Uma das partes mais fascinantes da investigação do Fenômeno UFO é a busca por evidências que permitam vislumbrar a sua natureza. Sem dúvida, esta comprovação tão desejada [e ao mesmo tempo tão elusiva] para a existência destes misteriosos viajantes celestes estaria materializada, se pudéssemos provar de alguma maneira, nos relatos sobre as suas possíveis quedas. O Chile não está fora desta discussão, e é certo que este fenômeno penetra intensamente na sociedade chilena como parte integrante de uma forte influência cultural exercida pelos Estados Unidos durante o pós-guerra. Também é certo que foi registrado pela imprensa deste país uma série de estranhas aparições muito antes do já tão conhecido e polêmico relato de Kenneth Arnold, em junho de 1947 nos EUA, e até mesmo antes dos estranhos avistamentos registrados em 1898 neste mesmo país. Em maio de 1868, a imprensa da cidade de Copiapó, norte chileno, publicou a série de observações, que o diário El Constituyente definiu como “chuva de meteoritos”, decorrente na região por vários dias. O detalhe mais interessante é que os estranhos objetos pairavam a baixa altitude sobre as colinas da cidade.
O primeiro registro que se tem da queda de um objeto voador de origem não identificada no Chile aconteceu no ano de 1914, mais especificamente na tarde de 15 de fevereiro, sobre o solo da localidade rural de Chanco, na sétima região do Chile. E as informações atuais sobre este acontecimento nos chegam por três vias. A primeira delas é a da transmissão oral através dos habitantes do local, que se surpreenderam com a queda do estranho objeto e comentaram o incidente com os seus descendentes. A segunda também por pessoas que viveram na área, foram testemunhas oculares da queda, e que ainda estão vivas, como Juana Andaur, hoje com quase 100 anos de idade. Ela afirma ter claras lembranças daquela dramática tarde na qual, durante uma caminhada junto com sua mãe, escutou um forte estrondo e olhou para o céu contemplando, totalmente estupefata, um cilindro envolto em chamas e fumaça que caía lentamente sobre uma área montanhosa provocando um grande incêndio.
O seu testemunho é confirmado pela terceira instância – a imprensa local – que noticiou com clareza e por dois dias consecutivos o estranho fenômeno, deixando para a posteridade importantes dados complementares. Uma nota em 16 de fevereiro de 1914 no diário La Mañana da cidade de Talca noticiava o seguinte: “Fenômeno celeste – Ontem às 17h55 viu-se atravessar um bólido pelas alturas celestes, em direção ao poente para o oriente. O corpo luminoso não deixou de impressionar as numerosas pessoas que o puderam contemplar”. E mais adiante assinala: “… a fumaceira branca que deixou atrás de si demorou mais ou menos 15 minutos para se dissipar, tempo em que se manteve suspensa sobre o azul do céu, destacando-se perfeitamente”. Adiante é argumentada na nota desde a possibilidade de um foguete de fogos de artifício até a de um avião se incendiando.
UFOs na Argentina – Um outro fato interessante e que merece ser citado é o avistamento do fenômeno na Argentina. Inclusive o telegrafista que emitiu o comunicado deste país vizinho afirma, em nota publicada pelo periódico La Mañana em 18 de fevereiro de 1914, que o corpo deixou “um longo rastro branco de gases que se manteve visível até a entrada da noite, observando-se como uma mancha prateada no firmamento até as primeiras horas da madrugada”. No parágrafo final assinala: “Presume-se que este grande aerólito, cujo efeito luminoso foi surpreendente, teria caído em território chileno ou no Oceano Pacífico, se a hora em que se observou tivesse sido mais avançada”.
