Relatos sobre avistamentos de UFOs ganharam fama depois que Kenneth Arnold viu nove aparelhos em forma de Lua crescente sobre as Montanhas Cascade, nos Estados Unidos, em 24 de junho de 1947. A Força Aérea Norte-Americana (USAF) logo se envolveu no recolhimento, estudo e interpretação desses registros, com vários níveis de acertos e erros, sempre em meio a um quadro de grande tensão com a imprensa. Agências de inteligência do país, como FBI, CIA, DIA, NSA, entre outras, também participaram desse processo de captação e avaliação de informações a respeito de observações ufológicas.
Muitos outros departamentos de defesa ao redor do mundo simplesmente copiaram as políticas seguidas pelos EUA nessa questão, e, assim, tornaram secretos os relatos ufológicos de que tinham conhecimento e mudavam continuamente seus protocolos quanto a liberar ou ocultar tais fatos da mídia e dos pesquisadores, que também foram crescendo em número junto com a evolução do fenômeno. Hoje a situação mudou drasticamente em todo o mundo. Com o reconhecimento global de que o Fenômeno UFO não é uma preocupação estritamente militar e não representa ameaça à segurança nacional de qualquer país, são cada vez mais comuns as atitudes de abertura ufológica em países de todo o globo.
O que pouca gente sabe é que, nesse processo, a USAF foi o primeiro órgão a esconder os registros ufológicos que examinou, fazendo-o através do Pentágono, mas também o primeiro a liberar informações sobre o tema. Isso aconteceu em 1970, quando militares norte-americanos levaram documentos para o arquivo histórico da Base Aérea de Maxwell, em Montgomery, no Alabama. Seis anos mais tarde, todas as pastas do Projeto Blue Book foram disponibilizadas no Arquivo Nacional, em Washington, com suas cerca de 130 mil páginas e 15 mil casos ufológicos. O outro lado da moeda, entretanto, é que os ufólogos do país estimam que cerca de 13 mil páginas de documentos continuam aguardando liberação em várias instalações e arquivos da USAF, onde ainda são mantidos como secretos.
O direito de saber da verdade
A maior dificuldade em rastrear esses documentos e comprovar sua existência está no fato de que podem não estar devidamente arquivados como registros de UFOs, mas listados sob outros títulos — ou talvez até tenham sido perdidos ou destruídos. É possível ainda que documentos relevantes sobre a presença alienígena na Terra estejam espalhados em meio à papelada pessoal de cientistas e militares já falecidos ou aposentados. Além disso, o Comando Norte-Americano de Defesa Aeroespacial (NORAD) retém informações sobre 15 mil sinais incomuns em seu sistema de vigilância.
Se todos ou parte deles são manifestações de naves alienígenas, não sabemos. Apenas esperamos que a tensão existente entre a liberdade de informação — ou seja, o direito do público de saber da verdade — e o segredo dos procedimentos operacionais seja logo resolvida. Entretanto, nos Estados Unidos, outros órgãos além da Força Aérea vêm recolhendo relatos sobre UFOs há décadas, e com isso gerando arquivos volumosos, muitos ainda indisponíveis. Em 2008, por exemplo, a CIA diz ter liberado exatamente 2.779 páginas de documentos ufológicos — uma parte disso está hoje disponível na internet.
Por outro lado, fontes idôneas na própria agência informaram, em 1979, que cerca de 15 mil páginas de documentos sobre a ação na Terra de outras inteligências cósmicas ainda estariam em poder de seu Escritório de Inteligência Científica (OSI). No final dos anos 70, por força da Lei de Liberdade de Informação, o FBI também liberou cerca de 2 mil arquivos sobre discos voadores — esse material também está disponível na internet, no próprio site do órgão.
Em 1992 foi a vez de a todo-poderosa Agência de Segurança Nacional (NSA) liberar 204 páginas de diversos documentos altamente censurados sobre UFOs, e hoje há cerca de 100 deles em seu site — embora o historiador ufológico Jan Aldrich estime que seja muito mais do que isso o total de documentos ufológicos da instituição. Outro órgão a liberar seus papéis foi a Agência de Inteligência da Defesa (DIA), que abriu ao público cerca de 300 páginas. Provavelmente, grandes quantidades de material sobre avistamentos ufológicos continuem guardados na Administração Nacional de Arquivos e Registros (NARA), e milhares de documentos podem ainda estar em poder da Marinha, do Exército, da Força Aérea, da NASA e de outras instituições. Se são ou não relevantes para o progresso da pesquisa ufológica, essa é uma incógnita. Mas uma coisa é certa — se liberadas, não se deve esperar por provas mais contundentes do que as já conhecidas pelos ufólogos.
A abertura se espalha
Seguindo o exemplo dos Estados Unidos, em 1980 o Canadá disponibilizou 7.700 registros ufológicos em seu Arquivo Nacional, e em 2008 publicou cerca de 9.500 arquivos em seu site. Enquanto isso, em 1975, a Nova Zelândia iniciou um contínuo processo que hoje já liberou cerca de 1.500 páginas de documentos sobre avistamentos ufológicos, cobrindo um período que vai de 1952 a 1989. Depois veio a Europa, em 1983, quando o governo sueco disponibilizou 3.600 relatórios de ocorrências que eram conhecidas ou foram pesquisadas pela Aeronáutica do país, que vão de 1933 a 2009 — isso graças aos esforços dos ufólogos Anders Liljegren e Clas Svahn, correspondente internacional da Revista UFO naquele país.
