Um dos fenômenos mais extraordinários ocorrendo nos dias de hoje é, sem dúvidas, o mistério dos círculos nas plantações inglesas. São desenhos simples ou complexos, envolvendo muitas vezes uma multiplicidade de formas geométricas perfeitas e circunscritas a uma só figura. Ninguém sabe quem ou o que os causa, mas todos desconfiam – com muita razão – que sua origem esteja intimamente ligada ao Fenômeno UFO. Estudiosos de todo o mundo têm se engajado na coleta de informações sobre o assunto e em sua possível compreensão, ainda que logrando pouco êxito até aqui.
Os círculos começaram a surgir há mais de 15 anos, numa escalada que foi aumentando ano após ano e até hoje espanta os veteranos que os investigam desde então. Estudiosos estimam que pelo menos 10 mil dessas enigmáticas figuras já foram descobertas até hoje em todo o mundo. O curioso, no entanto, é que cerca de 98% delas foram encontradas exclusivamente na Inglaterra, mais precisamente no sudoeste do país, próximo à região onde se situa Stonehenge, o monumento megalítico mais importante de toda a Grã Bretanha.
Alguns poucos círculos foram encontrados na Austrália, nos Estados Unidos, Canadá e até na França, mas são absolutamente insignificantes quando comparados com os da Inglaterra – e dentro do próprio país, somente a região sudoeste registra seu surgimento. Por isso, o fenômeno é conhecido mundialmente como “círculos ingleses”. Chamá-los de círculos, aliás, é algo que se faz por força do hábito, pois na verdade as figuras são emaranhados de formas geométricas de diversos tamanhos, dispostas de maneira organizada e intencionalmente lembrando mensagens que alguém ou algo está tentando nos passar. O pico máximo de seu surgimento se dá entre os meses de maio e setembro, pois é verão na Europa e época em que as plantações estão próximas de maturação.
O mecanismo de funcionamento ou mesmo de surgimento dos círculos ainda é um mistério. Milhares de estudiosos de todo o globo se reúnem no sudoeste da Inglaterra atrás de novas figuras, durante os meses citados. Quando as encontram – e às vezes isso se dá quase que diariamente -, reviram todo o local em busca de vestígios que possam explicar seu aparecimento. É certo que exista uma boa porcentagem destes círculos que é composta por fraudes perpetradas por grupos de pessoas com as mais diferentes intenções. Estima-se que pelo menos 30% dos círculos encontrados sejam falsos.
Resultados ridículos – Entre os motivos que levam os forjadores a desenhar figuras que passam por círculos autênticos está, evidentemente, a tentativa de se desmoralizar os estudiosos do fenômeno. Há também aqueles grupos de pessoas que competem entre si para ver quem faz o desenho mais próximo da realidade, ou simplesmente o mais bonito. E há também pessoas que forjam os círculos como forma de demonstrar suas habilidades artísticas. Mas em todos esses casos, os resultados são ridículos. Os círculos forjados são facilmente identificados pelos estudiosos mais experientes, pois são realizados de forma irregular, sem a simetria ou a perfeição geométrica dos círculos verdadeiros e ainda estão repletos de vestígios de quem os fez e como.
O exemplo mais clássico de forjadores são dois velhinhos aposentados de Preston Highs chamados Doug e Dave. Há alguns anos, procuraram a Imprensa britânica e reclamaram para si a autoria de alguns círculos descobertos na área de Alton Barnes. Jornais e revistas de todo o mundo publicaram sua versão e aqueles veículos mais tendenciosos ou menos criteriosos simplesmente acreditaram nela e encerraram o assunto. Esta é considerada a maior falácia que já se imputou ao fenômeno dos círculos, pois diante dos jornalistas os velhinhos conseguiram fazer apenas e tão somente figuras toscas e mal enjambradas de círculos, ainda assim com alguns poucos metros de diâmetro e visivelmente disformes. No Brasil, várias publicações – em especial a revista Veja – veicularam o testemunho de Doug e Dave como que botando um ponto final nas discussões. Em todo o mundo, infelizmente, parte da Imprensa e da população ainda está sob a impressão de que os velhinhos são os responsáveis pelas figuras. Nada pode estar mais longe da verdade…
Os círculos autênticos são verdadeiras obras de arte. Neles, ou em sua proximidade, nunca são encontrados quaisquer traços ou pistas que indiquem como foram feitos ou por quem. Em alguns casos extremos, círculos compostos por mais de 200 figuras geométricas perfeitamente dispostas, numa extensão que vai além de 300 m de comprimento, já foram encontrados sem que os estudiosos – incluindo os do governo britânico – tivessem a menor idéia de como foram feitos. Não há pegadas de pessoas ou marcas de pneus de veículos, nem tampouco sinais de que as plantas em seu interior tenham sido manipuladas por seres humanos. Simplesmente, os círculos surgem do nada portando uma mensagem inexplicável e desafiando nossa inteligência.
