Ao iniciar esta breve exposição sobre a fenomenologia ufológica do Nordeste, com enfoque sobretudo no centro leste da Bahia, no eixo constituído pela Chapada Diamantina, é oportuno citar o mais antigo relato conhecido de um avistamento de objeto voador por aqueles rincões. O fato foi descrito no livro Estradas e Cardos, de M. M. de Freitas, quando realizava, no ano de 1882, uma viagem pelo sertão baiano. Ao dirigir-se para o então Arraial de Mucugê, ele escreve:
“Pela primeira vez, confesso, fui dominado pela ambição de riqueza e debrucei-me, vencido, sobre os montes de cascalho reluzente e apanhei vários diamantes de muitos quilates. Remexi avidamente o cascalho, e só despertei pelo grito inesperado que dera o guia e que à pouca distância tremia como vara verde. Que vira? Não sabia e não podia explicar. E ali não quis ficar por mais um segundo sequer. Mistério! Em louca disparada, ganhou a estrada tortuosa em busca de Mucugê, deixando-me abandonado e medroso no alto da serra. Desci a serra e cobri-lhe os passos. Num apertado vale entre as montanhas alcantiladas, divisei o Arraial de Mucugê, a histórica povoação fundada por garimpeiros e tropeiros, e onde dormem tantas recordações do passado!
Senti o coração opresso e a alma triste: o companheiro de tantos dias e tão longas jornadas pelo sertão a fundo abandonara-me para sempre. Que teria visto para um grito tão feio? Tive vontade de retroceder porque a terra tão falada, tão ambicionada, incomparavelmente rica, desnuda, aparecia a meus olhos como uma tapera, uma ameaça, um agouro.
Amparei os olhos com as mãos apoiadas sobre a testa e divisei além, muito além, na serra azulada distante, um halo de luz multicor sempre ascendente até desaparecer. Não compreendi aquele fenômeno e julguei uma ilusão de ótica” [Texto extraído do livro Chapada Diamantina — História, Riquezas e Encantos, do historiador e ufólogo Renato Luís Bandeira].
Em conversas com amigos da cidade de Morro do Chapéu, onde residimos desde 1983, temos obtido interessantes informações de fatos que demonstram o quão antigas são essas ocorrências, justificando a implantação na cultura regional de um riquíssimo folclore acerca de seres fantásticos, objetos voadores, bolas de luz, ruídos no céu e até encantamentos que amedrontam e excitam a imaginação popular. Num desses relatos, a testemunha, hoje com 50 anos, contou-nos que, quando era criança, a região onde morava era tida como mal assombrada. Ao cair da noite, todos evitavam andar pelo campo, pois o silêncio era rompido por estranhos ruídos de coisas que voavam no céu, luzes misteriosas e sombras que eram confundidas com lobisomem, almas penadas ou assombração.
FAMÍLIA TRAUMATIZADA — Um senhor relata, ainda emocionado, como em certa noite seu pai chegou em casa num deplorável estado de choque, afirmando ter visto uma luz fortíssima que voava à baixa altitude por sobre o local onde se encontrava. Apavorado, mas armado com um facão, seu pai correu para baixo de uma moita e ficou a observar o estranho objeto que se afastou em silêncio. Acreditando ter visto uma assombração, esse senhor sofreu um abalo emocional, chegando a ser hospitalizado logo em seguida. Com o decorrer dos dias acabou morrendo. Até hoje, a família, traumatizada, é avessa e hostil a todo tipo de manifestação celeste, principalmente de UFOs.
Para aumentar e aprofundar ainda mais esse mistério, surge no fim dos anos 70, o famoso Projeto Alvorada, fundado pelo arquiteto mineiro Luiz Gonzaga Scortecci de Paula, que previa a existência de bases intraterrenas na Chapada, mais precisamente em Morro do Chapéu e Belo Campo — cidades onde, mais tarde, situar-se-iam os “puntos crísticos”, identificados por uma paranormal uruguaia, hoje residente no Brasil.
INTELIGÊNCIA COMANDADA — Tais elementos, aliados à natural beleza panorâmica da região, cheia de grutas, cavernas, altos penhascos, cachoeiras e outros atrativos geológicos, constituíram a base que projetou a Chapada Diamantina nos noticiários nacionais, atraindo para lá pessoas com os mais diversos objetivos, dentre eles o de satisfazer a curiosidade e pesquisar a presença extraterrestre.
