O descobridor de Eris, o corpo celeste que iniciou o debate que levou ao rebaixamento de Plutão, em 2006, acredita que deva haver mais uns 60 objetos de tamanho semelhante ao do ex-planeta na região do espaço onde ele se encontra. Michael Brown, astrônomo do Instituto de Tecnologia da Califórnia, afirma que não é impossível que existam corpos no chamado cinturão de Kuiper grandes como os planetas do Sistema Solar interior, entre eles a Terra. “É difícil dizer, mas é bem possível que um dia observemos algo do tamanho tamanho de Mercúrio”, disse Brown à Folha.
O trabalho de Brown que pode bagunçar ainda mais a definição de planeta são estudos a serem publicados em breve sobre um dos objetos mais estranhos do cinturão, registrado como 2003 EL61 e apelidado de “Santa” (Papai Noel). “Santa” tem o formato aproximado de uma bola de futebol americano murcha e gira extremamente rápido. Aparentemente é composto de uma rocha sólida e coberto por uma fina camada de gelo. “Nós achamos que essa aparência e esse comportamento são assim porque “Santa” sofreu uma colisão”, diz Brown.
O objeto, que no comprimento é quase tão grande quanto Plutão, também interessa os cientistas por causa de sua órbita. Com período estimado de 12 mil anos para contornar o Sol, “Santa” está agora em um dos pontos mais próximos da Terra. A chance de ele estar próximo o suficiente para ser visto, diz Brown, é cerca de uma em 60. Por uma lógica estatística, portanto, deve haver mais uns 59 corpos grandes no cinturão que não estamos conseguindo ver agora. A expectativa de achar objetos como esse vem aumentando com a medição mais precisa das órbitas de outros objetos no cinturão de Kuiper. Alguns desses corpos têm órbitas de milhares de anos, mas os astrônomos só conseguem vê-los quando estão perto da órbita da Terra – como “Santa”.
Em palestra domingo no encontro anual da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), Brown explicou como fez em 2003 para descobrir Eris. Esse asteróide, maior do que Plutão, forçou o debate que culminou no seu rebaixamento para “planeta-anão”. Para Brown, tirar Plutão da lista foi uma decisão perfeitamente sensata, mas o termo usado para defini-lo foi infeliz. “É um termo bem estúpido”, disse. “Não dá para chamar algo de coisa-anã, se esse algo não é uma coisa [no caso, um planeta]. Durante vários anos usamos, não oficialmente, a expressão “planetóide”, que é mais adequada, pois significa algo que “parece” um planeta”.
O trabalho do astrônomo que está sendo mais discutido agora entre seus colegas é sobre um outro objeto do cinturão de Kuiper que ele descobriu em 2003 e já ganhou apelido: “Easter Bunny” (Coelho da Páscoa). “Na época, achávamos que ele era estruturado como Plutão, coberto de metano, talvez redondo, mas depois acabamos vendo que ele é um objeto que está na transição entre Plutão e outros objetos menores”. Ainda é incerto se um conhecimento mais refinado do cinturão de Kuiper vai ou não provocar mais debate sobre definições de planetas e obrigar mudanças nos livros. Brown, de qualquer forma, não parece estar muito mais preocupado. “Não acho que seja necessária uma definição científica para planeta para seu uso cultural”, afirma. A partir de agora, o assunto poderia ser tratado como a geografia trata dos continentes, diz, já que não há um limite de tamanho estabelecido para uma ilha passar a ser chamada de continente.