Não existe explicação para o surgimento do fenômeno e nem mesmo estudiosos que os acompanham desde sua descoberta se atrevem a esboçá-las. Colin Andrews, um dos maiores conhecedores do assunto, desenvolve hoje um projeto que poderá trazer luz definitiva ao enigma. Financiado pela Fundação Lawrence Rockfeller, que nos últimos anos vem destinando largas somas de dinheiro a pesquisas não convencionais, Andrews contratou ex-agentes policiais e detetives britânicos de primeira linha para vasculhar os locais onde os círculos surgiram, em busca de vestígio. O estudioso quer aproveitar a experiência que esses profissionais adquiriram na solução de intrincados casos policiais, para descobrir se há vestígios da ação humana no mecanismo de confecção dos círculos. “Estes homens sabem procurar detalhes que passariam despercebidos a um ufólogo”, disse Andrews.
Já se tentou coisa semelhante antes. Ufólogos e estudiosos de outras disciplinas paracientíficas vêm se debruçando sobre o fenômeno há muitos anos, em busca de explicações racionais para seu aparecimento. Quase todos procuraram o mesmo tipo de evidência que Andrews – aquela que indicass
e que há um componente humano na fabricação dos círculos. Todos, entretanto, fracassaram: nenhum vestígio da ação humana foi encontrado em mais de 70% dos círculos descobertos. “Isso significa simplesmente que, se os círculos não são feitos pelo homem, então alguém que não é da Terra os está plantando”, desabafa o estudioso, e com absoluta razão.
Helicópteros e UFOs – A segunda parte de seu projeto – ao custo estimado de 150 mil dólares – é a implantação de radares e outros instrumentos de detecção por uma vasta área de grande incidência dos círculos no sudoeste da Inglaterra, principalmente o ponto de maior concentração, que é uma região de morros em volta de Alton Barnes, cerca de 150 km a oeste de Londres. Andrews espera, com seus instrumentos, detectar o veículo utilizado pelos responsáveis na criação do enigma. “Estamos preparados para captar desde um improvável helicóptero até um eventual UFO”, finaliza o renomado estudioso [UFO trará relatório completo dos resultados de sua pesquisa nas próximas edições].
As inusitadas e singulares características dos círculos é o que mais incomoda ufólogos e cientistas, pois nunca se viu um fenômeno que desafiasse ao mesmo tempo tantas leis científicas consagradas. Em primeiro lugar, as plantas atingidas não são quebradas, amassadas ou destruídas – elas passam por algum tipo de processo em que seus caules são simplesmente entortados num ângulo de 90 graus, sem serem danificados ou sequer tocados fisicamente. Em geral, as plantações em que os círculos se manifestam são o trigo, a cevada e a cânola [um tipo de cereal usado para extração de óleo base para produção de margarina]. Raramente se dão em pastos naturais ou artificiais, ou mesmo noutros tipos de vegetação. Igualmente, os círculos surgem apenas quando as plantas atingem certo estágio em seu crescimento, normalmente pouco antes da colheita.
O entortamento dos caules se dá num ponto entre 20 e 80% da altura total das plantas. As vezes, plantas situadas lado a lado na colheita são entortadas em direções totalmente opostas dentro do mesmo fenômeno. Analisando figuras compostas por vários círculos, em alguns deles as plantas são entortadas ora no sentido horário, ora em sentido anti-horário. Quase sempre, quando se trata de bolas desenhadas nas plantações, as plantas são dobradas em um ângulo de 90 graus, em sentido espiralado que pode ser tanto horário quanto anti-horário. Os estudiosos argumentam que estes detalhes são partes importantes da mensagem que os responsáveis ou criadores dos círculos tentam nos passar. “Mas infelizmente eles não enviaram um dicionário para que pudéssemos interpretá-las”, diz, triste, o estudioso George Wingfield, um dos veteranos no assunto.
