produções B despretensiosas e produzidas com recursos escassos.
Guerra nas Estrelas [Star Wars], obra da mesma 20th Century Fox, de 1977, levou de novo o público aos cinemas, homenageando as produções fantásticas de antigamente com efeitos especiais inovadores — e uma trama repleta de referências a tradições e misticismo. Alguns críticos chegam a afirmar que representou a salvação da indústria cinematográfica, apontando o caminho para todos os filmes que vieram depois. Mas, saindo do cinema e chegando à televisão, Arquivo-X [The X-Files], de 1993, provou que as produções para esse espaço poderiam ter um tratamento que não deixava nada a desejar para as cinematográficas, resultando em um movimento aproveitado por diversos outros seriados com variados graus de sucesso.
E ainda mais, Arquivo-X também foi extremamente bem sucedido em explorar de maneira ficcional fatos ufológicos que já há décadas desafiavam os pesquisadores, tais como o Caso Roswell, o acobertamento governamental e diversos aspectos da presença alienígena na Terra. Com seu imenso sucesso, inclusive no Brasil, a produção ajudou a chamar a atenção do público para a rica e diversificada casuística ufológica nacional, motivando uma pergunta: se uma produção norte-americana enfocando casos daquele país fez tanto sucesso, por que os produtores de TV e de cinema daqui do Brasil não fazem o mesmo com os casos ufológicos em nosso território?
Bem, parece que essa situação pode estar finalmente mudando com a estreia nos cinemas de todo o país, em 13 de abril, de Área Q, longa metragem da Califórnia Filmes que ficou pronto em 2011. Trata-se de uma produção conjunta entre Brasil e Estados Unidos baseada na riquíssima casuística ufológica da região de Quixadá e Quixeramobim, no interior do Ceará. “O diretor do filme [Gerson Sanginitto] e eu sempre fomos admiradores do gênero sci-fi. Eu, especificamente, sou de um município do interior do Ceará, Senador Pompeu, que fica muito próximo das cidades enfocadas no filme, e cresci ouvindo inúmeros relatos de UFOs na região”, disse à Revista UFO Halder Gomes, produtor de Área Q. Ele garante que o tema sempre o intrigou e que tinha muita vontade de levar às telas uma história ambientada no local e abordando seus mistérios. “Então, em uma conversa rápida com o Sanginitto, decidimos fazer essa coprodução e demos um nome artístico para o local e o filme”, completou. Foi assim que surgiu o título Área Q.
A trama do filme começa com Thomas Matthews — interpretado por Isaiah Washington, conhecido pelo seriado Grey’s Anatomy e pelos filmes Romeo Must Die e True Crime —, cujo filho, Peter, desapareceu tempos atrás. Nisso, seu chefe o envia para o Brasil afim de investigar mistérios relacionados a avistamentos de UFOs no Ceará, e sua trajetória em nosso país será muito influenciada por João Batista — misterioso e folclórico personagem interpretado por Murilo Rosa. Pelo trailer de Área Q [Veja no site da Revista UFO: ufo.com.br] fica claro que há algo de muito especial quanto a Batista, que parece ter respostas para muitas das dúvidas que afligem o protagonista.
Misticismo, Ufologia e folclore
O local onde Área Q foi ambientado não poderia ser mais propício a uma trama como essa. “Além das incríveis histórias da região, as locações são de uma beleza única, que proporcionam imagens encantadoras e repletas de mistérios. Os eventos do local não só fazem parte da cultura popular — seja pelo aspecto místico, ufológico, científico ou folclórico —, como também estampam de forma recorrente as capas dos maiores jornais do Ceará”, diz o produtor Gomes. Entretanto, nesse cenário, o caminho de Matthews reservaria surpresas quando ele cruza com o de Valquíria — Tania Khalill —, uma mulher misteriosa que pode estar ligada a quem deseja manter os estranhos fatos em segredo. A princípio relutante, Thomas vai cedendo em seu ceticismo enquanto toma contato com a estranha realidade do lugar, repleto de avistamentos, fenômenos estranhos e curas miraculosas — é aí que começa a perceber que está prestes a viver a maior experiência de sua vida.
