No final dos anos 1980, a pequena cidade de Gulf Breeze, na Flórida, tornou-se o centro de uma das mais intensas e controversas ondas ufológicas dos Estados Unidos. Tudo começou em 11 de novembro de 1987, quando o empreiteiro Ed Walters afirmou ter observado um UFO luminoso flutuando sobre sua vizinhança. Segundo seu relato, a nave emitia um feixe azul intenso que o teria paralisado momentaneamente. Walters conseguiu tirar várias fotografias com uma câmera Polaroid, que mostravam um objeto metálico em forma de disco com janelas iluminadas. As imagens, divulgadas pelo jornal local Gulf Breeze Sentinel, rapidamente chamaram atenção da comunidade e despertaram uma avalanche de novos relatos de moradores que afirmavam ter visto luzes semelhantes no céu.

Nos meses seguintes, Walters continuou a registrar novos avistamentos, e sua esposa, Frances Walters, também afirmou ter testemunhado fenômenos semelhantes. O casal relatou ainda episódios de “missing time” — lapsos de memória associados a possíveis abduções — e contatos visuais com seres humanoides. No início de 1988, as supostas manifestações se intensificaram, e a cidade passou a ser visitada por curiosos, jornalistas e pesquisadores ufológicos. As fotos de Walters circularam amplamente, e o caso foi apresentado em conferências, livros e programas de TV. Para muitos, Gulf Breeze parecia viver um “mini-Roswell”.

Entre os principais nomes que se interessaram pelo caso estava Bruce S. Maccabee, físico e especialista em óptica da Marinha norte-americana, que analisou as Polaroids originais e concluiu não haver indícios de manipulação visível. Ele considerou que as imagens apresentavam consistência geométrica e comportamento de luz compatíveis com um objeto físico de grande porte. A MUFON (Mutual UFO Network), então presidida por Walter Andrus, declarou Gulf Breeze “o melhor caso já investigado” e organizou missões de campo para entrevistar testemunhas. Budd Hopkins, referência nos estudos de abdução, endossou publicamente a veracidade dos relatos e escreveu a introdução do livro The Gulf Breeze Sightings, publicado em 1990.
Com o aumento da exposição midiática, dezenas de moradores da região passaram a relatar avistamentos semelhantes. Testemunhas independentes, como o casal Fenner e Shirley McConnell, descreveram luzes alaranjadas sobre o mar e objetos pairando acima das copas das árvores. Uma vereadora local, Brenda Pollak, declarou ter visto clarões intensos cruzando o céu próximo ao parque Shoreline. Esses depoimentos, somados ao grande número de registros feitos entre 1987 e 1988, reforçaram a convicção de que algo anômalo realmente ocorria na área, mesmo que as fotos de Walters fossem questionadas.
Entretanto, à medida que o caso ganhava fama, também cresciam as dúvidas. Pesquisadores céticos ligados ao CUFOS (Center for UFO Studies), fundado por J. Allen Hynek, e ao Skeptical Inquirer, revista do Committee for Skeptical Inquiry, começaram a revisar as fotos e apontar inconsistências. Segundo análises técnicas, algumas imagens mostravam janelas desalinhadas, proporções incoerentes e sombras incompatíveis com a iluminação natural. Os críticos argumentaram que tais defeitos indicavam o uso de modelos suspensos por fios e efeitos de profundidade de campo obtidos com câmeras Polaroid.
A controvérsia atingiu seu ápice em junho de 1990, quando o repórter Craig Myers, do Pensacola News Journal, revelou uma descoberta explosiva. Durante uma mudança de residência, o novo morador da antiga casa de Ed Walters encontrou no sótão um modelo de UFO feito de isopor e papel vegetal, com pequenas janelas recortadas e detalhes idênticos ao objeto retratado nas fotos. A equipe do jornal fotografou o modelo sob as mesmas condições e conseguiu reproduzir imagens quase idênticas às originais. Walters reagiu com indignação, negando ter fabricado o modelo e alegando que alguém o havia plantado ali para desacreditá-lo. Apesar de sua defesa, o achado abalou fortemente a credibilidade do caso e dividiu de forma irreversível a comunidade ufológica.

Mesmo após a descoberta do modelo, Bruce Maccabee manteve uma postura cautelosa. Ele reconheceu que algumas imagens poderiam ter sido fabricadas, mas insistiu que outras pareciam genuínas. Sua posição intermediária — entre a crença e a dúvida — passou a simbolizar a complexidade de Gulf Breeze. Enquanto isso, críticos como Joe Nickell, Robert Sheaffer e Gary Posner publicaram artigos e reproduções experimentais demonstrando como seria fácil falsificar as fotos com modelos em miniatura. O CUFOS, após revisar as evidências, classificou o caso como uma provável fraude. Walters, porém, seguiu publicando livros e participando de programas de televisão, afirmando ser vítima de uma campanha de difamação.
Mesmo diante da polêmica, algo permaneceu intrigante: muitos moradores de Gulf Breeze continuaram a relatar luzes e fenômenos estranhos sobre a cidade e a vizinha Base Aérea de Eglin, o que alimentou teorias sobre possíveis testes de aeronaves secretas. Outros sugeriram que a onda de avistamentos era um fenômeno psicológico coletivo, desencadeado pela intensa cobertura jornalística. Para os defensores, o caso demonstrava que algo de natureza desconhecida estava ocorrendo na região; para os céticos, era apenas um exemplo clássico de histeria social e efeito de contágio após a exposição midiática inicial.

Nos anos seguintes, Gulf Breeze continuou a ser lembrada como um símbolo da ufologia moderna. O caso inspirou reportagens, documentários e até uma referência direta na série The X-Files, em 1994, onde as fotos de Walters aparecem brevemente como exemplo de fraude. Essa menção simbolizou o destino cultural do caso: de fenômeno intrigante a exemplo de controvérsia científica e manipulação de evidências. Para alguns pesquisadores, o episódio serviu como um alerta sobre os riscos de depender excessivamente de registros fotográficos como “provas” sem validação independente; para outros, foi a demonstração de como a mídia, a crença e a expectativa podem transformar um evento local em um fenômeno global.

Passadas quase quatro décadas, o Caso Gulf Breeze continua a dividir opiniões. Aqueles que valorizam a quantidade de testemunhas independentes e a persistência dos relatos acreditam que há um núcleo autêntico de fenômeno não explicado. Já os que se apoiam nas provas materiais e nas inconsistências fotográficas consideram o episódio uma elaborada farsa. Em última análise, Gulf Breeze representa mais do que um simples caso ufológico — é um espelho das tensões entre fé, ciência e mistério. Um lembrete de que, na ufologia, o verdadeiro desafio não está apenas em capturar o desconhecido, mas em discernir o que é revelação e o que é ilusão.