Às vezes, certas figuras compõem-se de um verdadeiro e complexo emaranhado de formas geométricas distintas, combinando-se bolas com círculos, triângulos com retângulos, elipses com cones. Na maioria das vezes, quando são tão intrincadas e extensas, tais figuras só podem ser nitidamente vislumbradas do alto – em alguns casos, dependendo do ângulo de visão, pode-se interpretar a figura de várias formas. Quando dobradas ou entortadas, as plantas não voltam ao seu estado normal, continuando seu crescimento rasteiras ao chão, geralmente a uma altura de um palmo do mesmo. E uma vez dobradas, não se consegue desdobrá-las, sob risco de quebrarem em definitivo. Para que o leitor tenha uma idéia, imagine dobrar um cenoura com as mãos, o que é impossível sem a ação de calor. No entanto, no caso das plantas nos círculos, esse fato ocorre de forma nítida.
Invasão de propriedades – Isso obrigou os irritados fazendeiros do sudoeste da Inglaterra a desenvolverem técnicas de colheita diferenciadas, caso contrário perderiam parte de seus lucros. “Já não basta estas figuras estarem nos aborrecendo e destruindo nossas plantações? Agora ainda temos que aturar as hordas de curiosos que invadem nossas propriedades para vê-las e destroem quase tudo o que sobra”, desabafa John MacClutten, dono de uma fazenda que recebe de 10 a 15 círculos todo o ano. Mas os estudiosos do fenômeno garantem que, para investigar os novos círculos, se esforçam em não destruir as plantas que estão intactas. “O fenômeno deve ser investigado custe o que custar e lamentamos as perdas dos fazendeiros. Mas quando investigamos novos círculos, fazemos de tudo para não destruir mais nada, pisando com cuidado entre uma planta e outra”, garante Robin Cole, um dos mais experientes circólogos e presidente do grupo Circular Fórum.
Cole tem razão no fato de que o fenômeno tem que ser investigado a qualquer custo, assim como MacClutten não deixa de estar certo quando analisa seus prejuízos. Mas alguns outros fazendeiros chegaram a uma solução para o problema cobrando uma espécie de pedágio, para que curiosos e estudiosos do assunto entrem em sua propriedade. O valor do ingresso vai de um Real a pouco mais de 10, dependendo da complexidade do círculo e do fluxo de pessoas que deseja vê-lo. Tem fazendeiro ganhando mais dinheiro com isso do que com suas atividades naturais… De qualquer forma, isso mais ou menos organiza a visitação às áreas atingidas, tanto que famílias inteiras programam seu fim de semana para passear nos círculos, como se fosse um entretenimento normal.
Os estudiosos podem estar longe de uma solução para o mistério – ou mesmo de definitivamente ligá-lo aos UFOs. Mas já sabem coisas bastante significativas sobre o mistério. Em primeiro lugar, 90% dos círculos genuínos surgem quase sempre nas mesmas áreas, ano após ano, e invariavelmente sobre ou muito perto de sítios arqueológicos de milhares de anos de idade. Toda a Inglaterra e as demais ilhas britânicas estão repletas destes sítios, que foram erigidos por civilizações que habitaram aquelas vastas áreas em tempos remotos – celtas, druidas, vikings etc. Mas somente alguns tipos específicos destes povos habitaram o sudoeste do país, onde os círculos efetivamente se manifestam. Há raríssimos casos dessas figuras em qualquer outra parte das ilhas britânicas.
Os sítios arqueológicos às vezes estão enterrados e os estudiosos só se dão conta de que existem em determinado lugar quando surgem círculos lá – especialmente se estes se manifestam várias vezes no mesmo local. Isso é uma indicação para que se pesquise o subsolo da área envolvida em busca de novos achados arqueológicos. Já em áreas arqueológicas mais conhecidas, como Stonehenge, por exemplo, os círculos se manifestam ao seu lado ou têm suas f
iguras geometricamente alinhadas com elas. Sabe-se que Stonehenge e tantos outros monumentos do gênero foram construídos para servirem de local de ritual das referidas civilizações, há dois, três mil anos e até mais remotamente ainda.