Um dos fatos mais incríveis das filmagens — que duraram 28 dias nas locações do Brasil — é que em determinada noite o gerador do set pifou e todas as luzes se apagaram. Por mais de uma hora no escuro, e em uma fazenda isolada no interior do Ceará, toda a equipe lutou para manter a calma, quando subitamente todos perceberam enigmáticas luzes piscando no céu. Foram aventadas várias explicações para eles, como de serem satélites, aviões, reflexos das luzes das cidades vizinhas etc, mas entre os presentes houve quem teve absoluta certeza de que se tratavam dos mesmos UFOs relatados pelos moradores da região [Veja o livro ETs, Santos e Demônios na Terra do Sol, código LIV-006 da coleção Biblioteca UFO. Confira na seç&at
ilde;o Shopping UFO desta edição e no Portal UFO: ufo.com.br]. Mas o fato é que nunca se descobriu uma explicação para as estranhas luzes, e quando a energia foi religada, as filmagens recomeçaram, mas em clima de incontida emoção.
Outras inteligências cósmicas
Área Q, conforme descrito por seus realizadores, “é uma trama de ficção científica transcendental com abordagem espiritualista”, e nasceu do desejo do diretor, Gerson Sanginitto, de contar uma história com esses elementos. A ele se reuniu Halder Gomes, ansioso para transpor para a tela as histórias que ouviu sobre aquela região desde sua infância. Ambos trabalharam juntos no recente As Mães de Chico Xavier [Paris Filmes, 2010], em que Sanginitto foi produtor associado e Gomes, diretor. Ele manifesta uma predileção pelo tema e torce para que Área Q abra as portas do cinema nacional para novas produções com temática ligada à ficção científica ufológica e espiritualista.
O filme possui duas tag lines, ou frases de efeito, apresentadas nos cartazes e destinadas a chamar a atenção do público, conforme explica Gomes: “A obra compreende duas versões, uma sendo a descoberta que mudará para sempre o rumo da sua vida e da vida do planeta e, a outra, a de que há muitas moradas na casa do Pai, como falam os espíritas”. Ele diz ainda que, como o filme transita por questões da existência humana e da pluralidade dos mundos habitados, buscou-se uma maneira de tratar as diferentes formas de encarar essas realidades. Questões fundamentais da existência humana, tais como outras inteligências cósmicas e a nossa possível relação com elas — temas tradicionais da ficção científica —, foram exemplarmente exploradas em Área Q, que enfoca a casuística ufológica de um dos hot spots de nosso país como nenhuma outra já havia feito.
A estreia de Área Q não decepcionou quem já aguardava a trama, especialmente na Comunidade Ufológica Brasileira. A torcida para que o filme trouxesse uma necessária onda de renovação para o nosso cinema, sempre limitado a dois ou três temas recorrentes, se mostrou acertada. Conforme apontam veículos especializados em cinema e televisão, a tendência mundial tem sido, no gênero da ficção científica, explorar temas de folclore, tradição e até mesmo casos ufológicos pouco conhecidos de países fora do eixo cinematográfico tradicional — como os Estados Unidos. Isso inclui também, evidentemente, a literatura fantástica, nicho que tem sido muito bem explorado no Brasil nos últimos anos, com inúmeros talentos sendo revelados.
Gestação de um novo tempo
Assim, a importância de Área Q é tremenda tanto para o cinema quanto para a Ufologia Brasileira, pois abre as portas do cinema nacional para a ficção científica de qualidade, voltada para a Ufologia e para temas fantásticos, tão afeitos ao nosso folclore e literatura. Tem o potencial de representar para a ficção no Brasil o que as obras mencionadas no início desse artigo foram para o gênero, em âmbito mundial. Fica presente ainda a torcida de que o filme seja muito bem sucedido — e que muitos outros sejam produzidos dentro desse novo filão do cinema nacional.