Pesquisadores encontraram em Quênia fragmentos do crânio de um hominídeo que viveu há mais de 900 mil anos. A descoberta poderia preencher uma falha nos registros arqueológicos. Cientistas disseram que o achado pode ter sido uma “experiência” da evolução que acabou não indo para a frente. O pequeno crânio, claramente pertencente a um adulto, foi encontrado no Quênia no ano passado, num local que abrigou os pré-humanos classificados como “Homo erectus”, bem maiores, disseram Richard Potts ? diretor do Programa de Origens Humanas do Instituto Smithsonian, em Washington ? e sua equipe. Os fragmentos foram encontrados entre julho e agosto de 2003. A descoberta só foi publicada este mês na revista Science. Ainda é difícil afirmar que se trata com certeza de uma nova espécie pré-humana, já que só foi encontrada uma parte da fronte, a região esquerda do crânio, segundo Potts. “Esse crânio vêm de uma lacuna no registro dos fósseis africanos, um vácuo que vai de um milhão de anos atrás a 600 mil anos”, explicou. Os pesquisadores acreditam que o hominídeo, que não se sabe se era homem ou mulher, tenha morrido vítima do ataque de um leão ou de outro carnívoro. É o melhor fóssil de adulto referente à época do “Homo erectus”, uma espécie de hominídeo que prevaleceu entre 500 mil e 1,7 milhão de anos atrás, afirmou a equipe de Potts. Potts acredita que o fóssil mostra que os primeiros humanos viveram em grupos que se separaram e se diferenciaram, com encontros ocasionais em intervalos de milhares de anos. Então eles trocariam genes e se separariam de novo. “Às vezes eles passavam um tempo isolados, talvez centenas de gerações e, portanto, desenvolviam uma combinação singular de características”, disse Potts. Alterações drásticas no clima e no meio ambiente devem tê-los obrigado a se reunir de novo, provocando a extinção de alguns desses grupos. Potts imagina que possa ter havido várias dessas “experiências breves” da evolução – espécies que nunca deram certo. “Assim, eu veria a população de hominídeos de Olorgesailie como parte de uma espécie única mas altamente variável, com adultos grandes e pequenos.” O fóssil foi encontrado numa área vulcânica. O crânio possuía marcas de mordida. “Muito possivelmente foi assim que esse indivíduo morreu. Ele estava andando no planalto vulcânico até a área montanhosa (um local mais seguro) e não conseguiu chegar”. Também foram encontrados na área restos de ferramentas grandes. “A área inteira era uma campina gramada, cheia de zebras e enormes babuínos que comiam grama, além de elefantes que pastavam e porcos imensos”, disse Potts. “Os hominídeos usaram muito as rochas vulcânicas para fazer as ferramentas – identificamos 14 tipos diferentes de rocha vulcânica usados em machadinhas”. Vestígios do “Homo erectus” já foram achados na África, no sul da Europa e na Ásia. Esses hominídeos fabricavam ferramentas e viviam em grupos, mas os antropólogos estão tentando descobrir se havia subespécies dentro do grupo. “Vai ser difícil classificar o dono do pequeno crânio”, disse Potts. Na árvore humana familiar da África, um ancestral conhecido como Homo ergaster viveu há cerca de 1,3 milhão de anos. Uma das espécies que descendeu desta foi o Homo erectus, que se acredita que viveu há 500 mil anos e se espalhou da África até a Ásia. Todas essas espécies pré-humanas, ou hominídeos, eram caçadores vivendo em grandes grupos. Eles tinham grandes cérebros, andavam eretos e produziam ferramentas de pedras, mas os cientistas divergem se os ramos da árvore humana ancestral devem ser separados ou se todos os hominídeos pertenciam à mesma categoria. Desse obscuro período pré-humano, há poucos espécimes encontrados para adicionar detalhes físicos. Potts afirma que os fragmentos contêm traços associados com o Homo erectus, mas também possuem traços únicos, como um tamanho menor de crânio do que seria esperado. Os pesquisadores acreditam que a mais significativa contribuição do fóssil deva ser o convencimento dos cientistas de que os hominídeos existiam em variados tamanhos e características, até mesmo entre grupos locais e familiares. O sítio em Olorgesalie onde o crânio foi encontrado tem permitido importantes descobertas paleontológicas. Descoberto em 1942, centenas de pedras trabalhadas foram encontradas no local.