Na Inglaterra, a legislação para liberação de arquivos governamentais permitia que documentos ufológicos fossem disponibilizados ao público no então Escritório de Registros Públicos, o atual Arquivo Nacional. Desde 1987, e mais especificamente a partir de 1993, casos ufológicos de 1962 a 1984 foram tornados públicos através desses órgãos, entre eles alguns arquivos remanescentes dos anos 50. Em 2007, com participação do doutor Dave Clarke como consultor, o Ministério da Defesa inglês começou a publicar na internet todos os arquivos oficiais existentes sobre UFOs, concluindo o processo em 2010.
Com esses progressos, pesquisadores em todo o mundo se sentiram encorajados a pedir aos seus governos acesso a informações ufológicas mantidas ocultas ou sob sigilo por militares. Em Portugal, em 1990, os pesquisadores da Comissão Nacional de Investigação do Fenómeno OVNI (CNIFO) obtiveram junto às autoridades os registros relativos a três contatos imediatos com discos voadores envolvendo pilotos da Força Aérea Portuguesa (FAP). Já na Itália, um total de 372 arquivos, com cerca de 3 mil páginas, foi liberado em 1996 ao Centro Italiano Studi Ufologici (CISU) e, desde 2001, estã
o disponíveis resumos históricos sobre relatos de observações ufológicas ao público. São grandes avanços.
A partir dos anos 90, a liberação oficial e procedimentos relacionados à abertura ufológica proliferaram no mundo todo, e arquivos antes retidos em nome do segredo e da segurança nacional passaram a ser abertos em massa. Em 1994, a Suíça liberou mais 18 relatórios de casos investigados por sua Aeronáutica. No ano 2000, o Centro Astronômico de Pagasa, nas Filipinas — encarregado de recolher e analisar informações sobre UFOs para o governo daquele país —, liberou 20 arquivos ufológicos até então secretos. A Austrália também enviou inúmeras pastas de sua Força Aérea ao Arquivo Nacional, em 2003. E por aí vai o processo de abertura mundo afora.
A pesquisa junto da informação
A França tem tido um grande destaque na pesquisa ufológica desde 1977, quando o Centro Nacional de Estudos Espaciais (CNES) — a “NASA francesa” — criou o Grupo de Estudos de Fenômenos Aeroespaciais Não Identificados (GEPAN), um organismo para estudo oficial do Fenômeno UFO. Mais tarde o órgão foi rebatizado de Serviço de Investigação dos Fenômenos de Reentrada Atmosférica (SEPRA) e hoje voltou a se chamar GEIPAN — agora com um i no meio do nome, sigla de “informação”. Seja com que nome for, a entidade oficial francesa publicou excelentes obras sobre a presença alienígena na Terra na forma de notas técnicas, entre 1980 e 1983. Entretanto, arquivos ufológicos oficiais daquele país não seriam totalmente liberados até 2007, quando 1.600 relatórios foram disponibilizados na internet, dando início a um processo contínuo.
O exemplo francês foi seguido pela Irlanda, em 2007, quando o país liberou 11 relatórios da sua Aeronáutica sobre avistamentos de UFOs, e também pela Dinamarca, que liberou mais de 300 páginas de relatos civis de avistamentos ufológicos no site da Força Aérea Real Dinamarquesa, a Flyvevåbnet — embora os casos militares do país permanecessem secretos e longe do escrutínio do público. Outras nações, como Bélgica, México, Grécia, Noruega, Peru e Romênia, vêm gradualmente disponibilizando relatórios ufológicos. Mesmo assim, acredita-se que alguns deles ainda tenham registros importantes de atividade do Fenômeno UFO a ser abertos.
Concerto pela liberdade
E há, naturalmente, o exemplo brasileiro de abertura ufológica, iniciado oficialmente em 2004 através do movimento UFOs: Liberdade de Informação Já, uma iniciativa da Comissão Brasileira de Ufólogos (CBU) realizada através da Revista UFO. A CBU é uma entidade composta por integrantes de várias entidades de pesquisa ufológica do país, fundada em 1996 para realizar, no ano seguinte, o I Fórum Mundial de Ufologia. Em 2004, a CBU foi retomada para se criar a referida campanha, que acabou tendo seu primeiro êxito em 20 de maio de 2005, com o surpreendente e inédito encontro entre ufólogos civis e militares da Força Aérea Brasileira (FAB). Em 2007 começaram as liberações de documentos ufológicos antes secretos, que até 2010 completavam mais de 4 mil páginas compreendendo dos anos 50 à primeira década do século 21 [Veja mais nas edições UFO 111, 160 e 170, agora disponíveis na íntegra em ufo.com.br].
Por fim, ainda há algumas nações que mantêm suas investigações e arquivos ufológicos ocultos do público, como a Argentina, Chile, Equador, Rússia e Uruguai — embora, tanto no Chile quanto no Uruguai existam entidades oficiais de pesquisa há décadas, e na Argentina tenha sido inaugurado um órgão assim em dezembro de 2010. Provavelmente, as forças aéreas de outros países também abriguem documentos secretos sobre avistamentos, ainda que essa censura seja desnecessária, pois já é universalmente aceito o fato de que os UFOs não representam perigo à segurança nacional e que o assunto não diz respeito ao campo militar, mas ao meio científico. Assim, espera-se que os bons exemplos já demonstrados por tantas nações do planeta sejam logo seguidos pelo resto do mundo em um concerto mundial pela liberdade.