Após a grande onda ufológica de 1994, alguns epicentros como Mucugê, Conceição do Almeida e Morro do Chapéu vieram a se consolidar, definitivamente, como ativíssimos sítios de ocorrências com UFOs e curiosas sondas noturnas luminosas que vagam pelos campos e encostas de montanhas, acompanham carros à noite, aterrissam em quintais de residências ou somem misteriosamente no espaço.
Na Chapada, os fenômenos ufológicos podem ser definidos como objetos sólidos, máquinas ou naves esféricas, cilíndricas, ovóides ou por luzes multicoloridas e de tamanhos diversos, que, por seu comportamento sugestivamente inteligente, bem poderiam ser enquadradas no conceito genérico de sondas — artefatos telecomandados a partir de centros de controle sediados em algum lugar do universo. Hm certos casos específicos, não podemos identificá-las como sendo fenômenos de combustão espontânea, fogos-fátuos, bolas magnéticas, vagalumes ou mesmo efeitos luci-magnéticos gerados por jazidas minerais — conforme a crença do povo.
Em certa ocasião, um funcionário do Fórum de Morro do Chapéu, o senhor Hildo Alves de Freitas, em companhia de dois amigos foi entregar uma citação judicial a um certo morador do distrito de Umburaninha — zona longínqua, de difícil acesso, onde se chega somente por estrada de chão. Ao retornarem, o carro sofreu uma pane em pleno mato. Devido à escuridão, os três amigos ficaram sem saber o que fazer, pois a rodovia distava 23 km e voltar ao distrito seria inútil. Não teriam socorro mecânico ou mesmo abrigo para pernoitarem. Após tentativas frustradas de consertar o veículo, finalmente resolveram que o senhor Hildo e um dos amigos iriam a pé até a estrada e pegariam uma carona até a cidade. O outro ficaria ali para evitar qualquer roubo.
Tão logo se afastaram, eis que uma pequena esfera de luz verde surgiu uns cinco metros à frente, espalhando uma fraca luminosidade no local, suficiente para enxergarem o caminho. Após o susto, vendo que o UFO permanecia imóvel, sem apresentar sinal de perigo, os dois começaram a caminhar sendo seguidos pela luz. Pararam de repente e prontamente ela também parou. Fogo reiniciaram a jornada e a luz misteriosa avançou novamente, mantendo sempre uma distância constante deles. Quando apressavam o passo ou diminuíam a marcha, a luz imitava-lhes o movimento, como se fosse controlada por uma inteligência. E assim seguiram por várias horas, até chegarem à rodovia. Ali, a luz se elevou alguns metros do solo e ficou suspensa no ar. Após um certo tempo, surgiu um caminhão com os faróis acesos. Hildo ficou na expectativa do que iria acontecer com a chegada do veículo, mas quando a aproximação ocorreu, a luz explodiu silenciosamente, desinanchando-se em fagulhas que caíram
e se dissiparam, deixando tudo no escuro.
As ocorrências ufológicas se propagam também por outras localidades baianas. Nos arredores de Bonito, cidade do pólo cafeeiro, luzes azuis voam por entre os eucaliptos e começam a oscilar rapidamente, antes de desaparecerem, para logo surgirem noutro local. Luzes amarelas perseguem veículos freqüentemente. Uma caminhonete, cujo motorista tentou ultrapassá-las, foi quase atingida por uma delas que se manteve um palmo à frente do capô. Por alguns quilômetros a luminosidade acompanhou o movimento e a velocidade do carro. Finalmente, disparou em direção oposta, com um barulho chiante, e desapareceu na escuridão. Na sub-região de Irecê, tais fachos flutuam sobre os campos arados e se dividem em dois ou três, os quais voltam a se juntar, recuperando o tamanho original.
Na coletânea de relatos envolvendo objetos voadores, estão relacionados inúmeros casos, suficientes para demonstrar uma constância e um propósito para a presença ufológica, sugerindo até mesmo um plano operacional e uma possível base encravada nos ermos páramos dessa chapada. Certa tarde, em Soares, um casal de camponeses voltava para casa após o trabalho na roça. O sol já se ocultara e as sombras da noite dificultavam a nitidez das coisas, mas ao se aproximarem da casa, notaram uma claridade difusa em torno dela. Espantados, imaginando ser um incêndio, apressaram o passo, até observarem algo estranho no local. No quintal, sob forte iluminação, inúmeros seres pequeninos se movimentavam em grande azáfama, como se recolhessem material do solo.