A busca pelo UFO de Chanco levou, em 1998, profissionais como o geógrafo Pedro Muñoz a realizarem investigações na área e atraiu até o interesse dos militares que, portando detectores de metais, também fizeram uma extensa busca em conjunto com um acadêmico reconhecido como uma eminência em geografia, doutor Reginaldo Bergier. Eles acreditam que não se deve desistir das possibilidades de um estudo sério na área que já está delimitada, e onde seguramente caiu o suposto UFO. Foi bem depois do incidente de Chalco, em 1993, sobre a quarta região do Chile, que um outro episódio com características ainda mais surpreendentes traria de volta a discussão sobre a queda de UFOs. Nesta ocasião um chileno de origem japonesa, Jorge Tabbe, estava em uma montanha buscando veios de mineral quando observou um “enorme objeto voador não identificado, com luzes amarelas, vermelhas e brancas”. O atefato foi visto sobrevoando um setor denominado La Cuesta del Viento. O suposto UFO teria esbarrado no pico mais alto da montanha, desprendendo faíscas e material incandescente.
Tabbe não poupou esforços e no dia seguinte subiu a montanha onde o objeto teria manobrado e encontrou fragmentos luminosos, alguns do tamanho de um punho. Graças a seus contatos com o mundo da mineração, enviou amostras para dois laboratórios chilenos, um químico e a outro metalúrgico. Em ambos os certificados divulgados pelos profissionais que analisaram as amostras concluíam que, efetivamente, era de um material “estranho”, não maleável aos ácidos e extremamente duro. Este laudo interessou a duas empresas japonesas, Matsutani e Hitachi Metal, que submeteram uma das peças do misterioso material às mais exaustivas análises. E o resultado foi que, num dos certificados emitidos, atestou-se a presença de 22 metais conhecidos, mas com um peso atômico diferente do habitual, sendo que um isótopo anormal do cobre era componente de maior quantidade.
Em uma perícia realizada pela Universidade de Santiago do Chile, visando avaliar a autenticidade dos documentos, efetivamente se conclui que, apesar da surpresa demonstrada nas apreciações dos cientistas sobre o material, e à suposta “estranheza” do cobre, o isótopo encontrado nas amostras é terrestre. E em conversações mantidas com um representante no Japão, o senhor Naito, este afirmou que já tinha inclusive descoberto algumas das 22 ligas. Mas sem dúvida lhe parecia muito difícil, com base na estrutura da combinação dos metais, que a liga tivesse sido forjada por algum laboratório comum. Naito, uma vez em posse das amostras, fez contato com a NASA nos EUA e a NAZDA no Japão, com a finalidade de comprovar se esse estranho metal poderia ser produto de tecnologia aeroespacial de alguma destas nações, mas ambas as agências foram claras a respeito. “Estas peças não são nossas”, garantiram.
Paihuano, o Roswell chileno – Mas o fato que causou a maior polêmica no Chile, no que se refere à hipótese de quedas de UFOs, foi o chamado incidente Paihuano, ocorrido na quarta região do Chile durante a primeira semana de outubro de 1998. O acidente aconteceu em plena luz do dia, e na presença de centenas de testemunhas que observaram três objetos voando lentamente em direç
ão à cordilheira. A vida tranqüila dos habitantes locais foi rompida de imediato quando um deles se precipitou sobre a montanha Las Mollacas, partindo-se, segundo testemunhas, em duas partes. Logo após a queda os carabineiros teriam cercado a área, e afirma-se que um forte contingente militar se aproximou do lugar em busca dos restos do objeto. Os destroços teriam sido retirados durante a noite.
A imprensa noticiou passo a passo a polêmica de Paihuano, incluindo as explicações por parte de um fotógrafo astronômico da colina de Tololo, lugar onde se situam grandes observatórios norte-americanos. Deste local, Arturo Gomez propôs a hipótese de que provavelmente os habitantes da região testemunharam a queda de alguns dos 14 balões-sonda lançados na manhã daquele dia. Entretanto, não há dúvidas de que as observações descrevem a emissão de lampejos alaranjados, e afirmam também que o objeto caído teria a forma alongada, o que não corresponde ao comportamento e nem ao formato dos balões-sonda. Mais tarde foi discutida a hipótese de sucata espacial e até a queda de um meteoro. Mas o que estava claro para todos é que, efetivamente, algo havia caído.