Hipótese extraterrestre – Então, se é assim, os estudiosos já festejam pelo menos algumas conclusões. Primeiramente, os círculos têm obrigatoriamente um componente não terrestre. Ou seja: não são construídos pela inteligência humana. Dessa forma, só resta a hipótese extraterrestre para explicá-lo – e ela é sustentada pelo fato de que muitas pessoas, fazendeiros ou estudiosos acampados nos locais em seus momentos de pico, vêem com certa freqüência misteriosas luzes não identificadas sobrevoarem as colheitas pouco antes dos círculos serem descobertos. Em alguns casos, estas bolas de luz foram até filmadas e fotografadas, embora com baixa qualidade. Além disso, há evidências suficientes para garantir que o fenômeno que atinge as plantas no interior dos círculos não é terreno, pois alguma energia desconhecida ou não catalogada pela Ciência produz uma modificação biológica nas células das plantas, que, inclusive passam a ser genéticas e são transferidas para as plantas geradas por suas sementes.
Em segundo lugar, por se darem justamente sobre áreas que antes foram freqüentadas especialmente pelos celtas e druidas, manifestando-se sempre sobre suas medievais edificações (ainda que delas só restem vestígios enterrados), os estudiosos acreditam que quem quer que seja o responsável pelos círculos, tenha ou teve algum parentesco com aquelas extintas populações. Isso fica difícil de aceitar, e mais difícil ainda de se explicar, mas o fato é que esta é uma conclusão óbvia e evidente. Não pode ser simplesmente fruto do mero acaso, ainda que não se compreenda como esses fatos ocorrem.
Assim, aqueles que pensam que o fenômeno dos círculos ingleses nada mais é do que uma rotina de surgimento de bonitas figuras que impressionam os incautos fazendeiros britânicos, está redondamente enganado. O fenômeno encerra em suas características um conjunto de enigmas que desafia a inteligência humana e desorienta estudiosos, ufólogos, cientistas, militares e autoridades. O governo inglês já empreendeu vastas somas para pesquisar o assunto, assim como outras nações, mas ninguém jamais revelou os resultados destas análises – se é que elas existem!
Certamente, como a Inglaterra dispõe de uma das mais bem montadas e eficientes redes de radares para controle de seu espaço aéreo e defesa estratégica contra agressões externas, os causadores ou criadores dos círculos não passariam despercebidos. Igualmente, para um país reconhecido mundialmente por suas capacidades militares e avançada espionagem, um fenômeno como o dos círculos, repetido à exaustão há 15 anos, não poderia deixar de ser analisado.
Visita a um círculo na região de Alton Barnes
por A. J. Gevaerd
Durante a visita deste autor à Inglaterra, em junho passado, foi possível analisar in loco um círculo recém descoberto nos campos de Alton Barnes, um foco de incidência do fenômeno a cerca de 30 km do complexo turístico de Avebury. Situado a não mais que 200 m de uma rodovia secundária razoavelmente movimentada, o círculo foi encontrado por volta das 10h00min da manhã do dia 16 daquele mês. O desenho teria sido \’construído\’ provavelmente na noite anterior e resistido à insistente chuva que caía desde a madrugada. Sua composição era simples: um anel de aproximadamente 20 m de diâmetro com uma esfera de 6 m de diâmetro posicionada em seu segmento inferior.
Ao lado do conjunto, à direita, havia outra esfera de 3 m de diâmetro, isolada da figura principal. O corredor ou coroa do círculo teria cerca de 1,5 m de largura. Nas fotos abaixo se vê, à esquerda, o círculo de Alton Barnes a partir da rodovia, quase despercebido dada a pouca inclinação do terreno. À direita, o autor deste artigo agachado no corredor do círculo, onde se observa a exatidão na composição do desenho. O detalhe no texto mostra o sentido espiralado e horário em que foram dobradas as plantas – era trigo maduro e pronto para colheita.