Confuso, ainda tentando encontrar urna explicação, o casal se separou: enquanto a mulher se escondeu, munida com uma velha espingarda, seu esposo tentou se aproximar cautelosamente. Mas, logo foi percebido pelas estranhas criaturas, que se apressaram em pular para o alto e desaparecer misteriosamente no ar. Enquanto isso, uma fumaça tóxica invadiu o local, obrigando-o a se afastar sufocado. Quando a fumaça se dissipou, tudo voltou ao normal.
NAVE FOGUETE — Certa noite do ano de 1981, o fazendeiro Roque Santana, ao regressar para sua residência, teve repentinamente o seu carro envolvido por uma potente e fortíssima luz, que o acompanhou nos 25 km que o separavam da cidade. Durante o percurso, o objeto se elevou ao espaço, sendo visto por muitas testemunhas. Este caso deixou a cidade traumatizada, houve muita gente que se recusou a sair às ruas à noite. Alguns anos depois, durante uma noite inteira, uma nave em forma de foguete percorreu os municípios de Mulungu do Morro, Canarana e Cafarnaum, ora voando no céu, ora pousando no solo, envolta numa espécie de neblina ou fumaça.
Essa nave desapareceu pela manhã, no momento em que penetrou uma nuvem baixa, em meio a uma grande explosão, como se fosse um trovão que ribomba nos vales e quebradas das serras. As testemunhas descreveram-na como um foguete voando na horizontal, com faróis vermelhos ou azuis, estes últimos descendo ao chão “como se fossem um cone de metal brilhante”. Ao passar por sobre as casas, o aparelho produziu um ruído intermitente de baixa freqüência que fazia a caliça desprender-se das paredes e os copos balançarem nas prateleiras das antigas petisqueiras [Editor: Móveis para guardar comida, muito usados no interior do Nordeste].
Em meados de 1988, por volta das 19h30, um grupo de trabalhadores conversava na casa do senhor S.R., 20 km ao sul da cidade de Mucugê. De repente, uma luz vermelha picante surgiu por sobre as montanhas e sobrevoou o local, indo pousar a 500 m da casa. A agitação foi total. Um dos funcionários chamou o dono da fazenda e todos ficaram a olhar aquele clarão no aceiro. Para visualizar melhor, alguém manobrou um trator, direcionando os faróis para a “coisa”. Logo em seguida, o objeto também acendeu fortes luzes, causando admiração e uma certa apreensão. Assim que o tratorista desligou os faróis, o UFO seguiu o exemplo. Após alguns momentos, novamente se acenderam as luzes do trator, sendo correspondidas pelas do objeto. Enquanto travava-se um verdadeiro “diálogo de luz”, o senhor S. R. convocou os presentes e, acenando uma toalha branca, à guisa de bandeira da paz, começaram a se aproximar do aparelho. Foi quando sua esposa, aos gritos, obrigou-o a retroceder, cancelando o que poderia ser o primeiro contato imediato de 3º grau na Chapada Diamantina. Após 40 minutos no solo, as luzes se apagaram e sumiram.
Como para coroar a grande onda de avistamentos na região. Morro do Chapéu também teve o privilégio de receber a visita de um UFO, em 1994. Eram 20h30 de uma noite clara, quando uma fortíssima luz de tom azulado se acendeu sobre a cidade, descrevendo uma grande curva em direção ao sul, ora com velocidade reduzida, ora aumentada, até pairar no ar, a uns 3 m de altura, sobre um campo de futebol. Uma intensa onda de calor começou a ser irradiada a mais de 50 m do local, deixando todos apavorados. Jovens, velhos e crianças corriam, gritavam e se escondiam em suas casas, amedrontados.