Roderick Bowen, jovem analista de defesa que esteve na área, assegura que o incidente pode ter sido causado por uma tentativa frustrada de testes com mísseis, já que ainda estava no porto parte da força naval norte-americana que participa da operação Unitas, e sempre que estes exercícios conjuntos acontecem surgem relatos comumente associados aos UFOs. Muitas vezes os supostos UFOs não passam de drones – pequenos aviões utilizados em espionagem. Já Patricio Diaz, ufólogo da quarta região do Chile, assegura que possui evidências suficientes para pensar que foi resgatado um UFO nesta área. Conta com mais de 60 entrevistas e conseguiu reconstituir toda a seqüência de acontecimentos. Afirma ainda que encontrou na área pistas que apontam para o deslocamento de um corpo grande, inclusive caminhos completamente modificados para possibilitar a passagem da estrutura. “O mais surpreendente”, assinala, “foram as declarações de uma pessoa que esteve a poucos metros da comitiva que levava o objeto e diz que ele estava sobre uma rampa, coberto por uma lona, mas esta não conseguia cobrir a sua parte anterior, deixando perceber uma estrutura curva fosforescente”.
Até hoje ninguém deu uma resposta clara para o que aconteceu em Paihuano. O silêncio oficial contribuiu com o aumento dos rumores e pode ser até que estas especulações ajudem a criar uma cortina de mistério, encobrindo os fatos. O interesse de “alguém” em ocultar a realidade tem sido evidente, mas também está claro que a própria cultura popular projeta sobre os acontecimentos hipóteses sem embasamento que podem facilmente desvirtuar a realidade. Mas, seja lá o que for, os relatos de quedas de supostos UFOs em território chileno têm criado uma necessidade cada vez maior de se saber o que, afinal de contas, está acontecendo.
A Força Aérea do Chile abre o debate sobre UFOs – Um dos mais importantes eventos sobre ufologia aconteceu recentemente no Chile. Pela primeira vez a Força Aérea discutiu seriamente a questão dos OVNIs. Foi entre 30 de março e 01 de abril que aconteceu a Feira Internacional Aeroespacial (FIDAE 2000), onde foram organizadas, de maneira inédita, jornadas de Ufologia com a finalidade de debater e ilustrar a problemática ufológica em alto nível. Para esta instância foram convidados Jean Jaques Velasco [diretor da SEPRA, da França], Richard F. Haines [dos Estados Unidos], Antonio Huneeus [da MUFON] e J. J. Benitez [da Espanha]. Os convidados estrangeiros participaram de um workshop, sem a presença da imprensa, junto com os investigadores chilenos Erwin Moller, Pedro Muñoz, Jaime Tamayo, Miguel Jordán e Cristian Riffo, que também contou com a presença dos doutores em física Norman Cruz, Patrício Muñoz e a doutora em física espacial da Rússia, Marina Stevanova. Participavam como coordenadores deste workshop, o general aposentado da Força Aérea do Chile e atual diretor do Comitê de Estudos de Fenômenos Anômalos Aeroespaciais (CEFAA), Ricardo Bermúdez, e o secretário do Comitê, Gustavo Rodriguez.
Durante um dia inteiro de debates, e contando o apoio da Força Aérea do Chile, discutiram-se os objetivos propostos pelos investigadores chilenos. Os mesmos eram a Unificação Conceitual, o que se entende por UFO, Metodologia de investigação e Conhecimento de novas teorias. O mais relevante foram as conclusões decorrentes do dito debate. “Os antecedentes discutidos longamente no workshop indicam que o fenômeno aéreo anômalo é real e nele está inserido o incidente OVNI como um evento raro e aleatório, mas específico”. E ainda: “concordou-se que a denominação UFO é uma definição que não reflete sua real magnitude, a grande quantidade de variáveis que envolvem o fenômeno, fazendo-se necessário encontrar, no futuro, uma denominação que represente de forma melhor o comportamento deste. Os estudos sérios que até esta data se realizaram não lograram resolver a infinidade de incógnitas que instigam este controvertido assunto, o que leva à impossibilidade atual de avançar algumas teorias e até de não encontrar respostas válidas cientificamente”. Entre vários outros pontos, finalmente se assinala: “o grupo faz um enérgico chamado a uma cooperação internacional com compromisso de governos e instituições, cujas contribuições no intercâmbio de dados e experiências fortaleceriam em um alto grau a possibilidade de encontrar respostas às incógnitas que hoje o fenômeno nos apresenta”.