A Chapada Diamantina, na Bahia, é um dos pontos mais espetaculares de observação de UFOs em todo o Brasil, Durante os anos De 1994 a 1996, a região foi alvo de centenas de observações de distos voadores quase diárias
POSTE LUMINOSO — Tudo aconteceu rapidamente. Após alguns segundos, aquela gigantesca luz deu um salto para o alto, deixando um rastro de faísca semelhante a fogos de artifício. A uns 30 m do solo, o UFO apagou suas luzes, revelando sua forma esférica — que algumas testemunhas compararam a dois automóveis, modelo Fusca, unidos pelas rodas —, e posteriormente se afastou, em silêncio. Na noite de 27 de fevereiro de 1996, às 19h00, muitas pessoas observaram um UFO de forma cilíndrica atravessando o céu à grande altura em direção ao noroeste. O detalhe atípico era a desproporcionalidade entre o diâmetro e o comprimento. Como o objeto se parecia com um “poste luminoso” ou uma “lâmpada fluorescente”, imaginou-se tratar de uma antena de televisão, rádio ou qualquer outro tipo de dispositivo.
O tubo luminoso, que apresentava focos de luz nas extremidades e pontos brilhantes por todo o seu corpo, deslocava-se na vertical. Poucas semanas depois, na estrada que leva a Salvador, às 06h00, um brilhante tubo de luz se movimentou horizontal e vagarosamente por entre as nuvens. Nesta oportunidade, estávamos presentes e presenciamos as evoluções do UFO com o carro parado no acostamento. Nos dias seguintes, o objeto foi visto em todo o Nordeste e virou notícia nos jornais, televisão e boletins ufológicos de pesquisadores baianos, onde se acrescentavam muitos outros detalhes baseados nos depoimentos das testemunhas.
Vale acrescer à casuística do interior da Bahia a aparição de um pequeno ser, com cerca de 1,20 m de altura, vestido com uma espécie de macacão verde, luvas, botas e um capacete com viseira. Além disso, trazia no peito um círculo espelhado, com botões de controle que ele próprio manuseava constantemente. Entre 10h00 e 11h00 do dia 16 de agosto de 1995, esse ET esteve sob a observação de oito testemunhas, num bairro ermo do município de Boa Vista do Tup
im, ao norte de Mucugê. Passada uma hora em vivaz atividade de pesquisa do terreno, o estranho ser, após ajustar seus controles, suspendeu-se no ar e desapareceu através da intensa claridade do Sol. O caso, investigado por este autor, foi também pesquisado pelo ufólogo baiano Emmanuel Paranhos, presidente da Sociedade de Estudos Ufológicos de Lauro de Freitas (SEULF).
Outros relatos de esferas de luz no céu, semelhantes à lua cheia, bem próximas a Morro do Chapéu foram colhidos por nossa equipe de pesquisa. Quando tais UFOs apareciam os rebanhos de cabras e ovelhas paralisavam, o ar esfriava, tudo ficava parado, criando um verdadeiro ambiente surrealista aos espectadores. Ao se afastarem, tudo voltava ao normal. Um fato bastante curioso que deixou uma grande dúvida entre aqueles que dele tomaram conhecimento foi a filmagem feita na Gruta dos Brejões, em maio de 1994. Nesse filme, o espeleólogo Aluízio Cardoso, a serviço do governo estadual, registrou as belezas naturais da gruta e, ao assistir à fita, pôde notar o aparecimento de uma bola de luz passando vagarosamente sobre as nuvens. A cena adquiriu grande repercussão, sendo logo apresentada no noticiário da BA-TV, sucursal baiana da Rede Globo.
ESFERAS LUMINOSAS — Algum tempo depois, quando Aluízio novamente fazia filmagens na região, observou no céu as mesmas esferas luminosas, planando em direção oposta. Com base em sua experiência profissional, descartou a possibilidade de se tratar de aves, flocos de algodão, objetos levados pelo vento etc. Quando a imagem foi congelada na TV, outras formas luminosas atravessaram a tela, numa trajetória em ziguezague — o que não é visível quando a fita está na velocidade normal. Um ufólogo de Salvador concluiu que se tratava de UFOs.
Somente por esses relatos percebe-se a riqueza da casuística ufológica da Chapada Diamantina. Nela, estão incluídas estórias de cavernas encantadas, árvores em combustão etc. Surgem verdejantes visões noturnas de estranhos seres curadores que à noite fazem visitas a doentes, sanando suas dores. Há até a fantástica cidade perdida que teria sido avistada por antigos bandeirantes. Quem sabe se relacionássemos tudo isso a um denominador comum: a vasta e antiga atividade ufológica, não teríamos a solução de tão heterogêneas manifestações, hoje consolidadas numa variada amálgama de lendas, folclore, crenças e até o lastro cultural de uma população rurícola, ainda carente de informação?